Direção: Paul Schrader
Roteiro: Alan Ormsby, DeWitt Bodeen (história)
Produção: Charles Fries, Nanette Siegert (Produtor
Associado), Jerry Bruckheimer (Produtor Executivo), Max Rosenberg (Produtor
Executivo – não creditado)
Elenco: Natassja Kinski, Malcom McDowell, John Heard,
Annette O’Toole, Ruby Dee
Como recordar é viver, lá nos idos de 1942, o
lendário produtor Val Lewton foi escalado pelos chefões da outrora proeminente
RKO Pictures para cuidar da nova divisão de filmes de terror da produtora, que
andava mal das pernas e precisava de retorno financeiro rápido com filmes
feitos em baixo custo. Lewton então foi o criador do cinema de horror de
sugestão. O diretor Jacques Tourneur entregou como primeira produção da RKO, o
clássico P&B Sangue
de Pantera, um dos
marcos do gênero e uma aula de suspense, criando o ensaio do subconsciente dos
filmes de terror e dando preferência ao imaginário do espectador. Quarenta anos
depois, eis que Paul Schrader atualiza a história de DeWitt Bodeen para os anos
80 e escancara toda a sexualidade e violência implícita (e a mostra MUITO o
animal, claro) em A Marca da Pantera. Não que isso seja um demérito.
Seria impossível manter um filme nos mesmos padrões de original para a plateia
da malfadada década de 80. Ainda mais que claramente A Marca da Pantera teve a
intenção de ser um vislumbre estético daquela década, um apanhado
comportamental cultural do período, com direito a música tema de David Bowie e
trilha sonora assinada por Giorgio Moroder aka “My name is Giovanni Giorgio,
but everybody calls me… Giorgio”. Schrader já havia dirigido Gigolô Americano e escrito Taxi Driver. A produção é de Jerry
Bruckheimer (que mais tarde despontaria em Top Gun – Ases Indomáveis, Flashdance e Um Tira da Pesada) e o roteiro é de
Alan Ormsby, nome conhecido do gênero, por Children Shouldn’t Play With Dead Things, Deathdream e Confissões de um Necrófilo. Era, mesmo sendo um filme de terror, um filmão de
estúdio. E o ponto principal que Schrader levanta em A Marca da Pantera é sem dúvida a
sexualidade. Ele deixa de lado a repressão sexual da personagem de Simone Simon
no original, e transborda tesão pelo ladrão na atuação de Natassja Kinski, que
já havia aparecido peladinha nas telas quando ainda era menor de idade em Uma Filha Para o Diabo da Hammer, e causado um rebuliço danado, e de
Michael McDowell, que também já havia atingido certa cota de putaria no cinema
com Calígulade Tinto Brass.
Ponto para o diretor é deixar a lascívia lá em cima, mas sem cair na vulgarização.
A base da história é mais ou menos a mesma: Irena Gallier (Kinski) reencontra
seu irmão, Paul (McDowell) – personagem inexistente no original – e acaba por
descobrir que assim como ele, é descendente de uma antiga tribo africana de
metamorfos, que se transforma em pantera com o aflorar o desejo sexual. Em uma
mensagem completamente misógina, Irena é reprimida, virginal, retrai seus
desejos e sua libido, enquanto Paul se dá ao luxo de tornar-se o animal, não
ser escravo de seus sentimentos sexuais, matar e se deliciar com isso. O homem
pode, a mulher não, resumindo. No meio de um embate entre ambos, pois Paul
insiste na relação incestuosa entre irmãos, Irena conhece Oliver Yates (John
Heard), dono de um zoológico onde trabalha com a caidinha por ele, Alice Perrin
(Annette O’Toole) e os dois acabam se apaixonando. Um quadrilátero amoroso de
ciúmes e desejo carnal se constrói ali, com consequências desastrosas para
quase todos. Há dois ângulos para se analisar o desenrolar de A Marca da Pantera. O primeiro é
aquele que Schrader fez questão de explicitar: a quantidade de violência em
cenas bastante sangrentas, com o ataque das panteras mutilando e destroçando
pessoas, excelente trabalho de maquiagem de Thomar R. Burman (responsável pelo
Sloth, de Os Goonies, e
alguns conhecidos filmes de terror como A Ilha do Dr. Moreau, Dia dos Namorados Macabro, A Mão e Halloween III: A Noite das Bruxas) e ponha na conta do cara também
as impressionantes cenas de Natassja Kinski se transformando em felino; e
também a explosão sexual com as cenas de nudez da belíssima atriz com aquele
seu jeito peculiar sexy. O
outro ângulo é exatamente aquele que Schrader fez questão de deixar de lado: o
suspense. Tudo se torna gráfico, exposto, e até lisérgico em determinados
momentos de sonhos e descobertas. Agora prender o espectador e trabalhar um
pouco mais a sugestão e sequências de tensão, não há. É tudo escancarado ao
limite. Um bom exemplo, talvez até perfeito, do que estou falando é se você
pegar Sangue de Pantera e
assistir a cena da perseguição de Alice, a rival de Irena pelo amor de Oliver e
a antológica cena da piscina, e depois assistir a mesma reconstrução em A Marca da Pantera. Enquanto no
original é um primor, uma aula de direção, você fica realmente com os nervos em
frangalhos com o perfeito jogo de luz e sombra, os assustadores rugidos da
pantera e a escalada de tensão, a refilmagem serve apenas para colocar os
peitos de Annette O’Toole para fora nadando só de calcinha na piscina. Clima
zero! A Marca da Pantera poderia
dosar bem as duas coisas, mas apesar dessa crítica, ainda assim é um filme
interessante e honesto. Desde o começo ele se propôs a levantar tabus e
explorar o sexo como forma de presídio ou de libertação. É nossa racionalidade
sendo subjugada pelos instintos animais de nosso ID que nos transforma em
monstros. A violência tem de ser protagonista quando há esse embate de
frustrações e a excelente interpretação dos atores principais (mais uma vez
McDowell dá um show com seus olhos esbugalhados transbordando insanidade e
Kisnki entrega o que lhe é proposto, variando de “garota assustada do interior”
até se transformar em fera sexual sedenta) estão lá para assegurar isso.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/06/12/456-a-marca-da-pantera-1982/
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