terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

#361 1977 SCHOCK (Schock / Beyond the Door II, Itália)


Direção: Mario Bava
Roteiro: Francesco Barbieri, Lamberto Bava, Paolo Brigenti, Dardano Sacchetti
Produção: Turi Vasile, Ugo Valenti (Produtor Associado)
Elenco: Daria Nicolodi, John Steiner, David Collin Jr., Ivan Rassimov

Schock é o último filme dirigido pelo homem responsável pelo surgimento do cinema italiano de terror: o mestre Mario Bava. O maestro do macabro é conhecido por seu apreço estético, perfeccionismo com todos os elementos em cena, principalmente luz e cores, e sem dúvida o maior nome do gênero. Pena que Schock seja uma oferta convencional, sem transparecer a genialidade de Bava, tornando-se um filme mediano com um final espetacular. O bem da verdade é que Schock ainda assim possui o estilo, a marca inconfundível e o esforço técnico dos demais filmes de Bava, mas parece menos apaixonado, mais burocrático. Eu meio que faço um paralelo mental entre Bava e José Mojica Marins, cada um pioneiro do gênero em seu país natal, que começaram suas carreiras extraindo o máximo da sua capacidade técnica, dentro do possível, e decaindo no decorrer dos anos, suplantados principalmente por problemas financeiros, de censura (ou de mercado distribuidor no caso dos filmes de Bava) e tentativa de adequação estética a uma nova forma de se conduzir o cinema de horror (vemos isso claramente na ruptura de Bava com o gótico/ barroco em A Mansão da Morte e Rabid Dogs, por exemplo). Então Schock é um melancólico adeus de Bava, sem a majestade de filmes impecavelmente perfeitos de seu começo e meio de carreira, como o desbunde de Seis Mulheres para um Assassino ou Mata Bebê, Mata ou mesmo de produções mais recentes, como a obra prima Lisa e o Diabo. Mas muito do problema do filme não é a direção de Bava, que ainda assim em seus vinte minutos finais, consegue transformar uma trama modorrenta em um dos melhores finais do cinema de horror de todos os tempos. E sim do roteiro, escrito a oito mãos por Francesco Barbieri, Paolo Brigenti, seu fiilho Lamberto Bava e o veterano do giallo Dardano Sacchetti. Talvez muita gente por trás de um mesmo roteiro pode ser um dos problemas. Talvez o maior problema sejam personagens superficiais que não são desenvolvidos da forma que realmente deveriam e não causam empatia ao espectador. Até a criança malvada, “possuída” por uma entidade sobrenatural, que é motivo de cagaço em quase todos os filmes de terror da história, pasteuriza-se no construir da fita. Daria Nicolodi, esposa de Dario Argento, é Dora Baldini, mãe de família que passou por um terrível trauma psicológico quando seu abusivo marido, Carlo, pai de seu filho, Marco (David Collin Jr.) se suicidou, deixando sequelas terríveis em sua vida, sendo internada em uma instituição psiquiátrica e tratada a eletrochoques. Sete anos depois, ela e seu novo marido, o piloto de aviões Bruno (John Steiner) mudam-se para a mesma casa onde ela viveu até a morte do ex-marido. O que já seria um desafio psicológico do tamanho de um bonde, afinal Dora sente culpa e vive tendo flashbacks da morte de Carlo, piora quando o garotinho começa a ficar esquisito, pois parece estar sob controle do espírito vingativo do antigo marido. Como Bruno fica muito tempo ausente por conta de sua profissão, a mulher vai ficando cada vez mais aterrorizada com o comportamento errático, violento e sexual do filho, duvidando até de sua própria sanidade. Como falei, o filme não engata até o seu terceiro ato, quando aí sim vira um soco no estômago e Bava mais uma vez mostra o porque do apelido: maestro do macabro. Uma engendrada trama que envolve a morte do marido, cumplicidades, loucura, psicose e sobrenatural, explodem para um clímax descabelante. Afinal, o que é a expressão daquele moleque na cena da brincadeira de chá e do balanço? Mas infelizmente, falta aquele “mojo” em Shock. A primeira cena, mostrando o garotinho aparentemente conversando com alguém que não vemos no jardim, e depois perguntando se eles “viveriam ali para sempre” exagera em uma expectativa que nunca chega a alcançar. Apesar da excelente interpretação de Daria e de David Collin Jr. (que já havia vivido um garoto possuído em Espírito Maligno) e do final surtadíssimo, há certa decepção em Bava ter encerrado sua carreira magistral com um filme bem mediano. Bava morreria ainda jovem, com 66 anos, três depois do lançamento de Schock. Pena que sua carreira como diretor começou tardia, em 1960, com A Máscara de Satã, quando já tinha 46 anos e acabou muito cedo. Mas seu legado e importância permanecerão para sempre não só no cinema de horror, mas na sétima arte como um todo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/31/361-schock-1977/


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