Direção: Mario
Bava
Roteiro: Francesco
Barbieri, Lamberto Bava, Paolo Brigenti, Dardano Sacchetti
Produção: Turi
Vasile, Ugo Valenti (Produtor Associado)
Elenco: Daria
Nicolodi, John Steiner, David Collin Jr., Ivan Rassimov
Schock é
o último filme dirigido pelo homem responsável pelo surgimento do cinema
italiano de terror: o mestre Mario Bava. O maestro do macabro é conhecido por
seu apreço estético, perfeccionismo com todos os elementos em cena,
principalmente luz e cores, e sem dúvida o maior nome do gênero. Pena que Schock seja
uma oferta convencional, sem transparecer a genialidade de Bava, tornando-se um
filme mediano com um final espetacular. O bem da verdade é que Schock ainda assim possui o
estilo, a marca inconfundível e o esforço técnico dos demais filmes de Bava,
mas parece menos apaixonado, mais burocrático. Eu meio que faço um paralelo
mental entre Bava e José Mojica Marins, cada um pioneiro do gênero em seu país
natal, que começaram suas carreiras extraindo o máximo da sua capacidade
técnica, dentro do possível, e decaindo no decorrer dos anos, suplantados
principalmente por problemas financeiros, de censura (ou de mercado
distribuidor no caso dos filmes de Bava) e tentativa de adequação estética a
uma nova forma de se conduzir o cinema de horror (vemos isso claramente na
ruptura de Bava com o gótico/ barroco em A Mansão da
Morte e Rabid Dogs, por exemplo). Então Schock é
um melancólico adeus de Bava, sem a majestade de filmes impecavelmente
perfeitos de seu começo e meio de carreira, como o desbunde de Seis Mulheres
para um Assassino ou Mata Bebê,
Mata ou mesmo de produções mais recentes, como a obra prima Lisa e o
Diabo. Mas muito do problema do filme não é a direção de
Bava, que ainda assim em seus vinte minutos finais, consegue transformar uma
trama modorrenta em um dos melhores finais do cinema de horror de todos os
tempos. E sim do roteiro, escrito a oito mãos por Francesco Barbieri, Paolo
Brigenti, seu fiilho Lamberto Bava e o veterano do giallo Dardano Sacchetti. Talvez muita gente por trás de um mesmo
roteiro pode ser um dos problemas. Talvez o maior problema sejam personagens
superficiais que não são desenvolvidos da forma que realmente deveriam e não
causam empatia ao espectador. Até a criança malvada, “possuída” por uma
entidade sobrenatural, que é motivo de cagaço em quase todos os filmes de
terror da história, pasteuriza-se no construir da fita. Daria Nicolodi, esposa
de Dario Argento, é Dora Baldini, mãe de família que passou por um terrível
trauma psicológico quando seu abusivo marido, Carlo, pai de seu filho, Marco
(David Collin Jr.) se suicidou, deixando sequelas terríveis em sua vida, sendo
internada em uma instituição psiquiátrica e tratada a eletrochoques. Sete anos
depois, ela e seu novo marido, o piloto de aviões Bruno (John Steiner) mudam-se
para a mesma casa onde ela viveu até a morte do ex-marido. O que já seria um
desafio psicológico do tamanho de um bonde, afinal Dora sente culpa e vive
tendo flashbacks da morte de Carlo, piora quando o garotinho
começa a ficar esquisito, pois parece estar sob controle do espírito vingativo
do antigo marido. Como Bruno fica muito tempo ausente por conta de sua
profissão, a mulher vai ficando cada vez mais aterrorizada com o comportamento
errático, violento e sexual do filho, duvidando até de sua própria sanidade.
Como falei, o filme não engata até o seu terceiro ato, quando aí sim vira um
soco no estômago e Bava mais uma vez mostra o porque do apelido: maestro do
macabro. Uma engendrada trama que envolve a morte do marido, cumplicidades,
loucura, psicose e sobrenatural, explodem para um clímax descabelante. Afinal,
o que é a expressão daquele moleque na cena da brincadeira de chá e do balanço?
Mas infelizmente, falta aquele “mojo” em Shock. A primeira cena, mostrando
o garotinho aparentemente conversando com alguém que não vemos no jardim, e
depois perguntando se eles “viveriam ali para sempre” exagera em uma
expectativa que nunca chega a alcançar. Apesar da excelente interpretação de
Daria e de David Collin Jr. (que já havia vivido um garoto possuído em Espírito
Maligno) e do final surtadíssimo, há certa decepção em Bava ter encerrado sua
carreira magistral com um filme bem mediano. Bava morreria ainda jovem, com 66
anos, três depois do lançamento de Schock. Pena que sua carreira como diretor
começou tardia, em 1960, com A Máscara de
Satã, quando já tinha 46 anos e acabou muito cedo. Mas seu legado e
importância permanecerão para sempre não só no cinema de horror, mas na sétima
arte como um todo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/31/361-schock-1977/
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