domingo, 7 de fevereiro de 2016

#468 1983 CUJO (EUA)


Direção: Lewis Teague
Roteiro: Don Carlos Dunway, Lauren Currier (baseado no livro de Stephen King)
Produção: Daniel H. Blatt e Robert Singer, Neil A. Machlis (Produtor Associado)
Elenco: Dee Wallace, Danny Pintauro, Daniel Hugh Kelly, Christopher Stone, Ed Lauter, Kaiulani Lee, Billy Jane

Sabe o que demonstra que Stephen King é realmente o mestre do terror? O fato dele sempre explorar personagens comuns como eu e você em situações de extrema tensão e pavor. Não é o macabro ou o sobrenatural a principal fonte de medo em suas histórias, e sim, acontecimentos corriqueiros assustadores quem podem acontecer às pessoas normais. E é exatamente esse o foco em Cujo. Afinal, quem mais além de King colocaria o cão São Bernardo, um dos mais afáveis e carinhosos pertencentes da família dos canídeos como uma ameaça aterradora à vida de uma mãe e filho pequeno, presos dentro de um carro quebrado no meio do nada sob um calor escaldante? Pois o que vem a sua cabeça ao pensar em um São Bernardo? Para mim, duas coisas: o bonachão Beethoven, daquela comédia família; ou o cão salva-vidas que carrega um barril de conhaque no pescoço para ajudar aqueles que se perdem nos Alpes. Mas aqui na fita dirigida por Lewis Teague, que já havia levado outro nefasto animal assassino às telas em Alligator – O Jacaré Gigante (que substituiu Peter Medak, quem seria o diretor original), o cachorro recebe uma mordida de um morcego em seu focinho enquanto caçava uma serelepe lebre pelos campos, e contrai hidrofobia, ou raiva se preferir. O casal Donna (Dee Wallace – considerado por King a melhor interpretação de um personagem de sua autoria em um filme, até mais que a Annie Wilkes de Kathy Bates em Louca Obsessão) e Vic Trenton (Daniel Hugh Kelly) está passando por um problema conjugal, uma vez que a dona de casa está traindo seu marido com o carpinteiro Steve Kemp (Christopher Stone). No meio dessa relação está o medroso garotinho Tad (Danny Pintauro), que tem medo de monstros que vivem em seu armário e irá encarar um verdadeiro monstro da vida real quando Donna leva seu carro para o mecânico Joe Camber (Ed Lauter) em uma estrada afastada da cidade, dono de Cujo. O motor capenga superaquece e mãe e filho ficarão cercados pelo cão assassino (que já matara o dono e seu amigo em um violento surto raivoso) enquanto Vic está fora à trabalho, tentando salvar a conta publicitária de uma empresa de cereal que vinha fazendo mal aos consumidores. A trama é tão simples, e seu desenrolar é tão assustador, tão cheio de nervosismo e tensão à flor da pele, que flui e desenvolve-se de forma brilhante em sua meia-hora final, depois da história de King nos aproximar dos dramas de seus personagens principais. A mãe tomada pela culpa que a remói tenta sobreviver às investidas do animal (cinco cães foram usados e eles estão assustadoramente realistas) ao mesmo tempo que tenta apaziguar e controlar o filho pequeno que passa a desidratar e sufocar durante os três dias em que eles ficam confinados naquele veículo. A luta animalesca pela sobrevivência que leva uma mãe, à beira da histeria em confrontar uma força da natureza incontrolável é digna de nota. A atuação de Dee Wallace está perfeita, e também de Danny Pintauro. Vendo ao filme, em certas cenas tenho a impressão que o garoto realmente estava com medo do ataque “falso” do cachorro (fora colocados os brinquedos preferidos dos animais dentro do carro para atraí-los) com seus seis anos de idade, pois a dose de realismo na reação do pequeno, até mesmo na cena em que ele está sufocando, é incrível.  Porém há diferenças pontuais no livro escrito por King e na história levada às telas, principalmente em seu final. 
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Stephen King, que nesta altura do campeonato já era um best-seller por conta de seus livros adaptados para o cinema como Carrie – A Estranha e O Iluminado, passava por uma terrível fase em seu alcoolismo e admitiu diversas vezes que mal se lembra de ter escrito a novela, que na verdade funciona como uma sequência indireta de sua obra anterior A Hora da Zona Morta (que também ganhou uma adaptação dirigida por David Cronenberg no mesmo ano de 83), onde o assassino Frank Dodd é mencionado diversas vezes e se supõe que seu espírito possuiu Cujo. Mas a principal alteração foi que Tad morre desidratado no final das páginas enquanto Donna contrai raiva. Até um surto de raiva que se segue após o incidente. Para o longe, sobra um final feliz. Cujo é um filme simples, direto, tiro curto que consegue prender a respiração do espectador e em seus sufocantes momentos de tensão, trazer à tona um medo primal, incontrolável, de um poderoso animal raivoso, que outrora foi o melhor amigo do homem, e torna-se uma inteligente máquina de matar à espreita, pronto para dar o bote.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/02/468-cujo-1983/

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