Direção: Lewis Teague
Roteiro: Don Carlos Dunway,
Lauren Currier (baseado no livro de Stephen King)
Produção: Daniel H. Blatt e Robert
Singer, Neil A. Machlis (Produtor Associado)
Elenco: Dee
Wallace, Danny Pintauro, Daniel Hugh Kelly, Christopher Stone, Ed Lauter,
Kaiulani Lee, Billy Jane
Sabe o que demonstra que Stephen King
é realmente o mestre do terror? O fato dele sempre explorar personagens comuns
como eu e você em situações de extrema tensão e pavor. Não é o macabro ou o
sobrenatural a principal fonte de medo em suas histórias, e sim, acontecimentos
corriqueiros assustadores quem podem acontecer às pessoas normais. E é
exatamente esse o foco em Cujo.
Afinal, quem mais além de King colocaria o cão São Bernardo, um dos mais
afáveis e carinhosos pertencentes da família dos canídeos como uma ameaça
aterradora à vida de uma mãe e filho pequeno, presos dentro de um carro
quebrado no meio do nada sob um calor escaldante? Pois o que vem a sua cabeça
ao pensar em um São Bernardo? Para mim, duas coisas: o bonachão Beethoven,
daquela comédia família; ou o cão salva-vidas que carrega um barril de conhaque
no pescoço para ajudar aqueles que se perdem nos Alpes. Mas aqui na fita
dirigida por Lewis Teague, que já havia levado outro nefasto animal assassino
às telas em Alligator – O Jacaré Gigante (que substituiu Peter Medak,
quem seria o diretor original), o cachorro recebe uma mordida de um morcego em
seu focinho enquanto caçava uma serelepe lebre pelos campos, e contrai
hidrofobia, ou raiva se preferir. O casal Donna (Dee Wallace – considerado por
King a melhor interpretação de um personagem de sua autoria em um filme, até
mais que a Annie Wilkes de Kathy Bates em Louca Obsessão) e Vic Trenton
(Daniel Hugh Kelly) está passando por um problema conjugal, uma vez que a dona
de casa está traindo seu marido com o carpinteiro Steve Kemp (Christopher Stone).
No meio dessa relação está o medroso garotinho Tad (Danny Pintauro), que tem
medo de monstros que vivem em seu armário e irá encarar um verdadeiro monstro
da vida real quando Donna leva seu carro para o mecânico Joe Camber (Ed Lauter)
em uma estrada afastada da cidade, dono de Cujo. O motor capenga superaquece e
mãe e filho ficarão cercados pelo cão assassino (que já matara o dono e seu
amigo em um violento surto raivoso) enquanto Vic está fora à trabalho, tentando
salvar a conta publicitária de uma empresa de cereal que vinha fazendo mal aos
consumidores. A trama é tão simples, e seu desenrolar é tão assustador, tão
cheio de nervosismo e tensão à flor da pele, que flui e desenvolve-se de forma
brilhante em sua meia-hora final, depois da história de King nos aproximar dos
dramas de seus personagens principais. A mãe tomada pela culpa que a remói
tenta sobreviver às investidas do animal (cinco cães foram usados e eles estão
assustadoramente realistas) ao mesmo tempo que tenta apaziguar e controlar o
filho pequeno que passa a desidratar e sufocar durante os três dias em que eles
ficam confinados naquele veículo. A luta animalesca pela sobrevivência que leva
uma mãe, à beira da histeria em confrontar uma força da natureza incontrolável
é digna de nota. A atuação de Dee Wallace está perfeita, e também de Danny
Pintauro. Vendo ao filme, em certas cenas tenho a impressão que o garoto
realmente estava com medo do ataque “falso” do cachorro (fora colocados os
brinquedos preferidos dos animais dentro do carro para atraí-los) com seus seis
anos de idade, pois a dose de realismo na reação do pequeno, até mesmo na cena
em que ele está sufocando, é incrível. Porém
há diferenças pontuais no livro escrito por King e na história levada às telas,
principalmente em seu final.
ALERTA
DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Stephen King, que nesta altura do
campeonato já era um best-seller por conta de seus livros adaptados
para o cinema como Carrie – A Estranha e O Iluminado, passava por uma terrível fase em seu
alcoolismo e admitiu diversas vezes que mal se lembra de ter escrito a novela,
que na verdade funciona como uma sequência indireta de sua obra anterior A
Hora da Zona Morta (que também ganhou uma adaptação dirigida por David
Cronenberg no mesmo ano de 83), onde o assassino Frank Dodd é mencionado
diversas vezes e se supõe que seu espírito possuiu Cujo. Mas a principal
alteração foi que Tad morre desidratado no final das páginas enquanto Donna
contrai raiva. Até um surto de raiva que se segue após o incidente. Para o
longe, sobra um final feliz. Cujo é um filme simples, direto, tiro curto
que consegue prender a respiração do espectador e em seus sufocantes momentos
de tensão, trazer à tona um medo primal, incontrolável, de um poderoso animal
raivoso, que outrora foi o melhor amigo do homem, e torna-se uma inteligente
máquina de matar à espreita, pronto para dar o bote.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/02/468-cujo-1983/
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