Direção: Tony Scott
Roteiro: Ivan Davis, Michael Thomas
(baseado no livro de Whitley Strieber)
Produção: Richard Shepherd
Elenco: Catherine Deneuve, David
Bowie, Susan Sarandon, Cliff De Young, Beth Ehlers, Dan Hedaya
Uma classuda história de vampiros, com um apelo
gótico, sombrio e sexual, a cara da cultura pós-punk / industrial dos anos 80.
Isso é o cultuado Fome
de Viver, filme de debute de Tony Scott, irmão de Ridely Scott,
morto recentemente, que traz em seu elenco ninguém menos que Catherine Deneuve,
Susan Sarandon e o camaleão David Bowie. E esse toque de classe dado pela
direção, fotografia de Stephen Goldblatt, design de produção e pela trinca de
atores, retira os vampiros do clichê sob os quais eles haviam sido trabalhados
nas últimas três décadas, desde os cafonas e deliciosos filmes da Hammer até as
vastas produções eróticas dos anos 70. Dá um toque moderno, blasé e fetichista
para as criaturas sanguessugas, que agora vão em clubes noturnos para encontrar
suas vítimas e as arrastam para seus apartamentos com cortinas esvoaçantes no
centro da cidade. Em seu lançamento, Fome de Viver não foi muito bem recebido pela crítica e pelo
público, muito pelo filme ser claramente influenciado pela estética visual de
comerciais, oriunda da experiência anterior de Scott. Baseado no livro de
Whitley Strieber, Fome de Viver tem
todo uma concepção estilizada única dessas criaturas (apesar do termo vampiro
nunca ser usado, eles não possuírem presas e andarem numa boa na luz do sol)
para trazer uma história de perdas e danos no mundo vampiresco, onde a
imortalidade não é uma benção, como se imagina e criador possui laços
definitivos com a criatura até a página dois. Miriam Blaylock (Deneuve) é uma
vampira secular, colecionadora de antiguidades, amante e criadora de John
Blaylock (Bowie). O tal lance de viverem juntos por toda a eternidade seduzindo
pobres mortais e se alimentando de seu sangue aqui não funciona muito bem, já
que de um momento para o outro, John passa a envelhecer de uma só vez tudo aqui
que não envelheceu durante anos e anos de suposta imortalidade. E isso é algo
recorrente, pois vários companheiros anteriores de Miriam padeceram da mesma
doença degenerativa. Na busca sem sucesso de ajuda contra a terrível doença,
eles procuram pela Dra. Sarah Roberts (Sarandon) que atua com pesquisas na área
do sono à procura de uma receita da longevidade. Quando John vai ao encontro de
Sarah em seu consultório e ela o deixa plantado na sala de espera por duas
horas, confundindo-o como um velho louco qualquer, vemos a cena mais
impressionante e marcante do filme, quando Bowie começa a envelhecer mais e
mais a cada minuto que passa, até ficar completamente irreconhecível. Não dá
outra, logo John dá adeus a essa vida (de novo) e é colocado em um caixão junto
com todos os outros ex-amantes de Miriam, que começa a procurar um substituto,
e vê na figura de Sarah, a parceira perfeita, usando todo seu poder hipnótico
de sedução para transformá-la em vampira, ou o que quer que eles sejam, em uma
das mais eróticas, sexuais e voluptuosas cenas lésbicas de todo o cinema, com
Denueve no auge da sua maturidade e Sarandon no auge de sua juventude, ao som
de The Flower Duet ao fundo. É uma daquelas cenas que marcam a juventude de
toda uma geração. E falando em música, é um dos pontos chaves de Fome de Viver, retratando muito bem
aquele período específico da década de 80. A cena de abertura, por exemplo,
editada entre o processo de Deneuve e Bowie de se alimentar de suas vítimas, o
descontrole de um dos macacos de teste da equipe de Sarandon e uma performance
gótica em um clube noturno, tem Bela Lugosi’s Dead de Bauhaus. E a trilha
sonora toda é tomada por sons eletrônicos industriais, escolhida perfeitamente
por Howard Blake para dar o clima certo ao filme. Algumas cenas também
funcionam muito bem e são bastante impactantes para contribuir com o resultado
final, muitas delas sangrentas (como todo filme de vampiro que se preze), como
esses ataques da cena inicial, ou quando Bowie mata uma criança, ou mesmo a
assustadora cena quando Miriam é aterrorizada por todos os seus antigos
parceiros putrefatos que levantam de suas tumbas. Mais uma vez vale aquele
comentário focado para fãs da Saga Crepúsculo, que porventura quiserem se
aprofundar e se interessar mais no universo dos vampiros em geral, além daquela
mediocridade sem tamanho: assistam Fome
de Viver, para descobrirem que o mundo desses mortos-vivos não se resume
a um amor adolescente cafona, assexuado e brilhar ao sol. Há muito mais
tragédia e sensualidade por trás das sombras da noite que essas criaturas
vivem.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/05/471-fome-de-viver-1983/
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