Direção: David Cronenberg
Roteiro: Jeffrey Boam (baseado no livro de Stephen
King)
Produção: Debra Hill, Jeffrey Chernov (Produtor
Associado), Dino de Laurentiis (Produtor Executivo – não creditado)
Elenco: Christopher Walken, Brooke Adams, Tom
Skerrit, Herbert Lom, Anthony Zerbe, Martin Sheen
Junte Stephen King, David Cronenberg e Christopher
Walken e o resultado não poderia ser menos satisfatório. A Hora da Zona Morta é
mais uma das adaptações de um livro do mestre do terror para as telas, fato que
tornara-se corriqueiro neste começo dos anos 80 (só em 83, foram três filmes
lançados que foram baseados nas escritas do cidadão do Maine). A Hora da Zona Morta é o filme
menos Cronenberg do diretor, pensando no estilo de terror venéreo e científico
que ele aplicava em suas fitas de começo de carreira (como Calafrios, Enraivecida na Fúria do Sexo,Filhos do Medo e Scanners – Sua Mente Pode
Destruir). Aqui tendo a direção de um filme norte-americano de um
grande estúdio, financiado pelo todo poderoso Dino de Laurentiis e trabalhando
o texto de um dos maiores escritores da época, vemos que o canadense faz um
trabalho bem mais comedido, sem suas elucubrações costumeiras e seu apreço pela
carne e jorros de sangue. Também é a primeira fita onde o tema abordado é o
sobrenatural, e não nenhum tipo de resultado de alguma experiência científica
guiada pelo próprio homem. Christopher Walken (perfeito para o papel, mas vejam
só, King gostaria que Bill Murray o interpretasse – nada a ver) é John Smith,
um professor de literatura inglesa que adora ler para seus alunos O Corvo de
Edgar Allan Poe e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça de Washington Irving (curioso
que Walken muitos anos depois faria o papel do Cavaleiro no filme dirigido por
Tim Burton). Ele vive um romance com a também professora Sarah Bracknell
(Brooke Adams) até que um dia após se despedir da moça, sofre um terrível
acidente de carro e fica cinco anos em coma. Quando Smith retoma a consciência,
descobre que além de perder o amor da sua vida, que casara e tivera um filho
com outro homem, seu emprego e ter se tornado um inválido, ganhou de bônus uma
habilidade psíquica pré e pós cognitiva ao tocar nas pessoas e objetos,
conseguindo acessar a “zona morta” de seu cérebro. Ou seja, ele é capaz de ver
o passado e também prever o futuro. Então o filme se dividirá em duas metades
completamente diferentes. A primeira parte, depois de narrar o acidente e o
ganho dos poderes mediúnicos de Smith, foca em sua ajuda ao xerife Bannerman
(Tom Skerritt) na busca de um psicopata conhecido como o Assassino de Castle
Rock, que vem matando jovens garotas na cidade preferida de Stephen King e não
deixando nenhuma pista para que a polícia possa pegá-lo. Em outro texto eu já
falei que Cronenberg costuma criar sempre uma cena de impacto em seus filmes,
que acabam sendo pintadas na mente do espectador. No caso de A Hora da Zona Morta, é a aflitiva
cena (e toda a sequência) da tesoura, no concluir da trama da descoberta do
assassino. Já na segunda parte, o filme muda completamente de figura, e Smith
passa a viver em reclusão, voltando a dar aulas particulares em sua casa,
quando se vê no meio da campanha do impetuoso Greg Stillson (papel de Martin
Sheen) ao senado americano. Acontece que Stillson é o típico político sujo e
com um quê de psicótico, e em um comício, ao apertar a sua mão, o pobre coitado
tem a visão de que o sujeito será responsável por um genocídio nuclear quando
se tornar o presidente dos Estados Unidos, lançando mísseis sobre a União
Soviética, apertando um malfadado botão do juízo final à lá Dr. Fantástico. Cabe
ao atormentado Smith então enfrentar uma crise de consciência, também pelo fato
de Sarah ter reaparecido em sua vida novamente e estar trabalhando com o
maridão na campanha de Stillson, e tentar assassinar o político nefasto antes
que ele ganhe a corrida pelo senado e mais tarde torne-se presidente.
ALERTA DE SPOILER –
Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Algo que apesar de ser evitado pelo vidente no
longa, pois a tentativa de assassinato é frustrada, mas o escroque usa o bebê
de Sarah como proteção contra as balas, o que acaba sendo publicado na
imprensa, afundando sua carreira política, e levando-o ao suicídio, aconteceu
futuramente para Martin Sheen, que conseguiu chegar à Casa Branca na série The West Wing – Os Bastidores do Poder.
Mais uma vez o texto de King, vagamente baseado na vida do famoso psíquico
holandês Peter Hukos, aproveita o que ele sabe fazer de melhor: pegar um
sujeito ordinário como eu e você e coloca-lo em uma situação fantástica,
metendo em um simples professor de inglês o fardo da premonição e ter de lidar
com a perda, a culpa, e claro, a maldade humana. E Cronenberg consegue captar
toda a angústia dessa maldição, sempre extraindo o que há de melhor no
fantástico Christopher Walken e entregando um suspense redondo, que apesar de
não ser brilhante, consegue prender o espectador e o mais importante,
aproximá-lo do tormento do personagem. Mais tarde, o livro que deu origem ao
filme A Hora da Zona Morta foi
transformado em uma série de televisão que durou seis temporadas, com Anthony
Michael Hall fazendo o papel de John Smith.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/08/472-a-hora-da-zona-morta-1983/
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