terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

#470 1983 ESTRANHAS METAMORFOSES (Xtro, Reino Unido)


Direção: Harry Bromley Davenport
Roteiro: Iain Cassie e Robert Smith, Harry Bromley Davenport e Michel Parry (história)
Produção: Mark Forstarter, James Crawford (Produtor Associado), Robert Shaye (Produtor Executivo)
Elenco: Philip Sayer, Bernice Stegers, Danny Brainin, Myrim d’Abo, Simon Nash, David Cardy

Uma palavra define Estranhas Metamorfoses: BIZARRO! Não, bizarro, não. BIZZARRÍSSIMO. Esse amalucado sci-fi britânico de uma recém nascida New Line Cinema, escrito e dirigido por Harry Bromley Davenport é um daqueles objetos de culto para os fãs do cinema trash, que poderia ser uma obra ímpar, não fosse por derrapadas gritantes no roteiro e uma sequência de acontecimentos tão toscos que chega a ser patético (quem já assistiu sabe bem do que estou falando). Em 1982, Steven Spielberg trouxe ao mundo o simpático e boa gente visitante espacial E.T. – O Extraterreste, que faz amizade e toca o coração do pequeno Elliot. O alienígena de Estranhas Metamorfoses é o verdadeiro anti-E.T. É uma criatura grotesca, assassina, metamorfa, com poderes sobrehumanos, que vêm à Terra para iniciar um estranhíssimo processo de reprodução da espécie. Caminhando pelo mesmo espaço galgado por Alien – O Oitavo Passageiro de Ridley Scott (só que muito mais na pegada de seus rip offs italianos, como o tosco Alien – O Monstro Assassino de Luigi Cozzi) e O Enigma de Outro Mundo de John Carpenter (claríssima inspiração para Davenport), Estranhas Metamorfoses é aquela trasheira de baixo orçamento que preza pela inventividade do gore e seus efeitos especiais asquerosos muito bem criados por John Webber (que já trabalhara em alguns filmes da Hammer e mais tarde estaria na equipe de maquiagem de Indiana Jones e o Templo da Perdição). Uma espécie de metáfora do mal sobre abandono paterno, a trama começa com Sam Phillips (Philip Sayer) e seu filho, Tony (Simon Nash) brincando com seu cão em uma cabana na floresta, quando uma estranha luz surge do céu e Sam é abduzido. Após o acontecido, a mãe de Tony e esposa da Sam, Rachel (Bernice Stegers) tenta reconstruir sua vida, morando em um apartamento na cidade com seu novo namorado, o fotógrafo Joe Daniels (Danny Brainin) e uma literal empregada francesa, Analise (vivida pela futura Bond Girl Maryam d’Abo), acreditando que o sujeito simplesmente os abandonou e que seu filho fantasiou a história do desaparecimento como uma espécie de válvula de escape para seu trauma. Só que depois de três anos, Sam está de volta. Uma criatura alienígena quadrúpede horrenda cai na terra e depois de fazer duas vítimas desavisadas no meio da floresta, encontra uma pobre coitada em uma casa afastada que é atacada e inseminada pelo esporo do ser do espaço. Ela instantaneamente engravida e dá a luz a… Sam! Isso mesmo. Seu ventre cresce tanto que parece uma jiboia que acabou de comer um boi, e é estourado pelo sujeito já em forma adulta, espalhando suas vísceras pelo chão da cozinha enquanto ele mastiga seu cordão umbilical para completar seu nascimento. É de uma nojeira ímpar. Nisso, Sam volta para bagunçar a vida de Rachel, dizendo não lembrar o que aconteceu após sua abdução, encher Joe de ciúmes e pior, começar a catequisar seu filho, vampirizando-o e passando seus esporos para o garoto, fazendo com que ele desenvolva poderes sobrenaturais. Até aí o filme está demais. Você releva o fato de Rachel cair na conversa fiada de Sam, os furos no roteiro e as atuações canastríssimas, e se delicia com toda aquelas podreira digna de respeito. Porém, a fita dá uma derrapada… derrapada não, ela capota três vezes e vira uma babaquice que praticamente te broxa de assistir o longa até o final, quando Tony recebe super poderes de transformar seus desejos em realidade. Enquanto Sam tenta reconquistar Rachel apenas para continuar colocando seu plano de proliferação em prática, o garoto começa a dar vida aos seus brinquedos, transformando um palhaço de brinquedo em um anão de carne e osso, materializa uma pantera negra do nada que fica andando pelo apartamento, controla seu tanque de brinquedo mentalmente e faz seu soldadinho de plástico ganhar vida e movimentos. O filme fica uma zona, cheio de cenas do mais puro pastiche, estragando todo o resultado conquistado até então. Fora que assim, todo esse rocambole é completamente desnecessário para a trama de verdade. Davenport em entrevista para o lançamento em DVD alegou que aquela atmosfera bizarra do filme foi completamente não intencional. Pudera, se tivesse sido intencional criar uma tosqueira dessa, a fita deveria ser jogada no fogo. Mas beleza, novamente em seu terceiro ato o longa retoma as rédeas da situação. Depois da vizinha de baixo ser morta pelo soldado-vivo, Analise virar uma massa disforme que literalmente bota ovos alienígenas e seu namoradinho ser arrebentado por um tiro do tanque de plástico, de volta à cabana do começo do filme, Sam tenta procriar com Rachel enquanto começa a passar por uma… hã, estranha metamorfose e sua pele necrosar.
Lá no finalzinho, e lá vem ALERTA DE SPOILER, pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco,
mais uma vez emulando um final pessimista para o E.T. de Spielberg, em meio a luz azul da nave espacial, Sam leva o filho também começando a se transformar, para o espaço sideral, e como alardeia a brilhante frase do pôster, quando Tony crescer, ele será igualzinho ao papai! Só que não termina aí não, fã do horror. Rachel ainda volta para o apartamento, que está todo pintado de branco parecendo uma outra dimensão, encontra a pantera de boas por lá, os ovos incubando na meleca, e é atacada por um deles que acaba de chocar e enfiar uma tromba na sua boca, tal qual aquele facehugger genérico que “engravida” a moça na cabana. E fim… Olha que eu nem vou falar da trilha sonora com aquela flauta tosca e aquele sintetizador chato de doer para fechar o pacote (que também foi inspirada em John Carpenter, mas que Davenport de forma até bem humorada descreve como sendo “sintetizadores gritantes”). Ah, houve duas sequências, mas que não tem absolutamente nada a ver com o original, pois o diretor não tinha os direitos sobre a história para fazer uma continuação propriamente dita. Ao frigir dos ovos, Estranhas Metamorfoses, mesmo que sendo trash até a medula e feito com um orçamento de dinheiro de pinga, talvez fosse um daqueles filmes dignos de menção honrosa para os fãs da bagaceira, surreal e sangrento, mas o diretor em certo momento perdeu tanto a mão querendo deixa-lo bizarro demais e entupindo de situações ridículas, que acaba estragando uma experiência que poderia ser plenamente satisfatória.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/04/470-estranhas-metamorfoses-1983/

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