Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento
Produção: Claudio Argento,
Salvatore Argento (Produtor Executivo)
Elenco: Anthony Franciosa,
Christian Borromeo, Mirella D’Angelo, Veronica Lario, John Saxon, Daria
Nicolodi
Depois de ter ajudado a popularizar e
criar as diretrizes do giallo com sua Trilogia dos Animais, O
Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, e a obra-prima Prelúdio Para Matar, Dario Argento voltou sua câmera para o sobrenatural
em Suspiria e A Mansão do Inferno. Mas ele retorna ao gênero depois sete anos com Tenebre.
E Argento aproveita mais um de seus longas para se mostrar como o artesão da
ultraviolência. Utiliza, como de praxe, de todos os elementos da construção de
uma obra cinematográfica, som, luz, planos, campo, contracampo, para apresentar
sua opereta macabra do gore. A primeira morte da fita, quando a garota é
asfixiada pelas páginas de um livro entubadas goela abaixo e tem sua garganta
cortada, já mostra que provocar o choque é sua meta aqui. Além disso, há
em Tenebre diversas das marcas registradas do diretor espalhados pelo
longa, como uma vítima de assassinato quebrando uma janela, personagens
recobrando memórias como pistas para tentar desvendar os assassinatos e os
closes das mãos do psicopata usando luvas de couro preta, uma das principais
características estéticas dos gialli.
Mas o que ele quer realmente, literalmente, é esguichar na cara do espectador é
o sangue. Peter Neal (Anthony Franciosa – considerado por Argento um dos mais
difíceis atores com o qual já trabalhou) é um escritor de mistérios que vai até
Roma promover seu último best-seller, Tenebrae
(que no latim significa sombra). Porém um maluco assassino começa a matar suas
vítimas de acordo com os acontecidos escritos nas páginas de seu livro com uma
navalha e mandar recadinhos e enigmas para o escritor. Neal se vê envolvido na
trama e começa a ajudar os detetives Germani (Giuliano Gemma) e Altieri (Carola
Stagnaro), com o auxílio de sua secretaria affair Anne (Daria Nicolodi – ex-esposa de Argento e mãe de
Asia) e de seu assistente Gianni (Christian Borromeo). Os assassinatos que dão
origem ao sangue vermelho, vivo, plástico, novamente é o carro chefe do filme
de Argento, já que o roteiro parece um remendo de narrativas paralelas sem a
menor necessidade, como a subtrama que narra o romance entre o agente de Neal,
Bullmer – papel de John Saxon, mais conhecido como pai de Nancy em A Hora
do Pesadelo – e a ex-esposa stalker do escritor, Jane – Veronica
Lario, ou mesmo os flashbacks que
contaram a motivação do assassino. Isso sem contar uma ridícula cena onde uma
garota é perseguida por um dobermann, que se arrasta de forma patética e sem
sentido, até ela ir coincidentemente parar na casa do assassino e ter um
destino trágico. Fora o roteiro capenga, não podemos esperar muito das atuações
dos atores de Tenebre, fazendo diversas caras e bocas, típicas da
canastrice italiana. Mas Argento não é e nem nunca foi um diretor de atores e
seus filmes nunca primariam pela primazia de um roteiro ou trama bem elaborada.
Isso fica absurdamente evidente em Tenebre, ainda mais que em seus outros
longas anteriores. Ele é um apreciador da estética estrema, da composição absoluta,
cuidadosamente planejada em cada take,
contando com a excelente fotografia de Luciano Tovoli, que explora o branco
para que as cores primárias como o vermelho e o azul ganhem destaque, e a
direção de arte precisa de Giuseppe Bassan. Todos esses elementos misturados
para Argento levar o espectador para o choque final (e óbvio até demais –
tirando a explicação esdrúxula), em uma cena onde litros e mais litros de
sangue quase escorrem para fora da tela. Apesar da mensagem subliminar que gera
uma discussão a parte, de que uma obra de ficção pode influenciar um maníaco a
aflorar sua psicose assassina, apresentando um serial killer que resolve emular as mortes impressas nas
páginas de um livro (apesar das motivações do assassino e sua ligação com a
escrita serem muito mais enraizadas do que se suspeita) a trama
de Tenebre tenta se sustentar em uma pobreza de investigação e
motivações que vale até citação de O Cão dos Baskerville de Sir Arthur Conan
Doyle, “elimine o impossível, e o que
restar, por mais improvável que pareça, deve ser verdade”, que até soa como
uma desculpa esfarrapada para o final que aguarda o espectador. Outros dois
nomes saltam aos olhos dos fãs de horror nos créditos de Tenebre: Lamberto
Bava, filho do Maestro do Macabro, Mario Bava, que trabalha como primeiro
assistente de direção e mais tarde dirigiria Demons – Filhos das
Trevas (produzido por Argento) e Michele Soavi, segundo assistente de
direção, que dirigiria o cult Pelo Amor e Pela Morte. Além disso,
conta com a sempre esquizofrênica trilha sonora do Goblin de Claudio Simonetti
(e a faixa tema que para mim sempre estará associada a música Phantom da dupla
eletrônica Justice, que sampleou a track). Tenebre é Dario Argento em
vários sentidos. No que há de melhor e de pior. O fã tem de estar ciente e
preparado. E isso é mais que o suficiente para torná-lo obrigatório a qualquer
amante do cinema de terror italiano e do cultuado diretor.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/06/26/464-tenebre-1982/
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