terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

#473 1983 NO LIMITE DA REALIDADE (Twilight Zone: The Movie, EUA)


Direção: John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante, George Miller
Roteiro: John Landis, George Clayton, Richard Matheson, Melissa Matheson, Jerome Bixby e Robert Garland (não creditado)
Produção: John Landis e Steven Spielberg, Jon Davison, Michael Finnel, George Folsey Jr. e Kathleen Kennedy (Produtores Associados), Frank Marshall (Produtor Executivo)
Elenco: Dan Aykroyd, Albert Brooks, Vic Morrow, Scatman Crother, Kathleen Quinlan, John Lithgow

Em 1959 surgiu a icônica série Além da Imaginação, criada por Rod Serling, exibida na TV americana no canal CBS, dirigida por Stuart Rosenberg e que trazia diversos contos de ficção científica, suspense, fantasia e terror. Impossível não se lembrar da abertura desse revolucionário show, com a porta dimensional se abrindo, sua inesquecível música tema e sua lendária narração: “Você está viajando para outra dimensão, uma dimensão não apenas de imagem e som, mas também da mente. Uma jornada por uma terra onde o único limite é a imaginação. Sua próxima parada: Além da Imaginação”. Pois bem, como a série foi responsável por influenciar pencas de cineastas, em 1983, eis que o queridinho da América, Steven Spielberg, e um desses sujeitos influenciados pelo programa, produz um longa metragem repaginado do antigo seriado, que aqui no Brasil recebeu o sem sentido título No Limite da Realidade (mas por que cargas d’água não manteve o nome da série original, Além da Imaginação? Por quê?). Spilerberg e seu comparsa, Frank Marshall, então convidaram para dirigir essa antologia, ao melhor estilo de filme portmanteau da Amicus, nomes com John Landis (Um Lobisomem Americano em Londres), Joe Dante (Piranha e Grito de Horror) e George Miller (Mad Max), além dele próprio, e roteiro de gente como Richard Matheson (que escrevia para o seriado original) e voilá: surgiu uma daquelas pequenas gemas do cinema fantástico, homenagem rasgada, repleto de cenas memoráveis e um filme saudosistas da infância e pré-adolescência dos trintões, apesar da enorme sensação de bad que ele passa por causa de um terrível acidente que ocorreu durante as filmagens (voltarei nisso logo menos). A sequência do começo é sem dúvida uma das mais memoráveis do cinema de terror. No prólogo, Dan Aykroyd e Albert Brooks estão dirigindo à noite por uma estrada, embalados por Midnight Special de Creedence Clearwater Revival tocada em uma fita que acaba mastigada pelo rádio (quem nunca ficou PUTO quando isso aconteceu?) quando Brooks começa a tentar assustar Ayrkroyd desligando todas as luzes do carro. Papo vai, papo vem, eles começam a jogar um jogo de adivinhações de músicas temas de séries de TV (cantarolando Bonanza e Havaí 5.0.entre outras), até que surge a música clássica de Além da Imaginação. Começando a relembrar de episódios assustadores, Ayrkoy pergunta ao amigo a famosa frase: “você quer ver algo realmente assustador?”. Brooks para o carro no acostamento e é atacado por Aykroyd transformado em um monstro. INCRÍVEL.
O primeiro episódio, “Time Out”, é dirigido e escrito por Landis (que também dirigiu o prólogo), uma história original, que não foi adaptada da série, porém livremente baseada no episódio “A Quality of Mercy”. Nele, Bill Connor, vivido por Vic Morrow, é um sujeito xenófobo e racista, que ao encontrar os amigos no bar para afogar às magoas por ter perdido uma promoção no trabalho, dispara sua metralhadora verbal de impropérios contra judeus, negros e asiáticos, dizendo que eles estão estragando a América e aquele papo todo de segregação racial tipicamente americano. Porém quando Connor sai do bar, ele se vê misteriosamente na França ocupada pelos nazistas na II Guerra Mundial e passa a ser perseguido por soldados alemães, no Mississippi confundindo com negro e caçado por membros da Klu-Klux-Klan e no Vietnã, vítima do próprio exército americano tido como um vietcongue. Um terrível acidente ocorreu durante as filmagens (e acabou afetando todo o longa). Um helicóptero sofreu uma pane durante os efeitos pirotécnicos e caiu sobre Morrow decapitando-o e matando dois atores mirins vietnamitas. A cena seria uma redenção para o personagem salvando as crianças. Landis, membros da equipe e Spielberg foram indiciados e julgados por homicídio culposo e absolvidos. O projeto quase foi cancelado, um abatimento geral acometeu a equipe e o filme só continuou pois o restante já havia sido quase todo filmado. Você consegue ver a cena no youtube até. Dá uma sensação horrível assisti-la.
Na segunda história, “Kick the Can”, todo o desânimo e resignação de Spielberg afetaram seu segmento visivelmente, tendo sido o último a ser filmado. Mas além disso, é uma sequência digna da caretice e melodrama exagerados característicos do diretor. O pior de todos os contos, refilmagem do episódio “Five Characters in Search of an Exit” traz o Sr. Bloom (Scatman Crothers, o Dick Halloran de O Iluminado de Stanley Kubrick), um idoso que traz para os velhinhos de um asilo as saudosas lembranças das brincadeiras da infância por conta de sua lata mágica. Sendo sincero com o leitor, ao assistir novamente ao filme para resenhá-lo, passei no fast-forward.
O filme começa a esquentar no terceiro segmento, “It’s a Good Life”, refilmagem de um episódio homônimo, dirigido por Joe Dante. Helen Foley (Kathleen Quinlan) durante uma viagem acaba conhecendo o menino Anthony (Jeremy Licht) a quem dá carona para casa e acaba se vendo prisioneira, junta com outros adultos, de uma criança com poderes sobrenaturais capaz de alterar a realidade e transformar todos seus desejos em realidade. Os outros reféns vivem com medo do garoto bipolar e cabe a Helen confrontá-lo, em um conto visualmente lisérgico, extrapolando os limites sonoros e visuais, usando e abusando de efeitos visuais (criados por Rob Bottin), excelente fotografia e design de produção inspirado nos desenhos animados, desafiando todas as leis da física e tornando-se realmente ameaçadores.
O último conto e grand finale é a cereja do bolo, o mais conhecido e bem executado de todos. Quem não se lembra do clássico “Nightmare at 20,000 Feet”, onde John Valentine (papel do ótimo John Lithgow, que originalmente foi de William Shatner em uma de suas primeiras aparições na televisão), vivendo um sujeito com ptesiofobia (para quem não sabe, é o nome dado ao medo de avião) que durante uma tempestade avista pela janela uma criatura destruindo a asa da aeronave e tem um surto de loucura. Usando ângulos inventivos e claustrofóbicos e pontuado pela trilha sonora de Jerry Goldsmith, o tresloucado diretor australiano George Miller dá um banho em todos os outros com uma sequência tensa e assustadora. Toda vez que eu viajo de avião, sento na janela e próximo da asa (o que parece ser TODAS às vezes), é impossível eu não olhar para fora e não imaginar um gremlin destroçando a turbina. Até A Casa da Arvore dos Horrores, especial de Halloween de Os Simpsons tem uma paródia deste episódio. 
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/09/473-no-limite-da-realidade-1983-2/

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