Direção: John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante,
George Miller
Roteiro: John Landis, George Clayton, Richard
Matheson, Melissa Matheson, Jerome Bixby e Robert Garland (não creditado)
Produção: John Landis e Steven Spielberg, Jon Davison,
Michael Finnel, George Folsey Jr. e Kathleen Kennedy (Produtores Associados),
Frank Marshall (Produtor Executivo)
Elenco: Dan Aykroyd, Albert Brooks, Vic Morrow,
Scatman Crother, Kathleen Quinlan, John Lithgow
Em 1959 surgiu a icônica série Além da Imaginação, criada por Rod
Serling, exibida na TV americana no canal CBS, dirigida por Stuart Rosenberg e
que trazia diversos contos de ficção científica, suspense, fantasia e terror.
Impossível não se lembrar da abertura desse revolucionário show, com a porta
dimensional se abrindo, sua inesquecível música tema e sua lendária narração: “Você está viajando para outra dimensão,
uma dimensão não apenas de imagem e som, mas também da mente. Uma jornada por
uma terra onde o único limite é a imaginação. Sua próxima parada: Além da
Imaginação”. Pois bem, como a série foi responsável por influenciar pencas
de cineastas, em 1983, eis que o queridinho da América, Steven Spielberg, e um
desses sujeitos influenciados pelo programa, produz um longa metragem
repaginado do antigo seriado, que aqui no Brasil recebeu o sem sentido título No Limite da Realidade (mas por que cargas d’água não manteve o nome da
série original, Além da Imaginação? Por quê?). Spilerberg e seu comparsa, Frank
Marshall, então convidaram para dirigir essa antologia, ao melhor estilo de
filme portmanteau da Amicus, nomes com John Landis (Um Lobisomem Americano em
Londres), Joe Dante (Piranha e Grito de Horror)
e George Miller (Mad Max), além dele próprio, e roteiro de gente como Richard
Matheson (que escrevia para o seriado original) e voilá: surgiu uma daquelas pequenas gemas do cinema fantástico,
homenagem rasgada, repleto de cenas memoráveis e um filme saudosistas da
infância e pré-adolescência dos trintões, apesar da enorme sensação de bad que
ele passa por causa de um terrível acidente que ocorreu durante as filmagens
(voltarei nisso logo menos). A sequência do começo é sem dúvida uma das mais
memoráveis do cinema de terror. No prólogo, Dan Aykroyd e Albert Brooks estão
dirigindo à noite por uma estrada, embalados por Midnight Special de Creedence Clearwater Revival tocada em uma fita
que acaba mastigada pelo rádio (quem nunca ficou PUTO quando isso aconteceu?)
quando Brooks começa a tentar assustar Ayrkroyd desligando todas as luzes do
carro. Papo vai, papo vem, eles começam a jogar um jogo de adivinhações de
músicas temas de séries de TV (cantarolando Bonanza e Havaí
5.0.entre outras), até que surge a música clássica de Além da
Imaginação. Começando a relembrar de episódios assustadores, Ayrkoy pergunta ao
amigo a famosa frase: “você quer ver algo realmente assustador?”. Brooks para o
carro no acostamento e é atacado por Aykroyd transformado em um monstro.
INCRÍVEL.
O primeiro episódio, “Time Out”, é dirigido e escrito por Landis (que também dirigiu o prólogo), uma história original, que
não foi adaptada da série, porém livremente baseada no episódio “A Quality of
Mercy”. Nele, Bill Connor, vivido por Vic Morrow, é um sujeito xenófobo e
racista, que ao encontrar os amigos no bar para afogar às magoas por ter
perdido uma promoção no trabalho, dispara sua metralhadora verbal de
impropérios contra judeus, negros e asiáticos, dizendo que eles estão
estragando a América e aquele papo todo de segregação racial tipicamente
americano. Porém quando Connor sai do bar, ele se vê misteriosamente na França
ocupada pelos nazistas na II Guerra Mundial e passa a ser perseguido por
soldados alemães, no Mississippi confundindo com negro e caçado por membros da
Klu-Klux-Klan e no Vietnã, vítima do próprio exército americano tido como um
vietcongue. Um terrível acidente ocorreu durante as filmagens (e acabou
afetando todo o longa). Um helicóptero sofreu uma pane durante os efeitos
pirotécnicos e caiu sobre Morrow decapitando-o e matando dois atores mirins
vietnamitas. A cena seria uma redenção para o personagem salvando as crianças.
Landis, membros da equipe e Spielberg foram indiciados e julgados por homicídio
culposo e absolvidos. O projeto quase foi cancelado, um abatimento geral
acometeu a equipe e o filme só continuou pois o restante já havia sido quase
todo filmado. Você consegue ver a cena no youtube até. Dá uma sensação horrível
assisti-la.
Na segunda história, “Kick the Can”, todo o desânimo e resignação de Spielberg afetaram seu segmento
visivelmente, tendo sido o último a ser filmado. Mas além disso, é uma
sequência digna da caretice e melodrama exagerados característicos do diretor.
O pior de todos os contos, refilmagem do episódio “Five Characters in Search of
an Exit” traz o Sr. Bloom (Scatman
Crothers, o Dick Halloran de O Iluminado de Stanley Kubrick), um
idoso que traz para os velhinhos de um asilo as saudosas lembranças das
brincadeiras da infância por conta de sua lata mágica. Sendo sincero com o
leitor, ao assistir novamente ao filme para resenhá-lo, passei no fast-forward.
O filme começa a esquentar no terceiro segmento, “It’s a Good Life”, refilmagem de um
episódio homônimo, dirigido por Joe
Dante. Helen Foley (Kathleen Quinlan) durante uma viagem acaba conhecendo o
menino Anthony (Jeremy Licht) a quem dá carona para casa e acaba se vendo
prisioneira, junta com outros adultos, de uma criança com poderes sobrenaturais
capaz de alterar a realidade e transformar todos seus desejos em realidade. Os
outros reféns vivem com medo do garoto bipolar e cabe a Helen confrontá-lo, em
um conto visualmente lisérgico, extrapolando os limites sonoros e visuais,
usando e abusando de efeitos visuais (criados por Rob Bottin), excelente
fotografia e design de produção inspirado nos desenhos animados, desafiando
todas as leis da física e tornando-se realmente ameaçadores.
O último conto e grand finale é a cereja do bolo, o mais conhecido e bem
executado de todos. Quem não se lembra do clássico “Nightmare at 20,000 Feet”, onde John Valentine (papel do ótimo
John Lithgow, que originalmente foi de William Shatner em uma de suas primeiras
aparições na televisão), vivendo um sujeito com ptesiofobia (para quem não
sabe, é o nome dado ao medo de avião) que durante uma tempestade avista pela
janela uma criatura destruindo a asa da aeronave e tem um surto de loucura.
Usando ângulos inventivos e claustrofóbicos e pontuado pela trilha sonora de
Jerry Goldsmith, o tresloucado diretor australiano George Miller dá um banho em todos os outros com uma sequência
tensa e assustadora. Toda vez que eu viajo de avião, sento na janela e próximo da
asa (o que parece ser TODAS às vezes), é impossível eu não olhar para fora e
não imaginar um gremlin destroçando a turbina. Até A Casa da Arvore dos
Horrores, especial de Halloween de Os
Simpsons tem uma paródia deste episódio.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/09/473-no-limite-da-realidade-1983-2/
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