sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

162 1943 A SÉTIMA VITIMA (THE SEVENTH VICTIM, EUA)


Direção: Mark Robson
Produção: Val Lewton
Roteiro: DeWitt Bodeen, Charles O'Neal
Fotografia: Nicholas Musuraca
Música : Roy Webb
Elenco:
Tom Conway ……Doutor Louis Judd
Jean Brooks …… Jacqueline Gibson
Isabel Jewell ……Frances Fallon
Kim Hunter ………Mary Gibson
Evelyn Brent …… Natalie Cortez
Erford Gage ……..Jason Hoag, Poeta
Ainda: Ben Bard, Hugh Beaumont, Chef Milani, Marguerita Sylva. Elisabeth Russel

Talvez o melhor da série de excelentes filmes de horror da RKO produzidos por Val Lewton na década de 40, A sétimo vítima é de uma modernidade surpreendente e poeticamente fatalista. Mary Gibson (Kim Hunter), uma órfã ingênua, vai a Manhattan em busca de sua estranha Irmã mais velha Jacqueline (Jean Brooks, com uma Inesquecível peruca de Cleópatra) e descobre que ela se envolveu em uma seita de elegantes adoradores do diabo que agora querem levá-la ao suicídio por ter traído o culto. O diretor Mark Robson encena várias sequências de suspense extraordinárias – dois satanistas tentando se livrar de um cadáver em um metrô lotado; Brooks sendo perseguida pela cidade por figuras sinistras e pelas suas próprias neuroses - e se permite toques estranhamente artísticos que afastam este filme de terror da tradicional bruxaria, levando-o em direção a algo muito próximo da angústia existencial. A sétima vítima é repleto de aspectos que devem ter sido chocantes em 1943 e ainda são incomuns até hoje: um bando de personagens lésbicas (nem todas antipáticas), uma heroína que acaba se mostrando tão calculista quanto os vilões e um final desesperador que contrapõe uma mulher moribunda (Elizabeth Russel) vestida para sair à rua pela última vez a Jacqueline, no limite de suas forças, trancando-se em um quarto de hotel sombrio para se enforcar. KN
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 162)

 
#055 1943 A SÉTIMA VÍTIMA (The Seventh Victim, EUA)
Direção: Mark Robson
Roteiro: Charles O’Neal, DeWitt Bodeen
Produção: Val Lewton
Elenco: Tom Conway, Jean Brooks, Isabel Jewell, Kim Hunter, Evelyn Brent, Hugh Beaumont

Como já venho dito por aqui, a safra de filmes de terror da RKO Radio Pictures produzidas por Val Lewton de 1942 a 1946, foi um verdadeiro divisor de águas no gênero, indo em contramão de tudo que a Universal vinha fazendo até então, explorando suas franquias de monstros até não poder mais. A Sétima Vítima, primeiro filme do até então montador Mark Robson é mais um tiro certeiro do estúdio.Mais uma vez é utilizada a fórmula que consagrou as produções de terror do estúdio, estipuladas por Lewton: “uma história de amor, três cenas de horror apenas sugeridos e uma de violência explícita. Tudo terminado em 70 minutos”.  Com enfoque muito maior em uma história de suspense, com conteúdo adulto e expressão do medo sugerido ao invés do explícito, A Sétima Vítima lida com um tema pouquíssimo explorado até então no cinema, porém controverso até os dias de hoje: uma seita satânica. Em uma trama mórbida e pessimista, Mary Brooks (interpretada por Kim Hunter), uma doce e singela garota órfã é obrigada a se mudar para Nova York em busca de sua irmã Jacqueline, desaparecida sem deixar nenhuma pista. Então em um clima crescente de suspense que prende a atenção do espectador, contado por uma intricada teia de acontecimentos, Mary acaba se aproximando do Dr. Gregory Ward (Hugh Beaumont), que na verdade é marido de Jacqueline, que também não obteve sucesso em descobrir o paradeiro da garota. Auxiliada pelo psicanalista Dr. Louis Judd (Tom Conway) e pelo poeta decadente Jason Hoag, Mary descobre que sua irmã vem sendo protegida pelo médico de uma terrível seita diabólica conhecida como Paladistas, culto a qual ela era adepta até então, mas está sendo perseguida exatamente por revelar alguns detalhes do grupo secreto, e segundo um dos principais mandamentos da seita, qualquer pessoa que revele algum segredo interno é considerada uma traidora, e aos traidores é reservada a morte. E no caso, essa é a sétima vez que isso acontece, sendo que em todas as outras seis, o responsável foi assassinado. Por isso o título do filme. O grande problema é que Jacqueline encontra-se perdida e sem saber o que fazer, e depois que é descoberto seu paradeiro, continua fragilizada e assustada, tendo que lutar por sua vida contra a conspiração. Como se não bastasse, Mary e Ward acabam se apaixonando. Ou seja, A Sétima Vítima é recheado de personagens solitários, dúbios e calculistas que lutam contra sentimentos distintos em uma trama que mistura razão e medo. O final é completamente fora dos padrões do que vínhamos vistos até então (ALERTA DE SPOILER): por fim Jacqueline acaba se suicidando em um ato desesperado, abrindo caminho para que a irmã e o ex-marido acabem juntos. Apesar de o roteiro ser meio corrido e apresentar alguma fragilidade, deixando passar alguns detalhes que poderiam ser muito mais perturbadores e bem aproveitados se o filme não fosse resultado de um orçamento limitado e metragem tão curta, algumas cenas são bastante memoráveis, prova de que Robson seguiu a cartilha que Jacques Torneur havia criado nos filmes anteriores para a RKO, comoSangue de PanteraA Morta-Viva e O Homem Leopardo, utilizando muito bem o jogo de luz e sombras e mensagens subentendidas, abusando dos nervos do espectador ao limite e nunca deixando nada escancarado. Duas sequências chamam muito a atenção em A Sétima Vítima: A primeira é uma cena em que Mary está no chuveiro e é visitada pela lésbica Sra. Redi, ex-sócia de Jacqueline em uma indústria de cosméticos, também participante da seita. Mary está a mercê da vilã, protegida apenas por uma cortina de plástico, onde vemos a heroína de costas e a sombra de Redi ao fundo, lembrando muito, mas muito mesmo, a clássica cena do chuveiro de Psicose (lançado quase vinte anos depois). Outra é quando nos é apresentada a ordem dos Palladi, um grupo de homens e mulheres da alta sociedade que praticam adoração ao diabo (porém sem nenhuma referencia concreta a sacrifícios ou bruxarias, mais uma vez mantendo-se as ideias no campo da especulação), que também lembra muito outros cultos conspiratórios de filmes como O Bebê de Rosemary e As Bodas de Satã da Hammer. A Sétima Vítima é mais um excelente exemplar do que Val Lewton conseguiu fazer com o cinema de horror, que além de imprimir uma nova forma de assustar e de contar histórias com um potencial psicológico muito maior para uma plateia mais refinada, percebe-se claramente toda a influência que seus filmes deixaram para a posterioridade, além de sempre manter um pé em temas modernos e atemporais, como: uma seita satânica aristocrática e suicídio aqui; repressão feminina e sexualidade em Sangue de Pantera; cárcere, obsessão e cerceamento das vontades em A Morta Viva; e um assassino com desequilíbrios mentais vítima de um acontecimento chocante em O Homem Leopardo. Temas esses que não cairiam no problema de se tornarem datados e ingênuos com o passar dos anos, como grande parte dos filmes da época.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/01/10/55-a-setima-vitima-1943/

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