Direção:
Vincente Minnelli
Produção:
Rogers Edens, Arthur Freed
Roteiro:
Irving Brecher, Fred I. Finklehoffe, baseado no livro de Sally Benson.
Fotografia:
George J. Folsey
Música: Ralph Blane, Hugh Martin, Nacio Herb Brown, Arthur Freed, George
E. Stoll
Elenco:
Mary Astor ……… Anna Smith
Judy Garland …… Esther Smith
Lucille Bremer ….. Rose Smith
Leon Ames ……… Alonzo Smith
Tom Drake ………. John Truett
Marjorie Main …… Katie
Ainda: Margaret O'Brien, Mary Astor, Harry Davenport, June Lockhurt,
Henry H. Daniels Jr., Joan Carroll, Hugh Marlowe, Robert Sully, Chill Wills,
Gary Gray, Dorothy Raye
Indicação ao Oscar: Irving Brecher, Fred I. Finklehoffe (rotelro),
George J. Folsey (fotografia), George E. Stoll (Música), Ralph Blane, Hugh
Martin (canção)
Uma
garotinha chamada Tootie (Margaret O'Brien), chorando e furiosa, sai de dentro
de casa e corre para a neve. Uma vez lá, começa a destruir seus adorados homens
de neve - um símbolo de tudo o que é estável e reconfortante na sua existência
familiar – com uma energia e virulência extremamente perturbadoras. Quem
imaginaria que Judy Garland cantando "Have Yourself a Merry Little
Christmas" teria um efeito tão devastador na frágil psique de uma criança,
ou na nossa? Agora seremos felizes, de Vincente Minnelli, é um dos musicais
mais incomuns e emotivos da história de Hollywood. Ele mistura os dois gêneros
dos quais Minnelli era mais adepto - o musical e o melodrama -, chegando até,
em seus momentos mais sombrios (como a sequência dedicada aos horrores do
Halloween), a quase se tornar um filme de terror. Ele é também um filme que,
tanto na época quanto agora, se permite ser interpretado de formas totalmente
contrastantes: ou como uma celebração perfeitamente inocente e ingênua dos
valores familiares, ou como uma reflexão sobre tudo que destrói a unidade
familiar por dentro. Em outras palavras: seria ele um entretenimento
reconfortante e escapista que admite ser problemático para poder desobstruir e
reforçar o status quo ou - quase à sua própria revelia - um gesto subversivo no
coração do sistema hollywoodiano, um grito de raiva incontida como o massacre
de Tootie da sua tribo imaginária de homens de neve? Sim, estou falando sobre o
mesmo filme em que Garland observa apaixonada seu vizinho e canta "The Boy
Next Doot" e - em um ponto alto espetacular - rodopia com um monte de passageiros
coloridos enquanto canta "The Trolley Song" ("Zing, zing, zing
went my heartstrings..."). O projeto de Minnelli é discretamente
ambicioso: ele não pretendia apenas contar a história de uma adorável família
"comum" - e dos desafios que ela enfrenta com estoicismo -, mas
também esboçar a história de uma audaciosa sociedade do século XX, definida por
acontecimentos como a Feira Mundial. A sensibilidade artística de Minnelli - a
sexualidade dele pode ser tanto uma questão em aberto quanto um segredo
escancarado, dependendo de qual história de Hollywood você consulta - estava em
sintonia com os anseios femininos e com a ansiedade masculina, e um excesso de
ambos torna este musical inexoravelmente dramático. O patriarcado surge na
forma estúpida e rabugenta de Leon Ames, que tenta afirmar bravamente sua
autoridade em face de uma família esmagadoramente feminina. A série de namorados
das garotas também precisa ser instigada, manipulada e informada de seu
verdadeiro destino conjugal. Quanto aos desafios estéticos de um musical,
Minnelli e seus colaboradores conseguiram praticamente integrar canções e dança
a um fluxo de incidentes extravagantes, dignos de um conto de fadas. Canções
começam como frases jogadas, faladas ou cantaroladas na rua ou diante de uma
porta e somem de repente quando uma intriga surge na trama. Sob a elegante
demonstração de estilo cinematográfico e o verniz civilizado das boas maneiras,
apenas Tootie é capaz de expressar emoções selvagens e indomadas - como
"Under the Bamboo Tree", seu exótico dueto com Judy, indica com jovialidade.
AM
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 166)
Nenhum comentário:
Postar um comentário