Direção: Clive Barker
Roteiro: Clive Barker
Produção: Gabriella Martinelli; Joe Roth (Coprodutor); David Barron
(Produtor Associado); James G. Robinson (Produtor Executivo)
Elenco: Craig Sheffer, Anne Bobby, David
Cronenberg, Charles Haid, Hugh Quarshire, Hugh Ross, Doug Bradley
Para começo de conversa: eu não assisti ainda a tal falada (e esperada)
versão “Cabal’s Cut” de Raça das Trevas, aquela com quase uma hora a mais de filme,
reeditada e remasterizada em 4K lançada em outubro do ano passado, e
infelizmente também não tive o prazer de ler o livro “Raça da Noite” e suas
Graphic Novels que compõe toda a história e mitologia no qual o longa se
baseou. Logo, o Raça das Trevas que conheço e assisti, eu acho uma
bosta! Clive Barker é sempre cheio das melhores intenções. A história do filme
é foda na real, o personagem de David Cronenberg (sim, o diretor) com aquele Q
de Espantalho, vilão do Batman, é foda, a trilha sonora de Danny Elfman é
demais, mas os efeitos especiais são uma merda, datadíssimos com maquiagens
toscas (olha só o pôster!) e todo aquele visual meio ópera rock afetado dos
anos 80 e os severos cortes que a 20th Century Fox promoveram devem
provavelmente ter acabado com o filme, tornando-o confuso e apressado. É sabido
que Barker ficou PUTO com as mudanças de última hora. Não deve ser para menos. Mas
eu fico imaginando cá com meus botões, se tem um filme que MERECE uma
refilmagem decente, é esse. E assim, uma refilmagem pesada, Rated R, suja,
mais gótica e menos poser, porque mesmo com a versão do diretor e seus 45
minutos extras, a fita vai continuar exalando os anos 80 pelos poros e
continuará caricato, com aquelas maquiagens bisonhas. A vasta mitologia
apresentada, mesmo que de forma breve, em Raça das Trevas(que deve ser
infinitamente foda no livro e nas HQs, se alguém aí já leu, comente sobre, por
favor) poderia render algo espetacular, que rivalizaria com os Cenobitas de Hellraiser –
Renascido do Inferno, a mais importante obra de Barker nos cinemas
até hoje. Mas sei lá, para variar um estúdio meteu a tesoura e fez o que
“achava melhor”, o filme até se tornou cult como muita bagaceira
(para quem nasceu e viveu nos anos 80 e começo dos 90, porque hoje em dia seria
difícil algum dos Milennials gostarem), mas restrições orçamentárias
acabaram por prejudicar o resultado final. Raça das Trevas é
completamente descompassado se você parar para perceber. Começa com Aaron Boone
(o canastríssimo Craig Sheffer) vivendo uma vida normal até achar que é um serial
killer, uma vez que o seu psiquiatra, Dr. Phillip K. Decker (papel de
Cronenberg) instiga-o a tal, apenas para acobertar que ele na verdade é um
psicopata. Boone tem sonhos recorrentes com um local chamado Midian, lar de
monstros (que na bíblia é o nome onde Moisés ficou exilado por um tempo) e ao
fugir da polícia, vai parar em um cemitério, que é Midian na verdade, e lá se
depara com duas criaturas transmorfas que fazem parte de um antigo clã de
monstros que vivem segregados e no subterrâneo (tipo os Morlocks), alguns
fotossensíveis, que são caçados por humanos que os temem e rejeitam (tipo os Morlocks)
desde o começo dos tempos. O herói acaba sendo alvejado pela polícia, dado como
morto, mas renasce por que um dos seres da “raça das trevas” lhe dera uma
mordida que foi capaz de ressuscitá-lo e isso o transforma em um deles. Em
determinado momento, descobrimos que ele na verdade é “o escolhido” e que uma
antiga profecia predizia (profecia predizer é ótimo) que ele lideraria as
criaturas contra os humanos. Enquanto isso, nós também descobrimos que o Dr.
Decker é na verdade uma espécie de caçador da raça das trevas, que vem durante
séculos eliminando as criaturas, e irá dessa vez, influenciar a polícia local
para que eles invadam o cemitério e exterminem todos ali presentes. Sob o
comando de Boone, eles irão se rebelar e o filme de terror que deveria ser
soturno, climático e fantasioso, vira uma porra louquice de ação com explosões,
fogo, pirotecnia e efeitos ainda mais vagabundos (salvo um ou outro, como a
mina porco-espinho e o cara que sai enguias do peito). Parece que todo o
contexto por trás da excelente história acaba se perdendo em umatrasheira até
a medula (e ainda com a violência e o sangue cortados pelo estúdio). Afinal é
uma trama escancarada sobre preconceito, perseguição de minorias, contra
aqueles que não são “naturais”, como eles chamam os humanos da superfície. A
maldade contra as diferenças, o genocídio e por aí vai, existem desde que o
mundo é mundo. Não seria diferente contra párias sobrenaturais rejeitadas. Mas
o fato do filme se transformar em um carro alegórico desgovernado na Sapucaí
com suas máscaras de látex, ao invés de focar o lado sombrio (que aflora apenas
na voz calma e no olhar impassível do personagem de Cronenberg), a “luta de
classes” e trabalhar um visual mórbido e mais lúgubre, é talvez o principal
erro, que mesmo que a tal “Cabal’s Cut” salve a questão do roteiro
apressado e dos cortes que o deixam sem sentido e fora de ritmo, não conseguirá
apagar o malfadado efeito do tempo e da estética oitentista exagerada e
alegórica, que em muitos filmes funcionam perfeitamente, mas aqui, acho que não
foi o caso. Raça das Trevas merecia uma sorte melhor. Clive Barker merecia
uma sorte melhor no cinema, uma vez que Hellraiser pode ser um clássico
absoluto, mas suas sequências são uma piores que as outras, e demais incursões
de sua excelente obra nunca tiveram um tratamento decente, desde Monster – A
Ressurreição do Mal, passando por bombas comoO Mestre das Ilusões e
até mais recente, O Último Trem, por exemplo.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/02/10/610-raca-das-trevas-1990/
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