sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

#610 1990 RAÇA DAS TREVAS (Nightbreed, EUA)


Direção: Clive Barker
Roteiro: Clive Barker
Produção: Gabriella Martinelli; Joe Roth (Coprodutor); David Barron (Produtor Associado); James G. Robinson (Produtor Executivo)
Elenco: Craig Sheffer, Anne Bobby, David Cronenberg, Charles Haid, Hugh Quarshire, Hugh Ross, Doug Bradley

Para começo de conversa: eu não assisti ainda a tal falada (e esperada) versão “Cabal’s Cut” de Raça das Trevas, aquela com quase uma hora a mais de filme, reeditada e remasterizada em 4K lançada em outubro do ano passado, e infelizmente também não tive o prazer de ler o livro “Raça da Noite” e suas Graphic Novels que compõe toda a história e mitologia no qual o longa se baseou. Logo, o Raça das Trevas que conheço e assisti, eu acho uma bosta! Clive Barker é sempre cheio das melhores intenções. A história do filme é foda na real, o personagem de David Cronenberg (sim, o diretor) com aquele Q de Espantalho, vilão do Batman, é foda, a trilha sonora de Danny Elfman é demais, mas os efeitos especiais são uma merda, datadíssimos com maquiagens toscas (olha só o pôster!) e todo aquele visual meio ópera rock afetado dos anos 80 e os severos cortes que a 20th Century Fox promoveram devem provavelmente ter acabado com o filme, tornando-o confuso e apressado. É sabido que Barker ficou PUTO com as mudanças de última hora. Não deve ser para menos. Mas eu fico imaginando cá com meus botões, se tem um filme que MERECE uma refilmagem decente, é esse. E assim, uma refilmagem pesada, Rated R, suja, mais gótica e menos poser, porque mesmo com a versão do diretor e seus 45 minutos extras, a fita vai continuar exalando os anos 80 pelos poros e continuará caricato, com aquelas maquiagens bisonhas. A vasta mitologia apresentada, mesmo que de forma breve, em Raça das Trevas(que deve ser infinitamente foda no livro e nas HQs, se alguém aí já leu, comente sobre, por favor) poderia render algo espetacular, que rivalizaria com os Cenobitas de Hellraiser – Renascido do Inferno, a mais importante obra de Barker nos cinemas até hoje. Mas sei lá, para variar um estúdio meteu a tesoura e fez o que “achava melhor”, o filme até se tornou cult como muita bagaceira (para quem nasceu e viveu nos anos 80 e começo dos 90, porque hoje em dia seria difícil algum dos Milennials gostarem), mas restrições orçamentárias acabaram por prejudicar o resultado final. Raça das Trevas é completamente descompassado se você parar para perceber. Começa com Aaron Boone (o canastríssimo Craig Sheffer) vivendo uma vida normal até achar que é um serial killer, uma vez que o seu psiquiatra, Dr. Phillip K. Decker (papel de Cronenberg) instiga-o a tal, apenas para acobertar que ele na verdade é um psicopata. Boone tem sonhos recorrentes com um local chamado Midian, lar de monstros (que na bíblia é o nome onde Moisés ficou exilado por um tempo) e ao fugir da polícia, vai parar em um cemitério, que é Midian na verdade, e lá se depara com duas criaturas transmorfas que fazem parte de um antigo clã de monstros que vivem segregados e no subterrâneo (tipo os Morlocks), alguns fotossensíveis, que são caçados por humanos que os temem e rejeitam (tipo os Morlocks) desde o começo dos tempos. O herói acaba sendo alvejado pela polícia, dado como morto, mas  renasce por que um dos seres da “raça das trevas” lhe dera uma mordida que foi capaz de ressuscitá-lo e isso o transforma em um deles. Em determinado momento, descobrimos que ele na verdade é “o escolhido” e que uma antiga profecia predizia (profecia predizer é ótimo) que ele lideraria as criaturas contra os humanos. Enquanto isso, nós também descobrimos que o Dr. Decker é na verdade uma espécie de caçador da raça das trevas, que vem durante séculos eliminando as criaturas, e irá dessa vez, influenciar a polícia local para que eles invadam o cemitério e exterminem todos ali presentes. Sob o comando de Boone, eles irão se rebelar e o filme de terror que deveria ser soturno, climático e fantasioso, vira uma porra louquice de ação com explosões, fogo, pirotecnia e efeitos ainda mais vagabundos (salvo um ou outro, como a mina porco-espinho e o cara que sai enguias do peito). Parece que todo o contexto por trás da excelente história acaba se perdendo em umatrasheira até a medula (e ainda com a violência e o sangue cortados pelo estúdio). Afinal é uma trama escancarada sobre preconceito, perseguição de minorias, contra aqueles que não são “naturais”, como eles chamam os humanos da superfície. A maldade contra as diferenças, o genocídio e por aí vai, existem desde que o mundo é mundo. Não seria diferente contra párias sobrenaturais rejeitadas. Mas o fato do filme se transformar em um carro alegórico desgovernado na Sapucaí com suas máscaras de látex, ao invés de focar o lado sombrio (que aflora apenas na voz calma e no olhar impassível do personagem de Cronenberg), a “luta de classes” e trabalhar um visual mórbido e mais lúgubre, é talvez o principal erro, que mesmo que a tal “Cabal’s Cut” salve a questão do roteiro apressado e dos cortes que o deixam sem sentido e fora de ritmo, não conseguirá apagar o malfadado efeito do tempo e da estética oitentista exagerada e alegórica, que em muitos filmes funcionam perfeitamente, mas aqui, acho que não foi o caso. Raça das Trevas merecia uma sorte melhor. Clive Barker merecia uma sorte melhor no cinema, uma vez que Hellraiser pode ser um clássico absoluto, mas suas sequências são uma piores que as outras, e demais incursões de sua excelente obra nunca tiveram um tratamento decente, desde Monster – A Ressurreição do Mal, passando por bombas comoO Mestre das Ilusões e até mais recente, O Último Trem, por exemplo.

FONTE: https://101horrormovies.com/2015/02/10/610-raca-das-trevas-1990/

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