Direção: David Lean
Produção: Noel Coward, Anthony Havelock-Allan, Ronald Neame
Roteiro: Anthony Havelock-Allan, David Lean, Ronald Neame, baseado na peça
Still Life, de Noel Coward
Fotografia:
Robert Krasker
Musica
não original: Rachmaninoff
Elenco:
Celia Johnson ………….. Laura Jesson
Trevor Howard ………….. Dr. Alec Harvey
Stanley Holloway ……….. Albert Godby
Joyce Carey ……………. Myrtle Bagot
Cyril Raymond ………….. Fred Jesson
Everley Gregg ………….. Dolly Messiter
Ainda: Marjorie Mars
Indicação ao Oscar: David Lean (diretor), Anthony Havelock-Allan, David
Lean, Ronald Neame (roteiro), Celia Johnson (atriz)
Festival
de Cannes: David Lean (Palma de Ouro)
Os épicos
imponentes da maturidade de David Lean às vezes ameaçam ofuscar os relativamente
modestos primeiros trabalhos do diretor. Porém concentrar-se demais no puro
espetáculo de Lawrence da Arábia e Doutor Jivago significaria ignorar algumas
das maiores façanhas de Lean. Afinal, apenas um cineasta de primeira grandeza
poderia dirigir Lawrence da Arábia, e este mesmo domínio da forma está patente
nos seus filmes anteriores, embora em escala muito menor. Lean já havia
dirigido três adaptações da obra de Noel Coward quando iniciou Desencanto, baseado
na peça de um ato do autor chamada Still Life. Contudo, a brevidade da peça o forçou
a expandir o material e, durante o processo, ele ampliou também seu próprio vocabulário
cinematográfico. Contado em flashback, Desencanto acompanha o caso amoroso platônico
entre a dona-de-casa Laura (Celia Johnson) e o médico Alec (Trevor Howard). que
se conhecem por acaso em uma estação de trem. Há obviamente uma conexão entre
os dois, porém ambos sabem que o romance não pode ir além de alguns almoços
furtivos. Ao elaborar um dos mais eficazes arranca-lágrimas da história do
cinema, Lean realizou uma série de avanços formais que lhe deram rapidamente a
reputação de mais do que um mero seguidor de Noel Coward. Para começar, ele
retirou a história da estação de trem, acrescentando mais detalhes ao romance
malfadado. Explorou também todo o aparato cinematográfico à sua disposição; a
iluminação, por exemplo, se aproxima do visual grave de suas adaptações
posteriores de Dickens, tornando o mais simbólica possível a estação escura e
esfumaçada. Os efeitos sonoros também são bem utilizados (especialmente o de um
trem acelerando), assim como a música, que incorpora o "Concerto para
piano nº 2" de Rachmaninoff como tema do filme. No entanto, o mais
importante é a utilização por parte de Lean de closes frequentes nos olhos de
Johnson, que contam melhor uma história do que muitos roteiros. Ela e Howard
estão excepcionais nesta que é a mais triste das histórias, cada movimento dos dois
prenhe de significado e os diálogos impecáveis repletos de emoções profundas. Um
olhar furtivo, um dedo acariciando a mão do outro e um riso compartilhado são praticamente
tudo que é permitido a esses amantes desventurados, e Johnson e Howard transmitem
belamente essa triste certeza. JKl
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 183)
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