Direção:
Jean Cocteau
Produção:
André Paulvé
Roteiro:
Jean Cocteau, Jeanne-Marie Leprince de Beaumont
Fotografia:
Henri Alekan
Música: Georges Auric
Elenco: Jean Marals, Josette Day, Mlla Parély, Nene Germon, Michel Auclair,
Raoul
Marco, Marcel André
Jean
Cocteau nunca se intitulou um cineasta, per se. Ele se considerava um poeta; o
cinema era apenas uma das muitas formas de arte que abraçou no decorrer de sua
carreira. No entanto, mesmo que Cocteau se visse como um poeta em vez de um "mero"
cineasta, sua versão brilhante e visionária desta história folclórica clássica
certamente provou que os dois títulos não se excluíam mutuamente. Além disso, o
fato que, de todos os seus projetos, o onírico A bela e a fera continue sendo
sua obra mais adorada revela não apenas sua imensa versatilidade e talento como
também a perenidade e aceitação em massa do cinema acima de todos os seus
formatos de preferência. De fato, Cocteau abordou A bela e a fera - apenas seu
segundo longa-metragem - com plena consciência do alcance da mídia e
impulsionado por uma série de compromissos. Por um lado, seus colegas esperavam
que ele colocasse o cinema francês de volta no mapa depois do atraso cultural
maciço causado pela ocupação alemã; o filme deveria ser, na prática, uma
afirmação nacional dos propósitos da comunidade artística francesa. Por outro,
Cocteau também estava sendo rechaçado pelos críticos, que o ai usavam de
elitismo artístico e de estar fora de contato com os gostos do público. Poderia
ele produzir uma obra comercial que fosse bem recebida pelas massas? Com esses
dois desafios em mente, Cocteau abordou a fábula centenária de" A Bela e a
Fera" como uma válvula de escape para seus impulsos criativos mais exóticos
e fantásticos. Na verdade, a estrutura relativamente direta da história
original encorajava esse tipo de experimentação. Quando seu pai é aprisionado
por uma Fera aparentemente monstruosa (Jean Marais) em um castelo remoto, a
filha, a Bela (Josette Day), se oferece para ficar no seu lugar. Porém a
barganha da Fera é mais do que parece: ele diz à Bela que pretende desposá-la.
Porém ela precisa ver além das aparências e descobrir o bom coração do seu
pretendente peludo antes de tomar sua decisão. Cocteau instaura essa corte em
um castelo mágico - que se prova cenário para uma série de belos efeitos. A
Bela não se limita a andar pelos corredores; ela desliza por eles. Velas não
são sustentadas por candelabros tradicionais, mas agarradas por braços afixados
às paredes. Espelhos são transformados em portais líquidos, chamas queimam e se
extinguem por vontade própria e estátuas ganham vida. O castelo serve tanto
como metáfora para a personificação do processo criativo quanto como desculpa para
várias imagens freudianas. Uma vez que a Bela não pode exatamente consumar seu
relacionamento com a Fera antes de ele se transformar, Cocteau a faz acariciar facas
e descer longos corredores para revelar seus desejos subconscientes. Entretanto,
a maior façanha de Cocteau foi tornar a Fera monstruosa ao mesmo tempo
convincente e cativante. Com Marais enterrado debaixo de uma maquiagem complexa,
a bondade da Fera precisa ser transmitida através de atos e gestos, revelando assim
a humanidade que jaz literal e figurativamente sob a pelagem e as presas. Na
verdade, a representação de Marais é tão bem-sucedida que, na estreia do filme,
quando a Fera finalmente se transforma no singelo Príncipe e ele e a Bela vivem
felizes para sempre, a atriz Creta Garbo exclamou sua famosa frase: "Quero
minha fera de volta!" JKl
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FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 188)
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