terça-feira, 9 de dezembro de 2014

155 1942 SOBERBA (THE MAGNIFICENT AMBERSONS, EUA)


Direção: Orson Welles, Fred Fleck
Produção: Jack Moss, George Shaefer, Orson Welles
Roteiro: Orson Welles, baseado no livro de Booth Tarkington
Fotografia: Stanley Cortez
Música: Bernard Herrmann, Roy Wehl
Elenco:
Orson Welles ………….. Narrador (voz)
Joseph Cotten …………. Eugene Morgan
Agnes Moorehead ……..Fanny Minafer
Ray Collins …………… .Jack Minafer
Anne Baxter …………… Lucy Morgan
Tim Holt ……………… ..George Minafer
Ainda: Erskein Sanford, Richard Bennett

Indicação ao Oscar: Orson Welles (melhor filme), Agnes Moorehead (atriz coadjuvante), Stanley Cortez (fotografia), Albert S. D'Agostino, A. Roland Fields, Darrell Sllvera (direção de arte)

O contrato sem precedentes de dois filmes que Orson Welles assinou com a RKO Pictures em 1940 lhe permitia liberdade criativa total, porém dentro de orçamentos limitados Soberba é o multas vezes ignorado segundo filme desse contrato. Ele foi iniciado após término de Cidadão Kane (1941), mas antes de a ira de William Randolph Hearst "arruinar” a carreira de Welles como cineasta hollywoodiano. O desejo de Welles de levar romance The Ambersons, de Booth Tarkington (ele também escreveu Alice Adam; Monsieur Beaucaire e os contos de Penrod- todos adaptados para o cinema), para as tela era obviamente um projeto mais pessoal do que Kane. Ele já havia realizado uma adaptação do livro com o Mercury Theatre, que foi apresentada pelo rádio. Baseado no mundo da alta burguesia da virada do século que Welles recordava da própria infância. Soberba conta a história de George Amberson Minafer (Tim Holt), o talentoso, porém detestável, rebento de uma família aristocrata que recebe o castigo que todos desejam para ele. Além dos demais paralelos, o prenome omitido de Welles era George. Como isso deve ter parecido não só autobiográfico como, à medida que o filme era feito, terrivelmente profético, deve-se dar o crédito a Welles por seu ego ter permitido que Holt, um caubói juvenil em um raro papel sério (que só repetiria em O tesouro de Sierra Madre, de 1948), fosse escalado como protagonista. Os primeiros 70 minutos revelam o gênio criativo, chegando a superat Kane. O filme começa com uma charmosa, porém mordaz, palestra sobre costumes masculinos narrada por Welles e demonstrada por Joseph Cotten, e então recria o mundo confuso tacanho, vívido e estranho dos Ambersons, que é destruído aos poucos pelo século XX - simbolizado, com perspicácia, pelo automóvel - e por suas próprias fraquezas ocultas. Trabalhando com o fotógrafo Stanley Cortez em vez de Gregg Toland, Welles engendra um filme que é tão visualmente impactante quanto Kane, mas que também transmite uma nostalgia mais terna e melancólica de passeios de trenó e cartões de visita mesmo mostrando como as injustiças de uma sociedade de classes condenam pessoa decentes a uma vida de miséria. O empresário Eugene (Cotten) perde seu amor, a bem-nascida Isabel (Costello), para um palerma de uma família de renome, porém é incapaz de se dissociar da magnificência dos Ambersons, mesmo à medida que o tempo os reduz a frangalhos. Enquanto Cidadão Kane é composto por uma série de cenas memoráveis. Soberba é um todo impecável: exemplo disso é a sequência de baile em que a câmera rodopia por entre os dançarinos, coletando pedaços da trama e de diálogos, seguindo um elenco numeroso e submetendo-se à música e à história. É uma tragédia que a versão original de Welles tenha sido tirada de suas mãos - confessadamente, enquanto ele estava no Brasil se divertindo e não retornando ligações - e editada. Nos últimos 10 minutos, o elenco se torna inexpressivo enquanto se afasta por um final feliz enxertado por alguma outra pessoa (provavelmente pelo montador Robert Wise). É como um bigode pintado no rosto da Mona Lisa, embora a refilmagem de 2002 de Alfonso Arau, que se atém ao fim original de Welles, não tenha sido multo bem recebida: a mágica era obviamente impossível de ser repetida. KN
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 155)

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