Direção: Mario
Bava
Roteiro: Ernesto
Gastaldi, Ugo Guerra, Luciano Martino
Produção: Frederico
Magnaghi, Ferdinando Baldi (Produtor Associado), Elio Scardamaglia (Supervisor
de Produção)
Elenco: Daliah Lavi, Christopher Lee, Tony
Kendall, Ida Galli, Harriet Medin
Duas constatações permanentes e
inegáveis vem à tona ao publicar este post: Primeiro, Mario Bava era um GÊNIO.
Segundo, como os títulos de filmes no Brasil são uma piada. Drácula, O
Vampiro do Sexo????? Mas que diabos é isso? Obviamente foi uma
ridícula solução mercadológica para aproveitar Christopher Lee no elenco. Mas o
que tem a ver? A fita não tem absolutamente ligação nenhuma com Drácula e com
vampiros. Certo, há um enorme teor sexual por conta da uma personagem safada SM
que gosta de levar chicotada. Mas até aí… Na verdade, o lance da chicotada vem
sim do título original do filme, La frusta e il corpo, onde a tradução
literal seria O Chicote e o Corpo (que também é o título internacional do
filme, The Whip and the Body – e como foi relançado em DVD na Coleção
Obras-Primas do Terror da Versátil). Para pirorar, há também um título
alternativo aqui no Brasil de O Vampiro e o Sexo. Quase a mesma palhaçada.
Importante é que isso não desmereça essa obra prima e muito menos, afaste-o
dela, caro leitor. A opulência visual, o esmero de Mario Bava no uso das cores
e da iluminação para criar uma atmosfera gótica de terror é inigualável. Toda
sua preocupação com a obtenção do clima perfeito, auxiliada pela fotografia
(aqui crédito para Ubaldo Tezano com um dedo de Bava), a ambientação de época,
a trilha sonora de Carlo Rustichelli (com seu piano chorando desde os créditos
de abertura), e os ângulos e movimentos de câmera utilizados pelo maestro do
macabro, fazem de Drácula, O Vampiro do Sexo(argh!!! Odeio escrever este
título) um dos melhores filmes do diretor italiano. A trama sobrenatural, com
requintes de luxúria e paixão gótica, traz um Christopher Lee simplesmente
incrível. Amoral, sinistro, arrogante, sua simples presença na tela e suas
poucas falas (mesmo que dubladas) são o suficientes para colocar o personagem
Kurt Menliff no hall da fama dos melhores vilões que Lee representou em sua
gigantesca carreira. Maligno, ele é um filho pródigo que retorna à residência
dos Menliff com o intuito falso de parabenizar seu irmão, Christian (Tony
Kendall) pelo casamento com a bela Nevenka (interpretada pela palestina Daliah
Lavi) e pedir perdão ao seu pai. Na verdade, Kurt havia sido escorraçado da
família, e o motivo que todos nutrem esse ódio por ele, é por conta de ter tido
um caso com uma das criadas do castelo, que a levou ao suicídio. Por conta da
infâmia, Kurt se afastou, foi deserdado pelo seu pai, o Conde Menliff e deixou
na mãe da moça, Gioriga, aquele gostinho amargo de vingança na boca (a mulher
guarda até hoje o punhal que a filha usou para se matar, guardado dentro de uma
redoma de vidro), assim como sua outra filha, Katia.
Só que como todo bom filme de
Bava, o que importa mesmo está nas entrelinhas, e a trama vai mais uma vez
escancarar algo corriqueiro na obra do diretor: a decadência da instituição
familiar. Relações bizarras entre todos os membros da família Menliff e a
criadagem saltam aos olhos. Casamentos de interesses, paixões arrebatadoras não
consumadas, adultério, mesquinharia, e claro, relacionamentos sadomasoquistas
bizarros (ainda vou chegar lá). Novamente, os títulos de Conde e o dinheiro,
que talvez fosse abundante outrora, levam os Menliff a um espiral de desgraça e
baixeza, o que se completa na figura escrota de Kurt, que pode tanto ser
produto do meio quanto vice-versa, representando toda a degeneração daquela
casa. Pois bem, o filme deixa o espectador boquiaberto quando em um idílico
passeio de cavalo pela encosta, Nevenka é abordada por Kurt, e aí descobrimos
então o caso dos dois e a paixão não consumada. Vale lembrar aqui que Nevenka
está preste a se casar com o irmão de Kurt, Michael, casório imposto pelo
enfermo Conde Menliff, sendo que na real, Michael gosta mesmo é da empregada
Katia (os Menliff tinham uma queda pelas serviçais do seu castelo, pelo jeito).
Pronto, estabelecido o dramalhão mexicano, é hora da violência e do medo
entrarem em cena. Kurt começa a relembrar dos bons e velhos tempos, e diz em
uma das frases mais emblemáticas do longa (quiça da carreira do ator): “Você
não mudou. Você sempre adorou violência”, e tome chicotada na garota, que ao
mesmo tempo que se contorce de dor, se contorce de prazer com seu êxtase
fetichista. E isso meu amigo, estamos falando do ano de 1963. Claro que Bava
seria tachado de um velhinho pervertido e o filme, criado especialmente para
tentar faturar alguma grana no mercado internacional (vide todos os
realizadores com seus nomes americanizados. Até Bava dirigiu a fita sob o
pseudônimo de John M. Old), seria brutalmente mutilado pela censura, com todas
as cenas de violência sadomasoquista (que aconteceriam de novo mais algumas
vezes até seu término), chegando a ficar inteligível. A versão uncut do
diretor só foi lançada, de forma restaurada, muitos anos mais tarde, graças aos
esforços de Tim Lucas e Joe Dante.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/15/163-dracula-o-vampiro-do-sexo-1963/
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