segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

#163 1963 DRÁCULA, O VAMPIRO DO SEXO (La frusta e il corpo / The Whip and the Body, Itália, França)


Direção: Mario Bava
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Ugo Guerra, Luciano Martino
Produção: Frederico Magnaghi, Ferdinando Baldi (Produtor Associado), Elio Scardamaglia (Supervisor de Produção)
Elenco: Daliah Lavi, Christopher Lee, Tony Kendall, Ida Galli, Harriet Medin

Duas constatações permanentes e inegáveis vem à tona ao publicar este post: Primeiro, Mario Bava era um GÊNIO. Segundo, como os títulos de filmes no Brasil são uma piada. Drácula, O Vampiro do Sexo????? Mas que diabos é isso? Obviamente foi uma ridícula solução mercadológica para aproveitar Christopher Lee no elenco. Mas o que tem a ver? A fita não tem absolutamente ligação nenhuma com Drácula e com vampiros. Certo, há um enorme teor sexual por conta da uma personagem safada SM que gosta de levar chicotada. Mas até aí… Na verdade, o lance da chicotada vem sim do título original do filme, La frusta e il corpo, onde a tradução literal seria O Chicote e o Corpo (que também é o título internacional do filme, The Whip and the Body – e como foi relançado em DVD na Coleção Obras-Primas do Terror da Versátil). Para pirorar, há também um título alternativo aqui no Brasil de O Vampiro e o Sexo. Quase a mesma palhaçada. Importante é que isso não desmereça essa obra prima e muito menos, afaste-o dela, caro leitor. A opulência visual, o esmero de Mario Bava no uso das cores e da iluminação para criar uma atmosfera gótica de terror é inigualável. Toda sua preocupação com a obtenção do clima perfeito, auxiliada pela fotografia (aqui crédito para Ubaldo Tezano com um dedo de Bava), a ambientação de época, a trilha sonora de Carlo Rustichelli (com seu piano chorando desde os créditos de abertura), e os ângulos e movimentos de câmera utilizados pelo maestro do macabro, fazem de Drácula, O Vampiro do Sexo(argh!!! Odeio escrever este título) um dos melhores filmes do diretor italiano. A trama sobrenatural, com requintes de luxúria e paixão gótica, traz um Christopher Lee simplesmente incrível. Amoral, sinistro, arrogante, sua simples presença na tela e suas poucas falas (mesmo que dubladas) são o suficientes para colocar o personagem Kurt Menliff no hall da fama dos melhores vilões que Lee representou em sua gigantesca carreira. Maligno, ele é um filho pródigo que retorna à residência dos Menliff com o intuito falso de parabenizar seu irmão, Christian (Tony Kendall) pelo casamento com a bela Nevenka (interpretada pela palestina Daliah Lavi) e pedir perdão ao seu pai. Na verdade, Kurt havia sido escorraçado da família, e o motivo que todos nutrem esse ódio por ele, é por conta de ter tido um caso com uma das criadas do castelo, que a levou ao suicídio. Por conta da infâmia, Kurt se afastou, foi deserdado pelo seu pai, o Conde Menliff e deixou na mãe da moça, Gioriga, aquele gostinho amargo de vingança na boca (a mulher guarda até hoje o punhal que a filha usou para se matar, guardado dentro de uma redoma de vidro), assim como sua outra filha, Katia.
Só que como todo bom filme de Bava, o que importa mesmo está nas entrelinhas, e a trama vai mais uma vez escancarar algo corriqueiro na obra do diretor: a decadência da instituição familiar. Relações bizarras entre todos os membros da família Menliff e a criadagem saltam aos olhos. Casamentos de interesses, paixões arrebatadoras não consumadas, adultério, mesquinharia, e claro, relacionamentos sadomasoquistas bizarros (ainda vou chegar lá). Novamente, os títulos de Conde e o dinheiro, que talvez fosse abundante outrora, levam os Menliff a um espiral de desgraça e baixeza, o que se completa na figura escrota de Kurt, que pode tanto ser produto do meio quanto vice-versa, representando toda a degeneração daquela casa. Pois bem, o filme deixa o espectador boquiaberto quando em um idílico passeio de cavalo pela encosta, Nevenka é abordada por Kurt, e aí descobrimos então o caso dos dois e a paixão não consumada. Vale lembrar aqui que Nevenka está preste a se casar com o irmão de Kurt, Michael, casório imposto pelo enfermo Conde Menliff, sendo que na real, Michael gosta mesmo é da empregada Katia (os Menliff tinham uma queda pelas serviçais do seu castelo, pelo jeito). Pronto, estabelecido o dramalhão mexicano, é hora da violência e do medo entrarem em cena. Kurt começa a relembrar dos bons e velhos tempos, e diz em uma das frases mais emblemáticas do longa (quiça da carreira do ator): “Você não mudou. Você sempre adorou violência”, e tome chicotada na garota, que ao mesmo tempo que se contorce de dor, se contorce de prazer com seu êxtase fetichista. E isso meu amigo, estamos falando do ano de 1963. Claro que Bava seria tachado de um velhinho pervertido e o filme, criado especialmente para tentar faturar alguma grana no mercado internacional (vide todos os realizadores com seus nomes americanizados. Até Bava dirigiu a fita sob o pseudônimo de John M. Old), seria brutalmente mutilado pela censura, com todas as cenas de violência sadomasoquista (que aconteceriam de novo mais algumas vezes até seu término), chegando a ficar inteligível. A versão uncut do diretor só foi lançada, de forma restaurada, muitos anos mais tarde, graças aos esforços de Tim Lucas e Joe Dante.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/15/163-dracula-o-vampiro-do-sexo-1963/


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