quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

177 1945 O BOULEVARD DO CRIME (LES ENFANTS DU PARADIS, FRANÇA)


Direção: Marcel Carné
Produção: Raymond Borderie, Fred OPrain
Roteiro: Jacques Prévert
fotografia: Marc Fossard, Roger Hubert
Música: Joseph Kosma, Maurice Thirlet
Elenco:
Arletty ………………... Garance (Claire Reine)
Jean-Louis Barrault … Baptiste Debureau
Pierre Brasseur ………Frédérick Lemaître
Pierre Renoir …………Jéricho
María Casares ……… Nathalie
Gaston Modot ………. Fil de Soie
Ainda: Fabien Loris, Marcel Pérès, Palau, Etienne Decroux, Jane Marken, Marcelle Monthil, Louis Florencie, Habib Bengalia, Rognoni, Marcel Herrand.

Indicação ao Oscar: Jacques Prévert (roteiro)

Desde sua triunfante estreia na recém-libertada França em 1945, O boulevard do crime manteve seu posto de um dos maiores filmes franceses de todos os tempos. Ele representa o auge do gênero muitas vezes chamado de "realismo poético" (embora "romantismo pessimista" talvez seja o termo mais adequado) e também da parceria que o levou à perfeição - a do roteirista Jacques Prévert e do diretor Marcel Carné. Eles faziam uma dupla peculiar: Prévert gregário, passional, altamente comprometido politicamente e um dos melhores poetas populares franceses do século; Carné circunspecto, rabugento, reservado, um perfeccionista frio. Ainda assim, juntos eles criaram uma magia cinematográfica que nenhum dos dois conseguiria alcançar depois de separados. O boulevard do crime foi seu último sucesso. O filme ficou cerca de 18 meses em produção e envolveu a construção do maior cenário de estúdio da história do cinema francês - a rua de meio quilômetro, reproduzida nos mínimos detalhes, representando o "boulevard do crime", a região que comportava os teatros de Paris nas décadas de 1830 e 40. Este teria sido um empreendimento intimidador na mais favorável das épocas; na França da guerra, sob ocupação nazista, foi algo praticamente heroico. Transporte, materiais, figurinos e película eram escassos. Os co-produtores italianos se retiraram quando a Itália capitulou. O produtor francês original teve que se afastar quando passou a ser Investigado pelos nazistas. Um dos atores principais, um proeminente simpatizante do nazismo, fugiu para a Alemanha depois do Dia D e teve que ser substituído no último minuto. Alexandre Trauner, o brilhante cenógrafo, e o compositor Joseph Kosma, ambos judeus, foram obrigados a trabalhar escondidos e transmitir suas ideias através de intermediários. Apesar de tudo isso, O boulevard é um êxito total com toda a riqueza e complexidade de um grande romance do século XIX. As cenas de multidão que se passam no boulevard agitado e exuberante distribuem seus 1.500 figurantes em uma ruidosa profusão, enchendo cada canto da tela com detalhes vivos. Uma ousada afirmação da cultura teatral francesa em uma época em que o país estava conquistado e ocupado, o filme oferece uma reflexão em várias camadas sobre a natureza da farsa, da fantasia e da representação. Cada diálogo é realçado; cada ação, encenada de forma magistral. Os três protagonistas masculinos são todos artistas performátlcos: Lemaítre, o grande ator dramático (Pierre Brasseur); Debureau, o grande mímico (Jean-Louis Barrault); e Lacenaire, o dramaturgo fracassado que se torna um mestre do crime dândi (Marcel Herrand). Todos são personagens históricos reais. A mulher que os três amam, a grande horizontale Garance (Arletty em seu maior papel no cinema), é fictícia - menos uma mulher real do que um ícone do feminino eterno, evasiva e infinitamente desejável. Embora tenha mais de três horas, O boulevard não parece nem um minuto longo demais. Uma celebração do teatro como a maior arte popular do século XIX (como o cinema o foi no século XX), ele mistura farsa, romance, melodrama e tragédia em uma narrativa irresistível. Carné foi, acima de tudo, um grande diretor de atores, e o filme oferece um banquete de excelentes atuações, além da sua espitituosidade, graça, paixão e de uma sensação generalizada de efemeridade - a melancolia que está por trás de toda a arte romântica. PK
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 177)

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