Direção:
Marcel Carné
Produção:
Raymond Borderie, Fred OPrain
Roteiro:
Jacques Prévert
fotografia:
Marc Fossard, Roger Hubert
Música: Joseph Kosma, Maurice Thirlet
Elenco:
Arletty ………………... Garance (Claire Reine)
Jean-Louis Barrault … Baptiste Debureau
Pierre
Brasseur ………Frédérick Lemaître
Pierre
Renoir …………Jéricho
María
Casares ……… Nathalie
Gaston
Modot ………. Fil de Soie
Ainda:
Fabien Loris, Marcel Pérès, Palau, Etienne Decroux, Jane Marken, Marcelle
Monthil, Louis Florencie, Habib Bengalia, Rognoni, Marcel Herrand.
Indicação
ao Oscar: Jacques Prévert (roteiro)
Desde sua
triunfante estreia na recém-libertada França em 1945, O boulevard do crime manteve
seu posto de um dos maiores filmes franceses de todos os tempos. Ele representa
o auge do gênero muitas vezes chamado de "realismo poético" (embora
"romantismo pessimista" talvez seja o termo mais adequado) e também
da parceria que o levou à perfeição - a do roteirista Jacques Prévert e do
diretor Marcel Carné. Eles faziam uma dupla peculiar: Prévert gregário,
passional, altamente comprometido politicamente e um dos melhores poetas populares
franceses do século; Carné circunspecto, rabugento, reservado, um perfeccionista
frio. Ainda assim, juntos eles criaram uma magia cinematográfica que nenhum dos
dois conseguiria alcançar depois de separados. O boulevard do crime foi seu
último sucesso. O filme ficou cerca de 18 meses em produção e envolveu a
construção do maior cenário de estúdio da história do cinema francês - a rua de
meio quilômetro, reproduzida nos mínimos detalhes, representando o
"boulevard do crime", a região que comportava os teatros de Paris nas
décadas de 1830 e 40. Este teria sido um empreendimento intimidador na mais
favorável das épocas; na França da guerra, sob ocupação nazista, foi algo praticamente
heroico. Transporte, materiais, figurinos e película eram escassos. Os
co-produtores italianos se retiraram quando a Itália capitulou. O produtor francês
original teve que se afastar quando passou a ser Investigado pelos nazistas. Um
dos atores principais, um proeminente simpatizante do nazismo, fugiu para a Alemanha
depois do Dia D e teve que ser substituído no último minuto. Alexandre Trauner,
o brilhante cenógrafo, e o compositor Joseph Kosma, ambos judeus, foram obrigados
a trabalhar escondidos e transmitir suas ideias através de intermediários. Apesar
de tudo isso, O boulevard é um êxito total com toda a riqueza e complexidade de
um grande romance do século XIX. As cenas de multidão que se passam no boulevard
agitado e exuberante distribuem seus 1.500 figurantes em uma ruidosa profusão,
enchendo cada canto da tela com detalhes vivos. Uma ousada afirmação da cultura
teatral francesa em uma época em que o país estava conquistado e ocupado, o filme
oferece uma reflexão em várias camadas sobre a natureza da farsa, da fantasia e
da representação. Cada diálogo é realçado; cada ação, encenada de forma
magistral. Os três protagonistas masculinos são todos artistas performátlcos:
Lemaítre, o grande ator dramático (Pierre Brasseur); Debureau, o grande mímico
(Jean-Louis Barrault); e Lacenaire, o dramaturgo fracassado que se torna um
mestre do crime dândi (Marcel Herrand). Todos são personagens históricos reais.
A mulher que os três amam, a grande horizontale Garance (Arletty em seu maior
papel no cinema), é fictícia - menos uma mulher real do que um ícone do feminino
eterno, evasiva e infinitamente desejável. Embora tenha mais de três horas, O
boulevard não parece nem um minuto longo demais. Uma celebração do teatro como
a maior arte popular do século XIX (como o cinema o foi no século XX), ele
mistura farsa, romance, melodrama e tragédia em uma narrativa irresistível.
Carné foi, acima de tudo, um grande diretor de atores, e o filme oferece um
banquete de excelentes atuações, além da sua espitituosidade, graça, paixão e
de uma sensação generalizada de efemeridade - a melancolia que está por trás de
toda a arte romântica. PK
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 177)
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