terça-feira, 30 de dezembro de 2014

#102 1957 A NOITE DO DEMÔNIO (Night of the Demon / Curse of the Demon, Reino Unido)


Direção: Jacques Tourneur
Roteiro: Charles Bennett, Hal E. Chester (baseado na obra de Montague R. James)
Produção: Frank Bevis, Hal E. Chester (Produtor Executivo)
Elenco: Dana Andrews, Peggy Cummins, Niall MacGinnis, Maurice Denham, Athene Seyler

A Noite do Demônio é mais um daqueles grandes filmes de terror. Encontra-se enxertado no meio de um monte de bobagens sci-fi que eram feitas durante toda a década de 50, e isso que dá um enorme respaldo para a produção, já que traz um tema que fugia do usual na época e sempre é complexo e assustador: satanismo. Fora isso, temos na direção (mais uma vez brilhante, diga-se de passagem), Jacques Tourneur, que já havia emplacado alguns dos principais filmes de terror feitos até então: Sangue de PanteraA Morta-Viva e O Homem Leopardo. O roteiro do filme, escrito por Charles Bennett, que comprou os direitos do livro Casting the Runes de Montague R. James, foi vendido ao produtor executivo Hal E. Chester, que decidiu levá-lo as telas. Só que Bennet se arrependeu amargamente de ter vendido o texto para Chester, pois logo após o fechamento do negócio, ao chegar à América, foi procurado pela RKO Radio Pictures interessada em produzir o longa e colocá-lo como diretor. Mas a grande verdade é que A Noite de Demônio está envolvido em grandes polêmicas em sua produção, incluindo aí brigas entre o diretor Tourneur e o roteirista Charles Bennett com Hal E. Chester. E se você já assistiu ao filme, sabe exatamente qual deve ter sido o maior motivo da briga entre produtor e diretor. Quem conhece o trabalho genial de Tourneur, sabe muito bem seu apreço pelo suspense e pelo terror psicológico, sempre deixando nas entrelinhas um horror maior do que a exposição explícita, que poderia muito bem, estragar todo o clima do filme. Assim como aconteceu emSangue de Pantera, quando Tourneur quebrou o pau com Val Lewton para não mostrar a tal mulher pantera com seu baixo orçamento e trabalhou o enredo meticulosamente mais com sugestão e apenas um vislumbre final, aqui a treta foi no mesmo nível, para não colocar o demônio gigante com asas, chifre, pés de bode e cara de lobo literalmente em cena, pois sabia do efeito cômico que a coisa poderia obter. E não deu outra. Chester estava decidido a mostrar o demônio para “chocar” e aterrorizar os espectadores, e duas vezes ainda, uma no começo do filme e outra em seu clímax. Tourneur foi contra e não teve parte nas cenas filmadas com a criatura, adicionadas depois na edição. Para ele, o que seria o ideal era a audiência nunca ter a real certeza de ter visto um demônio e manter até essa dúvida nos próprios personagens centrais. Ray Harryhausen, o mestre do stop-motion havia sido requisitado pela Columbia Pictures para criar as cenas com o tinhoso, mas já estava comprometido com os efeitos especiais de outro filme e recusou o trabalho. E aí amigo, deu no que deu. O filme é impecável, até a criatura aparecer, principalmente na tosca sequência final, transformando a cena em um pastiche que só serve para dar risada, com o coisa-ruim amassando o vilão do filme como uma bolinha de papel na estação de trem de Southampton. Segundo o livro Beating the Devil – The Making of Night of the Demon, de Tony Earnshaw, para Chester desde o começo estava claro que o demônio ia sim aparecer em cena, mesmo com todo o protesto de Tourneur, para deixar o público ciente de que os poderes infernais são reais. No mesmo livro, Bennett diz que “se Chester aparecesse no meu caminho nesse momento, eu atiraria para matá-lo”. Bom, vamos à trama. Dr. John Holden (Dana Andrews – muito parecido fisicamente com Lon Chaney Jr.) é um especialista americano em parapsicologia, extremamente cético, que vive para desmascarar e colocar em xeque alguns fenômenos paranormais, principalmente tratando-se de demonologia. Ao viajar para a Inglaterra para ajudar o Prof. Henry Harrington (Maurice Denham) em sua tentativa de desmascarar uma seita satânica chefiada pelo adorador do oculto, Dr. Julian Karswell (Niall MacGinnis), começa a presenciar na pele, mesmo mantendo seu ceticismo, eventos sobrenaturais inexplicáveis. Junto com a sobrinha do Prof. Harrington, Joanna (Peggy Cummins) começa a investigar a estranha morte do companheiro, que morreu eletrocutado em um acidente de carro contra um poste de força, mas que nós sabemos que foi obra do cramunhão, conjurado por Karswell através do uso de runas. Isso por meter demais o bedelho na seita que o vilão comanda, chamada Ordem do Verdadeiro Crente, algo que Holden acaba também fazendo e por isso partilha do mesmo destino, também sendo amaldiçoado por Karswell, que lhe entrega um pergaminho, sem seu conhecimento, fixando uma data e horário para sua morte. Aos poucos, Holden vai se aprofundando nesse ciclo diabólico e estranhos acontecimentos começam a colocar à prova sua crença no sobrenatural, e a única forma de Holden se livrar da maldição e impedir a chegada do demônio para levar sua alma, é entregando esse pergaminho para outra pessoa, transferindo a morte iminente para o próximo. SPOILER ALERT, pule para o próximo parágrafo ou leia por conta e risco: e isso acontece exatamente quando Holden, que já transformou-se em um crédulo nesta altura do campeonato, ludibria Karswell enfiando o pergaminho no bolso do paletó e devolvendo a maldição, fazendo com que o diabão venha tomar sua alma nos trilhos de uma estação de trem, algo que lembra bastante o recente Arraste-me para o Inferno de Sam Raimi, dada suas devidas proporções. Todos os aspectos do roteiro e a criação do clima pertinente de suspense imposto por Tourneur através de sua fotografia preto e branca quase expressionista, ângulos inusitados e a mistura de cortes rápidos para mostrar sempre menos e planos sequências arrasadores, transformam A Noite do Demônio em um filmaço. E vários elementos assustadores estão ali para meter medo nos incautos, como tempestades de vento, farfalhar de árvores e arbustos em um bosque escuro, e até um gato que se transforma em um leopardo em um apartamento. Mas infelizmente o demônio focinhudo, com asas e garras que aparece no final, consegue jogar tudo isso fora e estragar um filme que poderia ser perfeito. Para o lançamento nos EUA, A Noite do Demônio ganhou um corte de oito minutos, para torná-lo mais dinâmico ao publico americano, além de ter seu título alterado para Curse of the Demon. Lançado apenas em meados de 58 nos cinemas yankees, chegou a ser exibido em double features com outro filme inglês, A Vingança de Frankenstein, do famoso estúdio Hammer, com Peter Cushing no elenco.

FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/06/102-a-noite-do-demonio-1957/

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