Direção: Jacques Tourneur
Roteiro: Charles Bennett,
Hal E. Chester (baseado na obra de Montague R. James)
Produção: Frank Bevis, Hal
E. Chester (Produtor Executivo)
Elenco: Dana Andrews, Peggy
Cummins, Niall MacGinnis, Maurice Denham, Athene Seyler
A Noite do
Demônio é mais um daqueles grandes filmes de terror.
Encontra-se enxertado no meio de um monte de bobagens sci-fi que eram
feitas durante toda a década de 50, e isso que dá um enorme respaldo para a
produção, já que traz um tema que fugia do usual na época e sempre é complexo e
assustador: satanismo. Fora isso, temos na direção (mais uma vez brilhante,
diga-se de passagem), Jacques Tourneur, que já havia emplacado alguns dos
principais filmes de terror feitos até então: Sangue de Pantera, A Morta-Viva e O Homem Leopardo. O roteiro do filme, escrito por Charles
Bennett, que comprou os direitos do livro Casting the Runes de
Montague R. James, foi vendido ao produtor executivo Hal E. Chester, que
decidiu levá-lo as telas. Só que Bennet se arrependeu amargamente de ter
vendido o texto para Chester, pois logo após o fechamento do negócio, ao chegar
à América, foi procurado pela RKO Radio Pictures interessada em produzir o
longa e colocá-lo como diretor. Mas a grande verdade é que A Noite de
Demônio está envolvido em grandes polêmicas em sua produção, incluindo aí
brigas entre o diretor Tourneur e o roteirista Charles Bennett com Hal E.
Chester. E se você já assistiu ao filme, sabe exatamente qual deve ter sido o
maior motivo da briga entre produtor e diretor. Quem conhece o trabalho genial
de Tourneur, sabe muito bem seu apreço pelo suspense e pelo terror psicológico,
sempre deixando nas entrelinhas um horror maior do que a exposição explícita,
que poderia muito bem, estragar todo o clima do filme. Assim como aconteceu
emSangue de Pantera, quando Tourneur quebrou o pau com Val Lewton para não
mostrar a tal mulher pantera com seu baixo orçamento e trabalhou o enredo
meticulosamente mais com sugestão e apenas um vislumbre final, aqui a treta foi
no mesmo nível, para não colocar o demônio gigante com asas, chifre, pés de
bode e cara de lobo literalmente em cena, pois sabia do efeito cômico que a
coisa poderia obter. E não deu outra. Chester estava decidido a mostrar o
demônio para “chocar” e aterrorizar os espectadores, e duas vezes ainda, uma no
começo do filme e outra em seu clímax. Tourneur foi contra e não teve parte nas
cenas filmadas com a criatura, adicionadas depois na edição. Para ele, o que
seria o ideal era a audiência nunca ter a real certeza de ter visto um demônio
e manter até essa dúvida nos próprios personagens centrais. Ray Harryhausen, o
mestre do stop-motion havia sido requisitado pela Columbia Pictures para criar
as cenas com o tinhoso, mas já estava comprometido com os efeitos especiais de
outro filme e recusou o trabalho. E aí amigo, deu no que deu. O filme é
impecável, até a criatura aparecer, principalmente na tosca sequência final,
transformando a cena em um pastiche que só serve para dar risada, com o
coisa-ruim amassando o vilão do filme como uma bolinha de papel na estação de
trem de Southampton. Segundo o livro Beating the Devil – The Making of
Night of the Demon, de Tony Earnshaw, para Chester desde o começo estava claro
que o demônio ia sim aparecer em cena, mesmo com todo o protesto de Tourneur,
para deixar o público ciente de que os poderes infernais são reais. No mesmo
livro, Bennett diz que “se Chester aparecesse no meu caminho nesse momento, eu
atiraria para matá-lo”. Bom, vamos à trama. Dr. John Holden (Dana Andrews –
muito parecido fisicamente com Lon Chaney Jr.) é um especialista americano em
parapsicologia, extremamente cético, que vive para desmascarar e colocar em
xeque alguns fenômenos paranormais, principalmente tratando-se de demonologia.
Ao viajar para a Inglaterra para ajudar o Prof. Henry Harrington (Maurice
Denham) em sua tentativa de desmascarar uma seita satânica chefiada pelo
adorador do oculto, Dr. Julian Karswell (Niall MacGinnis), começa a presenciar
na pele, mesmo mantendo seu ceticismo, eventos sobrenaturais inexplicáveis. Junto
com a sobrinha do Prof. Harrington, Joanna (Peggy Cummins) começa a investigar
a estranha morte do companheiro, que morreu eletrocutado em um acidente de
carro contra um poste de força, mas que nós sabemos que foi obra do cramunhão,
conjurado por Karswell através do uso de runas. Isso por meter demais o bedelho
na seita que o vilão comanda, chamada Ordem do Verdadeiro Crente, algo que
Holden acaba também fazendo e por isso partilha do mesmo destino, também sendo
amaldiçoado por Karswell, que lhe entrega um pergaminho, sem seu conhecimento,
fixando uma data e horário para sua morte. Aos poucos, Holden vai se
aprofundando nesse ciclo diabólico e estranhos acontecimentos começam a colocar
à prova sua crença no sobrenatural, e a única forma de Holden se livrar da
maldição e impedir a chegada do demônio para levar sua alma, é entregando esse
pergaminho para outra pessoa, transferindo a morte iminente para o próximo. SPOILER
ALERT, pule para o próximo parágrafo ou leia por conta e risco: e isso acontece
exatamente quando Holden, que já transformou-se em um crédulo nesta altura do
campeonato, ludibria Karswell enfiando o pergaminho no bolso do paletó e
devolvendo a maldição, fazendo com que o diabão venha tomar sua alma nos
trilhos de uma estação de trem, algo que lembra bastante o recente Arraste-me
para o Inferno de Sam Raimi, dada suas devidas proporções. Todos os
aspectos do roteiro e a criação do clima pertinente de suspense imposto por
Tourneur através de sua fotografia preto e branca quase expressionista, ângulos
inusitados e a mistura de cortes rápidos para mostrar sempre menos e planos
sequências arrasadores, transformam A Noite do Demônio em um filmaço.
E vários elementos assustadores estão ali para meter medo nos incautos, como
tempestades de vento, farfalhar de árvores e arbustos em um bosque escuro, e
até um gato que se transforma em um leopardo em um apartamento. Mas
infelizmente o demônio focinhudo, com asas e garras que aparece no final,
consegue jogar tudo isso fora e estragar um filme que poderia ser perfeito. Para
o lançamento nos EUA, A Noite do Demônio ganhou um corte de oito
minutos, para torná-lo mais dinâmico ao publico americano, além de ter seu
título alterado para Curse of the Demon. Lançado apenas em meados de 58
nos cinemas yankees, chegou a ser exibido em double features com
outro filme inglês, A Vingança de
Frankenstein, do famoso estúdio Hammer, com Peter Cushing no elenco.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/06/102-a-noite-do-demonio-1957/
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