Direção:
Billy Wilder
Produção:
Charles Brackett
Roteiro:
Charles Brackett, Billy Wilder, baseado no livro de Charles R. Jackson
Fotografia:
John F. Seitz
Música:
Miklós Rózsa
Elenco:
Ray
Milland …….....Don Birnam
Jane Wyman ……..Helen St. James
Phillip Terry ……….Nick Bernam
Howard Da Silva …Nat
Doris Dowling …… Gloria
Ainda: Frank Faylen, Mary Young, Anita Sharp-Bolster, Lillian Fontaine,
Frank Orth, Lewis L. Russell, Clarence Muse
Oscar: Charles Brackett (melhor filme), Billly Wilder (diretor), Charles
Charles Brackett, Billy Wilder (roteiro), Ray Milland (ator)
Indicação
ao Oscar: John F. Seltz (fotografla), Doane Harrison (edição), Miklóns Rózsa
(música)
Festival de Cannes: Billy Wilder (palma de Ouro), Ray Milland (ator)
Antes de Farrapo
humano, bêbados em Hollywood eram em sua maioria figuras cômicas; na verdade, caricatas:
bufões adoráveis cambaleando, fazendo piadas com a voz arrastada e passando
cantadas em garotas bonitas. Billy Wilder e Charles Brackett seu co-roteirista
habitual, ousaram fazer algo diferente, criando a primeira abordagemadulta,
inteligente e impiedosa do cinema americano da terrível degradação do alcoolismo.
Mesmo hoje em dia, algumas cenas são quase dolorosas demais de assistir. Ray
Milland, em um papel que definiu sua carreira e lhe rendeu seu primeiro Oscar, interpreta
Don Birnam, um escritor nova-iorquino lutando contra seu vício e finalmente sucumbindo
a ele no espaço de um longo e calorento fim de semana de verão na cidade. Assim
como fizera com Fred MacMurray em Pacto de sangue (1944), Wilder deslinda e
explora avidamente a insegurança por trás da persona cinematográfica afável de Milland.
Em vez de deixar que nos distanciemos e julguemos Birnam com uma compaixão
imparcial, Wilder nos empurra junto com ele para o abismo. Somos obrigados a
acompanhá-lo à medida que ele abdica de todos os seus escrúpulos, mostrando-se
disposto a mentir, trair e roubar para arranjar dinheiro para beber, até que,
de forma terrivelmente inevitável, acaba no Inferno de uma ala de alcoólatras
de um hospital público gritando de horror diante das alucinações do delirium tremens. Algumas partes do
filme foram rodadas em locações em Manhattan, e Wilder aproveita ao máximo as
ruas secas e banhadas de sol, filmadas por seu diretor de fotografia John F. Seltz
para parecerem áridas e vulgares, como se estivessem sendo vistas através do
olhar turvo e autodepreciativo de Birnam. Em uma sequência inesquecível, o
escritor, que se rebaixa a ponto de tentar penhorar sua máquina de escrever para
conseguir dinheiro para bebida, atravessa toda a poeirenta 3rd Avenue
arrastando a máquina pesada - apenas para descobrir que é Yom Kippur e todas as
lojas de penhores estão fechadas. Mais angustiante ainda é a cena em uma boate
em que Birman sucumbe à tentação e tenta roubar dinheiro da bolsa de uma mulher
- apenas para ser pego e humilhantemente jogado para fora enquanto o pianista
lidera a clientela em um coro que canta "Somebody Stole Her Purse"
("Alguém roubou a bolsa dela") à melodia de "Somebody Stole My
Gal". A trilha de Miklós Rózsa faz uso magistral do teremim, o antigo
instrumento eletrônico cuja sonoridade sinistra e oscilante evoca perfeitamente
a visão de mundo embriagada e fora de controle de Birnam. A censura do Código
de Produção impôs um final feliz, embora Wilder e Brackett tenham conseguido
evitar algo muito absurdamente animador. Mesmo assim, a Paramount estava convicta
de que o filme seria um fracasso, com a alarmada Indústria de bebidas
oferecendo ao estúdio 5 milhões de dólares para que ele fosse enterrado de vez.
Os adeptos da Lei Seca, por outro lado, estavam em polvorosa, afirmando que ele
encorajaria o hábito de beber. Apesar de tudo. Farrapo humano foi um grande
sucesso de crítica e de público. "Foi depois dele", afirmou Wilder, "que
as pessoas começaram a me levar a sério." Nenhum outro filme posterior
sobre o alcoolismo, ou sobre qualquer outra forma de vício, conseguiu evitar
uma mesura a Farrapo humano. PK
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