sábado, 31 de janeiro de 2015

#021 1932 OS CRIMES DA RUA MORGUE (Murders in the Rue Morgue, EUA)


Direção: Robert Florey
Roteiro: Robert Florey (adaptação), Tom Reed, Dale Van Every (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Carl Laemmle Jr.
Elenco: Bela Lugosi, Sidney Fox, Leon Waycoff, Bert Roach, Betty Ross Clarke

Além do já famoso ciclo de monstros, a Universal foi responsável também por uma série de adaptações livres dos contos de Edgar Allan Poe para o cinema, todas elas com Bela Lugosi no elenco, porém sem o mesmo brilho e assertividade que a parceira entre Roger Corman e Vincent Price nos anos 60. O primeiro dessa safra foi Os Crimes da Rua Morgue. E posso dizer com toda convicção que Os Crimes da Rua Morgue é o mais fraquinho de todos (Lugosi ainda estrelaria O Gato Preto e O Corvo, ambos junto de Boris Karloff). Começa pelo fato que sou fã confesso de Edgar Allan Poe, mas o conto que deu origem a esse filme nunca me desceu direito. Afinal, um orangotango cometeu o assassinato? Eu sei, eu sei sobre a importância do conto para as histórias policiais modernas, e que se não fosse Os Crimes da Rua Morgue, provavelmente Sir Artur Conan Doyle nunca teria criado o famosíssimo detetive Sherlock Holmes. Mas um orangotango? Enfim, aqui a adaptação livre troca de símio, um orangotango por um gorila chamado Erik, que na verdade é um chimpanzé, mascote de estimação de um cientista louco e maníaco chamado Dr. Mirakle, interpretado canastrissimamente (como de costume, por sinal), por Bela Lugosi. Mirakle tenta colocar na cabeça da população da Paris do século XIX a teoria da evolução das espécies de Darwin, em uma feira de rua, dissertando que viemos dos primatas e que Erik é praticamente humano. Claro que foi um ultraje. Determinado em provar sua teoria, Mirakle começa a raptar prostitutas para suas experiências, de misturar sangue humano com sangue macaco, para ver o que acontece. Isso chama a atenção de Pierre Dupin, que no livro é um homem inteligente, brilhante e com um poderoso senso de dedução que resolve o crime, e aqui só é um cara apaixonado pela doce Camille L’Espanaye, estudante de medicina, pé rapado que vive com um companheiro de quarto insuportável que faz às vezes de mulher preocupada, que começa a suspeitar de Mirakle ser o responsável pelas mortes. Como seria impossível manter um longa metragem utilizando apenas o conceito original do livro, o ataque do gorila / chimpanzé fica para o terceiro ato. Mirakle apaixonado pela moça, manda o macaco raptá-la do seu quarto, colocando a polícia de Paris e Dupin em seu encalço, apenas depois de ser considerado o principal suspeito. Tudo bem que estamos em 1932, mas o símio é realmente tosco. Misturando imagens reais com a de um sujeito vestido um traje peludo de macaco (ao melhor estilo Congo), o truque da edição não funciona nem um pouco bem, e se a intenção era chocar, acabou se tornando bem cômico e ridículo. Apesar de haver muita limitação de efeitos visuais na época e o responsável pela maquiagem ser o brilhante Jack Pierce, FrankensteinO Médico e o Monstro e A Ilha das Almas Selvagens, por exemplo, já haviam nos apresentado um trabalho muito mais satisfatório Resumo da ópera: Os Crimes da Rua Morgue é interessante de ser visto apenas como um registro de época, dos começo do cinema de terror dos anos 30. Mais nada. A história é fraca, as atuações fracas, e o filme é entediante, com desnecessários desvios cômicos também. Não caia no falso marketing do trailer. Nada que faça jus ao grande Poe.
FONTE: http://101horrormovies.com/

234 1951 PACTO SINISTRO (STRANGERS ON A TRAIN, EUA)


Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Raymond Chandler, Whitfield Cook, Czenzi Ormonde, baseado no livro de Patrícia Hlghsmith
Fotografia: Robert Burks
Música: Dimitri Tiomkln
Elenco: Farley Granger, Ruth Uni, Robert Walker, Leo G. Carroll, Hitchcock, Kasey Rogers, Marlon Lome, Jonathan Hale, Howard St. John, John Brown, Norma Varden, Robert Gist

Indicação ao Oscar: Robert Burks (fotografia)

Não é nenhuma surpresa que Alfred Hitchcock tenha se Interessado pelo livro Pacto sinistro, de Patricla Hlghsmlth. O primeiro romance da autora possui elementos encontrados em praticamente todos os filmes de Hitchcock: uma fascinação por assassinato, mal-entendidos e desejos homossexuais não exatamente reprimidos. Desnecessário dizer que o diretor não tardou a comprar os direitos do livro e pôr mãos à obra. Contando com um grande roteiro de Raymond Chandler - com retoques de Ben Hecht, entre outros -, o filme se tornou um dos mais bem-succdidos do diretor. Pacto sinistro começa inocentemente. Guy Haines (Farley Granger), um tenista de sucesso, literalmente dá de cara em um trem com Bruno Anthony (Robert Walker), um estranho excêntrico e excltável. Ambos têm em sua vida uma pessoa da qual gostariam de se livrar. Guy quer tirar do mapa sua esposa e Bruno quer fazer o mesmo com o pai dominador, de modo que este último bola o assassinato "perfeito" para resolver os problemas dos dois homens: eles simplesmente trocam de vítima. Guy rejeita a idéia, mas logo Bruno o chantageia para que ele cumpra sua parte do acordo. Quase uma comédia de humor negro, Pacto sinistro também funciona como um bizarro ritual de acasalamento, no qual Granger faz o papel do homem certinho e Walker o de louco extravagante. Como sempre, Hitchcock se diverte explorando os apuros do seu protagonista. Os diálogos ganham brilho à medida que Walker fecha o cerco em volta de Granger, o que leva ao que pode ser considerada a partida de tênis mais repleta de suspense da história do cinema. Porém, em se tratando de Hitchcock, o desfecho emocionante se dá em um carrossel, com Granger e Walker lutando enquanto o brinquedo fora de controle gira cada vez mais rápido. É um final destoante para o que é em grande parte um filme introspectivo sobre loucura, chantagem e culpa, porém Hitchcock o executa de forma brilhante. À medida que o charme caricato de Walker leva a impulsos mais abertamente homicidas, ele cresce como vilão e só pode ser morto de uma maneira que faça jus a sua personalidade exuberante. Na verdade, Walker (em seu último papel) domina o filme. Ele é o ego desencadeado, o espalhafatoso outro lado da moeda da loucura mais reprimida que Hitchcock também exploraria nove anos mais tarde em Psicose. JKI
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 234)

Hitchcock aparece aos 10 minutos e 30 segundos.



#019 1931 O MÉDICO E O MONSTRO (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, EUA)


Direção: Rouben Mamoulian
Roteiro: Samuel Hoffenstein, Percy Heath (baseado na obra de Robert Louis Stevenson)
Produção: Adolph Zukor (Produtor Executivo, não creditado)
Elenco: Fredric March, Miriam Hopkins, Rose Hobart

Certa vez, foi publicado aqui no Brasil uma coletânea com três dos principais contos de terror da história da literatura em um único livro: Drácula, de Bram Stoker, Frankenstein, de Mary Shelley e O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Os três no ano 1931 ganharam suas adaptações cinematográficas, e possivelmente, suas versões mais conhecidas nos cinemas. O Médico e o Monstro é o contra-ataque da Paramount aos filmes de monstro da Universal, em mais uma adaptação das páginas para a tela. Por mais que não tenha uma equipe de produção e maquiagem como da concorrente, o glamour, os astros e o mesmo reconhecimento atemporal dos filmes da Universal, O Médico e o Monstro tem um grande trunfo nas mangas: Fredric March. O ator que interpreta impecavelmente a dualidade do altruísta e complacente Dr. Jekyll e a criatura amoral e sem escrúpulos Mr. Hyde. O filme arrebatou três estatuetas do Oscar em 1932, uma de melhor ator para March e outras duas, de melhor Diretor de Fotografia para Karl Struss e também de melhor roteiro adaptado. Para quem ainda não conhece o conto, o Dr. Jekyll é um brilhante médico, que acredita que pode separar o superego do id das pessoas, através do uso de substâncias químicas. Prestes a se casar, porém com o sogrão adiando o matrimônio ao máximo, Jekyll acaba sentindo-se atraído por Ivy Pearson, uma cantora de cabaré, a quem atende durante uma ocorrência na rua. Com a noiva viajando por um mês obrigada pelo pai, Jekyll resolve colocar à prova todos seu desejo reprimido através de seu alter-ego, Mr. Hyde, que nasce quando ele prova sua própria poção. E o Hyde traz à tona todas as vontades e libidos trancafiadas a sete chaves na psique humana de Jekyll, transformando-o em um canalha, exageradamente autoconfiante e extremamente agressivo, fazendo a pobre Ivy de gato e sapato. Porém, a mutação também afeta suas características físicas, deixando-o como um ser simiesco, peludo e por consequência, aumentando sua força e agilidade. Confesso que ao ver a fita, fiquei extremamente decepcionado com a aparência de Mr. Hyde. A transformação utilizando trucagem deve ter sido um choque na época, mas a maquiagem do monstro ficou bem tosca na minha opinião. Tá, eu sei que era a década de 30, mas é só ver o quão bacana ficou a maquiagem do monstro de Frankenstein, por exemplo. Mas a feição de macaco, os pelos, mandíbulas salientes e até o novo corte de cabelo, claramente inspiraram a maquiagem usada em Lon Chaney Jr. para O Lobisomem, mais adiante. A atuação de Fredric March é o ponto alto do filme, e podemos dizer que ele leva toda a produção nas costas, principalmente quando encarna o detestável Mr. Hyde. Assim como os comparsas Drácula e Frankenstein, O Médico e o Monstro tem seu valor histórico dentro dos primórdios do cinema de horror, e vale ser conferido.
FONTE: http://101horrormovies.com/

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

233 1951 UMA RUA CHAMADA PECADO (A STREETCAR NAMED DESIRE, EUA)


Direção: Elia Kazan
Produção: Charles K. Feldman
Roteiro: Tennessee Williams, Oscar liul, baseado na peça de Tennessee Williams
Fotografia: Harry Stradilng Sr.
Música: Alex North
Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter, Karl Maiden, Rudy Bond, Nick Dennis, Peg Hillias, Wright King, William Garrick, Ann Dere, Edna Thomis, Mickey Kuhn

Oscar: Vivien Leigh (atriz), Karl Maiden (ator coadjuvante), Kim Hunter (atriz coadjuvante), Richard Lemge,  James Hopkins (direção de arte)

Indicação ao Oscar: Charles K. Feldman (melhor filme), Elia Kazan (Diretor), Tennessee Williams (Roteiro) Marlon Brando (ator), Harry Stradling Sr. (fotografia), Luanda (figurino), Alex North (Música)., Nathan Levinson (som)

"Sempre dependi da bondade de estranhos." Embora a peça deTennessee Williams mantivesse o foco exclusivamente no heroísmo desesperado e poético de Blanche DuBois, o magnetismo grosseiro e animal de Marlon Brando, em contraste com a bel/e frágil e lânguida de Vivien Lelgh, domina a tela. Da mesma forma que havia eletrizado platéias nos palcos da Broadway em detrimento da Blanche de Jéssica Tandy, quatro anos antes (numa produção também dirigida por Elia Kazan). Até hoje, o naturalismo taciturno de Brando, sua sexualidade mundana e seus gritos de "Stellaaaaa!" tornam quase impossível o trabalho dos atores que se aventuram no papel do bruto Stanley Kowalskl depois dele. Ironicamente, a versão de Kazan para o cinema - também roteirizada por Williams, mas submetida à censura por alguns conteúdos impróprios - ganhou três das quatro estatuetas do Oscar de atuação às quais concorreu, Incluindo a de Leigh, que também havia interpretado Blanche na produção do estúdio londrino West End, dirigida por seu marido, sir Laurence Ollvier. Kim Hunter e Karl Malden também ganharam os prêmios de atriz e ator coadjuvantes, porém Brando foi derrotado por Humphrey Bogart (por Uma aventura na África). Não obstante, o impacto de Brando em Uma rua chamada pecado o colocou na vanguarda dos atores de cinema modernos, tornando-o o mais famoso e influente expoente do "método" do Actors Studlo. Tendo perdido para o fisco a propriedade da sua família há muito decadente, e sua reputação ao buscar esquecimento e consolo, Blanche chega a Nova Orleans para morar com Stella, sua irmã mais nova, e seu rude cunhado Stanley no apartamento apertado e abafado dos dois. Stanley - convencido de que Blanche está escondendo uma herança imaginária - é enlouquecido pela mulher neurótica, que se agarra de forma patética a seu refinamento e aos seus devaneios. Sob as ameaças rancorosas de Stanley, as últimas esperanças de Blanche são brutalmente destruídas e ela se refugia em um estado psicótico. Embora seja o sétimo longa-metragem de Kazan, Uma rua chamada pecado é mais teatral do que cinematográfico. Seu poder provém das atuações, especialmente do cativante duelo entre a teatral Leigh, com seu estilo ferino, etéreo e clássico (que poderia ser chamado de determinado), e o explosivo e instintivo Brando, que são tão distintos em seus métodos de atuação quanto Blanche e Stanley o são em suas personalidades. Kazan, que foi co-fundador do Actors Studio em 1947 e ainda era um nome de peso no teatro americano da época, mostrava pouco interesse nas possibilidades visuais da mídia, mas seu traquejo com atores fica multo claro aqui. AE
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 233)

#020 1932 A CASA SINISTRA (The Old Dark House, EUA)


Direção: James Whale
Roteiro: Benn W. Levy (baseado na obra de J.B. Priestly)
Produção: Carl Laemmle Jr.
Elenco: Boris Karloff, Melvyn Douglas, Charles Laughton, Lilian Bond, Ernest Thesiger, Eva Moore

A Casa Sinistra é a empreitada da Universal na típica história gótica sobre casarões vitorianos, logo após o lançamento da sua primeira e bem sucedida leva de filmes de monstros: Drácula e Frankenstein, e alguns meses antes de A Múmia. Carl Lammle Jr. mas uma vez dá o controle do barco para o trio responsável pelo sucesso de Frankenstein no ano anterior: o diretor James Whale, o astro Boris Karloff e o maquiador Jack Pierce, para criar todo o clima de um filme com a autêntica parafernália gótica para meter medo: uma mansão, uma noite de tempestade, portas e janelas batendo, cortinas esvoaçantes, corredores mal iluminados, um grupo de viajantes recebidos por uma família estranha e um sinistro mordomo. Misturando terror com doses de humor e esquisitices como só Whale era capaz de fazer (vide os seus próximos trabalhos: O Homem Invisível e A Noiva de Frankenstein), A Casa Sinistra entrega seus elementos do gênero de forma séria, porém intercalando-os com diálogos afiados, situações de pastiche, lutas atrapalhadas e comportamento absurdo da maioria de seus personagens. Três viajantes, Penderel, Phillip Waverton e sua esposa Margaret (interpretado por Gloria Stuart, a velhinha de Titanic) estão passando pelo diabo na estrada durante uma intensa tempestade. Ao escaparem por pouco de um deslizamento de terra, eles param na estranha mansão para poder se abrigar e esperar a fúria da natureza se acalmar um pouco. Lá, são recepcionados de forma bem distinta pela outrora próspera e agora decadente família Ferm. Horace é o irmão acolhedor, solícito e medroso, enquanto sua irmã Rebecca é uma megera antipática, semi-surda, conservadora e carola que não para de tagarelar. Além dos dois anfitriões, há Morgan, o mordomo mudo interpretado por Karloff. Não sei se Lammle e o pessoal da Universal não acreditavam no potencial de diálogo de Karloff, porque mais uma vez, como em Frankenstein, ele faz um personagem que não fala uma palavra sequer o filme inteiro, soltando apenas alguns grunhidos inteligíveis. Mas apesar do papel secundário, a equipe de maquiagem de Jack Pierce mais uma vez caprichou e transformou Karloff num ser feioso, carrancudo e com o rosto cheio de deformações e cicatrizes. Pois bem, acontece que os Ferm escondem um terrível segredo familiar dentro daquele casarão, que envolve o patriarca da família, o velho Roderick Ferm que vive inválido e enclausurado no último andar da casa, e Saul, o irmão mais velho trancafiado. Morgan também tem um sério problema com o alcoolismo e torna-se extremamente violento e perigoso quando enche a cara, coisa que faz bem naquela noite. Fora isso mais dois visitantes chegam à casa também para se protegerem da tormenta, o casal William “Bill” Poterhouse e Gladys Perkins (que usa um nome falso no começo, sabe-se lá porque). Só que o que fica devendo em A Casa Sinistra são cenas realmente de terror genuíno em uma trama subaproveitada, pois quando você descobre o verdadeiro segredo que vive naquela casa, chega até ser decepcionante, já que Whale vai criando um clima bem misterioso que vai prendendo sua atenção ao filme, mesmo em meio a situações completamente inverossímeis e estapafúrdias, como o desconcertante jantar ou quando Gladys e Penderel saem no meio da tempestade para tomar uma dose de uísque no carro, e voltam perdidamente apaixonados, com ele decidindo pedi-la em casamento e ela dispensando Bill na maior cara de pau, sendo que o corno leva na maior esportiva e ainda faz graça com isso. Morgan e Rebecca também são dois personagens mal aproveitados, que poderiam render muito mais à trama, assim como Saul, se suas verdadeiras motivações fossem mais bem explanadas bem como sua insanidade. E ao final, com a noite que parecia sem fim terminando e os raios de sol adentrando a casa, tudo volta ao normal como se nada tivesse acontecido. Mas há de se concordar que a direção de Whale é precisa, além dele ser um excelente diretor de atores e especialista em ludibriar o espectador, entregando algo completamente não usual e fora do inesperado. Uma curiosidade é que A Casa Sinistra ficou fora de circulação muito tempo, pois todas suas cópias haviam se perdido. Somente vários anos depois, na década de 60, que o diretor Curtis Harrington encontrou seus negativos, salvando o filme do esquecimento.
FONTE: http://101horrormovies.com/

232 1951 A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (THE BIG CARNIVAL, EUA)


Direção: Billy Wllder
Produção: William Schorr, Bllly Wlldl
Roteiro: Walter Newman, Lesser Samuels, Billy Wilder
Fotografia: Charles Lang
Música: Hugo Frledhofer
Elenco:
Kirk Douglas…..Charles “Chuck” Tatum
Jan Sterling…...Lorraine Minosa
Robert Arthur…Herbie Cook
Porter Hall……..Jacob Q. Boot
Frank Cady……Sr. Federber
Ainda: Richard Benedict, Ray leal. Frank Jacquet

Indicação ao Oscar: Walter Newman, Lesser Samuels, Billy Wilder (roteiro)

Festival de Veneza: Billy Wllder (prêmio Internacional), Indicação (Leão de Ouro)

A montanha dos sete abutres é lembrado por dois motivos: é a única parceria de Kirk Douglas com Billy Wildcr e é um dos filmes mais raivosos e amargos já saídos de algum estúdio de Hollywood. Douglas interpreta Chuck Tatum, um repórter cínico e arrogante que vai parar em um jornal numa cidadezinha do Novo México depois de ser despedido de vários jornais na cidade grande. Quando cobre a história de um minerador (Richard Bcnedict) preso em uma caverna por causa de um deslizamento, ele vê a chance de dar a volta por cima. Instiga o xerife a atrasar as equipes de resgate com a promessa de atrair turistas e curiosos para fazerem parte de uma comovente matéria de cunho humano. Tatum incita o frenesi midiático, assume o papel de repórter solitário com um furo nas mãos e transforma o acontecimento em um espetáculo. Até mesmo a desafortunada esposa do minerador (Jan Sterling) - o paradigma da mulher egoísta e materialista – não escapa ao alcance de Tatum, provando-se uma rival à altura na sua busca desonesta por vantagens pessoais. E tudo termina como se pode esperar, ou seja, muito, muito mal. A raiva permanece no ar muito tempo depois do fim do filme e a mordacidade verbal que é a marca registrada de Wilder mal consegue adocicar o núcleo amargo da história, que nos acusa a todos. Pungente e austero. AT
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 232)


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

230 1950 OS ESQUECIDOS (LOS OLVIDADOS, MÉXICO)


Direção: Luis Bunuel
Produção: Oscar Danclgers, Sergio Kogan, Jaime A. Menasce
Roteiro: Luis Alcorlza, Luis Bunuel
Fotografia: Gabriel Figueroa
Música: Rodolfo Halffter, Gustavo
Elenco:
Elenco:
Alfonso Mejía …………Pedro
Estela Inda ……………Mãe de Pedro
Miguel Inclán …………Don Carmelo
Roberto Cobo …………Jaibo
Alma Delia Fuentes ….Meche
Javier Amézcua ………Julián

Ainda: Jambrina, Jesus Navarro, Efrain Arauz, Sergio Villarreal, Jorge Perez, Javier Anuvcua, Mário Ramirez

Festival de Cannes: Luis Bunuel (melhor diretor)

Embora Os esquecidos faça uso de várias convenções dos filmes sobre questões sociais, ele vai muito além delas. Passado na periferia da Cidade do México, a pungente obra prima de Buñuel se concentra em dois garotos desafortunados: Pedro (Alfonso Mejia), que se esforça para ser bom, e o mais velho e incorrigível Jaibo (Roberto Cobo), que surge a todo momento como um irmão demoníaco para desencaminhar Pedro. Um dos críticos do neo-realismo italiano, Buñuel exigia que o conceito de realismo fosse expandido para incluir elementos essenciais, como o sonho, a poesia e a irracionalidade – representados pelo pesadelo de Pedro, no qual um emaranhado de culpa e desejos é deslindado na imagem sensacional de uma peça de carne crua oferecida pela mãe do garoto faminto, e pela visão que se apresenta a um Jaibo agonizante, na qual o anjo da morte surge como um cão sarnento que o conduz por uma estrada longa e sombria. Dentre as outras almas perdidas da cidade dos condenados de Buñuel estão o repulsivo mendigo cego Carmelo (Miguel Inclán); o menino de rua Ojitos (Mário Ramirez), explorado por Carmelo: a ninfeta Meche (Alma Della Fuentes), cujas coxas nuas são banhadas em leite e uma das muitas imagens provocativas do filme; e o virtuoso Julián (Javier Amézcua), rapidamente assassinado por Jaibo. Pegando emprestado o bordão de NossWille, pode-se dizer que o último personagem essencial é você, espectador hipócrita. Um fator crucial que torna Os esquecidos superior a outros filmes sobre questões sociais é a maneira como ele provoca agressivamente a platéia - de forma mais assombrosa quando Pedro, revoltado em um reformatorio, joga um ovo na camera. De maneira menos espetacular, porém ainda chocante. Os esquecidos desencoraja o espectador a assumir a postura de sensibilidade nobre geralmente cultivada pelos filmes de mensagem liberal. Para começar, o tom é cáustico demais, distanciado e contraditório - como quando o espetáculo patético do linchamento do cego Carmelo pela gangue de Jaibo é acobertado por um plano sarcástico de uma galinha. Além disso, Buñuel evita primorosamente um verdadeiro catálogo de subterfúgios de filmes-mensagem, entre eles o uso de arquétipos para conduzir nossos sentimentos e a concentração em casos específicos para atenuar o problema mais amplo. Os esquecidos foi criticado por sua insensibilidade e falta de soluções construtivas, porém Buñuel é um artista, não um legislador, e talvez seja difícil reconhecer a compaixão deste filme extraordinariamente honesto apenas por ela não estar amenizada pelo sentimentalismo. MR
 (1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 229)


229 1950 CREPÚSCULO DOS DEUSES (SUNSET BOULEVARD, EUA)



Direção: Billy Wilder
Produção: Charles Bracken
Roteiro Charles Brackett, Billy Wilder, D.. M. Marshman Jr., baseado no conto "A Can of Beans", de Charles Lituken e Billy Wilder
Fotografia: John F. Seitz
Música: Jay Livingston, Franz Waxman
Elenco:
William Holden………Joe Gill
Gloria  Swanson……..Norma Desmond
Erich von Stroheim …Max von Mayerling
Franklyn Farnum …...Coveiro
Jack Webb …………..Artie Green
Lloyd Gough ………..Morino
Fred Clark …………..Sheldrake
Cecil B. DeMille ……Ele próprio
Ainda: Gloria Swanson, Nancy, Larry Blaker, Charles Dayton, Hedda Hopper, Buster Keaton, Anna Q. Nilsson, H. B. Warner

Oscar: Charles Brackett, Billy Wilder, D M Marshman Jr. (roteiro), Hans Dreyer, John Meehan, Sam Comer, Ray Moyer (Direção de de arte), Franz Waxman (música)

Indicação ao Oscar: Charles Brackett (melhor filme), Billy Wilder (diretor), William Holden (ator), Gloria Swanson (atriz), Erich von Stroheim (ator coadjuvante), Nancy Olson (atirz coadjuvante), John F. Seitz (fotografia), Doane Harrison, Arthur Schimidt (edição)

Joe Gill (William Holden), um roteIrisfa desempregado, flutuando morto em um piscina, reconta a história do seu relacionamento pessoal e profissional malfadado com a megalomaníaca diva do cinema mudo Norma Desmond (Gloria Swanson). Uma melindrosa  cinqüentona, cuja tentativa de permanecer jovem a faz parecer ter mil anos, Norma vive em uma mansão decadente no Sunset Boulevard, realizando um funeral á meia-noite para seu macaco de estimação ("Ele deve ter sido um chimpanzé muito importante", reflete Joe), rascunhando um roteiro impossível de se produzir e sonhando com um recomeço inviável ("Odeio essa palavra! Este será um retorno!") como Salomé. De prontidão, há um mordomo sinistro (Erich von Stroheim), que havia sido seu diretor favorito e que foi, a propósito, seu primeiro marido. Geralmente um cineasta avesso a visuais ostentosos, Wilder é Incentivado por esse cenário a criar composições que trazem à mente o covil do Fantasma da Ópera ou a mansão Xanadu, de Kane, como o enorme dose nas mãos de luvas brancas tocando um órgão sibilante enquanto o gigolô aprisionado aproxima-se agitado ao fundo. O passeio ácido, porém nostálgico, de Wilder por essa casa mal-assombrada da indústria cinematográfica é um filme que pode ser revisto incontáveis vezes, mesmo depois de sua Influência ter se infiltrado no gênero terror (O que terá acontecido a Baby Jane?, de Robert Aldrich) e gerado uma adaptação para o teatro de Andrew Lloyd Webber. Ele combina um estranho carinho pela decadente Norma e pelo fracassado Joe com o uso um tanto sádico de rostos devastados e enrijecidos do cinema mudo como Buster Keaton, H. B. Warner e Anna Q. Nilsson. Uma das discretas ironias de Crespúscuío dos deuses é que, embora Norma não consiga se safar da sua loucura ("Ninguém dá as costas para uma estrela!"), a indústria permite que todas as outras pessoas ajam como monstros: Cecil B. DeMille (interpretando a si mesmo) lembra gentilmente a Norma que o ramo do cinema mudou, porém Wilder conclui essa cena apontando a câmera para suas botas de equitação lustrosas e seu andar pomposo de estrela absurdamente antiquado. Embora tenham reconhecido suas chances de um último momento de glória, Swanson (que aceitou o papel depois de Mary Pickford tê-lo recusado) e von Stroheim (que é forçado a assistir a um trecho de Queen Kelly, um desastre não concluído de 1920 no qual dirigiu Swanson) compreenderam a crueldade da visão de Wilder e a maneira como ele os transformava todos em monstros. Trata-se de um filme duro e cínico, em conflito com seu malfadado, porém terno, caso de amor "normal": no fim. Norma está tão aterrorizada pelo fato de Joe estar escrevendo um roteiro [História de amor sem-título) com a assistente de produção Nancy Olson quanto pela possibilidade de ele a abandonar pela rival mais jovem. Swanson ("Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos.") está vibrante em sua loucura, que atinge o clímax em um momento de inesquecível horror-glamour, à medida que ela se aproxima de forma sedutora de um cinegrafista de cinejornal durante sua prisão por assassinato e declara que está pronta para seu close. Ao mesmo tempo, Wilder recua a câmera para enquadrá-la em um plano aberto que enfatiza sua solidão e insanidade, enquanto o grande espetáculo em torno de um assassinato envolvendo celebridades começa. Este filme indica o caminho para A montanha dos sete abutres (1951), de Wilder, ao mostrar também uma cultura de exploração de crimes pela mídia que permanece terrivelmente viva mais de meio século depois. KN

(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 229)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

RESURRECTION 1ª TEMPORADA (2014)


228 1950 A MALVADA (ALL ABOUT EVE, EUA)


Direção: Joseph L. Manklewicz
Produção: Darryl F. Zanuck
Roteiro: Joseph L. Manklewicz, baseado no conto "The Wisdom of Eve", de Mary Orr
Fotografia: Milton R. Krasner
Música: Alfred Newman
Elenco:
Bette Davis …………Margo Channing
Anne Baxter ………..Eve Harrington
George Sanders ……Addison DeWitt
Celeste Holm ……….Karen Richards
Marilyn Monroe …….Srta. Caswell
Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Barbara Bates, Thelma Ritter, Walter Hampden, Randy Stuart, Cralg Hill, Leland Harris, Barbara White

Oscar: Darryl F. Zanuck (melhor filme), Joseph L. Mankiewicz (diretor), Joseph L. Mankiewicz (roteiro), George Sanders (ator coadjuvante), Edith Head, Charles Le Malre (figurino), Thomas T. Moullon

Indicação ao Oscar: Anne Baxter, Bette Davis (atriz), Celeste Holm, Thelma Ritter (atriz coadjuvante), Lyle R. Wheeler, George W. Davis, Thomas Little, Walter M. Scott (direção de arte), Milton R. Krasner (fotografia), Barbara McLean (edição), Alfred Newman (música)

Festival de Cannes: Joseph L. Mankiewicz (prêmio especial do Juri. Bette Davis (atriz)

Considerado um dos filmes mais perspicazes e sombrios já feitos sobre o show buslness, o drama de 1950 de Joseph L. Manklewicz, baseado cm "The Wisdom of Eve", um conto de 1946 publicado na revista Cosmopolitan, também foi adaptado para o rádio. Evitado durante quatro anos por outros estúdios, a combinação do roteiro cínico  e espirituoso de Mankiewicz com um elenco de alto calibre transformou a história em um enorme sucesso cinematográfico. Recebendo 14 Indicações ao Oscar, um recorde para a época, A malvada ganhou seis estatuetas. Incluindo as de Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (George Sanders), assim como as de Melhor Direção e Melhor Roteiro para Mankiewicz. Bette Davis, Anne Baxter, Celeste Holm e Thelma Ritter foram indicadas, tornando-o o recordista de indicações femininas. O filme começa com um plano fechado do prêmio a ser recebido pela jovem atriz Eve Harrington (Anne Baxter). A câmera então recua, revelando um salão repleto de convidados. Em seguida, Addison DeWitt (Sanders) começa uma narração que volta no tempo para revelar a verdadeira história de como aquele sucesso foi conquistado. Bette Davis é Margo Channing, uma envelhecida atriz da Broadway de 40 anos que se torna amiga de Eve, uma jovem fã atormentada por uma vida dura. Birdie (Ritter), a camareira de Margo, é a primeira a desconfiar da história triste de Eve, falando: "Que história! Só faltam os cães de caça mordendo-a no traseiro." Eve retribuí a confiança da atriz infiltrando se na sua vida profissional e pessoal através de uma série de mentiras. Em seguida, Eve engana a melhor amiga de Margot (Holm), seduz seu crítico leal, porém distante (Sanders), e fracassa em sua tentativa de roubar o noivo dela (Gary Merrill, marido de Davis na vida real). Em uma ponta breve, porém deslumbrante, Marilyn Monroe aparece nos braços de DeWitt na festa de Margo, em que ela diz a famosa frase: "Apertem os cintos, vai ser uma noite turbulenta." Tendo também ganhado um Oscar em 1949 por Quem é o infiel?, há quem considere o sucesso de Mankiewicz com A malvada a prova definitiva de seu talento se comparado ao seu irmão Herman, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Original por Cidadão Kane. Independentemente dessa discussão, A malvada é amplamente considerado a maior conquista da longa carreira de Davis; o único senão do filme é Baxter, que não parece ser nada mais que pura ambição na forma de mulher. KK

(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 228)

domingo, 25 de janeiro de 2015

991 2006 BORAT: O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO (BORAT: CULTURAL LEARNINGS OF AMERICA FOR MAKE BENEFIT GLORIOUS NATION OF KAZAKHSTAN, EUA)


Direção: tarry Charles
Produção: Sacha Baron Cohen, Jay Roach
Roteiro: Sacha Baron Cohen, Anthony Hlnes, Peter Baynham, Dan Mazer
Fotografia: luke Gelssbuhler, Anthony Hardwick
Música: Erran Baron Cohen
Elenco: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian, Luenell

Indicação ao Oscar: Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Peter Baynham, Dan Mazer, Todd Phillips (roteiro)

Caracterizado como um membro da elite do Cazaquistão, Borat Safdiycv (Sacha Baron Cohen) é metade inocência superficial e metade intolerância inflexível. Alto, magro, bigodudo e ávido por agradar, sua gíria meio mal digerida, seu anti-semitismo e suas ideias pré modernas sobre o comportamento socialmente adequado permitem que Borat banque o palhaço. Mas essas mesmas características exageram as circunstâncias, fazendo com que pessoas não reconheçam a interpretação de Baroncomo um fato. Entre os excessos de Borat estão: um saco de cocô que é trazido â mesa num jantar de finos convidados no Sul dos Estados Unidos; um fâ de rodeios que sugere que todos os homossexuais sejam eliminados da face da Terra; três universitários bêbados que falam indecorosamente sobre as mulheres e os diferentes grupos raciais; o político Alan Keys participando de uma entrevista que, na realidade, é uma emboscaria; Borat e seu melhor amigo, Azamat (Ken Davitian), lutando nus, sua genitália balançando no ar; Pamela Anderson seqüestrada na noite de autógrafos de seu livro. Dirigido por Larry Charles, Borat é extremamente perspicaz quanto a mostrar a visão americana de que os Estados Unidos são um país único. Ao assistirmos a esse caipirão vagar pelo mundo, descobrimos que ele é ao mesmo tempo um jeca e um filósofo; a força das suas aventuras cai sobre os seus entrevistados, que se creem superiores mas terminam por se expor como mercadores do ódio e verdadeiros tolos. Muito do sucesso do filme se deve aos co-autores Anthony Hlnes, Peter Baynham e Dan Mazer, que ajudaram Baron Cohen a escrever o texto. Sua adaptação do personagem Borat, a partir de Da Ali G Show, comprova a existência de uma moldura versátil onde se pode pendurar cenas improvisadas, cuja razão é encontrara brecha entre os ideais americanos de abertura e a realidade dos conflitos culturais, onde o cômico vira trágico. GC-0
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 991)

227 1950 RIO GRANDE (RIO GRANDE, EUA)


Direção: John Ford
Produção: Merian C. Cooper, John I o k I . Herbert J . Yates
Roteiro: I,lines Warner Bellah, James I' ••vni Mi Guinness,
Elenco: John Wayne, Maureen O'Hara, Ben lohnson, Claude Jarman Jr, Ben Johnson , Chill Wills, J. Carrol

A última parte da "Trilogia da Cavalaria" de John Ford - Sangue de heróis (1948) e Legião invencível (1949) são as outras duas -, Rio Grande é um filme menor, embora essencial, supostamente realizado para garantir o financiamento para o projeto pessoal do diretor. Depois do vendaval (1952). Ele é menos revisionista, criador de mitos e elegíaco do que os dois filmes anteriores da série, oferecendo uma mistura de bebedeiras, farras no quartel e cenas de cavalgada repletas de ação. O capitão Kirby York (John Wayne, não exatamente recriando seu Kirby York de Sangue de heróis), um ianque rabugento, se reconcilia com Kathleen (Maureen O'Hara), sua ex-mulher sulista - cuja mansão foi incendiada durante a Guerra Civil -, para que possa criar com ela seu ingênuo filho recruta (Claude Jarman Jr.). O filho se torna um homem sob a influência do pai sem perder a sensibilidade da mãe. York lidera seus homens na perseguição aos indígenas que atacam o quartel, vindos do México com a intenção de promover sequestros, premissa que indica um embrião da obra-prima de Ford e Wayne, Rastros de ódio. Esta é uma aventura menos neurótica e mais interessada em ação, além de um raro filme de Ford que adota, de forma inquestionável, uma abordagem mocinhos versus bandidos dentro da guerra contra os índios. Ben Johnson demonstra seu talento de peão de rodeio em ousadas seqüências de cavalgada e o grupo musical Sons of the Pioneers acrescenta um tom folclórico com baladas oportunas, embora "Bold Fenian Men" tenha sido um improvável sucesso vindo do Oeste na década de 1870. KN

(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 227)

sábado, 24 de janeiro de 2015

#015 1928 A QUEDA DA CASA DE USHER (La chute de la Maison Usher / The Fall of House of Usher, França, EUA)


Direção: Jean Epstein
Roteiro: Jean Epstein, Luis Buñuel (adaptação) (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Jean Epstein
Elenco: Jean Debucourt, Marguerite Gance, Charles Lamy, Fournez-Goffard

Jean Epstein, com a ajuda de Luis Buñuel, transpõe para o cinema o que pode ser considerada a primeira adaptação de um conto de Edgar Allan Poe a se tornar famosa na sétima arte: A Queda da Casa de Usher, marco do expressionismo francês. Um filme bastante interessante, deveras macabro e assustador, apesar de datado e tendo em vista toda a limitação da época. A Queda da Casa de Usher é opressor, conseguindo utilizar muito bem a trilha sonora para criar o clima certo de pavor, talvez a que saiba melhor usar esse expediente ao seu favor, de todos os filmes mudos dessa lista. E apesar da metragem curta, a mensagem é direta e explícita: tristeza, possessão, solidão, perda e desespero. Roderick Usher vive em um casarão isolado do resto da humanidade, envolto nas sombras e pela neblina, cercado por um pântano. Sua obsessão é tentar preservar em um quadro a beleza de sua mulher Madeleine, por toda eternidade, assim como os demais amaldiçoados membros do clã Usher fizeram durantes os tempos, deixando a enferma esposa sucumbir lentamente na vida real, vítima da reclusão, enquanto sua força e vitalidade vão esvaecendo quanto mais o quadro se torna vívido. Em sua obsessão, Madeleine acaba padecendo e Roderick se toma por uma mistura de dor, culpa e sofrimento, principalmente quando a esposa vai ser enterrada, com o consentimento de Roderick. A cena do cortejo fúnebre e a trilha sonora enfurecida que se acompanha é realmente uma das mais impactante no cinema de terror de vanguarda no final da década de 20. É desconfortável ver os homens levando-a até o mausoléu, com o véu branco da morta esvoaçando para fora do caixão, elemento que seria muito importante na narrativa futura. Se você já leu o conto de Poe, ou assistiu alguma outra adaptação do conto, como O Solar Maldito, dirigido por Roger Corman e estrelado por Vincent Price nos anos 60, já sabe o desfecho dessa história. Senão, ALERTA DE SPOILER, pule para o próximo parágrafo, ou leia por sua conta e risco: Madeleine na verdade sofre de catalepsia e foi enterrada viva, voltando da tumba em uma noite de tempestade para prestar contas, fazendo com que a mansão de Usher começa a ruir. Diferentemente do livro (e do filme de Corman), onde Madeleine aparece com a roupa rasgada e suja de sangue, devido a luta para conseguir sair do caixão, aqui Epstein trabalha a imagem de uma figura mais etérea e plácida, com um viés mais fantasmagórico. O diretor também é responsável por criar uma belíssima atmosfera angustiante e depressiva em quase todo o filme, utilizando recursos visuais subjetivos muito interessantes, como o esvoaçar das cortinas, folhas secas voando pelos corredores, névoas, a corda de um violão arrebentando, suspensão do assoalho, o movimentar de um pêndulo, e técnicas como uso de deformidades óticas e o total controle do contraste entre luz e sombra. Tudo isso para criar essa pegada sinistra. Outro detalhe interessante é que Epstein utilizou outros contos de Edgar Allan Poe para construir a história de A Queda da Casa de Usher, além do conto homônimo, mesmo com suas mudanças estruturais que podem até desagradar os fãs da obra, como no caso de Roderick e Madeleine serem irmãos no livro, eliminando aqui a mensagem subliminar do incesto (algo que Corman também não utilizou em sua versão, colocando um pretendente pela irmã do personagem de Price na trama), também desenvolveu a ideia da tortuosa perda da mulher amada, como em O Corvo, seu mais famoso poema, e elementos de O Quadro Oval, onde um pintor representa a angústia de pintar um quadro de seu amor, ou mesmo Ligeia que também é citado na produção. Mas em A Queda da Casa de Usher estão ali todos os elementos necessários para um bom filme de terror, assim como ambientação perfeita, narrativa pesada, uma história macabra, um trabalho extremamente competente do diretor e incrível atuação de Jean Debucourt como o obsessivo e traumatizado personagem central.
FONTE: http://101horrormovies.com/2012/11/16/15-a-queda-da-casa-de-usher-1928/



#014 1928 O HOMEM QUE RI (The Man Who Laughs, EUA)

#014 1928 O HOMEM QUE RI (The Man Who Laughs, EUA)
Direção: Paul Leni
Roteiro: J. Grubb Alexander (baseado na obra de Victor Hugo)
Produção: Paul Kohner
Elenco: Conrad Veidt, Mary Philbin, Olga Baclanova, Brandon Hurst, Cesare Gravina

Sabe aquele personagem que só de você olhar para ele você o considera extremamente perturbador e sente um baita medo? Pois bem, essa é o personagem interpretado por Conrad Veidt em O Homem que Ri, para mim, o seu mais marcante papel. Dirigido pelo alemão Paul Leni, essa adaptação da obra de Vitor Hugo traz a história de Gwynplaine (Veidt), herdeiro de um ducado, que é sequestrado quando ainda garoto e por ordem do Rei James II, tem o rosto desfigurado, deixando-o para sempre com um sorriso macabro em seus lábios, e vendido para um grupo de compradores de crianças, que ganham a vida exibindo-os nos freak shows da vida. E bota macabro nesse sorriso! Agora olhe bem para a figura do Gwynplaine com seu sorriso perpétuo. Acha familiar? Sim, é isso mesmo que você está pensando. Bob Kane, criador de Batman, inspirou-se na performance de Conrad Veidt para criar o principal arqui-inimigo do Homem-Morcego: o Coringa. Gwynplaine é abandonado ainda criança, vagando sem rumo com um echarpe cobrindo seu rosto, quando encontra uma bebê cega padecendo nos braços de sua mãe morta ao qual resolve dar proteção. À procura de abrigo, eles batem na porta de uma cabana e são adotados por Ursus, o Filósofo. Ao crescer, não resta alternativa ao pobre e atormentado Gwynplaine a não ser virar palhaço de um circo itinerante, o que lhe rende fama e o apelido de “Homem que Ri”. Uma multidão de rufiões se aglomera para conhecê-lo por onde quer que seu teatro mambembe, liderado por Urusus, passe. Mas por trás daquele sorriso esconde-se um homem amargurado, pária da sociedade no final das contas, que alimenta um amor pela bela Dea, a mesma bebê que ele salvou, que cresceu e ganhou um rosto angelical, trabalhando na trupe como sua assistente de palco. Mas o pobre coitado vive um dilema pessoal, pois acha sacanagem pedi-la em casamento, mesmo sendo seu maior desejo, sendo que ela não poder ver sua horrenda deformidade, e por isso fica lutando contra seus sentimentos. Sério, a expressão de Veidt, que já havia nos brindado anteriormente com Cesare de O Gabinete do Dr. Caligari e o pianista Paul Orlac em As Mãos de Orlac, com aquele sorriso escancarado no rosto é realmente assustadora. Ele não precisa fazer absolutamente nada. Somente suas expressões faciais e aquele sorriso são o suficiente para impressionar. Veidt está perfeito, colocando todo o poder das expressões faciais que o cinema mudo exigia. Mas claro que apesar da aparência sinistra, o coração enorme e o sofrimento de Gwynplaine comove os espectadores, que acabam por simpatizar pela bizarra criatura. Soma-se a isso a direção certeira e a cenografia que Leni imprime na história, construindo uma brilhante mistura entre o expressionismo alemão, sua verdadeira escola, onde já havia dirigido O Gabinete das Figuras de Cera, por exemplo (com Veidt no elenco também), com o realismo e produção exuberante do cinema americano. E Leni soube imprimir seu toque macabro, principalmente nos seus cenários e nas interpretações carregadas dos protagonistas, misturadas como o drama palatável e toda a tristeza de Gwynplaine e as impressionantes cenas de ação no terceiro ato do filme. É um pouco extenso, com uma metragem longa (110 min), mas O Homem que Ri é um clássico absoluto da sétima arte.
FONTE: http://101horrormovies.com/2012/11/15/14-o-homem-que-ri-1928/

#010 1926 FAUSTO (Faust – Eine deutsche Volkssage, Alemanha)


Direção: F.W. Murnau
Roteiro: Gerhart Hauptmann, Hans Kyser (baseado na obra de Johann Wolfgang von Goethe)
Produção: Erich Pommer
Elenco: Gösta Ekmann, Emil Jannings, Camila Horn, Frieda Richard, Wilhelm Dieterle

Mais uma vez o diretor F. W. Murnau ataca, agora com uma pretensiosa superprodução do expressionismo alemão baseada na famosa obra de Goethe Fausto é um filme com uma metragem longa, novelão, recheado de cenários e “efeitos especiais”, que traz mais uma vez ao cinema questões envolvendo o demônio e elementos sobrenaturais. Para quem não conhece a trama, Fausto é a história definitiva da venda da alma ao diabo em troca de favores, que vão de poder, riqueza, até o amor de uma mulher. Inspirado em uma popular lenda alemã, o poema de Goethe narra a tragédia épica do Dr. Fausto, um velho homem das ciências, que desiludido pelas limitações do seu tempo, ao ver a população da sua cidade sucumbir à peste, faz um pacto com Mefistófeles, ou Mephisto, que em troca da sua alma, conseguida através de um contrato assinado com sangue, lhe daria conhecimento, poder, glória, juventude e até um rabo de saia, nesse caso Gretchen, uma singela camponesa pela qual se apaixona. Mas claro que como todo pacto com o diabo que se preze, a coisa não acaba bem e uma sequência de tragédias e questionamentos atormenta os personagens até seu final. Murnau, que já havia imprimido as características do cinema gótico em sua obra anterior, Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror, nos brinda com um trabalho executando muito bem o jogo de luz e sombra para criar um clima soturno e cenas impressionantes, como a conjuração de Mephisto ou o diabo gigantesco abrindo suas asas sobre a cidadela e espalhando a praga (Fantasia, da Disney?). Desde 1926, um pacto com o diabo nunca acaba bem no cinema. O maior atrativo filme é a interpretação magistral de Emil Jannings como o demônio, sempre causando ali do lado de Fausto, cheio de caras e bocas, dando vida a toda sagacidade e cinismo do anjo das trevas. Mas, no frigir dos ovos o filme é cansativo, graça aos seus arrastados 115 minutos, com várias cenas completamente desnecessárias. Inclusive se tirasse de 30 a 40 minutos, talvez a produção se tornasse mais dinâmica e interessante. Vale entrar na lista pelo tema (pacto com diabo) que seria recorrente em dezenas de filmes de terror vindouros e toda sua atmosfera de tragédia e sofrimento.
FONTE: http://101horrormovies.com/2012/11/11/6-fausto-1926/