Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger
Produção: R. Busby, Michael Powell, Emeric Pressburger
Roteiro: Michael Powell, Emeric Pressburger, Keith
Winter, baseado no livro de Hans Christian Andersen
Fotografia:
Música:
Elenco:
Marius
Goring ……Julian Craster
Jean Short ……….Terry
Gordon Littmann …Ike
Julia Lang …………A Balletomane
Bill Shine ………….Her Mate
Léonide Massine …Ljubov
A
produção de 1948 de Michael Powell-Emeric Pressburger foi amada por gerações de
garotas que queriam ser bailarinas quando crescessem, embora sua mensagem para elas
seja decididamente de duplo sentido. Em uma fascinante releitura da velha história
do nascimento de uma estrela, Victoria Page (Moira Shearer), uma jovem
dançarina atraente, obstinada e talentosa, se apaixona pelo empresário Bóris Lermontov
(Anlon Walbrook), uma mistura de Svengali com Rasputin e Diaghilev. Ela
negligencia sua vida pessoal (um romance com o compositor Marius Goring) em
prol de uma devoção passional e quase doentia à arte, o que antecipa um final
trágico belamente encenado. Depois que Boronskaja (Ludmilla Tchérina), a
bailarina principal que Lermontov abandona quando ela diz querer se casar, sai
de cena, Vicky estreia em uma adaptação para o balé da história de Hans
Christian Andersen sobre uma garotinha cujos sapatos a mantêm dançando até ela
cair morta. Isso leva os cineastas - auxiliados pelo dançarino- coreógrafo
Robert Helpmann, o co-astro Léonide Massine e o maestro Sir Thomas Beecham - a
uma sequência de dança fantástica de 20 minutos que criou uma tendência (ver
Sinfonia de Paris, Um dia em Nova York, Oklahoma!) de interlúdios estilizados e
sofisticados em musicais. No entanto, ela consegue ser muito melhor do que qualquer
uma de suas imitações ao recontar em síntese a história do filme ao mesmo tempo
em que ainda funciona bem como um número musical independente. Obviamente, a
vida de Vicky fora dos palcos segue os passos daquela da heroína de Andersen, conduzindo
ao clímax em que ela salta - como em um balé - diante de um trem e ao
inesquecível tributo no qual seus colegas desolados fazem uma nova apresentação
de "Sapatinhos Vermelhos" apenas com os sapatos no lugar da estrela. Shearer,
pequenina e extraordinária na sua estreia nas telas, é uma presença poderosa que
consegue fazer frente a toda a intensidade da atuação soberba de Walbrook. Ela consegue
convencer tanto como uma dançarina ingênua em um salão lotado com uma companhia
de terceira categoria quanto como a grande estrela adorada por todo o mundo. A
heroína é cercada por telas de fundo estranhas, dignas de contos de fadas, para
o exuberante balé, porém o desenhista de produção Hein Heckroth, o diretor de arte
Arthur Lawson e o fotógrafo Jack Cardiff trabalham duro para tornar as cenas
fora dos palcos aparentemente normais tão ricas e exóticas quanto os momentos
de destaque no teatro. Walbrook - com os olhos brilhando, quando não escondidos
atrás de óculos escuros - arrulha e sibila falas diabólicas com uma satisfação
da qual não conseguimos deixar de compartilhar, manipulando tudo à sua volta
com facilidade, embora esteja tragicamente sozinho na sua devoção religiosa ao
balé. Os sapatinhos vermelhos é um raro exemplo de musical que captura a magia
dos espetáculos teatrais sem negligenciar o esforço árduo e sofrido necessário
para se criar esse tipo de veículo para o encantamento. Seu
clima de bastidores ajudou bastante a tornar o balé acessível para além da
elite, contrastando as expectativas dos apreciadores de musicais amontoados nas
poltronas mais altas (e mais baratas) com a condescendência desdenhosa dos
figurões bem vestidos nos camarotes, para os quais as pérolas artísticas são
jogadas. Contando com cores brilhantes maravilhosas, uma seleção de músicas
clássicas que fogem ao clichê e um viés sinistro que captura perfeitamente a
ambiguidade do tradicional, ao contrário dos contos de fadas da Disney, esta é
uma obra-prima exuberante.
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 211)
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