Direção: Jorge
R. Gutierrez
Roteiro: Jorge
R. Gutierrez, Douglas Langdale
ELENCO: Diego Luna,
Zöe Saldana, Channing Tatum, Ron Perlman, Christina Applegate, Ice Cube
A relação afetiva de Guillermo del Toro
com a morte é uma marca do seu cinema, tão importante quanto
o seu amor por monstros. Esse encanto pelo posfácio da existência o fez salvar FESTA NO CÉU (The Book of Life),
animação do mexicano Jorge R. Gutierrez abandonada pela DreamWorks por
“diferenças criativas”. Com Del Toro na produção, Gutierrez garantiu a
liberdade necessária para fazer o filme que
queria, mantendo-se fiel aos conceitos definidos pelos artistas durante o
processo de criação. Assim, fez três animações em uma. Usou o estilo
convencional para mostra a realidade - quando uma bela guia explica a tradição
do Dia dos Mortos e conta a um grupo de crianças as desventuras de Manolo,
Joaquim e Maria. Os personagens ganham forma como bonecos de madeira, definindo
uma segunda estética para diferenciar a história dentro da história. Quando
segue para o mundo dos mortos, a narrativa encontra outro universo, em uma
explosão de cores, caveiras e texturas, fazendo bom uso do 3D. A ideia
da vida após a morte é o mais belo e mais estranho traço do filme. O plano aqui
não é contar apenas a história de um triângulo amoroso alimentado pela aposta
entre a Morte e seu amante, Xibalba. Festa no Céu quer passar
a mensagem do “seja você mesmo” e “não desista dos seus sonhos”, mas, para
tanto, precisa matar seu protagonista. Manolo só descobre que precisa aceitar
quem é - um músico, não um toureiro - quando é libertado pela morte. Um
conceito complexo e até perigoso para ser tratado de forma tão leve e colorida.
Para os mexicanos, a morte não é o fim, mas uma celebração da vida que foi.
Para que essa pós-existência seja possível, porém, os vivos precisam honrar os
mortos. Ser esquecido é deixar de existir. Assim, o filme tenta catequizar uma
geração de mexicanos residentes nos EUA a honrar suas tradições ao mesmo tempo
em que explica essa cultura para o restante do mundo. Neste caminho,
infelizmente, se perde em uma narrativa didática e redundante, justificando
para si os meios para os seus fins. A música, parte importante da trama, acaba
um pouco prejudicada pela versão brasileira, que ora decide criar versões em
português para canções populares, ora apenas as legenda. Já o trabalho de
dublagem, ancorado por nomes conhecidos como Thiago Lacerda e Marisa
Orth é bem feito, com os atores dando personalidade aos seus
personagens. O título nacional também acerta, já que uma celebração no céu
parece representar melhor um longa que é mais vivo quando morto. Ainda assim,
“O Livro da Vida” de Gutierrez não é mórbido ou macabro, é apenas diferente.
Suas ideias metafísicas podem soar tolas para quem não acredita nesse tipo de
coisa, ou para quem acredita em outras coisas, mas a sua capacidade como
animador é inegável. Crenças à parte, seu filme é um espetáculo visual, uma
festa de encher os olhos.
FONTE: http://omelete.uol.com.br/cinema/festa-no-ceu-critica/#.VKl9eSvF-T8
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