Direção:
Max Ophüls
Produção:
John Houseman
Roteiro: Howard Koch, Stefan Zweig, baseado no livro
Brief einer unbekannten, de Stefan Zweig
Fotografia:
Franz Planer
Música:
Daniele Amfltheatrof
Elenco:
Joan
Fontaine ……………………. Lisa Berndle
Louis
Jourdan ……………………. Stefan Brand
Mady Christians …………………… Frau Berndle
Marcel Journet …………………….. Johann Stauffer
Art Smith ………………………….. John
Carol Yorke …………………………. Marie
Ainda: Howard Freeman, lohn Good, Leo B. Pessin,
Erskine Sinford, Otto Waldls, Sonja Bryden
Stefan
Brand (Louis Jourdan), um pianista de Conceito dândi e cavalheiresco na Viena
da virada do século XIX para o XX, volta para casa depois de mais uma noite de
dissipação. Seu criado mudo lhe entrega uma carta. É de uma mulher, e suas
primeiras palavras o deixam estarrecido: "Quando você estiver lendo Isso,
eu estarei morta..." O que se desenrola a partir dessa abertura
extraordinária pode ser considerado com justiça não só o melhor filme do
diretor Max Ophüls e uma grande conquista dentro do gênero muitas vezes
injustamente difamado do melodrama como também um dos maiores filmes da história
do cinema. Ele é, por si só, uma das poucas obras que podem ser apontadas como
perfeitas até os mínimos detalhes. Adaptado de forma extraordinária da novela
de Stefan Zweig por Howard Koch, este filme é a apoteose da ficção de
"amor malfadado", valendo-se de um flashback para acompanhar a paixão
platônica da jovem Lisa Brendl (Joan Fontaine) por Stefan, Ophüls nos oferece
um retrato vívido e pungente de um amor que jamais deveria ter acontecido. A
ideia romântica e ingênua que Lisa faz dos artistas misturada à indiferença com
que Stefan vê as mulheres como objetos gera uma tragédia sombria. A compreensão
intuitiva de Ophüls da desigualdade dos papéis de gênero na sociedade ocidental
do século XX é surpreendente. Ophüls constrói uma obra belamente equilibrada.
Ao mesmo tempo em que incentiva uma identificação com o sofrimento de Lisa, e
com os sonhos de toda uma sociedade alimentada pela cultura popular (um pano de
fundo que serviria para filmes posteriores), Carta de uma desconhecida é uma
crítica mordaz e devastadora ao mito e â ideologia do amor romântico. Nossa compreensão
da história fica sujeita às mudanças sutis de atmosfera e ponto de vista. De
forma implacável e hipnótica, a mise-en-scène de Ophüls retira os véus de ilusão
que envolvem Lisa. Quando não são os cenários que revelam as condições banais
de realidade por trás desses voos de imaginação, a câmera sugere - em enquadramentos
sutis e movimentos ligeiramente destacados do mundo da história - uma
perspectiva independente que ilude os personagens. O filme é um triunfo não só em termos de um estilo
significativo e expressivo, mas também de uma estrutura narrativa planejada. Através
da narração pungente de Lisa, décadas são interligadas e anos-chave são
saltados engenhosamente, graças ao ajustamento de detalhes organizados como
motivos, que se concentram em gestos repetidos (como uma flor que é dada),
diálogos (referências ao passar do tempo são onipresentes) e objetos-chave (a
escada que leva ao apartamento de Stefan). Quando Ophüls atinge um chavão de
Hollywood - a aparição fantasmagórica da jovem Lisa finalmente evocada na
memória de Stefan -, o clichê é gloriosamente transcendido e lágrimas sobem aos
olhos mesmo daqueles espectadores modernos que resistem a esse tipo antiquado
de "novela". Carta de uma desconhecida é de uma riqueza inesgotável, uma
obra que levou uma miríade de cinéfilos a tentar desvendar seus temas, padrões,
sugestões e ironias. No entanto, nenhuma quantidade de análise cuidadosa será
capaz de extinguir a emoção sublime e dilacerante evocada por esta obra-prima. AM
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 202)
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