Direção: Paul Annett
Roteiro: Michael Winder (baseado
na história de James Blish)
Produção: Max
Rosenberg, Milton Subotsky, John Dark (Produtor Associado), Robert H. Greenberg
(Produtor Executivo)
Elenco: Calvin
Lockhart, Peter Cushing, Marlene Clark, Charles Gray, Anton Diffring, Ciaran
Madden
A Fera Deve
Morrer é algo mais ou menos como “Agatha Christie encontra o
Lobisomem”, porque esse modesto filme da Amicus, o estúdio inglês rival da
Hammer, na verdade engloba muito mais uma trama policial do que um filme de
terror em si. E vou confessar que ele tem uma história e um clima bem bacana,
que funciona até determinado momento. Dirigido por Paul Annett e escrito por
Michael Winder (além do toque do próprio Annet e Scott Finch, de forma não
creditada), a história é inspirada pelo conto “There Shall Be No Darkness” de
James Blish. Por se tratar de um filme de lobisomem, obviamente já temos certo
padrão estigmatizado em nossas mentes, mas é interessante como A Fera Deve
Morrer, de certa forma, extrapola esses conceitos, trazendo elementos
inovadores para o gênero até então. Desde lá atrás, quando a Universal lançou O Homem-Lobo em 1935,
e popularizado quando Lon Chaney Jr. viveu Larry Talbot e ficou amaldiçoado em
toda noite de lua cheia no clássico O Lobisomem, o monstro
peludo licantropo sempre foi retratado no cinema de horror como uma criatura
bípede, onde cresce pelos por todo o corpo, orelhas pontudas e garras, e o
motivo de sua transformação em monstro quase sempre teve uma explicação
sobrenatural (exceto em O Lobisomem de 1956 e I Was a
Teenage Werewolf, vítimas de experiências com radiação – lógico,
ambos lançados nos anos 50) . Em A Fera Deve Morrer, o motivo da
transformação de homem em lobo é na verdade uma doença, uma disfunção glandular
capaz de ativar essa mutação nas noites de lua cheia. Outra originalidade desta
película é que também pela primeira vez, o monstro bípede é substituído por um
“lobo”. Explico as aspas em lobo: Quando o pobre diabo é transformado em seu
estado animal, ele é substituído por um pastor alemão preto “fantasiado” de
lobo. Okay, a produção não teve verba para fazer um sujeito maquiado (vide a
tosca cena final onde, através da já famosa trucagem, o monstro vai voltando à
sua forma humana) então melhor mesmo nem tentar para não cair no ridículo, mas
até aí usar um cachorro para simular um lobo, é ruim de doer. Na hora me
lembrou do infame O Ataque dos
Roedores, onde cães foram usados para atuarem como musaranhos
gigantes. Mas tirando esses percalços e outras tosqueiras gritantes, como usar
o velho artifício de escurecer as imagens gravadas de dia para fingir que é de
noite (uma técnica conhecida como “day for night”), mas que obviamente fica
muito na cara que as cenas foram filmadas de dia (inclusive na cena do
helicóptero, quando o piloto usa óculos escuros em plena calada da noite), o
filme tem uma jogada interessante, que é tentar interagir com o espectador e
convidá-lo a adivinhar quais dos suspeitos é o lobisomem. Para isso, ao melhor
estilo do jogo Detetive (Sr. Mostarda, matou a Dona Rosa com um castiçal no
hall), cinco personagens completamente díspares são convidados por um
excêntrico caçador milionário, Tom Newcliffe (Calvin Lockhart), que mais parece
uma versão blaxploitation de Zaroff – O
Caçador de Vidas, e sua esposa, Caroline (Marlene Clark) para passar
uns dias em sua mansão, sendo que um deles é na verdade um lobisomem, e a
intenção de Newcliffe é caçá-lo impiedosamente. Para isso, ele instalou uma
parafernalha eletrônica de última geração ao redor de sua propriedade, a fim de
monitorar e filmar os passos de todos e rastrear o animal, cortesia da empresa
de Pavel, papel de Anton Diffring. Essas cinco pessoas consistem em:
Arthur Bennington (Charles Gray), um diplomata; o casal Jan Jarmokowski
(Michael Gambon) e Davina Gilmore (Ciaran Madden), pianista e sua ex-aluna,
agora amante; Paul Foote (Tom Chadbon), um artista recentemente solto da
prisão; e o Dr. Christopher Lundgren, interpretado pelo eterno Peter Cushing,
fazendo o papel de um arqueólogo e estudioso de licantropia. Pronto, está
montado o cenário para que durante três noites de lua cheia, Newcliffe fique
obcecado em descobrir quem é o lobisomem e conquistar sua cabeça para sua sala
de troféus. Porém, antes que ele e nós espectadores (que somos convidados a
adivinhar quem é o culpado durante uma pausa de trinta segundos nos dez minutos
finais do filme, chamada de “The Werewolf Break” – imposto pelo produtor Milton
Subotsky contra a vontade do diretor) o lobo/cachorro irá fazer várias vítimas
pela propriedade, e sempre será usada aquela velha fórmula do whodunit?,
levando tudo a crer que o monstro é determinado personagem, mas haverá aquela
fatídica reviravolta final no último momento. Paul Annett até consegue misturar
muito bem o clima de suspense e a dinâmica de seus personagens, com a ação
desenfreada do caçador correndo pelas matas, com uma trilha sonora toda cheia
de funk e soul, ao melhor estilo blaxploitation, incluindo todos os
trejeitos com os quais são desenvolvidos Newcliffe. Obviamente para monetizar
em cima do sucesso desse movimento cinematográfico (Robert Quarry foi
originalmente cotado para o papel principal). E o diretor até tenta filmar o
mínimo possível o cachorro travestido de lobo, sempre abusando de imagens
escuras e com pouca iluminação (o que acaba se tornando na verdade uma
deficiência técnica) closes, cenas do animal em movimento e principalmente
pulando de forma ágil de um lado para o outro, mas o resultado é patético (e
engraçado). A Fera Deve Morrer foi o último filme de terror da Amicus em
que o produtor e fundador Milton Subotsky (que o odiou, na real), esteve
envolvido. Estúdio famoso durante a década de 60, e tão importante quanto a
Hammer para o cinema de horror britânico, foi responsável por diversos filmes
do gênero, e é engraçado que os dois rivais só fizeram um filme de lobisomem
durante mais de 20 anos de existência. Este daqui pela Amicus, que chegou a ser
lançado em DVD no Brasil pelo selo Dark Side da Works Editora, e A Maldição do
Lobisomem, com Oliver Reed, da Hammer.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/11/07/301-a-fera-deve-morrer-1974/
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