quarta-feira, 4 de novembro de 2015

#301 1974 A FERA DEVE MORRER (The Beast Must Die, Reino Unido)


Direção: Paul Annett
Roteiro: Michael Winder (baseado na história de James Blish)
Produção: Max Rosenberg, Milton Subotsky, John Dark (Produtor Associado), Robert H. Greenberg (Produtor Executivo)
Elenco: Calvin Lockhart, Peter Cushing, Marlene Clark, Charles Gray, Anton Diffring, Ciaran Madden

A Fera Deve Morrer é algo mais ou menos como “Agatha Christie encontra o Lobisomem”, porque esse modesto filme da Amicus, o estúdio inglês rival da Hammer, na verdade engloba muito mais uma trama policial do que um filme de terror em si. E vou confessar que ele tem uma história e um clima bem bacana, que funciona até determinado momento. Dirigido por Paul Annett e escrito por Michael Winder (além do toque do próprio Annet e Scott Finch, de forma não creditada), a história é inspirada pelo conto “There Shall Be No Darkness” de James Blish. Por se tratar de um filme de lobisomem, obviamente já temos certo padrão estigmatizado em nossas mentes, mas é interessante como A Fera Deve Morrer, de certa forma, extrapola esses conceitos, trazendo elementos inovadores para o gênero até então. Desde lá atrás, quando a Universal lançou O Homem-Lobo em 1935, e popularizado quando Lon Chaney Jr. viveu Larry Talbot e ficou amaldiçoado em toda noite de lua cheia no clássico O Lobisomem, o monstro peludo licantropo sempre foi retratado no cinema de horror como uma criatura bípede, onde cresce pelos por todo o corpo, orelhas pontudas e garras, e o motivo de sua transformação em monstro quase sempre teve uma explicação sobrenatural (exceto em O Lobisomem de 1956 e I Was a Teenage Werewolf, vítimas de experiências com radiação – lógico, ambos lançados nos anos 50) . Em A Fera Deve Morrer, o motivo da transformação de homem em lobo é na verdade uma doença, uma disfunção glandular capaz de ativar essa mutação nas noites de lua cheia. Outra originalidade desta película é que também pela primeira vez, o monstro bípede é substituído por um “lobo”. Explico as aspas em lobo: Quando o pobre diabo é transformado em seu estado animal, ele é substituído por um pastor alemão preto “fantasiado” de lobo. Okay, a produção não teve verba para fazer um sujeito maquiado (vide a tosca cena final onde, através da já famosa trucagem, o monstro vai voltando à sua forma humana) então melhor mesmo nem tentar para não cair no ridículo, mas até aí usar um cachorro para simular um lobo, é ruim de doer. Na hora me lembrou do infame O Ataque dos Roedores, onde cães foram usados para atuarem como musaranhos gigantes. Mas tirando esses percalços e outras tosqueiras gritantes, como usar o velho artifício de escurecer as imagens gravadas de dia para fingir que é de noite (uma técnica conhecida como “day for night”), mas que obviamente fica muito na cara que as cenas foram filmadas de dia (inclusive na cena do helicóptero, quando o piloto usa óculos escuros em plena calada da noite), o filme tem uma jogada interessante, que é tentar interagir com o espectador e convidá-lo a adivinhar quais dos suspeitos é o lobisomem. Para isso, ao melhor estilo do jogo Detetive (Sr. Mostarda, matou a Dona Rosa com um castiçal no hall), cinco personagens completamente díspares são convidados por um excêntrico caçador milionário, Tom Newcliffe (Calvin Lockhart), que mais parece uma versão blaxploitation de Zaroff – O Caçador de Vidas, e sua esposa, Caroline (Marlene Clark) para passar uns dias em sua mansão, sendo que um deles é na verdade um lobisomem, e a intenção de Newcliffe é caçá-lo impiedosamente. Para isso, ele instalou uma parafernalha eletrônica de última geração ao redor de sua propriedade, a fim de monitorar e filmar os passos de todos e rastrear o animal, cortesia da empresa de Pavel, papel de Anton Diffring. Essas cinco pessoas consistem em: Arthur Bennington (Charles Gray), um diplomata; o casal Jan Jarmokowski (Michael Gambon) e Davina Gilmore (Ciaran Madden), pianista e sua ex-aluna, agora amante; Paul Foote (Tom Chadbon), um artista recentemente solto da prisão; e o Dr. Christopher Lundgren, interpretado pelo eterno Peter Cushing, fazendo o papel de um arqueólogo e estudioso de licantropia. Pronto, está montado o cenário para que durante três noites de lua cheia, Newcliffe fique obcecado em descobrir quem é o lobisomem e conquistar sua cabeça para sua sala de troféus. Porém, antes que ele e nós espectadores (que somos convidados a adivinhar quem é o culpado durante uma pausa de trinta segundos nos dez minutos finais do filme, chamada de “The Werewolf Break” – imposto pelo produtor Milton Subotsky contra a vontade do diretor) o lobo/cachorro irá fazer várias vítimas pela propriedade, e sempre será usada aquela velha fórmula do whodunit?, levando tudo a crer que o monstro é determinado personagem, mas haverá aquela fatídica reviravolta final no último momento. Paul Annett até consegue misturar muito bem o clima de suspense e a dinâmica de seus personagens, com a ação desenfreada do caçador correndo pelas matas, com uma trilha sonora toda cheia de funk e soul, ao melhor estilo blaxploitation, incluindo todos os trejeitos com os quais são desenvolvidos Newcliffe. Obviamente para monetizar em cima do sucesso desse movimento cinematográfico (Robert Quarry foi originalmente cotado para o papel principal). E o diretor até tenta filmar o mínimo possível o cachorro travestido de lobo, sempre abusando de imagens escuras e com pouca iluminação (o que acaba se tornando na verdade uma deficiência técnica) closes, cenas do animal em movimento e principalmente pulando de forma ágil de um lado para o outro, mas o resultado é patético (e engraçado). A Fera Deve Morrer foi o último filme de terror da Amicus em que o produtor e fundador Milton Subotsky (que o odiou, na real), esteve envolvido. Estúdio famoso durante a década de 60, e tão importante quanto a Hammer para o cinema de horror britânico, foi responsável por diversos filmes do gênero, e é engraçado que os dois rivais só fizeram um filme de lobisomem durante mais de 20 anos de existência. Este daqui pela Amicus, que chegou a ser lançado em DVD no Brasil pelo selo Dark Side da Works Editora, e A Maldição do Lobisomem, com Oliver Reed, da Hammer.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/11/07/301-a-fera-deve-morrer-1974/


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