Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Peter Locke
Elenco: Russ Grieve, Virgina Vincent, Dee Wallace, Robert
Houston, Michael Berryman
Quadrilha de Sádicos,
segunda incursão de Wes Craven na direção, depois do ótimo Aniversário Macabro,
é seu road movie brutal sobre luta de classes. Uma crônica de
sobrevivência da burguesa família de classe média americana contra os selvagens
mutantes canibais, párias dessa sociedade assim estabelecida. É um clássico
cult de Craven, adorado por fãs e crítica, feito em esquema de filme de
guerrilha, utilizando o máximo todo seu talento para produzir uma película de
baixo orçamento, porém extremamente bem feita, contando com boas cenas de
violência apelativa e sangrentas, dando ênfase na construção dos mais variados
arquétipos dos personagens de ambas as famílias. É uma batalha de vida ou
morte, verdadeira sobrevivência do mais apto, entre uma família tradicional
americana que se vê presa no meio do deserto, em um campo de testes da força
aeronáutica americana quando seu carro e trailer quebram devido a um acidente,
contra uma família de congênitos que vivem na montanha, praticantes de todo
tipo de barbárie, inclusive o canibalismo. Os Carter estão em uma viagem rumo a
Los Angeles quando resolvem atravessar o deserto de Yucca para encontrarem uma
antiga mina de prata deixada de herança para Ethel (Virgina Vincent), matriarca
e casada com o casca-grossa Big Bob (Russ Grieve). Deixados a própria sorte,
Big Bob e seu genro, Doug (Martin Speer) vão a procura de ajuda, enquanto o
filho mais velho do casal, Bobby (Robert Houston) fica com a mãe e as duas
irmãs, Brenda (Susan Lanier) e Lynne (Dee Wallace, figurinha carimbada de
vários filmes de terror), esposa de Doug e mãe da bebê Kathy. Os dois tem
destinos bastante diferentes. Enquanto Doug descobre um depósito de quinquilharias
pertences às vítimas anteriores dos saqueadores, Big Bob é atacado pelo grupo
enquanto tenta voltar ao posto de gasolina que pediu informações no começo do
filme e acaba crucificado e cremado vivo, visto arder pela própria família. Enquanto
isso, o grupo, comandando com mão de ferro pelo líder Papa Júpiter (James
Withwortj), ataca o trailer e estupra a irmã mais nova, mata Ethel e Lynn e
rapta a bebê a tiracolo para servir de jantar. Esses guerrilheiros, sinônimo de
um grupo étnico que sobrevive com o que pode e são frutos da sociedade que os
transformou em selvagens, são a metáfora dos oprimidos que tentam preservar seu
território e manter o mínimo de condição, hã, humana, se assim podemos dizer. E
daí para frente, para tentar recuperar sua filha e vingar sua família, Doug,
Bobby e Brenda são obrigados a “baixar seus níveis”, se entregar à hostilidade
e jogar o mesmo jogo brutal que os selvagens, que inclui o mais famoso dele, o
feiosão Pluto, vivido pelo ator Michael Berryman, que ficaria bem conhecido dos
fãs do cinema de horror. Craven após o acidente que isola os Carter mantém o
nível de adrenalina lá em cima, criando uma tensão crescente, com o jovem e
inquieto Bobby sendo nossa referência para sacar que eles estão sendo observados
e há algo realmente mal lá fora, preparando um plano diabólico. A sua direção
inventiva ainda abusa de planos fechados imitando binóculos, trilha sonora
forte e impactante, uso de câmera na mão, fotografia noturna e montagem rápida
e picotada. Além disso, Craven deliciosamente brinca com as idiossincrasias
para criar contrastes bem específicos entre os Carter e a família de Papa
Júpiter. Os suburbanos racistas encontram os bandidos que repudiam todo o modo
de vida americano e suas crenças judaico-cristãs (explícita quando Big Bob é
crucificado, por exemplo). É um contexto político fortíssimo dentro de um
Estados Unidos rachado pela estupidez da Guerra do Vietnã e os anos Nixon. Além
do mais, Quadrilha de Sádicos é uma espécie de western às avessas. O próprio país nasceu de um grupo de
colonizadores dizimando e vivendo em eterna batalha sangrenta com os excluídos,
com a minoria, onde quiseram impor seus costumes e fazer uma verdadeira acepção
de povos. Vejam, por exemplo, os inúmeros confrontos raciais dos EUA, contra
negros e imigrantes, e também a tentativa de expandir suas doutrinas no Vietnã,
no Afeganistão, no Iraque, e por aí vai. Violência e opressão dos mais fortes é
o berço da América. Quadrilha de Sádicos em 2006 ganhou o
excelente remake Viagem Maldita,
produzido por Craven e dirigido pelo sanguinário diretor francês Alexandre Aja,
que conseguiu pegar um filme já pesado, violento e político e elevar um degrau
acima, sendo uma das raríssimas exceções em que a refilmagem ficou (por pouco)
melhor que o original.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/29/359-quadrilha-de-sadicos-1977/
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