domingo, 29 de novembro de 2015

#359 1977 QUADRILHAS DE SÁDICOS (The Hills Have Eyes, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Peter Locke
Elenco: Russ Grieve, Virgina Vincent, Dee Wallace, Robert Houston, Michael Berryman

Quadrilha de Sádicos, segunda incursão de Wes Craven na direção, depois do ótimo Aniversário Macabro, é seu road movie brutal sobre luta de classes. Uma crônica de sobrevivência da burguesa família de classe média americana contra os selvagens mutantes canibais, párias dessa sociedade assim estabelecida. É um clássico cult de Craven, adorado por fãs e crítica, feito em esquema de filme de guerrilha, utilizando o máximo todo seu talento para produzir uma película de baixo orçamento, porém extremamente bem feita, contando com boas cenas de violência apelativa e sangrentas, dando ênfase na construção dos mais variados arquétipos dos personagens de ambas as famílias. É uma batalha de vida ou morte, verdadeira sobrevivência do mais apto, entre uma família tradicional americana que se vê presa no meio do deserto, em um campo de testes da força aeronáutica americana quando seu carro e trailer quebram devido a um acidente, contra uma família de congênitos que vivem na montanha, praticantes de todo tipo de barbárie, inclusive o canibalismo. Os Carter estão em uma viagem rumo a Los Angeles quando resolvem atravessar o deserto de Yucca para encontrarem uma antiga mina de prata deixada de herança para Ethel (Virgina Vincent), matriarca e casada com o casca-grossa Big Bob (Russ Grieve). Deixados a própria sorte, Big Bob e seu genro, Doug (Martin Speer) vão a procura de ajuda, enquanto o filho mais velho do casal, Bobby (Robert Houston) fica com a mãe e as duas irmãs, Brenda (Susan Lanier) e Lynne (Dee Wallace, figurinha carimbada de vários filmes de terror), esposa de Doug e mãe da bebê Kathy. Os dois tem destinos bastante diferentes. Enquanto Doug descobre um depósito de quinquilharias pertences às vítimas anteriores dos saqueadores, Big Bob é atacado pelo grupo enquanto tenta voltar ao posto de gasolina que pediu informações no começo do filme e acaba crucificado e cremado vivo, visto arder pela própria família. Enquanto isso, o grupo, comandando com mão de ferro pelo líder Papa Júpiter (James Withwortj), ataca o trailer e estupra a irmã mais nova, mata Ethel e Lynn e rapta a bebê a tiracolo para servir de jantar. Esses guerrilheiros, sinônimo de um grupo étnico que sobrevive com o que pode e são frutos da sociedade que os transformou em selvagens, são a metáfora dos oprimidos que tentam preservar seu território e manter o mínimo de condição, hã, humana, se assim podemos dizer. E daí para frente, para tentar recuperar sua filha e vingar sua família, Doug, Bobby e Brenda são obrigados a “baixar seus níveis”, se entregar à hostilidade e jogar o mesmo jogo brutal que os selvagens, que inclui o mais famoso dele, o feiosão Pluto, vivido pelo ator Michael Berryman, que ficaria bem conhecido dos fãs do cinema de horror. Craven após o acidente que isola os Carter mantém o nível de adrenalina lá em cima, criando uma tensão crescente, com o jovem e inquieto Bobby sendo nossa referência para sacar que eles estão sendo observados e há algo realmente mal lá fora, preparando um plano diabólico. A sua direção inventiva ainda abusa de planos fechados imitando binóculos, trilha sonora forte e impactante, uso de câmera na mão, fotografia noturna e montagem rápida e picotada. Além disso, Craven deliciosamente brinca com as idiossincrasias para criar contrastes bem específicos entre os Carter e a família de Papa Júpiter. Os suburbanos racistas encontram os bandidos que repudiam todo o modo de vida americano e suas crenças judaico-cristãs (explícita quando Big Bob é crucificado, por exemplo). É um contexto político fortíssimo dentro de um Estados Unidos rachado pela estupidez da Guerra do Vietnã e os anos Nixon. Além do mais, Quadrilha de Sádicos é uma espécie de western às avessas. O próprio país nasceu de um grupo de colonizadores dizimando e vivendo em eterna batalha sangrenta com os excluídos, com a minoria, onde quiseram impor seus costumes e fazer uma verdadeira acepção de povos. Vejam, por exemplo, os inúmeros confrontos raciais dos EUA, contra negros e imigrantes, e também a tentativa de expandir suas doutrinas no Vietnã, no Afeganistão, no Iraque, e por aí vai. Violência e opressão dos mais fortes é o berço da América. Quadrilha de Sádicos em 2006 ganhou o excelente remake Viagem Maldita, produzido por Craven e dirigido pelo sanguinário diretor francês Alexandre Aja, que conseguiu pegar um filme já pesado, violento e político e elevar um degrau acima, sendo uma das raríssimas exceções em que a refilmagem ficou (por pouco) melhor que o original.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/29/359-quadrilha-de-sadicos-1977/

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