quinta-feira, 5 de novembro de 2015

#305 1974 A LENDA DOS 7 VAMPIROS (The Legend of the 7 Golden Vampires, Reino Unido, Hong Kong)


Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: Don Houghton
Produção: Don Houghton, Vee King Shaw, Run Run Shaw e Rumme Shaw (Produtores Executivos – não creditados)
Elenco: Peter Cushing, David Chiang, Julie Ege, Robin Stewart, Szu Shih, John Forbes-Robertson, Shen Chan

Mas era só o que me faltava! Vampiros que lutam kung-fu? Mas sim, a Hammer conseguiu levar essa premissa adiante em A Lenda dos Sete Vampiros. Uma caricatura do que o grande estúdio já foi um dia, agora tentando desesperadamente recuperar o interesse do público jovem e levá-los aos cinemas, misturando uma história com o Drácula (porém sem Christopher Lee vestindo a capa e presas) na China, às voltas com um grupo de irmãos lutadores que gostam de distribuir sopapos por aí. Em primeiro lugar, é melhor encará-lo como uma comédia trash do que um filme de terror propriamente dito. Segundo, desde o começo dos anos 70, quando a Casa do Horror começara a entrar em declínio e sua estética gótica, tão popular e famosa na década anterior, passou a não gerar o mínimo interesse em novos espectadores, o estúdio começou a perder muita grana e a Hammer tentou de toda maneira possível conseguir recuperar seu status quo. Começou aumentando a dose de sangue e colocar belas garotas nuas nos seus filmes. E quando nada parecia dar certo, eles tiveram a brilhante ideia de abrir os olhos para o crescente do mercado dos filmes de kung-fu, por conta do estrondoso sucesso mundial de Bruce Lee. E também colocando esses mesmos olhos no mercado asiático, eis que a Hammer se uniu a produtora Shaw Brothers, de Hong Kong, em uma turbulenta parceria, e deu origem a esse híbrido bizarro de lutas marciais com vampirismo em A Lenda dos Sete Vampiros. Na boa? É o pior filme da Hammer, sem sombra de dúvida. Talvez o emergente mercado de filmes de artes marciais fosse uma solução, porém o tiro saiu pela culatra de forma bisonha. Dirigido pelo já lendário Roy Ward Baker (com as cenas e suas coreografias de luta sendo dirigidas por Cheh Chang, de forma não creditada), a trama escrita por Don Houghton parece até piada de mal gosto: O monge chinês Kah (Shen Chan) resolve ir até a Transilvânia (a pé, pelo que dá a se entender no começo do filme) barganhar com o Conde Drácula em pessoa (aqui vivido pelo péssimo John Forbes-Robertson) uma ajuda para trazer de volta à vida os terríveis sete vampiros dourados que viveram em um ermo vilarejo chinês, e assim voltar a tomar o controle do seu povoado. Drácula, que não é lá o sujeito ideal para se pedir ajuda, desdenha de Kah e resolve se apoderar do corpo do monge, disposto a vagar até a China e trazer os terríveis vampiros de volta à vida, e assim orquestrar sua vingança contra a humanidade, escravizando a aldeia, sugar o sangue das virgenzinhas chinesas e tocando o terror. Passados 100 anos, o destemido Prof. Van Helsing (interpretado pela última vez por Peter Cushing), promove uma palestra sobre vampiros em uma universidade da China no comecinho do Século XX, quando é motivo de xacota dos alunos orientais, exceto Hsi Ching (David Chiang), que precisa da ajuda do velho caçador para libertar sua aldeia da terrível presença de Drácula e de seus Sete Vampiros Dourados ressuscitados. Enquanto Ching e seus outros cinco irmãos e irmãs partem junto de Van Helsig, seu filho Leyland (Robin Stewart) e a Sra. Vanessa Buren (Julie Ege) que financia a expedição, eles serão atacados dezenas de vezes pelos vampiros e seus comparsas, apenas para poderem mostrar todas as suas habilidades nas artes marciais nas cenas de pancadaria, com vários socos, chutes, voadoras, espadas, lanças, maças, e corações sendo arrancados com as próprias mãos. Isso até eles conseguirem chegar ao vilarejo, onde vampiros e carniçais desmortos cavalgam em cavalos e usam máscaras e armaduras, e o clã Ching tentar liberar seu povo, com Van Helsing travando a última e definitiva batalha contra sua nêmesis vampiro na história do estúdio inglês. O eterno Drácula, Christopher Lee, foi convidado para participar do filme, mas adivinhe só qual foi sua resposta ao ler o roteiro? O papel caiu no colo de John-Forbes Robertson, que faz um dos piores vampiros mor da história e ainda ficou puto da vida quando descobriu que foi dublado por outro ator. Isso quando não vemos a maior parte do tempo, o china Chan Shen na pele do Príncipe das Trevas. E não tem como passar incólume a fatídica cena em que Peter Cushing tropeça, cai sobre a brasa e quase parte dessa para uma melhor (se você nunca viu, está lá devidamente esculhambada no Horrorcast do filme lá no final do post). A Lenda dos Sete Vampiros foi uma tortuosa jornada até chegar ao seu produto final, principalmente por conta dos inúmeros desentendimentos e brigas entre os executivos da Hammer e da Shaw Bros. Pior ainda que grande parte do elenco e equipe técnica não falavam uma palavra em inglês (nem “the book is on the table”) e o filme foi totalmente dublado mais tarde. Nem a trilha sonora contundente do veterano James Bernard consegue se salvar (e olhe que a Hammer chegou até a lançar um vinil com a narração da história feita por Cushing e a trilha de Bernard, chamado “The First Kung-Fu Horror Soundtrack Album”). Mas nada adiantou. Apesar da boa recepção no oriente, essa mistura nada usual não convenceu os chefões da Warner Bros. que só lançou o longa nos cinemas americanos SEIS ANOS depois, e ainda com 20 minutos a menos de duração. O que deveria ser um alívio par ao publico. “O primeiro filme de caratê e vampiro”, como alardeado pela publicidade brasileira durante seu lançamento nas terras tupiqinquins, A Lenda dos Sete Vampiros é na verdade uma tristeza. Era para ser divertido, inusitado, emocionante, mas é apenas um melancólico espectro do que fora a genialidade da Hammer de outrora, e trágico por em seus últimos suspiros, fazerem qualquer negócio para ganhar mais algumas libras.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/11/13/305-a-lenda-dos-sete-vampiros-1974/

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