sábado, 28 de novembro de 2015

#348 1977 ERASERHEAD (EUA)


Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch
Produção: David Lynch, Fred Baker (Produtor Executivo – não creditado)
Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart, Allen Joseph, Jeanne Bates, Judith Roberts

David Lynch é um cara xarope. Ponto. Seus filmes possuem uma dose cavalar de surrealismo, mensagens subliminares, metáforas e várias loucuras bizarras que se passam na cabeça do diretor. Eraserhead não foge a regra. Parafraseando um colega de trabalho, quando conversávamos sobre essa fita: “Eraserhead é um filme ruim!”. Mas não ruim no sentido que o filme não preste. Ruim, no sentido que ele é perverso, do mal, assim podemos dizer. Eraserhed é um pesadelo surrealista sombrio. Quase um filme expressionista, rodado em preto e branco, filmado de forma intermitente, que demorou cinco anos para ser finalizado devido à falta de grana. Pessimista, sem esperança, que abusa de um visual tétrico para contar uma história macabra e perturbadora. Heny Spencer (Jack Nance) é um cidadão “comum”, com um penteado parecido com o do cientista do Mundo de Bieckman, que vive de um emprego medíocre como gráfico em uma poluída e barulhenta cidade fabril, que parece não ficar localizada em lugar nenhum, mora em um apartamento minúsculo, engravida uma garota transtornada com quem acaba casando após descobrirem uma gravidez indesejada e que dá luz a um bebê mutante deformado, que parece o cruzamento de E.T. – O Extraterrestre com um dinossauro (!). A trama é basicamente isso, e só tende a piorar quando sua esposa o abandona por não conseguir lidar com o fardo da maternidade e não aguentar mais as noites mal dormidas devido ao choro incessante da criatura. Ainda podemos colocar como elemento narrativo a descoberta da doença do bebê, quando pústulas asquerosas surgem por toda a pele do monstrengo e seu choro vai tornando-se cada vez mais alto, incessante e angustiante, uma aventura sexual com a prostituta que mora no apartamento em frente e um sonho desconexo onde ele perde a cabeça e é transformada na borracha da ponta de um lápis (daí o título original do filme “Cabeça de Borracha”). É um filme estranho, difícil de digerir, quase sem diálogos, com efeitos sonoros sinistros (muitas vezes só se ouve o forte e alto barulho do vento a soprar lá fora) que dá base a muitas especulações, sendo que o próprio Lynch nunca explica seus próprios filmes. Quando você termina de ver, além de sentir como se tivesse levado um soco no estômago, você fica se indagando: “O que diabos é isso que eu acabei de assistir?” ou então “o que quer dizer essa p... toda?”. Isso sem contar a quantidade de imagens incômodas que Lynch cria, beirando o grotesco, criando repulsa e aquele sorriso nervoso e forçado. Como, por exemplo, a sequência amplamente constrangedora do jantar de Henry com Mary e seus pais, quando lhe é servido um frango minúsculo que começa a se mexer no prato e derramar um líquido nojento ao ser espetado. Ou mesmo a velha que fica ao lado do fogão catatônica, os ataques histéricos de Mary e da Sra. X, ou os diálogos estranhos, como quando um estupefato Henry é confrontado pela sogra sobre a gravidez da filha: “aquela coisa que está no hospital”, e Mary retruca: “ainda não sabemos se é mesmo um bebê”. WTF!!!! Outra cena bastante perturbadora é a aparição de uma personagem chamada Lady in the Radiator, mais uma das alucinações de Henry, de um mulher que vive dentro de seu aquecedor, em um palco, com as bochechas gigantes e deformadas, sapateando e esmagando vermes, enquanto canta a cançãoIn Heaven, com uma feição doentia e medonha (aquela mesma regravada pelos Pixies anos mais tarde). Impressionante o tanto de imagens usadas para chocar e o quanto falta ar ao se assistir Eraserhead. É a metáfora absoluta da opressão da vida cotidiana de trabalho, casamento, filhos, em um pesadelo cíclico e sem fim. E isso dá muito mais medo do que qualquer monstro ou zumbi por aí. Henry representa a passividade e a falta de controle sobre nossa própria vida, ou não-vida, se assim preferir. Tudo isso com Lynch nunca fazendo a menor questão de parecer sensato ou explicar o que quer dizer cada imagem, mesmo sabendo que há um tremendo conteúdo analítico e explícito incluso em cada uma delas. Segundo o próprio diretor, o longa trata-se de “um sono de coisas escuras e perturbadoras”. Fato! Uma das curiosidades do filme, é que até hoje nunca se sabe como foi feito o bebê mutante. Lynch guarda esse segredo a sete chaves e nunca confidenciou a ninguém, nem mesmo para Stanley Kubrick ao ser questionado. Há uma lenda que diz que a criaturinha foi feita a partir de um feto de vaca ou um cordeiro embalsamado. Vai vendo… Se você não está acostumado ou digamos, iniciado no cinema de David Lynch, vai ser de difícil aceitação, já vou avisando. E olha que esse foi o primeiro filme dele, então imagina a cinematografia amalucada que virá por aí, que conta com clássicos como O Homem-Elefante, Veludo Azul, A Estrada Perdida e Cidade dos Sonhos. Mas Eraserhead precisa ser assistido por todo mundo que diz gostar o mínimo de cinema. E para os fãs dos filmes de terror, mais uma prova cabal da abrangência do gênero, fugindo completamente do convencional, mas assustando à beça.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/16/348-eraserhead-1977/

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