Direção: Pupi Avati
Roteiro: Pupi Avati, Antonio
Avati, Gianni Cavina, Maurizio Costanzo
Produção: Antonio Avati, Gianni
Minervini
Elenco: Lino Capolicchio, Francesca
Marciano, Gianni Cavina, Giulio Pizzirani, Bob Tonelli, Vana Busoni
O cinema italiano chuta bundas. Quem
acompanha o blog sabe como sou mega fã dos filmes de terror da Terra da Bota,
principalmente durante os prolíficos anos 70. E A Casa com
Janelas Sorridentes é uma das obras primas do horror italiano,
sem a menor sombra de dúvida. O filme completamente atmosférico de Pupi Avati
infelizmente não tem o mesmo status que outras obras como
Mario Bava e Dario Argento atingiram, e nem como as grosserias gráficas de
Lucio Fulci. Mas na minha humilde opinião esta fita está entre os cinco
melhores filmes de terror italianos de todos os tempos. Não é nem um giallo,
nem um splatter, nem um filme sobrenatural. É uma mistura de elementos precisos
que convergem em um final realmente impactante (e até estrambólico deixando a
emoção um pouco de lado). Os créditos do longa já são de meter medo em muito
marmanjo e fazer o caboclo grudar no sofá. Uma figura masculina está sendo
brutalmente torturada e esfaqueada em tom sépia, enquanto uma narração medonha
e completamente esquizofrênica falando sobre sangue, cores, morte, pecado,
sífilis, ecoa junto a excelente trilha sonora. Após isso, somos apresentados a
Stefano (excelente atuação de Lino Capolicchio), um restaurador que vai até um
inóspito, bucólico e distante vilarejo italiano, contratado para restaurar uma
pintura destruída feita na parede de uma igreja, que parece ser o Martírio de
São Sebastião, de um controverso pintor local chamado Buono Legnani, conhecido
como “pintor da agonia”. Reza a lenda local que Legnani era um cara completamente
perturbado, que pintava tão bem seus quadros de mártires pelo simples fato de
usar vítimas vivas, capturadas por suas duas irmãs tão desequilibradas quanto,
que esfolavam o sujeito enquanto ele captava toda a dor com seu pincel e
tintas. Como se não bastasse, ainda havia uma teoria de que os três costumavam
praticar incesto e adoravam fazer um threesome entre irmãos. Legnani
foi perseguido pelos aldeões e incendiado vivo, porém seu corpo nunca fora
encontrado. Tudo que gira em torno de Legnani é tratado com mistério e
desconfiança pelos incautos moradores, que parecem ocultar algo sinistro em uma
engendrada conspiração silenciosa. Antonio Mazza (Giulio Pizzirani), antigo
amigo de Stefano que o indicou ao trabalho, começa a descobrir algumas pistas sobre
o trabalho e paradeiro do “pintor da agonia” e suas irmãs e o que está por trás
daquele terrível quadro. Porém, ele acaba assassinado para ser silenciado, como
vem acontecendo frequentemente com todos aqueles que resolvem se meter neste
assunto (isso nos faz remeter aos gialli), e o que vai acontecer também
futuramente com Copolla (Gianni Cavina), taxista bêbado que tentará ajudar
Stefano das investigações. Todos os moradores daquela cidade são suspeitos e
parecem ter algo a esconder, desde o prefeito anão Solmi (Bob Tonelli – que
parece uma versão Al Capone de Tatu, de A Ilha da Fantasia),
passando pelo pároco local e seu esquisito e arrepiante assistente, de Lidio
(Pietro Brambilla) a uma decrépita velha paralítica (Pina Borione) que fica
confinada na cama na casa onde Stefano está se hospedando. O herói ainda irá se
envolver romanticamente com a bela Francesca (Francesca Marciano), professora
da escola infantil do vilarejo. O problema todo para os dois começa quando
Stefano fica obcecado por Legnani e toda a aura macabra que ronda sua história,
tentado juntar pistas sobre seu paradeiro, sobre o que aconteceu com seu amigo,
quem destruiu novamente a pintura com ácido após seu trabalho ter terminado, e
escutando a tenebrosa fita que tem a narração do começo do filme. Avati abusa
da estética barroca para contar sua história, passeando por ambientes
desoladores de uma cidade parada no tempo após a Segunda Guerra Mundial, com
seus moradores esquisitos e construções desgastadas e destruídas, além dos
pântanos encharcados por causa de uma cheia que praticamente acabou com o
local. Fora isso, ao invés de violência extrema e sexo, tão costumeiros nos
filmes italianos do período, o diretor prefere fixar-se no terror psicológico,
no suspense crescente que vai se arrastando até seu final sem revelar nada,
deixando o espectador literalmente angustiado até beirar o insuportável,
jogando tragédias no caminho de Stefano até o final acachapante, que misturará
sadismo, violência e necrofilia. Mas claro, que escolados que somos no cinema
de horror vindo da Itália, podemos esperar uma centena de buracos no roteiro
que fará parecer um queijo suíço e uma sequência final, que por mais bizarra
que seja, é completamente estrambólica e sem sentido, mas que acaba impactando
por sua estranheza.
ALERTA
DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Após Francesca ser brutalmente
assassinada por Lídio, Stefano finalmente se depara com o mistério por trás da
história toda: ao subir no sótão da casa onde está hospedado, ele encontra o
corpo do excêntrico ajudante da igreja pendurado exatamente como no começo do
filme ou na pintura, sendo esfaqueado por duas senhoras, que são na verdade as
nefastas irmãs Legnani. Uma inclusive sendo a paralítica que vivia confinada na
cama (que já sacamos alguns frames antes do filme, ao vê-la cantando uma música
em português, sendo que em determinado momento do longa, descobre-se que Buono
e suas irmãs viveram um período no Rio de Janeiro na década de 30). As duas
mantém o corpo do irmão morto dentro de um tanque de formol guardado dentro do
armário, e segundo elas, ainda praticava sexo com o mesmo. Stefano é
violentamente esfaqueado e toda a cidade recusa-se a prestar socorro, até ele
adentrar a igreja pedindo auxílio ao padre. Até aí tudo bem, quando descobrimos
que o padre é na verdade a outra irmã. Ele é uma travesti/transexual que se
disfarça de padre, e até mostra o peitinho de fora para comprovar.
Imediatamente a imagem da Luiza Erundina me veio à cabeça ao encarar aquele
padre como mulher. Enfim, é de deixar qualquer um boquiaberto com a bizarrice.Agora
você me pergunta: “Marcos, mas o porquê do título, A Casa com Janelas
Sorridentes?”. E eu lhe respondo, caro fã do horror: porque a casa no meio
do charco onde Buono e suas irmãs perversas moravam tem na parte de trás
estranhos sorrisos pintados em tornos das janelas (essa da foto aí embaixo).
Fato é, assista a este filme. Um dos melhores exemplares do cinema de terror
italiano em todos os seus quesitos, até nos mais absurdos.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/12/17/329-a-casa-com-janelas-sorridentes-1976/
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