Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Bernardino Zapponi
Produção: Salvatore Argento, Claudio Argento (Produtor Executivo)
Elenco: David Hemmings, Daria Nicolodi, Gabriele Lavia, Macha Méril
Se pudermos de uma forma grosseira
dizer que Dario Argento é o Alfred Hitchcock italiano, podemos então afirmar
que Prelúdio para Matar é o seu Psicose. Considerado por muitos sua
obra-prima, foi o filme que catapultou o jovem diretor ao estrelato em seu país
natal e o tornou conhecido no resto do mundo. É um trabalho único que mostra
todo o potencial do italiano. Argento aqui apresenta uma grande evolução
técnica e criativa com relação aos seus filmes anteriores da trilogia dos
animais: O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, fazendo dele o giallo definitivo.
Todo mundo aqui já está careca de saber (quer dizer, se você é leitor do blog)
que o giallo é um subgênero do cinema italiano, composto pro thrillers ultraviolentos
que envolve assassinatos e sadismo. O termo giallo, que
significa “amarelo”, remete aos livros de mistério e detetive que eram
publicados na Itália, todos eles com capa amarela. E Prelúdio
para Matar é a quintessência do giallo, já que a história
envolve toda a narrativa básica comum nesse tipo de filme: uma testemunha
ocular, uma investigação particular e um assassino que usa luvas e capa que
comete seus crimes com requintes de crueldade extrema. Aqui ele é acompanhado
de sádica elegância ímpar, com a Argento simplesmente dominando todos os
quesitos técnicos e narrativos do filme, pontuado pela trilha sonora
progressiva do Goblin (do brasileiro Claudio Simonetti – parceiros de vários
filmes de Argento) e uso exagerado de cores e profusão de sangue (dos mais
falsos que o cinema já viu). É atmosfera pura! Argento envolve o seu espectador
de todas as formas possíveis transformando a violência estilizada em algo
sublime, se é que isso algum dia pode ser possível. Abusa da sistemática
capacidade de mexer com os nervos daquele incauto sujeito que está do outro
lado da tela, deixando-o estupefato, com a respiração contida, incrédulo no que
acabara de ver, mesmo que no fundo, seja mais uma história aos moldes do whodunit?
e com uma reviravolta final extremamente psicológica que nem toda terapia do
mundo conseguiria explicar. É o horror na sua essência pervertida e psicótica. Veja
só: Marcus Daly (David Hemmings, de Blow Up – Depois Daquele Beijo)
é um pianista de jazz (obcecado, diga-se de passagem) que dá aulas no
conservatório de Roma e é a testemunha ocular do assassinato brutal da médium
Helga Ulmann (Macha Méril). Ele começa sua investigação por conta própria (ei,
é um giallo, lembra?), junto com a jornalista espevitada Gianna
Brezzi (Daria Nicolodi, então esposa de Argento, com quem teve Asia Argento,
futura atriz de filmes do pai e terror em geral). A intrincada trama vai
levando a uma sequência de mortes, uma mais macabra (e violenta) que outra, com
os heróis sempre um passo atrás do assassino, até seu desconcertante final. Você
não precisa saber absolutamente mais nada sobre o longa. É então assistir e
deixar o queixo segurado para ele não cair tantas vezes quanto Argento concebeu
o filme para que ele caia. Você só terá que se deixar levar por um pianista
paranoico e uma jornalista metida a besta em uma viagem infernal nas
profundezas da brutalidade humana e nos labirintos escuros, repleto de
perversão assassina e sexual do matador, amparado por um misé-en-scéne impecável
e trilha sonora desconcertante. Argento te convida a ser testemunha de tudo e
te obriga a se sentir mal com isso, porém deliciando-se a cada nova experiência
brutal. Esse é o pulo do gato. Prelúdio para Matar vai
despertar sentimentos dúbios em você de satisfação e repulsa. A direção é um
primor, assim como sua fotografia. É uma verdadeira aula de cinema. Vê se
claramente toda a influência do mestre Mario Bava em cada take de
Argento, e principalmente, todo o benefício de ser oriundo de uma família de
cineastas. É violência hiper-realista e exageros no vermelho profundo (tradução
literal do título original do filme). A ornamentação, a mistura de elementos
infantis que mistura o onírico com a realidade e a arquitetura rococó são
outros elementos importantíssimos que constroem toda a aura de perfeição da
fita. E Argento nos coloca sob o ponto de vista do assassino, para ver
exatamente tudo que ele vê enquanto comete seus crimes. Foi o último giallo da
carreira do diretor (até a frustrada volta ao tema em 2009 com a fraca
produção Giallo – Reféns do Medo, com Adrien Brody), antes de
enveredar pelo caminho do fantástico e sobrenatural nos seus próximos longas,
como por exemplo a trilogia das mães.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/12/08/323-preludio-para-matar-1975/
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