terça-feira, 10 de novembro de 2015

#323 1975 PRELÚDIO PARA MATAR (Profondo Rosso / Deep Red, Itália)


Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Bernardino Zapponi
Produção: Salvatore Argento, Claudio Argento (Produtor Executivo)
Elenco: David Hemmings, Daria Nicolodi, Gabriele Lavia, Macha Méril

Se pudermos de uma forma grosseira dizer que Dario Argento é o Alfred Hitchcock italiano, podemos então afirmar que Prelúdio para Matar é o seu Psicose. Considerado por muitos sua obra-prima, foi o filme que catapultou o jovem diretor ao estrelato em seu país natal e o tornou conhecido no resto do mundo. É um trabalho único que mostra todo o potencial do italiano. Argento aqui apresenta uma grande evolução técnica e criativa com relação aos seus filmes anteriores da trilogia dos animais: O Pássaro das Plumas de CristalO Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, fazendo dele o giallo definitivo. Todo mundo aqui já está careca de saber (quer dizer, se você é leitor do blog) que o giallo é um subgênero do cinema italiano, composto pro thrillers ultraviolentos que envolve assassinatos e sadismo. O termo giallo, que significa “amarelo”, remete aos livros de mistério e detetive que eram publicados na Itália, todos eles com capa amarela. E  Prelúdio para Matar é a quintessência do giallo, já que a história envolve toda a narrativa básica comum nesse tipo de filme: uma testemunha ocular, uma investigação particular e um assassino que usa luvas e capa que comete seus crimes com requintes de crueldade extrema. Aqui ele é acompanhado de sádica elegância ímpar, com a Argento simplesmente dominando todos os quesitos técnicos e narrativos do filme, pontuado pela trilha sonora progressiva do Goblin (do brasileiro Claudio Simonetti – parceiros de vários filmes de Argento) e uso exagerado de cores e profusão de sangue (dos mais falsos que o cinema já viu). É atmosfera pura! Argento envolve o seu espectador de todas as formas possíveis transformando a violência estilizada em algo sublime, se é que isso algum dia pode ser possível. Abusa da sistemática capacidade de mexer com os nervos daquele incauto sujeito que está do outro lado da tela, deixando-o estupefato, com a respiração contida, incrédulo no que acabara de ver, mesmo que no fundo, seja mais uma história aos moldes do whodunit? e com uma reviravolta final extremamente psicológica que nem toda terapia do mundo conseguiria explicar. É o horror na sua essência pervertida e psicótica. Veja só: Marcus Daly (David Hemmings, de Blow Up – Depois Daquele Beijo) é um pianista de jazz (obcecado, diga-se de passagem) que dá aulas no conservatório de Roma e é a testemunha ocular do assassinato brutal da médium Helga Ulmann (Macha Méril). Ele começa sua investigação por conta própria (ei, é um giallo, lembra?), junto com a jornalista espevitada Gianna Brezzi (Daria Nicolodi, então esposa de Argento, com quem teve Asia Argento, futura atriz de filmes do pai e terror em geral). A intrincada trama vai levando a uma sequência de mortes, uma mais macabra (e violenta) que outra, com os heróis sempre um passo atrás do assassino, até seu desconcertante final. Você não precisa saber absolutamente mais nada sobre o longa. É então assistir e deixar o queixo segurado para ele não cair tantas vezes quanto Argento concebeu o filme para que ele caia. Você só terá que se deixar levar por um pianista paranoico e uma jornalista metida a besta em uma viagem infernal nas profundezas da brutalidade humana e nos labirintos escuros, repleto de perversão assassina e sexual do matador, amparado por um misé-en-scéne impecável e trilha sonora desconcertante. Argento te convida a ser testemunha de tudo e te obriga a se sentir mal com isso, porém deliciando-se a cada nova experiência brutal. Esse é o pulo do gato. Prelúdio para Matar vai despertar sentimentos dúbios em você de satisfação e repulsa. A direção é um primor, assim como sua fotografia. É uma verdadeira aula de cinema. Vê se claramente toda a influência do mestre Mario Bava em cada take de Argento, e principalmente, todo o benefício de ser oriundo de uma família de cineastas. É violência hiper-realista e exageros no vermelho profundo (tradução literal do título original do filme). A ornamentação, a mistura de elementos infantis que mistura o onírico com a realidade e a arquitetura rococó são outros elementos importantíssimos que constroem toda a aura de perfeição da fita. E Argento nos coloca sob o ponto de vista do assassino, para ver exatamente tudo que ele vê enquanto comete seus crimes. Foi o último giallo da carreira do diretor (até a frustrada volta ao tema em 2009 com a fraca produção Giallo – Reféns do Medo, com Adrien Brody), antes de enveredar pelo caminho do fantástico e sobrenatural nos seus próximos longas, como por exemplo a trilogia das mães.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/12/08/323-preludio-para-matar-1975/

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