Direção: Amando de Ossorio
Roteiro: Amando de Ossorio
Produção: José Luis Bermúdes de
Castro Acaso
Elenco: Maria Perschy, Jack
Taylor, Bárbara Rey, Carlos Lemos, Manuel de Bias, Bianca Estrada
O terceiro filme da quadrilogia dos
mortos cegos de Amando de Ossorio, O Galeão Fantasma,
é uma verdadeira contradição cinematográfica. Primeiro, que por conta do clima,
da história, ambientação e do desenrolar da narrativa, que traz alguns
desafortunados presos em uma embarcação fantasma em pleno alto mar rodeado
pelos infames zumbis de Ossorio, é um filmaço, talvez o melhor da série neste
quesito. Segundo, que por conta dos efeitos especiais PAVOROSOS, o filme quase
se torna ridículo e quase afunda (com o perdão do trocadilho). Depois do
sucesso dos dois longas anteriores, A Noite do Terror Cego e O Retorno dos Mortos-Vivos, Ossorio apronta mais uma das suas
com seus maltrapilhos e esqueléticos cavaleiros templários cegos zumbis,
pertencentes a uma antiga e profana ordem adoradora de Satanás, excomungada
pela Igreja Católica por praticar sacrifícios humanos. Em O Galeão
Fantasma, o ambiente tradicional dos vilarejos ibéricos é substituído, como o
próprio nome já diz, por um galeão holandês fantasma do Século XVI, navegando
nos mares envolto em uma mística penumbra, nunca captado por nenhum radar e
instrumento de navegação, que atrai pequenos barcos para essa dimensão
fantasmagórica, desaparecendo para sempre, a fim de alimentar os mortos cegos
sedentos por sangue e carne humana. A trama se inicia quando um empresário do
setor náutico, Howard Tucker (Jack Taylor) resolve fazer publicidade de uma de
suas novas lanchas, e manda duas modelos para o meio do mar, para eventualmente
serem resgatadas e ganhar mídia espontânea com a resistência do barco. Mas que
ideia de girico!!! Esse cara nunca ouviu falar de relações públicas, não?
Acontece que eles perdem o contato com as garotas quando elas avistam o tal
galeão fantasma e resolvem entrar a bordo, e daí com medo de se meter em um
escândalo e atrapalhar suas aspirações políticas, Howard, junto de seu capanga
Sergio (Manuel de Blas), Noemi (Bárbara Rey), amiga de uma das modelos à
deriva, a fotógrafa e agente Lilian (Maria Perschy) e do Professor Grüber
(Carlos Lemos), estudioso naval, pegam outro barco e vão resgatar as moças
perdidas. Ao chegarem lá, encontram o gigantesco e carcomido galeão holandês e
subirão a bordo para ver se descobrem seus paradeiros. Obviamente, elas não
estão mais lá. Por meio do diário de bordo encontrado por Grüber eles conhecem
a origem do galeão e saberão que no porão do navio há um tesouro escondido, assim
como as tumbas dos cavaleiros templários cegos, que acordam todas as noites em
busca de sangue. Claramente não dá outra e começarão a ser perseguidos
naquele ambiente sujo, claustrofóbico e aterrador, pelos esqueletos usando seus
trajes esfarrapados. Até aí tudo bem, o clima do filme é bem soturno, e a cena
da morte da garota Noemi é agoniante, com ela tentando fugir dos cadáveres
ambulantes, sem conseguir gritar por socorro, pois sua traqueia foi quebrada em
uma tentativa de estrangulamento, enquanto baba sangue e é arrastada pelos
zumbis lentamente para a parte inferior do navio, para ser desmembrada e feita
de lanchinho. Mas a falta gritante de recursos devido ao orçamento baixíssimo,
somada a dose de trasheira, já característica nos dois filmes anteriores,
aqui extrapola o limite e você só consegue rir das cenas toscas, as quais
tornarão o filme muito mais famoso do que pelos seus méritos. As cenas
externas, tanto quando aparece o navio fantasma, quanto as demais embarcações
(sendo abraçadas pela névoa), obviamente foram gravadas em uma piscina,
utilizando ridículas miniaturas de plástico. E quando o navio arde em chamas e
naufraga, que parece mais um barquinho infantil de se usar em banheira,
colocado fogo e afundando da forma mais bisonha possível? Outra cena lamentável
que entra para o rol das bizarrices de O Galeão Fantasma é quando no
esforço de se livrar dos mortos cegos, em um mutirão, os sobreviventes levam os
caixões até a proa para jogá-los ao mar, e quando eles estão afundando, parecem
mais caixinhas de fósforo que foram jogadas dentro de um aquário e chegando ao
seu fundo, sendo filmadas por cima. Com certeza faria Ed Wood corar. Mas
definitivamente não é isto que importa na trama do filme. A mensagem que Amando
de Ossorio quer passar é muito clara, mesmo que menos politizada que em seus
filmes anteriores. É mostrar o espetáculo da carne humana, na verdade da carne
feminina, que já surge em abundância logo em sua abertura, onde modelos com
trajes mínimos estão em uma sessão de fotos. E nisso colocar os monstros
humanos, muito piores que os monstros cadáveres, em uma situação limite, que
irá trazer o lado mais sombrio da natureza, e gerando impulsos sombrios como
assassinato, traição e estupro (sempre há um estupro na quadrilogia de Ossorio,
parece até uma regra irrefutável). Outro detalhe interessantíssimo é a
percepção de uma diferença básica, que fica ainda mais implícita em O
Galeão Fantasma, por ser um ambiente confinado, entre os mortos cegos e os
demais zumbis, desde os criados pro George Romero em A Noite dos Mortos-Vivos, até os encontrados hoje nos seriados de televisão:
enquanto o zumbi tradicional é um monstro oral, os zumbis de Ossorio são
táteis, até por conta de sua cegueira. Comer a carne humana não é o ato máximo
para aqueles sacos de ossos usando uma roupa de estopa. Tatear a garota,
arrancar se à costa não é algo que vemos todos os dias. O jeito aqui é usar a
boa e velha suspensão da descrença, tentar de alguma forma não se ater aos
defeitos gritantes do filme, que podem sim colocar tudo a perder, e aproveitar
um bom filme de terror, deixando Ossorio te levar pelo seu pesadelo morto-vivo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/11/09/303-o-galeao-fantasma-1974/
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