Direção: Nobuhiko Ôbayashi
Roteiro: Chiho Katsura, Chigumi Ôbayashi (história original)
Produção: Yorihiko Yamada, Nobuhiko Ôbayashi
Elenco: Kimiko Ikegami, Miki Jinbo, Kumiko Ohba, Al Matsubara, Mieko Satô, Eriko Tanaka, Masayo Miyako
Hausu é uma viagem surreal onírica sem precedentes, um clássico nipônico irreal extremista. Flerta com os filmes família, com comédia, com animação, com filme de gênero, mas ainda assim é um horror sobre uma casa mal-assombrada nada convencional com elementos estranhíssimos repletos de absurdo e um charme avant-garde para sua época. Poderíamos até dizer que é um terror para crianças, mas não é também na verdade, pois mesmo que ele não seja assustador, possui tais elementos, até bizarros, incluindo aí muito sangue. Uma piscina de sangue. Sangue jorrando por todas as paredes da casa! E fora todo o lado fetichista da história de seis garotinhas colegiais japonesas. Quer dizer, talvez só eu tenha tido essa ideia (o que é aquela personagem Kung Fu, desfilando grande parte do filme de regata e shortinho?), mas tratando-se de japoneses, pode-se esperar de tudo ali naquela salada metafórica e metafísica que é Hausu. E há também lesbianismo velado e as peripécias (contidas) do descobrimento sexual, afinal, estamos falando de garotas adolescentes florescendo. O roteiro é simplista (sete púberes vão para uma casa mal-assombrada. Ponto), mas toda a preocupação cenográfica remete a um conto de fadas, a uma espécie de fábula Disney às avessas, já que eles que adoram colocar objetos falantes e com personalidade em suas animações e bruxas malignas, porém saído do subconsciente criativo extremo de olhos puxados ((acredite ou não a ideia partiu da mente da filha de 11 anos do diretor!!!!). Mistura a saturação de cores, com matte paitings, cenários falsos, músicas enfadonhas, comédia pastelão de trejeitos e tudo propositalmente para soar falso e até mesmo, passar a ideia de um sonho (dos mais lisérgicos, diga-se de passagem). Além disso, grande parte do filme é animado como se você visse Mario Bava dirigindo um episódio de Scooby-Doo (como a própria sinopse do DVD da pela Criterion Collection narra). Parece aqueles cartoons pode tudo, saca? Todas as leis da física e da realidade são desconstruídas para vermos esqueletos dançantes, móveis se mexendo sozinhos, uma cabeça voadora decepada que gosta de morder traseiros, bocas gigantes e até um piano devorando uma garota aos poucos! É muita chapação para um filme só, sério mesmo. Ou excesso de imaginação não filtrada vinda da cabeça do diretor Nobuhiko Ôbayashi. Chuck Stephens definiu Hausu muito bem em minha opinião: “uma moderna obra prima do cinema WTF!”. A trama alucinadíssima parte da premissa de férias arquitetada pela espevitada Oshare (ou Gorgeous na tradução americana), em plena crise adolescente, onde ela convida seis de suas amigas, Kunfû (Kung Fu), Fanta (Fantasy), Gari (Prof), Makku (Mac), Merodî (Melody) e Suîto (Sweet) para visitar uma antiga tia, irmã de sua falecida mãe, depois do seu pai ter se engraçado com uma nova namorada e proposto uma viagem entre os três. Oshare manda uma carta à essa tal tia, viúva que ainda vive à espera do marido que foi para a guerra, pega seu gato persa branco Bola de Neve e de trem parte para a casa afastada junto com todo o seu clube da Luluzinha. Então por lá, depois de sermos obrigados a conviver com os maneirismos irritantes das personagens (garotas adolescentes, sabe como é…) e o desenvolvimento das aptidões e estereótipos que as nomeiam (Merodî é pianista, Gari é inteligente, Makku come sem parar como uma Magali nipônica – e até adora melancia também – Kung Fu manja de artes marciais, etc), enquanto Oshare vive sozinha seu dilema “adulto” já que as amiguinhas continuam na inocência infantil, coisas sinistras e inverossímeis começam a acontecer (como algumas das partes alucinógenas já citadas a cima) e então descobriremos que na verdade a casa é mal assombrada e a velha tia é uma espécie de bruxa canibal imortal que se apossa do corpo de Oshare e que se alimenta de jovens garotas virginais. E o gato é seu cúmplice com alguns poderes sobrenaturais também. Todos os elementos são jogados em cena propositalmente para a espetacular destruição das heroínas de formas hediondas, porém atenuadas, com o nível de loucura elevado à enésima potência, beirando muitas vezes o ridículo proposital (e saiba muito bem disso ao assistir a esse filme. Não estamos falando de um autêntico e atmosférico j-horror aqui não). A narrativa é à la Looney Tunes, completamente desequilibrada e com o ritmo frenético de ação de um mangá quando chega em seu terceiro ato, deixando seu cérebro em estado quase epilético quando a fita finalmente corta para a breguíssima e insuportável cena final. Mas até lá você já foi nocauteado por aquele turbilhão de imagens, sons e sensações e está na lona. Hausu não é um filme fácil. Pelo contrário. Também não é um bom filme. O clima de felicidade e pastiche gritantes quase estraga a experiência final, mas se você aguentar firme e estiver psicologicamente preparado para encará-lo com um sonho, que é o que ele é (e que fatidicamente se transformará em um maligno e amalucado pesadelo), prometo que será realmente uma experiência visual única do extremo surrealismo bizarro asiático.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/01/18/350-hausu-1977/
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