Direção: Mary
Harron
Roteiro: Mary
Harron, Guinevere Turner (baseado no livro de Bret Easton Ellis)
Produção: Chris
Halsey Solomon, Edward R. Pressman; Ernie Barbarash, Alessandro Camon, Clifford
Streit, Rob Weiss (Coprodutores); Joseph Drake, Michael Paseornek, Jeff Sackman
(Produtores Executivos)
Elenco: Christian
Bale, Justin Theroux, Josh Lucas, Bill Sage, Chloë Sevigny, Reese Whiterspoon,
Jared Leto, Willem DaFoe.
Certeza
que Psicopata Americano é um dos filmes
mais fodas da vida! Daqueles que você fala com a boca cheia, comenta todas as
cenas incríveis, debate o final polêmico que gera N interpretações, fica
embasbacado como Christian Bale está absurdamente incrível e puto por nem
sequer concorrer ao Oscar®, e claro, ri sozinho toda vez que lembra a cena dos
cartões de visita. Baseado no best
seller igualmente controverso e polêmico escrito por Bret Easton
Ellis, Psicopata
Americano metralha o espectador
com uma dose cavalar de violência estilizada, misturada com humor negro e ácida
crítica social e comportamental a uma caralhada de coisas (capitalismo, culto
ao corpo, consumo, futilidade, relações interpessoais) de brilhar os olhos, uma
gema que você não sabe se dá risada ou se fica completamente chocado. E o que
dizer sobre Patrick Bateman? Não dá para não considerar pacas o sujeito, e
pagar um pau em todos os sentidos para a forma fodástica que um Christian Bale
pré-Batman o interpreta. E nem de perto ele foi uma das primeiras escolhas para
o papel, que foi oferecido para Leonardo DiCaprio (dissuadido por um grupo
feminista pois interpretaria um misógino de mão cheia, por acreditar que ele
enterraria sua carreira já que tinha tantas fãs adolescentes e mulheres por
conta de Titanic – e detalhe, abandonou o projeto para fazer A
Praia, do Danny Boyle… tá certo!), Ewan
McGregor, Ben Chaplin, Billy Crudup e até o Jared Leto, que faz uma ponta como
uma das vítimas, o da famosa dancinha (improvisada e não aprovada por Elilis)
de Bale. E tem mais, nos estágios iniciais quando os direitos do livro de 1989
foram vendidos, pasmen, Stuart Gordon foi recrutado para dirigir o filme com
Ellis escrevendo o roteiro, tendo Johnny Depp no papel de Bateman. A ideia era
um filme extremamente fiel ao livro, com fotografia em P&B para não tomar
de cara uma classificação X. O projeto foi pro saco, Cronenberg substituiu
Gordon e Brad Pitt seria o astro. Sabemos que também não deu certo, até cair
nas mãos da Lions Gate que trouxe Mary Hallon para dirigir. Agora pense como
seriam essas outras duas versões de Psicopata Americano? Bom, voltando um pouco aqui, Bateman é o
típico yuppie dos
anos 80: rico, bonito, mora em um apartamento fantástico, malha todo dia,
metrossexual, faz bronzeamento artificial, usa esfoliante de rosto, namora uma
perua da alta sociedade, tem um gosto musical cafonérrimo, amigos com quem
cheira cocaína no banheiro dos nightclubs e
disputa reservas em restaurantes fancy ou
quem tem o cartão de visita mais bonito, e… é um psicopata! Na real sua
psicopatia é sua verdadeira face, subterfúgio psicológico onde encontra razão
em viver e felicidade em uma vida sem sentido, completamente de aparências, de
inveja, de consumo exacerbado. Matar higienicamente prostitutas enquanto
discorre sobre Phil Collins, Whitney Houston e Huey Lewins and the News é seu
hobby, sua válvula de escape. Entre ternos caros, Rolex, cuecas Calvin Klein e
champagne, estão serras elétricas, facas, estiletes, revólveres, machados e
pistolas de prego, com os quais ele fere suas vítimas e derrama seu sangue com
gosto. Psicopata Americano grita
a hipocrisia capitalista globalizada, o exagero os anos 80 e a ignorância da
elite branca que brada sobre os problemas do terceiro mundo, a fome na África e
ao mesmo tempo, acreditam que se você pegar HIV tornar-se-á imune a qualquer
outro tipo de doença. É o culto ao corpo, ao se vestir, ao esbanjar dinheiro e
como isso pode ser tão inócuo, que mesmo tendo espaço nas mais importantes
rodas sociais e um escritório em Wall Street (em que você não faz absolutamente
porra nenhuma o dia inteiro, só ouve seu Walkman) há um buraco negro vazio que
se completa apenas com os prazeres de esfolar outro ser humano. Falando assim o
filme parece somente mais uma ode à violência gratuita e desmedida, como tantos
outros, de Laranja Mecânica a Clube
da Luta, são taxados, mas na
verdade você dá mais risada do que qualquer outra coisa em Psicopata
Americano. E não é somente aquele
risinho de nervosismo. É de gargalhar alto mesmo, como as já citadas cenas dos
cartões de visita (e como a Pierce & Pierce tem tantos vice-presidentes?),
a cara de Bateman toda vez que ouve falar do hypado restaurante em que não consegue reserva (e seus
colegas de trabalho, sim), a tese sobre Sussudio e a defesa da carreira solo de
Phil Colins em detrimento do Genesis e claro, a absolutamente caricata e
exagerada cena da serra elétrica, com Bale correndo pelado todo ensanguentado
por corredores, e tem um desfecho completamente inverossímil.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o
próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
E
quanto ao final do filme? Qual time você está? Daqueles que acham que Bateman
de verdade era louco de pedra, não cometeu nenhum daqueles crimes, tudo é um
delírio e ele é somente uma insana vítima infeliz da sociedade fútil que o
rodeia, ou daqueles que acham que na verdade ele cometeu sim as barbáries, mas
o inescrupuloso mercado imobiliário escondeu evidências para poder logo
revender o apartamento, em um dos endereços mais nobres de Nova York e das
vistas mais cobiçadas e o advogado de Bateman simplesmente o confundiu com
outro yuppie qualquer
que saiu da mesma forma, como o personagem de Leto o confunde com Marcus
Halberstran? O final aberto e seu monólogo existencialista são outros dois
pontos fortes da fita. Psicopata
Americano dá uma machada no American Way of Life de vez,
mais forte até que Bateman dá em Paul Allen, e sem dúvida é um daqueles filmes
que é impossível passar incólume, nunca recebeu toda a verdadeira atenção que
se deveria, principalmente por conta dos problemas enfrentados com a censura,
protestos e até a própria má fama do livro e de Ellis, mas tornou-se um cult
que aos poucos vai sendo descoberto por tantos cinéfilos maravilhados.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/09/03/714-psicopata-americano-2000/
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