terça-feira, 24 de novembro de 2015

#716 2000 A SOMBRA DO VAMPIRO (Shadow of the Vampire, EUA, Reino Unido, Luxemburgo)


Direção: E. Elias Merhige
Roteiro: Steven Katz
Produção:Nicolas Cage, Jeff Levine; Jimmy de Brabant, Richard Johns (Coprodutores); Norman Golightly, Orian Williams (Produtores Associados); Paul Brooks, Alan Howden (Produtores Executivos)
Elenco: John Malcovich, Willem Dafoe, Udo Kier, Cary Elwes, Catherine McCormack, Eddie Izzard

Em 1922 o diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau criaria o filme sobre vampiros definitivo, Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror, a pedra angular do gênero, assustadora e inimitável até hoje, curiosamente sendo a mais perfeita representação nas telas da criatura idealizada por Bram Stoker. Mesmo tendo os direitos da adaptação do livro negada pela esposa do autor irlandês. Muito do poder de Nosferatu deve-se a visceral interpretação de Max Schreck como o Conde Orlok (uma vez que o nome Drácula não poderia ser usado). Naqueles idos da década de 20, um rumor espalhou-se durante a produção do longa, a ponto de se tornar uma lenda, de que Schreck de fato era uma vampiro de verdade, por isso o grau fidedigno de atuação. Lógico que isso não faz o menor sentido, uma vez que o ator havia surgido nos teatros alemães, fez parte do grupo de atores inovadores de Max Reinhardt e fez outros filmes até sua morte em 1936. Mas o poder dessa lenda, assim como o próprio poder de sua interpretação e a importância histórica deNosferatu, não só para o cinema de terror, mas também para a sétima arte, inspirou a criatividade do diretor E. Elias Merhige e o roteirista Steven Katz em realizar A Sombra do Vampiro, que se passa durante as filmagens do longa seminal, e dar um excêntrico toque de veracidade fictícia, colocando Schreck como um vampiro de fato assim como o “pacto com o diabo” feito por Murnau para a criação de sua obra-prima. De um lado da balança temos o eloquente John Malcovich vivendo um excêntrico, perfeccionista, destemperado, arrogante, viciado em morfina Murnau, que abusa dos membros de sua equipe e dos atores em busca das tomadas perfeitas, colocando-os em situações insalubres e mantendo-os no escuro quanto aos seus métodos peculiares. Do outro, temos Willem Dafoe, absolutamente fantástico como Schreck (indicado ao Oscar® e Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante) perfeito em todos os trejeitos, postura corporal, entonação de voz, sotaque e na excelente maquiagem (também indicada ao Oscar®) que o deixou irreconhecível, porém uma fotocópia do vilão vampiresco. A sombra de Schreck recai como uma mau agouro por todos os atores e membros da produção. Alguns começam a desconfiar nos motivos escusos do ator só filmar durante a noite e não sair do personagem sequer durante um minuto, e principalmente por sua obsessão pela atriz Greta Schröeder (Catherine McCormack), gerando um contínuo clima de humor forçado (como o brilhante diálogo de Schreck apontando o erro sobre o ridículo erro de Drácula não ter criados no livro de Stoker, ter vivido séculos em reclusão e ainda assim ter a habilidade de preparar uma mesa farta para Jonathan Harker em seu castelo na Transilvânia), desconfiança e pavor, sustentado pelos surtos de Murnau e o perigoso jogo que é obrigado a jogar com o suposto vampiro e suas barganhas, colocando em risco sua integridade, dos demais, e principalmente, de sua atriz principal, tudo em nome da arte. Outro ponto interessantíssimo é exatamente a homenagem a um dos períodos mais férteis e imaginativos do cinema de terror (e do cinema em geral), o expressionismo alemão, que driblava a falta de recursos da época abusando de técnica e criatividade, e dando ao público uma chance de acompanhar os meandros de uma produção cinematográfica da década de 20. Além disso, a incrível fotografia misturado com a encenação de trechos do filme como cópias em carbono, até mesmo abusando dos tons de sépia e misturando com cenas reais de Nosferatu, dá uma sensação quase documental ao filme de Mehrige. A Sombra do Vampiro também consegue a proeza, de utilidade pública tremenda nos dias de hoje, de chamar a atenção para o clássico e despertar o interesse daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de serem impressionados (e assustados, por que não?) por Nosferatu – Uma Sinfonia de Terror. Obviamente ele funciona muito melhor para quem já viu a fita de Murnau, e assim poder captar de verdade a magnânima atuação de Dafoe (para quem o papel foi escrito sob medida), mas ao mesmo tempo funciona como um farol para que as novas gerações, que podem ter certos problemas em acompanhar o ritmo de um filme alemão da primeira metade do século passado e acostumado com arroubos de mediocridade do Crepúsculo da vida, descubram o mais sensacional filme sobre as criaturas da noite já feito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/09/08/716-a-sombra-do-vampiro-2000/

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