Direção: Jean
Rollin
Roteiro: Jean
Rollin
Produção: Joe de
Palma
Elenco: Franca
Mai, Brigitte Lahaie, Jean-Marie Lemaire, Fanny Magier, Muriel Montossé, Sophie
Noël, Evelyn Thomas
Começarei meu texto
parafraseando um comentário de Carlos Reichenbach: “Jean Rollin, adorado na
França e na Bélgica é o José Mojica Marins gaulês”. Eu incluiria nessa citação
também como o Jesús Franco franco (sacou o trocadilho? Hein?). Rei dos filmes
de vampiras lésbicas feitos a toque de caixa com efeitos de maquiagem estúpidos
e erotismo exacerbado, Fascinação é exemplo claro
do que estou dizendo nesse primeiro parágrafo. Pelo menos, levantemos as mãos
aos céus e agradecemos que é um filme que apesar dos seus momentos surreais,
tem uma narrativa, uma história com começo, meio e fim e não se parece em nada
com os absurdos metafóricos e cheios de simbologia (leia-se sem pé nem cabeça)
que o diretor francês imprimia em seus longas vampirescos no começo de
carreira. Para falar a verdade a trama é das mais bacanas. Claro que é um
subtexto para servir como uma poética ode à sacanagem (o que Rollin faz que não
é?). Mas funciona bem. Seu apreço pela estética, pelo estilo visual, pelo
figurino (e a falta dele) é caprichado aqui em Fascinação, e junto com o
improvável filme de zumbi As Uvas da Morte, figura como suas
principais obras. E claro que se tratando de uma de suas principais obras, a
sua musa, a atriz pornô Brigitte Lahaie (que segundo o próprio Reichenbach,
“possuía o órgão genital mais fotogênico da história do cinema”) estará
presente, desfilando sensualidade, nudez e erotismo. Situado na França de
1905, Fascinação começa, digamos, fascinando o espectador com um
visual hipnotizante que lembra uma antiga pintura ou fotografia (e que mais
tarde farão todo o sentido) onde duas moçoilas dançam sobre a ponte de um
castelo e na sequência, um bando de dondocas aristocráticas do começo do século
passado estão na sujeira sangrenta de um abatedouro, onde foram tomar, vejam
só, um cálice de sangue de boi (não o vinho de qualidade duvidosa, o sangue do
bovino mesmo) que segundo a última moda em Paris, diziam ser bom para curar
anemia. Corta para o dândi malfeitor Marc (Jean-Marie Lemaire), que junto com
outros escroques praticou um roubo de ouro e decide enganar seus comparsas
fugindo com uma maleta cheia, para não ter que dividir com ninguém. Ele é
perseguido até um castelo aparentemente abandonado, onde irá se esconder. Em
seu interior, ele encontra justamente as duas moças que dançavam no começo do
filme: a loira Eva (papel de Lemaire) e a morena Elisabeth (Franca Mais).
Bissexuais, elas adoram se pegar enquanto estão em cárcere privado imposto por
Marc. Mas Eva resolve fazer um joguinho de sedução com o rapaz para que o mesmo
fique pelo castelo até meia-noite, quando a Condessa, dona do imóvel, e suas
outras damas de companhia cheguem ao local. Elisabeth tem uma crise de ciúmes e
tenta alertar o rapaz para que ele vá embora, mas o mesmo ignora suas
advertências, além de desprezá-la e rejeitar seu repentino amor, ficando por lá
mesmo, querendo conhecer a Condessa e saber qual o teor da reunião sinistra que
elas praticam anualmente (que por coincidência cairá bem naquela data). Nisso
os demais assaltantes conseguem entrar no castelo, só para serem mortos pela
sedenta por sangue e seminua Eva, que vai decapitando-os com uma gigante foice
na mão e vestida apenas num manto, com um dos seios para fora. É uma imagem
forte, emblemática e excitante ao mesmo tempo, só tenho isso a dizer (até
porque se Reichenbach afirma que se seu órgão genital é fotogênico, o seu belo
par de seios não fica atrás não). Cai à noite, o grupo de mulheres de fino
trato chega ao local e continuam fazendo joguinhos com o pobre Marc, que não
consegue enxergar que está sendo manipulado, dentro de uma ratoeira humana, e
muito menos desconfiar do maligno plano das moças.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia
por sua conta e risco.
Como bem desconfiamos
logo no começo do filme, beber sangue de boi não é uma boa ideia (nem o vinho
nem o sangue do bovino mesmo) e a Condessa e suas cupinchas então se tornam
vampiras, não no sentido sobrenatural, mas no sentido de beberem sangue humano
(a qual são viciadas nessa altura do campeonato), anualmente em uma orgia de
luxúria e morte. Ao final, fica um verdadeiro “bem-feito” para Marc e Eva, com
Elizabeth saindo por cima da carne seca em uma interessante reviravolta. Quem
gosta do estilo de Rollin, não irá se decepcionar com Fascinação. Acho que
até quem não goste. É um belo trabalho cinematográfico, tendo em vista as
produções paupérrimas e canastras do diretor francês. É sexy, divertido,
bonito, atmosférico, cercado de uma nuvem de mistério e até gore e assustador
ao seu jeito, com um excelente final. Mas não perde seu ar bagaceira mesmo
assim. Trocando em miúdos, é fascinante.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/03/18/392-fascinacao-1979/
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