Direção: Jean Rollin
Roteiro: Jean Rollin, Christian Meunier, Jean-Pierre Boyxou
(história)
Produção: Claude Guedj, Jean-Marie Ghanassia (Produtor Associado),
Christian Ruh (Produtor Executivo)
Elenco: Marie George Pascal, Félix Marten, Serge Marquand,
Mirella Rancelot, Paul Bisciglia
O roteirista e
diretor francês Jean Rollin, depois de uma extensa filmografia de filmes de
vampiros calcados no erotismo (sem contar seus pornôs), resolve voltar suas
lentes para o gênero zumbi em As Uvas da Morte, sensacional título tirando uma com a cara do livro “As
Vinhas da Ira” do americano John Steinbeck (cujo título em inglês é The Grapes of Wrath). Com mais de 50 filmes em seu
currículo, Rollin, assim como sua “alma gêmea” Jesús Franco, foi um dos
pioneiros na arte de misturar o erótico com o terror descaradamente e ser
eternizado no gênero, tornando-se um nome cultuado da escola europeia do cinema
barato de horror, e enquanto isso também vivia dirigindo muita pornografia sob
pseudônimos para levantar financiamento para suas obras autorais ou por mera
sobrevivência (tal qual o próprio Franco ou mesmo José Mojica Marins, se
quisermos um exemplo mais próximo de casa). Assistir aos filmes vampirescos de
Rollin necessita estar no clima, pois ele costuma usar de metalinguagem,
desconstrução narrativa, abuso da estética nonsense, roteiros por vezes
confusos e situações lisérgicas. Está aí Le vioul du vampire (ou The Rape of the Vampire) que não me deixa mentir,
lançado em pleno maio de 68, com os vampiros considerados alienação política e
subproduto artístico pela barricadas de Sorbonne, o qual reza a lenda que a
sala de exibição do filme escapou por pouco de ser depredada. Mas As Uvas da Morte não é tão insólito e
delirante quanto as aventuras de suas vampiras lésbicas anteriores. A narrativa
é linear e segue dentro do possível o convencionalismo do cinema morto-vivo
tradicional. Mas ali está todo o conjunto de excentricidades que Rollin sempre
coloca em seus longas: erotismo, violência gráfica, gore, mulheres nuas e protagonistas que pouco falam, sem
expressão, sem veias morais bem definidas e motivações por vezes escusas,
frustrando o arquétipo dos personagens das mitologias em que eles se encaixam. Escrito
por Rollin e Christian Meunier (em uma história do diretor e de Jean-Pierre
Boyxou), a trama simples enfoca no efeito colateral em algo trivial: um
agrotóxico é utilizado em uma vinícola como pesticida para acelerar a produção
de vinho de forma mais barata (já que em certo momento é declarado que esse
agrotóxico foi criado por conta das altas taxas submetidas aos agricultores),
só que acaba transformando a todos que tomaram aquele vinho em zumbis (algo que
me lembra a trama de Zumbi 3 de Jorge Grau). Mas não são aqueles zumbis no sentido
bíblico de mortos-vivos sedentos por carne humana à lá George Romero. E sim um
grupo de aldeões que começam a apresentar erupções cutâneas nojentas e são
acometidos por um surto de raiva. A nossa protagonista, Elisabeth
(Marie-Georges Pascal) está viajando de trem até Roublés, no interior da França
onde irá encontrar o noivo, Michel (Michel Herval) que justamente trabalha
nessa vinícola. Sua amiga é atacada e morta por um desses infectados com o
rosto necrosado e começa então uma luta pela sobrevivência da heroína em um
ambiente desconhecido e sem conseguir entender muito bem os motivos do porque
estar ocorrendo essa insurreição. E muito menos que os motivos são etílicos! Para
piorar, ela encontra nessa escapada a cega Lucie (Mirella Rancelot) que também
não será de muita valia por conta da sua deficiência visual (algo que me
lembrou a garota cega de Terror nas Trevas de Lucio Fulci – que é posterior a As Uvas da Morte), enquanto a própria Elisabeth está tão
aturdida, que não consegue simplesmente tentar ajudar ninguém que não seja ela
mesma, enquanto mantém-se focada no objetivo de encontrar seu noivo. Mas isso
não a colocará como vítima indefesa contra os moradores do vilarejo sedentos
por matança e personagens excêntricos, como uma ninfomaníaca chamada no IMDb
como “La grande femme blonde”, vivida por Brigitte Lahaie – musa pornô do
diretor – que sem a menor explicação, é mancomunada com os demais moradores,
parece ter um elo psíquico com eles e a responsável pela cena de nudez frontal
do filme. Nessa jornada ela ainda será ajudada por dois caipiras Paul (Felix
Marten) e Lucien (Serge Marquand) a chegar até seu noivo, ambos responsáveis
pelo alívio cômico do filme, que em determinado momento tem a brilhante ideia
de explodir os infectados com dinamite (!?). Elisabeth passa por toda aquela
provação só para ter uma má notícia (que já esperamos desde o começo do filme)
e aí sim ter uma reviravolta interessantíssima no final, quando a vemos em uma
situação desesperadora e tomada pelos seus sentimentos, beirando o choque e o
desequilíbrio, mas mesmo assim, ciente de seus atos, deixando de lado toda a
alienação que carregava até aqui, ao melhor estilo filme zumbi onde vale tudo
na hora que a necessidade aperta, pois senão você está fadado a entrar em
colapso ou não sobreviver nesse mundo selvagem. Quanto à produção, não há o que
dizer senão que é um filme B tosco europeu com pretensões artísticas. Maquiagem
precária (tanto que o filme foi gravado em locações com temperaturas tão baixas
que os efeitos no rosto dos personagens começaram a congelar e ficou impossível
eles parecem mais “realistas” nas câmeras), situações que beiram o ridículo,
atuações do mais baixo calibre (Rollin sempre optava por atores amadores ou
oriundos do cinema pornô), mas com certeza não decepciona na dose de violência
em profusão com cenas de decapitação, sangue, nojeira, mutilação, crucificação
e nudez, claro. Mas ainda assim, As Uvas da Morte é a “obra prima barata” de Rollin. O melhor filme para se
assistir se quiser conhecer a filmografia desse excêntrico diretor sem se
chocar com suas viagens absurdas anteriores. Abra um vinho e deixe se levar
pela película sem muita pretensão. Só não se esqueça de conferir a safra. Se
for Roublés ano 78, melhor evitar.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/27/381-as-uvas-da-morte-1978/
Nenhum comentário:
Postar um comentário