sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

#387 1979 O ASSASSINO DA FURADEIRA (The Driller Killer, EUA)


Direção: Abel Ferrara
Roteiro: Nicholas St. John
Produção: Douglas Anthony Metro (Produtor Associado), Rochelle Weisberg (Produtora Executiva)
Elenco: Jimmy Laine, Carolyn Marz, Baybi Day, Harry Shcutlz, Alan Wynorth

Esse filme deve ser assistido ALTO! Assim somos apresentados ao cult O Assassino da Furadeira, de Abel Ferrara. Um filme completamente retardado, punk rock, transgressor, violento e imundo. É uma produção doentia e chapada, sobre a escória, sobre o caos social e sobre a insanidade humana gerada pela vida na maldita metrópole de Nova York. A falta de perspectiva, de grana, a aporrinhação, o caos urbano, o barulho ensurdecedor… São todos os motivos que levam um artista plástico frustrado e falido, que inconsequentemente, tocando um foda-se, pega uma furadeira e sai matando sem tentos, a torto e a direito, nas noites da Big Apple. Já dizia LCD Soundsystem: “NY I Love You, But You Bring me Down!” Abel gastando ridículos 20 mil dólares, com uma estética tosca e suja, interpretando o papel principal do frustrado pintor Reno Miller (usando o pseudônimo de Jimmy Laine) faz uma reflexão anarquista da descida ao inferno provocada por percalços da vida moderna e os males da megalópole. Sem grana para pagar o aluguel, vivendo com duas roommates, sendo uma sua namorada, não conseguindo finalizar seu próximo quadro pelo qual está obcecado (um búfalo gigante com um olhar hipnótico) para tentar vender a uma galeria de arte e tendo que aguentar uma banda de punk vizinha ensaiando dia e noite para tocar em uma espelunca qualquer, Reno simplesmente surta de vez, acometido por acessos de loucura que o fazem começar a chacinar os mendigos com sua furadeira, e mais tarde, partir em busca de vingança contra o galerista que lhe humilhou ou sua namorada que o deixou na mão e voltou para o ex, um burguês cosmopolita ridículo. O Assassino da Furadeira preza pela não coerência. A edição parece vomitada na tela e é visivelmente amadora. Tem horas que parece que você está assistindo a um videoclipe de uma banda, de tanto que mostra os infelizes ensaiando ou tocando no show. É o imediatismo de querer capturar nas telas, lá no final dos anos 70, a efervescência do movimento punk de NY, o uso de drogas, a decadência moral da sociedade e meter de vez o prego no caixão do sonho americano. Mas essa podreira experimental de Ferrara, que tem toda uma filmografia maldita no currículo, tornou-se cultuada exatamente por todo esse caos e barulho, e retrato de uma geração e de uma Nova York suja e decadente, mais ou menos como Scorcese fez com seu Taxi Driver, só que ligado no 220V. Por isso O Assassino da Furadeira é um dos trabalhos mais admirados do diretor. E Ferrara ainda arrumou um espaço para cutucar a Igreja Católica em vários simbolismos espalhados pelo filme (a primeira cena se passa dentro de uma igreja; Reno utiliza a furadeira pela primeira vez ao inconscientemente fazer o formato de uma cruz ao furar a porta para uma de suas colegas de apartamento; um dos mendigos é crucificado…) e inserir inspirações de Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski, como o explodir das suas alucinações, o confinamento em um apartamento decadente e até um coelho pelado que Reno ganha de presente, que serve como estopim de onde começa a deixar fluir seu sadismo. O Assassino da Furadeira é um deleite para os ãs do cinema transgressor. Por mais que não seja uma festival de sangue e exploitation como The Toolbox Murders ou outros exemplares gore do cinema europeu, ou impactante e demente como O Massacre da Serra Elétrica, é uma ode à perdição, trash, visceral, impossível de ser feitos nos dias de hoje. Mas que serviu de retrato visual de um conturbado período e como influência para pencas de diretores que viriam depois, como os próprios Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, entre outros.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/03/11/387-o-assassino-da-furadeira-1979/

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