Direção: Marcelo Motta
Roteiro: Rubens Francisco
Luchetti, José Mojica Marins (história)
Produção: José Mojica Marins,
Alfredo Cohen (Produtor Associado)
Elenco: José Mojica Marins,
Alfredo Almeida, Giulio Aurichio, Elza Barbosa, Caçador Guerreiro, Maribeth
Baumgarten, Vincenzo Colelia
A Estranha Hospedaria dos Prazeres é um dos piores filmes de José
Mojica Marins. Apesar de não ser tecnicamente um filme de Mojica, pois foi
dirigido por seu pupilo Marcelo Motta, esteve envolto em uma série de problemas
em sua produção e lançado em uma das piores fases do maior nome do cinema do
terror brasileiro, quando ele enfrentava o fracasso pessoal, problemas de
alcoolismo e falência. Rodado quase que simultaneamente com Inferno
Carnal, lançado no ano seguinte, A Estranha Hospedaria dos Prazeres é
um daqueles motivos pelo qual o Mojica e Zé do Caixão são motivos de chacota e
sinônimo de cinema tosco, caricato, sem recurso, e de qualidade técnica
baixíssima em todos os seus aspectos, o que é um errôneo e preconceituoso
consentimento popular, levando em consideração seu trabalho marginal em
sucessos anteriores como À Meia Noite Levarei sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixão e O Despertar da Besta (Ritual de Sádicos). Pesquisando sobre o filme na
Internet encontrei um artigo assinado por Ivan Finotti (biógrafo que escreveu
junto com o também jornalista André Barscinski “Maldito: A vida e o cinema de
José Mojica Marins, o Zé do Caixão” – leitura recomendadíssima), publicado no
extinto Notícias Populares, com uma entrevista com o mestre durante o
lançamento de seu filme (junto de Inferno Carnal) em VHS, lá pelos idos de
1997. A Estranha Hospedaria dos Prazeres teve sérios problemas de
estouro de orçamento, onde Mojica foi obrigado a estabelecer uma sociedade com
uma produtora, e sofreu um infarto após, enterrado em dívidas, decretar
falência enquanto finalizava Inferno Carnal. Dirigido por Marcelo Motta,
ilustre desconhecido aprendiz de Mojica, que tinha o sonho de dirigir um filme
de Zé do Caixão, abandonou o barco antes do filme terminar deixando a Mojica o
trabalho de finalizar e alterar todo o filme. Segundo palavras do próprio, “Eu
queria dar uma força, mas ele se perdeu. A filmagem foi uma das mais longas de
que já participei. O que eu teria feito em dez dias, ele demorou três meses. Aí
estourou o orçamento”. Daí levou mais quatro meses para Mojica conseguir
“consertar” o filme, trabalhando com a “truca”, equipamento utilizado para
produzir os efeitos em filmagens já feitas. “Havia muito problema de
continuidade, muitas cenas paralelas. Tive que fazer fusão, inverter negativos
e coisas assim”, completa o cineasta. Talvez isso explique a completa falta de
nexo e a narrativa tresloucada de A Estranha Hospedaria dos Prazeres. Mas não
justifica toda a ruindade da fita. Fato é que é corriqueiro na filmografia de
Mojica o uso de cenas hipnóticas e alucinógenas e trucagem de imagens, assim
como efeitos sonoros em looping e mixagem estranha de sons e ruídos.
Mas aqui, provavelmente por ter de refazer o filme, extrapola o limite. Cenas
arrastadas e entediantes, seguidas de psicodelias, alvoroços, atuações bisonhas
e dublagem porca, para se chegar a um final realmente legal, que faz valer o
filme por conta de seus cinco minutos de conclusão, que lembra muito as
clássicas histórias em quadrinhos da EC Comics. Pois bem, depois de um prólogo
insuportavelmente longo, com trovoadas, batidas de tambores, um ritual de macumba
e umas fubangas seminuas dançando o que hoje pareceria muito com um baile funk
no morro, eis que Zé do Caixão ressurge de sua tumba, com sua famosa falácia
que não quer dizer nada e não leva a lugar nenhum: “Viver para morrer ou morrer
para viver”? E depois ainda temos que aguentar um discurso
filosófico/religioso/poético de doer enquanto constelações e planetas rondam
pela tela. Depois de 10 minutos que você tem vontade de desligar o filme,
finalmente começa a trama. A tal Hospedaria dos Prazeres recebe em uma
sexta-feira, 13 de agosto, um grupo díspar de pessoas em suas acomodações, onde
Zé do Caixão, que trocou sua cartola por um chapéu coco, parecendo uma satânica
figura saindo de um quadro esquizofrênico de Matisse, gerencia o local. Todos
os hóspedes já tem suas reservas feitas de antemão e o nome de todos estão no
livro de registros. Quem não tem seu nome, é impedido de dormir no local
naquela noite de forte tempestade. Entre os presentes, um bando de hippies
sujos que praticam orgias, adúlteros, ladrões, muambeiros, chantagistas, dedos
duros e jogadores compulsivos. Só a escória se hospeda por ali. E
misteriosamente, o relógio de cada um deles parou em um horário diferente.
Se
você não se preocupa com SPOILERS em um filme como esse, porque mais
ou menos já está na cara o que acontece ali, continue lendo, senão pule para o
próximo parágrafo.
Um dos que tem a estada rejeitada por
Zé, resolve chamar a polícia por acreditar que algo de estranho acontece na
hospedaria, e ao chegar lá de manhã cedo, vemos que ali na verdade é um
cemitério. Ou seja, aquele antro é o inferno/purgatório, e todas as almas ali
hospedadas tem de pagar seus pecados naquele lugar de danação. Exceto uma das
garotas, que se arrepende dos pecados e não quer viver naquele círculo vicioso,
e caminha em direção à luz enquanto seu nome desaparece do livro. Piegas e
tentando passar aquelas lições religiosas de moral que Mojica infelizmente
adora colocar nas conclusões de seus filmes. E detalhe para a cena tosquíssima
em que o poder de Zé do Caixão é tamanho, que ele começa a matar ratos, cobras,
baratas e grilos apenas com o olhar! Agora o detalhe mais interessante
de A Estranha Hospedaria dos Prazeres não se diz respeito a obra, mas
sim em como eu assisti ao filme. Há uma versão na Internet que dá para ser
baixada que foi exibida no canal IFC da TV por assinatura gringa. Ou seja, está
em português, mas com as legendas eletrônicas em inglês embutidas. Eu ficava a
todo momento me imaginando um sujeito nos EUA assistindo essa podreira na televisão,
e o que diabos ele deve pensar do Brasil. Por mais que Coffin’ Joe (Zé do
Caixão para eles) seja um ícone por lá, este daqui é um “queima filme”. E não
dá nem para falar da beleza da mulher brasileira, famoso chavão para os
estrangeiros, porque é cada baranga uma mais feia que a outra. E a cena da
orgia dos hippies, em que eles ficam cantando sem parar “Tá Todo Mundo Louco”
do Silvio Brito e dançando, enquanto na legenda escreve “Everybody naked,
great”, que seria traduzido ao pé da letra como “Todo mundo pelado, ótimo”? É
impagável.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/12/19/331-a-estranha-hospedaria-dos-prazeres-1976/
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