terça-feira, 22 de dezembro de 2015

#331 1976 A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (Brasil)


Direção: Marcelo Motta
Roteiro: Rubens Francisco Luchetti, José Mojica Marins (história)
Produção: José Mojica Marins, Alfredo Cohen (Produtor Associado)
Elenco: José Mojica Marins, Alfredo Almeida, Giulio Aurichio, Elza Barbosa, Caçador Guerreiro, Maribeth Baumgarten, Vincenzo Colelia

A Estranha Hospedaria dos Prazeres é um dos piores filmes de José Mojica Marins. Apesar de não ser tecnicamente um filme de Mojica, pois foi dirigido por seu pupilo Marcelo Motta, esteve envolto em uma série de problemas em sua produção e lançado em uma das piores fases do maior nome do cinema do terror brasileiro, quando ele enfrentava o fracasso pessoal, problemas de alcoolismo e falência. Rodado quase que simultaneamente com Inferno Carnal, lançado no ano seguinte, A Estranha Hospedaria dos Prazeres é um daqueles motivos pelo qual o Mojica e Zé do Caixão são motivos de chacota e sinônimo de cinema tosco, caricato, sem recurso, e de qualidade técnica baixíssima em todos os seus aspectos, o que é um errôneo e preconceituoso consentimento popular, levando em consideração seu trabalho marginal em sucessos anteriores como À Meia Noite Levarei sua AlmaEsta Noite Encarnarei no Teu CadáverO Estranho Mundo de Zé do Caixão e O Despertar da Besta (Ritual de Sádicos). Pesquisando sobre o filme na Internet encontrei um artigo assinado por Ivan Finotti (biógrafo que escreveu junto com o também jornalista André Barscinski “Maldito: A vida e o cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão” – leitura recomendadíssima), publicado no extinto Notícias Populares, com uma entrevista com o mestre durante o lançamento de seu filme (junto de Inferno Carnal) em VHS, lá pelos idos de 1997. A Estranha Hospedaria dos Prazeres teve sérios problemas de estouro de orçamento, onde Mojica foi obrigado a estabelecer uma sociedade com uma produtora, e sofreu um infarto após, enterrado em dívidas, decretar falência enquanto finalizava Inferno Carnal. Dirigido por Marcelo Motta, ilustre desconhecido aprendiz de Mojica, que tinha o sonho de dirigir um filme de Zé do Caixão, abandonou o barco antes do filme terminar deixando a Mojica o trabalho de finalizar e alterar todo o filme. Segundo palavras do próprio, “Eu queria dar uma força, mas ele se perdeu. A filmagem foi uma das mais longas de que já participei. O que eu teria feito em dez dias, ele demorou três meses. Aí estourou o orçamento”. Daí levou mais quatro meses para Mojica conseguir “consertar” o filme, trabalhando com a “truca”, equipamento utilizado para produzir os efeitos em filmagens já feitas. “Havia muito problema de continuidade, muitas cenas paralelas. Tive que fazer fusão, inverter negativos e coisas assim”, completa o cineasta. Talvez isso explique a completa falta de nexo e a narrativa tresloucada de A Estranha Hospedaria dos Prazeres. Mas não justifica toda a ruindade da fita. Fato é que é corriqueiro na filmografia de Mojica o uso de cenas hipnóticas e alucinógenas e trucagem de imagens, assim como efeitos sonoros em looping e mixagem estranha de sons e ruídos. Mas aqui, provavelmente por ter de refazer o filme, extrapola o limite. Cenas arrastadas e entediantes, seguidas de psicodelias, alvoroços, atuações bisonhas e dublagem porca, para se chegar a um final realmente legal, que faz valer o filme por conta de seus cinco minutos de conclusão, que lembra muito as clássicas histórias em quadrinhos da EC Comics. Pois bem, depois de um prólogo insuportavelmente longo, com trovoadas, batidas de tambores, um ritual de macumba e umas fubangas seminuas dançando o que hoje pareceria muito com um baile funk no morro, eis que Zé do Caixão ressurge de sua tumba, com sua famosa falácia que não quer dizer nada e não leva a lugar nenhum: “Viver para morrer ou morrer para viver”? E depois ainda temos que aguentar um discurso filosófico/religioso/poético de doer enquanto constelações e planetas rondam pela tela. Depois de 10 minutos que você tem vontade de desligar o filme, finalmente começa a trama. A tal Hospedaria dos Prazeres recebe em uma sexta-feira, 13 de agosto, um grupo díspar de pessoas em suas acomodações, onde Zé do Caixão, que trocou sua cartola por um chapéu coco, parecendo uma satânica figura saindo de um quadro esquizofrênico de Matisse, gerencia o local. Todos os hóspedes já tem suas reservas feitas de antemão e o nome de todos estão no livro de registros. Quem não tem seu nome, é impedido de dormir no local naquela noite de forte tempestade. Entre os presentes, um bando de hippies sujos que praticam orgias, adúlteros, ladrões, muambeiros, chantagistas, dedos duros e jogadores compulsivos. Só a escória se hospeda por ali. E misteriosamente, o relógio de cada um deles parou em um horário diferente.
Se você não se preocupa com SPOILERS em um filme como esse, porque mais ou menos já está na cara o que acontece ali, continue lendo, senão pule para o próximo parágrafo.
Um dos que tem a estada rejeitada por Zé, resolve chamar a polícia por acreditar que algo de estranho acontece na hospedaria, e ao chegar lá de manhã cedo, vemos que ali na verdade é um cemitério. Ou seja, aquele antro é o inferno/purgatório, e todas as almas ali hospedadas tem de pagar seus pecados naquele lugar de danação. Exceto uma das garotas, que se arrepende dos pecados e não quer viver naquele círculo vicioso, e caminha em direção à luz enquanto seu nome desaparece do livro. Piegas e tentando passar aquelas lições religiosas de moral que Mojica infelizmente adora colocar nas conclusões de seus filmes. E detalhe para a cena tosquíssima em que o poder de Zé do Caixão é tamanho, que ele começa a matar ratos, cobras, baratas e grilos apenas com o olhar! Agora o detalhe mais interessante de A Estranha Hospedaria dos Prazeres não se diz respeito a obra, mas sim em como eu assisti ao filme. Há uma versão na Internet que dá para ser baixada que foi exibida no canal IFC da TV por assinatura gringa. Ou seja, está em português, mas com as legendas eletrônicas em inglês embutidas. Eu ficava a todo momento me imaginando um sujeito nos EUA assistindo essa podreira na televisão, e o que diabos ele deve pensar do Brasil. Por mais que Coffin’ Joe (Zé do Caixão para eles) seja um ícone por lá, este daqui é um “queima filme”. E não dá nem para falar da beleza da mulher brasileira, famoso chavão para os estrangeiros, porque é cada baranga uma mais feia que a outra. E a cena da orgia dos hippies, em que eles ficam cantando sem parar “Tá Todo Mundo Louco” do Silvio Brito e dançando, enquanto na legenda escreve “Everybody naked, great”, que seria traduzido ao pé da letra como “Todo mundo pelado, ótimo”? É impagável.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/12/19/331-a-estranha-hospedaria-dos-prazeres-1976/

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