Direção: Irwin Allen
Roteiro: Stirling Silliphant (baseado no livro de Arthur Herzog)
Produção: Irwin Allen
Elenco:Michael Caine, Katherine Ross, Richard Widmark, Richard
Chamberlein, Olivia de Havilland, Ben Johnson, Lee Grant
Para quem é lá dos
idos dos anos 70 e criança nos anos 80, lembra-se do grande sucesso dos filmes
catástrofe durante este período, levando verdadeiras multidões para o cinema e
sendo reprisados à exaustão na telinha, muito antes dos Independence
Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012 da vida (por sinal, todos de
Rolland Emmerich). Na verdade, o Emmerich da sua geração era o diretor Irwin
Allen, que durante os 50’s e 60’s ficou famoso pelas séries de TV Perdidos
no Espaço, Terra de Gigantes e Túnel do Tempo.
Pois bem, Allen é o diretor da maior bomba pretensiosa da história do cinema
(ops, quase me esqueci de Waterworld), tá, a segunda maior bomba
pretensiosa que é este filme sobre o qual vos escrevo, nobre leitor: O Enxame. Gabaritado por ter
dirigido dois dos maiores blockbusters setentistas, O Destino do Poseidon e Inferno
na Torre (ambos filmes catástrofe), a Warner Bros. cometeu a loucura de
dar 20 milhões de dólares na mão do sujeito para fazer essa pérola sobre um
ataque mortal de terríveis abelhas assassinas africanas em solo (ou espaço
aéreo) americano. Assim, pensando por cima, um filme com um enxame de abelhas,
que “é mais terrível que qualquer exército do mundo” segundo uma das memoráveis
falas do filme, já é de se pressupor que é uma premissa ridícula e que nada de
bom sairia daí. Ainda assim, Allen e o roteirista Stirling Silliphant
conseguiram se superar. Por mais que o diretor tivesse certo talento em
conduzir a parte técnica de seus filmes anteriores (mesmo que sempre tendo
co-dirigido com alguém), aqui fica claro o quanto é ruim com a sua construção
do mesmo e principalmente com a direção de atores, pois consegue meter um grupo
imenso de astros de Hollywood, como Michael Caine, Richard Windmark, Richard
Chamberlein, Olivia de Haviland, Lee Grant, Patty Duke e até um convalescente
Henry Fonda, e não conseguir sequer UMA boa atuação ou meia dúzia de troca de
diálogos (não que o tosquíssimo roteiro de Silliphant – que havia também
escrito os filmes anteriores de Allen – ajudasse). Soma-se a isso a
insuportável metragem de 116 minutos na versão de cinema e inacreditáveis 155
minutos na versão estendida e voilá: você tem a verdadeira fórmula
perfeita da catástrofe, e olhe que não estou falando do gênero cinematográfico.
O filme ficou apenas duas míseras semanas em cartaz, faturou “só” 10 milhões de
dólares fechando no vermelho, foi execrado e renegado por todos os atores
presentes e afundou a carreira de Allen, jogando no buraco todo o trabalho
“respeitado” que tinha feito até então. Típicas abelhas brasileiras roubando a
comida do piquenique! Também pudera, o sujeito colocou a mão em um vespeiro
(RÁ!). Estamos falando de abelhas, poxa vida. Um minúsculo inseto trabalhador,
produtor de mel e responsável por polinizar as colheitas que alimentam toda a
nação (segunda a ridícula mensagem final após os créditos, tentando explicar
que as más são só as abelhas africanas, as americanas são chapas, antes que
algum retardado saísse por aí destruindo colmeias, como foi o efeito reverso
de Tubarão). Tudo bem que suas picadas doem à beça e se
você é alérgico ou recebe uma grande quantidade de ferroadas, pode ter um
choque anafilático e empacotar. Mas por Deus, o problema é o quanto o filme
insistentemente prega que as abelhas são indestrutíveis e inteligentes, e um
maldito enxame faz cientistas, exército e governo de otários que não conseguem
simplesmente acabar com os insetos e falham miseravelmente em todas as
tentativas. E a história é isso. Uma caralhada de personagens são enfiados no
decorrer do longa, todos com subtramas extremamente desnecessárias (e logo são
mortos), enquanto o entomologista Bradford Crane (Caine), ajudado pelos
“brilhantes” Dr. Hubbard (Chamberlein) e Dr. Krim (Henry Fonda) vive batendo boca
com o General Slater (Windmark), numa clara demonstração de qual dos dois tem o
pau maior (desculpe o linguajar, mas é exatamente isso que me veio a cabeça) e
seu cupincha Major Baker (Bradford Dillman) e tem um piegas caso amoroso com a
médica do exército Helena (Katharine Ross). Após o surgimento sem motivo
aparente daquele terrível enxame (e derrubar dois helicópteros militares), a
primeira parada é na cidadezinha de Marysville, no Texas, onde convenientemente
está sendo realizada a anual Festa das Flores no local. As abelhas não terão
nem dó e nem piedade da população, picando as crianças na escola (e matando-as,
olhe que crueldade) e também descarrilando o trem que levaria os moradores para
fora da cidade em uma evacuação de emergência, dizimando uma população inteira
em uma tosca cena de um trem de brinquedo caindo de uma ribanceira. Os malignos
insetos destruidores voam em direção a Houston, não antes de fazer uma
visitinha em uma usina nuclear (que como disse o gênio Dr. Hubbard, nenhum
mecanismo de defesa os protegeria de um ataque de abelhas assassinas) e
provocar a sua explosão, causando a morte de mais de 36 mil pessoas! Como
última tentativa desesperada dos cientistas e militares trapalhões, com
anuência da Casa Branca, eles resolvem COLOCAR FOGO em uma abandonada Houston,
para tentar incendiar o exame. Sério, não dá para segurar o riso. Como pode
alguém ter uma ideia dessa, de colocar militares com lança-chamas simplesmente
tocando fogo em toda uma cidade? Pior que isso só a resolução final, quando
Crane finalmente tem uma única ideia brilhante, ajustando uma frequência sonora
para atrair as abelhas (por que diabos não pensaram nisso antes? Eu não sou
cientista, não sou entomólogo, mas foi a primeira ideia que passou pela minha
cabeça: dar um jeito, através de som ou de feromônios, de atrair as abelhas
para um único lugar e exterminá-las!), só que e eles juntam o enxame no Golfo
do México, despejam dezenas de litros de óleo e EXPLODEM TUDO para dar cabo do
enxame. O pior é que lá no começo da fita, Crane histérico aos berros não quis
jogar pesticida nas bichinhas para não ameaçar envenenar outras espécies e
destruir todo um ecossistema. Mas acabar com a fauna marinha e tornar o Golfo
do México em um pedacinho do inferno, ah isso pode né? Algumas situações não só
beiram o ridículo, como se é incapaz de segurar o riso, como quando todos os
sobreviventes picados pelas abelhas têm uma alucinação vendo um inseto gigante
querendo ataca-los (usando um bisonho efeito de trucagem), ou a longuíssima
cena quando o Dr. Krim se injeta uma dose do veneno da abelha para testar um
antídoto, e perde preciosos minutos da nossa vida narrando o passo a passo dos
efeitos dentro de seu organismo, para ser morto na sequência (detalhe quando a
Dra. Helena, uma médica, do exército americano, o encontra e ao ver o sujeito
morto na cadeira de rodas, sem nenhum sinal vital, tenta DAR OXIGÊNIO PARA ELE
RESPIRAR, ao invés de tentar uma RCP. É de doer!). Só que o os diálogos
conseguem ser os piores quesitos dessa produção chinfrim. Entre as pérolas, a
minha preferida é quando o Dr. Hubbard, ele mais uma vez (Chamberlein deveria
desistir da carreira científica, virar padre e viver um dilema entre a fé e o
amor…oh, wait…), teima com Crane que as tais abelhas africanas são na verdade
abelhas vindos do Brasil. Sim, isso mesmo, as abelhas africanas subiram o
continente americano do nosso país tropical abençoado por Deus e bonito por
natureza para destruir os pobres americanos. Como e porquê elas estavam no
Brasil, sabe se lá Deus. Mas merecem menções honrosas quando Crane reza para
que Helena se recupere do ataque, e o Major Baker pergunta ao Gen. Slater se
eles poderiam confiar em um cientista que acredita em Deus, e o seu superior
responde que nunca confiaria em um que não acreditasse, ou quando no diálogo
final para fechar com chave de ouro, Helena pergunta se conseguiram vencê-las,
e Crane diz não saber, mas que eles pelo menos ganharam tempo, e se usarem esse
tempo com sabedoria, o mundo talvez sobreviva. O Enxame é um erro grotesco
em todos os sentidos. Nada mais é que um filme B, do pior calibre, só que feito
com uma fortuna, pencas de abelhas (22 milhões segundo a produção, para ser
mais exato) e atores consagrados. Só que ele não é divertido como a maioria dos
filmes B, que nos conquistam por sua tosquice. Sua pretensão grita mais alto e
sua metragem quase infinita consegue torrar o saco de qualquer um que tenha
coragem de assisti-lo. Não é a toa que figura na lista dos 100 piores filmes de
todos os tempos, compilada no livro de John Wilson, criador do Framboesa de
Ouro. É mais gostoso tomar uma ferroada de abelha do que assistir a esse
pérola.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/02/13/370-o-enxame-1978/
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