quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

#370 1978 O ENXAME (The Swarm, EUA)


Direção: Irwin Allen
Roteiro: Stirling Silliphant (baseado no livro de Arthur Herzog)
Produção: Irwin Allen
Elenco:Michael Caine, Katherine Ross, Richard Widmark, Richard Chamberlein, Olivia de Havilland, Ben Johnson, Lee Grant

Para quem é lá dos idos dos anos 70 e criança nos anos 80, lembra-se do grande sucesso dos filmes catástrofe durante este período, levando verdadeiras multidões para o cinema e sendo reprisados à exaustão na telinha, muito antes dos Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012 da vida (por sinal, todos de Rolland Emmerich). Na verdade, o Emmerich da sua geração era o diretor Irwin Allen, que durante os 50’s e 60’s ficou famoso pelas séries de TV Perdidos no EspaçoTerra de Gigantes e Túnel do Tempo. Pois bem, Allen é o diretor da maior bomba pretensiosa da história do cinema (ops, quase me esqueci de Waterworld), tá, a segunda maior bomba pretensiosa que é este filme sobre o qual vos escrevo, nobre leitor: O Enxame. Gabaritado por ter dirigido dois dos maiores blockbusters setentistas, O Destino do Poseidon e Inferno na Torre (ambos filmes catástrofe), a Warner Bros. cometeu a loucura de dar 20 milhões de dólares na mão do sujeito para fazer essa pérola sobre um ataque mortal de terríveis abelhas assassinas africanas em solo (ou espaço aéreo) americano. Assim, pensando por cima, um filme com um enxame de abelhas, que “é mais terrível que qualquer exército do mundo” segundo uma das memoráveis falas do filme, já é de se pressupor que é uma premissa ridícula e que nada de bom sairia daí. Ainda assim, Allen e o roteirista Stirling Silliphant conseguiram se superar. Por mais que o diretor tivesse certo talento em conduzir a parte técnica de seus filmes anteriores (mesmo que sempre tendo co-dirigido com alguém), aqui fica claro o quanto é ruim com a sua construção do mesmo e principalmente com a direção de atores, pois consegue meter um grupo imenso de astros de Hollywood, como Michael Caine, Richard Windmark, Richard Chamberlein, Olivia de Haviland, Lee Grant, Patty Duke e até um convalescente Henry Fonda, e não conseguir sequer UMA boa atuação ou meia dúzia de troca de diálogos (não que o tosquíssimo roteiro de Silliphant – que havia também escrito os filmes anteriores de Allen – ajudasse). Soma-se a isso a insuportável metragem de 116 minutos na versão de cinema e inacreditáveis 155 minutos na versão estendida e voilá: você tem a verdadeira fórmula perfeita da catástrofe, e olhe que não estou falando do gênero cinematográfico. O filme ficou apenas duas míseras semanas em cartaz, faturou “só” 10 milhões de dólares fechando no vermelho, foi execrado e renegado por todos os atores presentes e afundou a carreira de Allen, jogando no buraco todo o trabalho “respeitado” que tinha feito até então. Típicas abelhas brasileiras roubando a comida do piquenique! Também pudera, o sujeito colocou a mão em um vespeiro (RÁ!). Estamos falando de abelhas, poxa vida. Um minúsculo inseto trabalhador, produtor de mel e responsável por polinizar as colheitas que alimentam toda a nação (segunda a ridícula mensagem final após os créditos, tentando explicar que as más são só as abelhas africanas, as americanas são chapas, antes que algum retardado saísse por aí destruindo colmeias, como foi o efeito reverso de Tubarão). Tudo bem que suas picadas doem à beça e se você é alérgico ou recebe uma grande quantidade de ferroadas, pode ter um choque anafilático e empacotar. Mas por Deus, o problema é o quanto o filme insistentemente prega que as abelhas são indestrutíveis e inteligentes, e um maldito enxame faz cientistas, exército e governo de otários que não conseguem simplesmente acabar com os insetos e falham miseravelmente em todas as tentativas. E a história é isso. Uma caralhada de personagens são enfiados no decorrer do longa, todos com subtramas extremamente desnecessárias (e logo são mortos), enquanto o entomologista Bradford Crane (Caine), ajudado pelos “brilhantes” Dr. Hubbard (Chamberlein) e Dr. Krim (Henry Fonda) vive batendo boca com o General Slater (Windmark), numa clara demonstração de qual dos dois tem o pau maior (desculpe o linguajar, mas é exatamente isso que me veio a cabeça) e seu cupincha Major Baker (Bradford Dillman) e tem um piegas caso amoroso com a médica do exército Helena (Katharine Ross). Após o surgimento sem motivo aparente daquele terrível enxame (e derrubar dois helicópteros militares), a primeira parada é na cidadezinha de Marysville, no Texas, onde convenientemente está sendo realizada a anual Festa das Flores no local. As abelhas não terão nem dó e nem piedade da população, picando as crianças na escola (e matando-as, olhe que crueldade) e também descarrilando o trem que levaria os moradores para fora da cidade em uma evacuação de emergência, dizimando uma população inteira em uma tosca cena de um trem de brinquedo caindo de uma ribanceira. Os malignos insetos destruidores voam em direção a Houston, não antes de fazer uma visitinha em uma usina nuclear (que como disse o gênio Dr. Hubbard, nenhum mecanismo de defesa os protegeria de um ataque de abelhas assassinas) e provocar a sua explosão, causando a morte de mais de 36 mil pessoas! Como última tentativa desesperada dos cientistas e militares trapalhões, com anuência da Casa Branca, eles resolvem COLOCAR FOGO em uma abandonada Houston, para tentar incendiar o exame. Sério, não dá para segurar o riso. Como pode alguém ter uma ideia dessa, de colocar militares com lança-chamas simplesmente tocando fogo em toda uma cidade? Pior que isso só a resolução final, quando Crane finalmente tem uma única ideia brilhante, ajustando uma frequência sonora para atrair as abelhas (por que diabos não pensaram nisso antes? Eu não sou cientista, não sou entomólogo, mas foi a primeira ideia que passou pela minha cabeça: dar um jeito, através de som ou de feromônios, de atrair as abelhas para um único lugar e exterminá-las!), só que e eles juntam o enxame no Golfo do México, despejam dezenas de litros de óleo e EXPLODEM TUDO para dar cabo do enxame. O pior é que lá no começo da fita, Crane histérico aos berros não quis jogar pesticida nas bichinhas para não ameaçar envenenar outras espécies e destruir todo um ecossistema. Mas acabar com a fauna marinha e tornar o Golfo do México em um pedacinho do inferno, ah isso pode né? Algumas situações não só beiram o ridículo, como se é incapaz de segurar o riso, como quando todos os sobreviventes picados pelas abelhas têm uma alucinação vendo um inseto gigante querendo ataca-los (usando um bisonho efeito de trucagem), ou a longuíssima cena quando o Dr. Krim se injeta uma dose do veneno da abelha para testar um antídoto, e perde preciosos minutos da nossa vida narrando o passo a passo dos efeitos dentro de seu organismo, para ser morto na sequência (detalhe quando a Dra. Helena, uma médica, do exército americano, o encontra e ao ver o sujeito morto na cadeira de rodas, sem nenhum sinal vital, tenta DAR OXIGÊNIO PARA ELE RESPIRAR, ao invés de tentar uma RCP. É de doer!). Só que o os diálogos conseguem ser os piores quesitos dessa produção chinfrim. Entre as pérolas, a minha preferida é quando o Dr. Hubbard, ele mais uma vez (Chamberlein deveria desistir da carreira científica, virar padre e viver um dilema entre a fé e o amor…oh, wait…), teima com Crane que as tais abelhas africanas são na verdade abelhas vindos do Brasil. Sim, isso mesmo, as abelhas africanas subiram o continente americano do nosso país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza para destruir os pobres americanos. Como e porquê elas estavam no Brasil, sabe se lá Deus. Mas merecem menções honrosas quando Crane reza para que Helena se recupere do ataque, e o Major Baker pergunta ao Gen. Slater se eles poderiam confiar em um cientista que acredita em Deus, e o seu superior responde que nunca confiaria em um que não acreditasse, ou quando no diálogo final para fechar com chave de ouro, Helena pergunta se conseguiram vencê-las, e Crane diz não saber, mas que eles pelo menos ganharam tempo, e se usarem esse tempo com sabedoria, o mundo talvez sobreviva. O Enxame é um erro grotesco em todos os sentidos. Nada mais é que um filme B, do pior calibre, só que feito com uma fortuna, pencas de abelhas (22 milhões segundo a produção, para ser mais exato) e atores consagrados. Só que ele não é divertido como a maioria dos filmes B, que nos conquistam por sua tosquice. Sua pretensão grita mais alto e sua metragem quase infinita consegue torrar o saco de qualquer um que tenha coragem de assisti-lo. Não é a toa que figura na lista dos 100 piores filmes de todos os tempos, compilada no livro de John Wilson, criador do Framboesa de Ouro. É mais gostoso tomar uma ferroada de abelha do que assistir a esse pérola.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/13/370-o-enxame-1978/

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