quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

#369 1978 DESPERTAR DOS MORTOS (Dawn of the Dead, EUA, Itália)


Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Produção: Richard P. Rubinstein, Donna Siegel (Produtora Associada), Claudio Argento, Alfred Cuomo (Produtores Associados)
Elenco:David Emge, Ken Foree, Scott H. Reiniger, Gaylen Ross

Se em A Noite dos Mortos Vivos, Romero começou sua revolução zumbi que mudaria os rumos da história do cinema de terror, em Despertar dos Mortos, ele realiza sua obra prima, pedra angular do gênero para todo o sempre, e escancara de vez sua mordaz crítica social deixando claro para todo mundo que os zumbis somos nós, e nós somos os zumbis. Dez anos depois de filmar A Noite, Romero decide voltar ao gênero que lhe deu visibilidade, mais por questões financeiras do que artísticas propriamente ditas, já que seus filmes anteriores fracassaram de forma retumbante nas bilheterias. Mas quando ele resolveu voltar, foi valendo! Tanto que a importância de Despertar dos Mortos é inestimável para o cinema de horror do século XX, e principalmente para as produções europeias da década de 80. Romero pega os pontos soltos que havia deixado com o final do primeiro filme e os potencializa, espalhando a infecção zumbi por todo os Estados Unidos. E claramente houve uma troca de poder nesse meio termo. Enquanto A Noite termina com os caipiras e os policiais exterminando os mortos-vivos e fazendo chacota disso, logo no começo de Despertar, você vê que os zumbis tomaram o controle e os seres humanos praticamente viraram seu gado, perdendo essa luta. Até em um dos momentos do filme, um polêmico entrevistado em um programa de TV diz que a situação poderia ter sido contornada muito facilmente se as pessoas tivessem deixado a emoção e a moral religiosa de lado, e simplesmente matassem os zumbis, independente de serem parentes ou amigos. Pois bem, Despertar dos Mortos começa três semanas após os eventos do filme anterior, quando Francine, uma produtora de TV, resolve deixar de lado o caos que se tornou a emissora de televisão onde trabalha, que de qualquer forma queria continuar transmitindo e mantendo a audiência a todo custo, mesmo que para isso passasse uma lista defasada de lugares seguros para os espectadores (espectador = zumbi?), e fugir com seu namorado, Stephen, o piloto da emissora, e mais dois oficiais da SWAT, Roger e Peter. Durante a escapada aérea, com pouco combustível e abatidos pelo cansaço, o grupo sem querer depara com o que seria o refúgio perfeito: um shopping center abandonado, exceto por zumbis que perambulavam pelo seu interior. Logo, resolvem fazer de lá sua base. A ideia inicial de utilizar o shopping veio quando Romero foi fazer uma reunião de negócios com um possível patrocinador, em um shopping center em Monroeville, Pensilvânia. Lá Romero se viu intimidado pelo gigantesco templo consumista (vamos lembrar que nos anos 70 os shopping centers não eram tão comuns, com um em cada esquina como nos dias de hoje). Daí partiu toda sua base para o roteiro do filme. E também foi o ponto de partida do desenvolvimento do argumento de que mesmo o mundo caindo no mais puro caos social, os seres humanos são escravos autômatos dos seus mais primitivos desejos de consumo (consumidor = zumbi?). E isso fica muito claro quando o grupo começa a saquear uma grande loja de departamento do shopping e usufruir dos bens para satisfazer suas necessidades mais mesquinhas, como vestir as roupas, jantares chiques, entretenimento diverso, e tudo que tem direito. Apesar da síndrome do isolamento, enquanto eles tiverem bens materiais para os distraírem, está tudo bem. E essa crítica social deixa de ser apenas subentendida e torna-se escancarada em algumas sequências chaves, como nas cenas em que são filmados os zumbis e logo na sequência os manequins das lojas, traçando um paralelo entre eles/nós, quando os mortos, sem a menor vontade própria, ficam zanzando pelos corredores e escadas rolantes enquanto o alto-falante anuncia alguma liquidação, ou quando os zumbis começam a se debater em frente a loja de departamentos trancada, mais ou menos como as pessoas ficam hoje em dia para comprar um novo iPad ou iPhone no dia de seu lançamento. Mas Despertar dos Mortos só saiu do papel graças a uma pessoa em especial: Dario Argento. Ao chegar até a Itália os rumores que Romero estava escrevendo uma continuação para A Noite dos Mortos Vivos, o produtor Alfredo Cuomo recebeu uma versão incompleta do roteiro, na esperança de encontrar parceiros que quisessem investir no filme, que tinha um orçamento previsto de 1,5 milhão de dólares (contra 114 mil de seu predecessor). Cuomo era grande amigo de Argento e deu uma cópia do roteiro para ele. Como Romero também era fã das obras de Argento como Prelúdio Para Matar e Suspiria, o casamento entre eles foi perfeito. Os dois trabalharam em parceira, sempre respeitando a liberdade criativa de Romero, e Argento foi o responsável pela distribuição do filme na Europa, fazendo sua própria montagem europeia, com oito minutos a menos, acentuando um pouco mais o humor e destacando mais a trilha sonora da sua banda fetiche, Goblin. Com a ajuda do futuro mago dos efeitos visuais, Tom Savini (que até faz uma ponta no filme como um dos motoqueiros saqueadores que invadem o shopping no final), Despertar abusa da violência gráfica e sangue, látex e maquiagem, coisa que o filme anterior não pode fazer devido a sua limitação técnica e financeira. E no meio de pessoas sendo devoradas vivas e partes de corpos arrancadas com dentadas, Romero ainda inseriu uma boa dose de humor quase cartunesca, usada para explorar o egoísmo humano e todo tédio das relações sociais e da explosão do consumismo em massa. E falando em egoísmo, interessantes salientar que no final do filme, os grandes vilões não são os zumbis, e sim os próprios humanos que invadem o shopping e ferram com toda a falsa paz, tranquilidade e segurança que nossos “heróis” criaram em seu recanto de lazer e proteção. Provavelmente se a gangue de motoqueiros não tivesse entrado no shopping, tocado o puteiro com os mortos-vivos aprisionados e jogado merda no ventilador, provavelmente o trio (porque nessa altura do campeonato Roger já havia morrido, sendo mordido por um zumbi durante uma ação extremamente arrogante e descuidada de sua parte) estaria morando por lá até hoje, já que o estoque de suprimentos era quase infinito. No final das contas, Despertar estreou fazendo um estrondoso sucesso comercial nos EUA, contrariando a todas as regras, pois o filme foi lançado sem classificação, já que a censura queria meter uma classificação X no filme (equivalente hoje ao NC-17 nos EUA), o que era algo deveras arriscado. Faturou 55 milhões de dólares na bilheteria mundial, recebeu imensos elogios da crítica e estampou o nome do Romero de vez na indústria do cinema.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/12/369-despertar-dos-mortos-1978/

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