Direção: Irvin Kershner
Roteiro: John Carpenter, David Zelag Goodman
Produção: Jon
Peters, Laura Ziskin (Produtora Associada), Jack H. Harris (Produtor Executivo)
Elenco: Faye Dunaway, Tommy Lee Jones, Brad Dourif, Rene
Auberjonois, Raul Julia, Frank Adonis
Os Olhos de Laura Mars é o retrato da
cafonalha dos anos 70. Se houve um filme de terror que fosse o reflexo do
hedonismo daquela década, com certeza foi esse daqui. Tudo aqui remete ao
glamour, superficialidade, “culto ao eu” e futilidade dos seventies, desde
sua trilha sonora repleta de disco music, sensação musical da época (e aquela
música tema piegas de Barbra Streisand) até a profissão dos envolvidos na
trama. Mas tirando as aparências, Os Olhos de Laura Mars só consegue
funcionar por causa de um nome: John Carpenter, que escreveu a história
original e o roteiro do longa. Isso nos remete a momentos de suspense,
violência e sexualidade, só que tudo de forma comedida para americano ver. A
trama se baseia em um serial killer que começa a matar brutalmente com
um picador de gelo, pessoas próximas a tal Laura Mars do título (vivida por
Faye Dunaway), fotógrafa nova-iorquina de moda que insere elementos gráficos e
violentos por meio de cenas de morte e assassinato em suas fotos e seu trabalho
com modelos. Acontece que Laura tem uma espécie de clarividência e consegue de
alguma forma psíquica se conectar com a mente do assassino e enxergar através
de seus olhos, o que a transforma em uma atormentada testemunha ocular e vê
seus amigos e pessoas que trabalham com ela sendo cruelmente assassinados. O
detetive John Neville (um jovem Tommy Lee Jones) é encarregado de investigar os
crimes e tentar proteger a moça. Surge entre eles um desnecessário romance dos
mais piegas (e aquela cena dele se declarando em um belo jardim durante o
outono?), para claramente agradar plateias e estúdio, que quase consegue fazer
o filme naufragar (para mim, não para o público americano que fez de Os
Olhos de Laura Mars um dos campeões de bilheteria daquele ano, faturando
mais de 20 milhões de dólares, contra seu orçamento de 7 milhões). Quanto a
identidade do assassino? Vários suspeitos são jogados na trama, só que todos
óbvios demais. E só saberemos quem é o verdadeiro maníaco psicopata e sua
verdadeira perversão e motivos quando a própria Laura Mars o faz. Tá, um pouco
antes vai, na cena da morte no elevador do prédio onde ela mora. Discutível sua
identidade e toda aquela ladainha sentimentaloide final. Mas o que não
conseguia sair da minha cabeça durante os 104 minutos de projeção eram dois
pensamentos: O primeiro era como seria Os Olhos de Laura Mars se ele
tivesse sido feito na Itália? Sim, porque ele tem todas as características
do giallo: o assassino psicopata frustrado que passou por alguma
experiência traumática e gosta de matar principalmente mulheres; a estrutura
policial digna dos whodunint? de Edgar Wallace; mortes brutais vistas
em POV (no caso de Laura) onde vemos apenas um sujeito de capote e luvas com
seu picador de gelo; e a reviravolta estrambólica em seu final. Mas acredito
que seria um baita giallo a meu ver, pois claro que teríamos mais
violência e nudez em primeiro lugar, e porque na verdade Laura iria se
relacionar emocional e sexualmente com algum escroque ao invés do policial
solícito. Outro pensamento era como seria Os Olhos de Laura Mars se
ele tivesse sido dirigido por Carpenter, pupilo e admirador confesso de Alfred
Hitchcock. Se em Halloween – A Noite
do Terror e Alguém
me Vigia ele já tinha nos mostrado que sabia fazer (e bem) a coisa, o
fraco suspense imprimido pelo diretor Irvin Kerschner, que obviamente por
motivos comerciais preferiu mais se ater a ostentação do mundo da moda e da
fotografia de Nova York, sua efervescente cena de discoteca e aquele
romancezinho barato, poderia ter se tornado um senhor suspense se Carpenter
estivesse por trás das lentes. Coisa que só ficaremos no “e se…”. Podia ser
pior e Barbra Streisand, então namorada do produtor John Peters, ter aceitado o
papel originalmente oferecido a ela. Um detalhe interessante é que a inspiração
para o trabalho de Laura Mars veio dos ensaios do fotógrafo alemão Helmut
Newton, famoso por revolucionar a atitude na fotografia de moda ao publicar nos
anos 70 composições que misturavam sexo, sadomasoquismo, violência, lesbianismo
e nudez, retratados num contexto de luxo e beleza. Suas fotografias reais que
emolduram as paredes do estúdio de Laura no filme. Os Olhos de Laura
Mars é um suspense que tem seus dois pés fincados nos estereótipos da
década de 70 e repleto de exagero, que hoje, soa brega e superficial, mas que
foi um arasa-quarteirão na época, servindo como o primeiro trabalho de
Carpenter para um grande estúdio e como um ponto de ascensão na carreira de
Tommy Lee Jones e na constatação do estrelato de Dunaway.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/02/20/376-os-olhos-de-laura-mars-1978/
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