quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

#376 1978 OS OLHOS DE LAURA MARS (Eyes of Laura Mars, EUA)


Direção: Irvin Kershner
Roteiro: John Carpenter, David Zelag Goodman
Produção: Jon Peters, Laura Ziskin (Produtora Associada), Jack H. Harris (Produtor Executivo)
Elenco: Faye Dunaway, Tommy Lee Jones, Brad Dourif, Rene Auberjonois, Raul Julia, Frank Adonis

Os Olhos de Laura Mars é o retrato da cafonalha dos anos 70. Se houve um filme de terror que fosse o reflexo do hedonismo daquela década, com certeza foi esse daqui. Tudo aqui remete ao glamour, superficialidade, “culto ao eu” e futilidade dos seventies, desde sua trilha sonora repleta de disco music, sensação musical da época (e aquela música tema piegas de Barbra Streisand) até a profissão dos envolvidos na trama. Mas tirando as aparências, Os Olhos de Laura Mars só consegue funcionar por causa de um nome: John Carpenter, que escreveu a história original e o roteiro do longa. Isso nos remete a momentos de suspense, violência e sexualidade, só que tudo de forma comedida para americano ver. A trama se baseia em um serial killer que começa a matar brutalmente com um picador de gelo, pessoas próximas a tal Laura Mars do título (vivida por Faye Dunaway), fotógrafa nova-iorquina de moda que insere elementos gráficos e violentos por meio de cenas de morte e assassinato em suas fotos e seu trabalho com modelos. Acontece que Laura tem uma espécie de clarividência e consegue de alguma forma psíquica se conectar com a mente do assassino e enxergar através de seus olhos, o que a transforma em uma atormentada testemunha ocular e vê seus amigos e pessoas que trabalham com ela sendo cruelmente assassinados. O detetive John Neville (um jovem Tommy Lee Jones) é encarregado de investigar os crimes e tentar proteger a moça. Surge entre eles um desnecessário romance dos mais piegas (e aquela cena dele se declarando em um belo jardim durante o outono?), para claramente agradar plateias e estúdio, que quase consegue fazer o filme naufragar (para mim, não para o público americano que fez de Os Olhos de Laura Mars um dos campeões de bilheteria daquele ano, faturando mais de 20 milhões de dólares, contra seu orçamento de 7 milhões). Quanto a identidade do assassino? Vários suspeitos são jogados na trama, só que todos óbvios demais. E só saberemos quem é o verdadeiro maníaco psicopata e sua verdadeira perversão e motivos quando a própria Laura Mars o faz. Tá, um pouco antes vai, na cena da morte no elevador do prédio onde ela mora. Discutível sua identidade e toda aquela ladainha sentimentaloide final. Mas o que não conseguia sair da minha cabeça durante os 104 minutos de projeção eram dois pensamentos: O primeiro era como seria Os Olhos de Laura Mars se ele tivesse sido feito na Itália? Sim, porque ele tem todas as características do giallo: o assassino psicopata frustrado que passou por alguma experiência traumática e gosta de matar principalmente mulheres; a estrutura policial digna dos whodunint? de Edgar Wallace; mortes brutais vistas em POV (no caso de Laura) onde vemos apenas um sujeito de capote e luvas com seu picador de gelo; e a reviravolta estrambólica em seu final. Mas acredito que seria um baita giallo a meu ver, pois claro que teríamos mais violência e nudez em primeiro lugar, e porque na verdade Laura iria se relacionar emocional e sexualmente com algum escroque ao invés do policial solícito. Outro pensamento era como seria Os Olhos de Laura Mars se ele tivesse sido dirigido por Carpenter, pupilo e admirador confesso de Alfred Hitchcock. Se em Halloween – A Noite do Terror e Alguém me Vigia ele já tinha nos mostrado que sabia fazer (e bem) a coisa, o fraco suspense imprimido pelo diretor Irvin Kerschner, que obviamente por motivos comerciais preferiu mais se ater a ostentação do mundo da moda e da fotografia de Nova York, sua efervescente cena de discoteca e aquele romancezinho barato, poderia ter se tornado um senhor suspense se Carpenter estivesse por trás das lentes. Coisa que só ficaremos no “e se…”. Podia ser pior e Barbra Streisand, então namorada do produtor John Peters, ter aceitado o papel originalmente oferecido a ela. Um detalhe interessante é que a inspiração para o trabalho de Laura Mars veio dos ensaios do fotógrafo alemão Helmut Newton, famoso por revolucionar a atitude na fotografia de moda ao publicar nos anos 70 composições que misturavam sexo, sadomasoquismo, violência, lesbianismo e nudez, retratados num contexto de luxo e beleza. Suas fotografias reais que emolduram as paredes do estúdio de Laura no filme. Os Olhos de Laura Mars é um suspense que tem seus dois pés fincados nos estereótipos da década de 70 e repleto de exagero, que hoje, soa brega e superficial, mas que foi um arasa-quarteirão na época, servindo como o primeiro trabalho de Carpenter para um grande estúdio e como um ponto de ascensão na carreira de Tommy Lee Jones e na constatação do estrelato de Dunaway.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/20/376-os-olhos-de-laura-mars-1978/

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