terça-feira, 22 de dezembro de 2015

#602 1990 GREMLINS 2: A NOVA TURMA (Gremlins 2: The New Batch, EUA)


Direção: Joe Dante
Roteiro: Charlie Hass
Produção: Michel Finnel; Rick Baker (Coprodutor); Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Steven Spielberg (Produtores Executivos)
Elenco: Zach Galligan, Phoebe Cates, John Glover, Robert Prosky, Christopher Lee, Dick Miller

Sabe aquela velha história de que são raríssimas as sequências que se equivalem ou sejam melhores que o original? Aqui tenho o orgulho de apresentar mais uma delas: Gremlins 2 – A Nova Geração. Tão deliciosamente divertido quanto o Gremlins de 1984, muito mais escrachado, até com certo arsplatstick, e muitas, mas muitas criaturas para tocar o terror. Joe Dante volta aqui em sua melhor forma, repetindo o elenco original reprisando seus personagens (Billy, Kate, Murray Futterman), incluindo novos nomes na trama que são verdadeiros tiros certeiros (como John Glover como o multimilionário empreendedor Daniel Clamp, Robert Prosky como Fred, um apresentador de filmes de terror vestido de Drácula que sonha em ser âncora de telejornal e Christopher Lee como um cientista louco!) e transporta a ameaça verde e marrom gosmenta de uma cidadezinha do interior para Nova York. Seguindo aquelas regrinhas básicas de Hollywood, o que uma sequência precisa necessariamente ter para não ser apenas mais do mesmo? Precisa ser maior. E Gremlins 2 – A Nova Geração consegue ser maior em tudo. A quantidade de criaturas diferentes utilizadas nesse filme é impressionante, cortesia do mago dos efeitos visuais Rick Baker (ganhador do Oscar por Um Lobisomem Americano em Londres AND coprodutor), que nos entrega gremlins inteligentes, gremlins elétricos, gremlins aranha, gremlins morcego e até um gremlin travesti! Outra diferença crucial para o Gremlins original, é que enquanto o primeiro mantinha um certo ar sombrio e mergulhava por meandros do cinema de terror, o segundo é uma sátira só. A nojeira e a perversidade das criaturas continuam lá, mas de resto, são cenas impagáveis uma atrás da outra. Além disso, enquanto o primeiro tinha o pezinho no filme natalino-família, esse aqui é politicamente incorreto e desajustado do começo ao fim. Definitivamente não é um filme infantil. Na continuação, Billy (Zach Galligan) e Kate (Phoebe Cates) mudam-se para a Big Apple, deixando Kington Falls para trás em busca do sonho americano. Mas na selva de pedra eles só conseguem empregos medíocres, aparentemente sem possibilidade de crescimento profissional (Billy como desenhista de projetos e Kate como guia turística), engolidos pelo canibalismo corporativo, morando em uma espelunca no centro e mal conseguindo pagar o aluguel. Ambos trabalham no prédio de Daniel Clamp, caricata celebridade midiática, podre de rico, que em seu QG orgulha-se te ter o mais moderno e tecnológico prédio do mundo (todo automatizado, com elevadores que falam e tudo mais), onde além de seus escritórios, está localizada sua rede TV a Cabo, a CCN (genial) e também um complexo científico. Um dos motivos do sucesso de Clamp é a compra desenfreada de locais tradicionais da cidade para transformá-los em ambientes corporativos ou de luxo / alto padrão, fomentando a especulação imobiliária da cidade (oi, estamos falando de São Paulo, é isso?). O próximo alvo é construir uma nova Chinatown, e assim que Gizmo é introduzido na história. Com a morte do velho senhor chinês que cuidava dele, o terreno foi parar nas mãos de Clamp e a simpática bola de pelos ambulantes é capturada por um cientista e levado para o prédio. Lá ele vai reencontrar Billy, Kate e claro, acidentalmente ser molhado, dar origens a outros mogwais ensandecidos que se alimentarão depois da meia-noite e darão origem a uma centena de gremlins. Crescei e multiplicai, disse o Senhor. Pois bem, os gremlins vão transformar o prédio em um verdadeiro caos, torturar o pobre do Gizmo das mais variadas formas possíveis (entre elas, fazer depilação com velcro na pobre criaturinha e amarrá-lo em um trilho de trem de brinquedo!), tomar várias poções do laboratório que transformarão alguns deles em mutantes (como já citado acima), e novamente cabe a Billy e Kate, auxiliados por Murray Futterman (Dick Miller) – que fora visitá-los em NY – o próprio Clamp, a libidinosa ruiva chefe de Billy, Marla Bloodstone (Havilland Morris) e Fred (que com o auxílio de um turista japonês fazendo a vez de cameraman, começa a transmitir ao vivo tudo o furdúncio que está acontecendo dentro do prédio).Nesse meio tempo somos brindados com cenas de humor sagaz que nos faz rolar no chão de dar risada. Como a apresentadora de um programa culinário chamada Microwave Marge, ensinando receitas de microondas sempre bebendo um pouco de xerez antes de preparar as refeições, ou então quando o gremlin inteligente, que tomou uma poção de desenvolvimento cerebral começa a cantar New York, New York de Frank Sinatra, ou a melhor de todas: a paródia de Rambo, o qual Gizmo é fã, e após ter sido torturado e levado ao seu limite pelos gremlins, ele coloca uma faixa vermelha na cabeça e cria um arco e flecha com clipes, elásticos e um lápis e vai para o revide. Afinal, para vencer a guerra, você precisa se transformar na guerra, como disse o sábio John J. Rambo. Além disso há participações especiais deliciosas, como dos mascotes da Warner (estúdio do filme) Pernalonga e Patolino; Hulk Hogan em uma cena ANTOLÓGICA completamente nonsense onde os gremlins interferem na exibição do filme no cinema (à la Willian Castle) e trocam a projeção por um filme preto e branco de garotas nuas jogando vôlei em uma praia enquanto o projetista se demite dizendo que eles só querem assistir Branca de Neve e os Sete Anões, remetendo ao primeiro filme; e Leonard Martin, o famosos crítico cinematográfico americano, falando sobre o relançamento de Gremlins em VHS e achincalhando o filme. E brincar com o original é uma frequência nessa continuação, tanto nessa cena, como mesmo na sequência do cinema onde uma mãe sai revoltada com o filho da sala de exibição dizendo ao gerente que aquele conseguia ser pior do que o primeiro! Ou mesmo quando Kate começa a contar uma história sinistra sobre ter tido uma visão do falecido presidente Lincoln no feriado do Dia do Presidente (nos EUA), fazendo uma analogia a história triste sobre o Natal que ela conta no primeiro filme, enquanto os demais personagens ficam com aquela cara de: “Ah não, de novo ela com isso!”. Sério, Gremlins 2 – A Nova Geração é genial! Pode não ser um filme de terror propriamente dito, pendendo muito mais para a comédia, mas é extremamente original, amoral e cheio de piadas infames com humor nas entrelinhas. E o mais importante é que é completamente diferente do primeiro, não se limitando a uma sequência caça-níqueis, coisa das mais incomuns de Hollywood. Com certeza não seria um filme bem recebido nesse mundo coxinha que vivemos hoje em dia. Mas no ano de seu lançamento, foi um grito de basta ao conservadorismo da era Reagan que tomou de assalto a América durante todos os anos 80, e dava as boas vindas a um certo estilo politicamente incorreto que permearia os nascentes anos 90.
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