Direção: Joe Dante
Roteiro: Charlie Hass
Produção: Michel
Finnel; Rick Baker (Coprodutor); Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Steven
Spielberg (Produtores Executivos)
Elenco: Zach
Galligan, Phoebe Cates, John Glover, Robert Prosky, Christopher Lee, Dick
Miller
Sabe aquela velha história de que
são raríssimas as sequências que se equivalem ou sejam melhores que o original?
Aqui tenho o orgulho de apresentar mais uma delas: Gremlins 2 – A Nova Geração. Tão deliciosamente divertido
quanto o Gremlins de
1984, muito mais escrachado, até com certo arsplatstick, e muitas, mas muitas
criaturas para tocar o terror. Joe Dante volta aqui em sua melhor forma,
repetindo o elenco original reprisando seus personagens (Billy, Kate, Murray
Futterman), incluindo novos nomes na trama que são verdadeiros tiros certeiros
(como John Glover como o multimilionário empreendedor Daniel Clamp, Robert
Prosky como Fred, um apresentador de filmes de terror vestido de Drácula que
sonha em ser âncora de telejornal e Christopher Lee como um cientista louco!) e
transporta a ameaça verde e marrom gosmenta de uma cidadezinha do interior
para Nova York. Seguindo aquelas regrinhas básicas de Hollywood, o que uma
sequência precisa necessariamente ter para não ser apenas mais do mesmo?
Precisa ser maior. E Gremlins 2 – A Nova Geração consegue ser maior
em tudo. A quantidade de criaturas diferentes utilizadas nesse filme é
impressionante, cortesia do mago dos efeitos visuais Rick Baker (ganhador do
Oscar por Um Lobisomem Americano em
Londres AND
coprodutor), que nos entrega gremlins inteligentes, gremlins elétricos,
gremlins aranha, gremlins morcego e até um gremlin travesti! Outra diferença
crucial para o Gremlins original, é que enquanto o primeiro mantinha
um certo ar sombrio e mergulhava por meandros do cinema de terror, o segundo é
uma sátira só. A nojeira e a perversidade das criaturas continuam lá, mas de
resto, são cenas impagáveis uma atrás da outra. Além disso, enquanto o primeiro
tinha o pezinho no filme natalino-família, esse aqui é politicamente
incorreto e desajustado do começo ao fim. Definitivamente não é um filme
infantil. Na continuação, Billy (Zach Galligan) e Kate (Phoebe Cates) mudam-se
para a Big Apple, deixando Kington Falls para trás em busca do sonho americano.
Mas na selva de pedra eles só conseguem empregos medíocres, aparentemente sem
possibilidade de crescimento profissional (Billy como desenhista de projetos e
Kate como guia turística), engolidos pelo canibalismo corporativo, morando em
uma espelunca no centro e mal conseguindo pagar o aluguel. Ambos trabalham no
prédio de Daniel Clamp, caricata celebridade midiática, podre de rico, que em
seu QG orgulha-se te ter o mais moderno e tecnológico prédio do mundo (todo
automatizado, com elevadores que falam e tudo mais), onde além de seus
escritórios, está localizada sua rede TV a Cabo, a CCN (genial) e também um
complexo científico. Um dos motivos do sucesso de Clamp é a compra desenfreada
de locais tradicionais da cidade para transformá-los em ambientes corporativos
ou de luxo / alto padrão, fomentando a especulação imobiliária da cidade (oi,
estamos falando de São Paulo, é isso?). O próximo alvo é construir uma nova
Chinatown, e assim que Gizmo é introduzido na história. Com a morte do velho
senhor chinês que cuidava dele, o terreno foi parar nas mãos de Clamp e a
simpática bola de pelos ambulantes é capturada por um cientista e levado para o
prédio. Lá ele vai reencontrar Billy, Kate e claro, acidentalmente ser molhado,
dar origens a outros mogwais ensandecidos que se alimentarão depois da
meia-noite e darão origem a uma centena de gremlins. Crescei e multiplicai,
disse o Senhor. Pois bem, os gremlins vão transformar o prédio em um verdadeiro
caos, torturar o pobre do Gizmo das mais variadas formas possíveis (entre elas,
fazer depilação com velcro na pobre criaturinha e amarrá-lo em um trilho de
trem de brinquedo!), tomar várias poções do laboratório que transformarão
alguns deles em mutantes (como já citado acima), e novamente cabe a Billy e
Kate, auxiliados por Murray Futterman (Dick Miller) – que fora visitá-los em NY
– o próprio Clamp, a libidinosa ruiva chefe de Billy, Marla Bloodstone
(Havilland Morris) e Fred (que com o auxílio de um turista japonês fazendo a
vez de cameraman, começa a transmitir ao vivo tudo o furdúncio que está
acontecendo dentro do prédio).Nesse meio tempo somos brindados com cenas de
humor sagaz que nos faz rolar no chão de dar risada. Como a apresentadora de um
programa culinário chamada Microwave Marge, ensinando receitas de
microondas sempre bebendo um pouco de xerez antes de preparar as refeições, ou
então quando o gremlin inteligente, que tomou uma poção de desenvolvimento
cerebral começa a cantar New York, New York de Frank Sinatra, ou a melhor de
todas: a paródia de Rambo, o qual Gizmo é fã, e após ter sido torturado e
levado ao seu limite pelos gremlins, ele coloca uma faixa vermelha na cabeça e
cria um arco e flecha com clipes, elásticos e um lápis e vai para o revide.
Afinal, para vencer a guerra, você precisa se transformar na guerra, como disse
o sábio John J. Rambo. Além disso há participações especiais deliciosas, como dos
mascotes da Warner (estúdio do filme) Pernalonga e Patolino; Hulk Hogan em uma
cena ANTOLÓGICA completamente nonsense onde os gremlins interferem na
exibição do filme no cinema (à la Willian Castle) e trocam a projeção por um
filme preto e branco de garotas nuas jogando vôlei em uma praia enquanto o
projetista se demite dizendo que eles só querem assistir Branca de Neve e os
Sete Anões, remetendo ao primeiro filme; e Leonard Martin, o famosos crítico
cinematográfico americano, falando sobre o relançamento de Gremlins em VHS e
achincalhando o filme. E brincar com o original é uma frequência nessa
continuação, tanto nessa cena, como mesmo na sequência do cinema onde uma
mãe sai revoltada com o filho da sala de exibição dizendo ao gerente que aquele
conseguia ser pior do que o primeiro! Ou mesmo quando Kate começa a contar uma
história sinistra sobre ter tido uma visão do falecido presidente Lincoln no
feriado do Dia do Presidente (nos EUA), fazendo uma analogia a história triste
sobre o Natal que ela conta no primeiro filme, enquanto os demais personagens
ficam com aquela cara de: “Ah não, de novo ela com isso!”. Sério, Gremlins
2 – A Nova Geração é genial! Pode não ser um filme de terror propriamente
dito, pendendo muito mais para a comédia, mas é extremamente original, amoral e
cheio de piadas infames com humor nas entrelinhas. E o mais importante é que é
completamente diferente do primeiro, não se limitando a uma sequência
caça-níqueis, coisa das mais incomuns de Hollywood. Com certeza não seria
um filme bem recebido nesse mundo coxinha que vivemos hoje em dia. Mas no ano
de seu lançamento, foi um grito de basta ao conservadorismo da era Reagan que
tomou de assalto a América durante todos os anos 80, e dava as boas vindas a um
certo estilo politicamente incorreto que permearia os nascentes anos 90.
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