Direção: Jerzy
Skolimowski
Roteiro: Michael
Austin, Jerzy Skolimowski (baseado na história de Robert Graves)
Produção: Jeremy
Thomas, Michael Austin (Produtor Associado)
Elenco: Alan Bates, Susannah York, John Hurt, Robert Stephens, Tim Curry
O Estranho Poder de Matar é um filme
bizarro. Daqueles que você sente certo desconforto em assisti-lo, muito pela
história sinistra e pela excelente dinâmica dos personagens, e sua estrutura
linear díspar, com um final em aberto que deixa aquele ponto de interrogação no
espectador, que com certeza era a intenção dos idealizadores. Dirigido por
Jerzy Skolimowski e com um elenco fenomenal que compreende um triângulo entre
Alan Bates, Susannah York e John Hurt, tudo é simbólico em O Estranho
Poder de Matar. Uma ambígua metáfora dos extremos. Não irá agradar facilmente
aquele espectador médio que gosta de conclusões didáticas e de todos os devidos
pingos nos is, isso eu já adianto. Mas o que se sobressai é a atmosfera soturna
e desconfortável que permeia o longa. A história foca nos acontecimentos
bizarros narrados por Crossley (Alan Bates) a Robert Graves (Tim Curry) durante
um jogo de críquete realizado dentro de uma instituição psiquiátrica. Ambos são
os responsáveis por marcar a pontuação do jogo, e enquanto isso, Crossley
começa a contar sobre a vida de um misterioso estranho que invade a vida do
casal Anthony (John Hurt) e Rachel (Susannah York), moradores de Devon, na
região sul da Inglaterra. Anthony é músico e engenheiro sonoro e Rachel é uma
enfermeira, e ambos vivem uma vida enfadonha até que Crossley aparece. Ele mesmo
se convida para almoçar na casa dos dois dizendo estar faminto por não comer a
dois dias. Sisudo, usando seu sobretudo negro e irradiando uma aura de
desconfiança, logo sua presença contamina o local quando ele começa a revelar
que ficou 18 anos morando com aborígenes no outback australiano e
assassinou seu filho e abandonou sua esposa (a lei deles permite que uma
criança seja morta ainda jovem se houver dúvida quanto sua capacidade de
sobrevivência), causando um profundo choque que começará a estremecer o casal,
já que Rachel é incapaz de engravidar, e a vida dos dois é modorrenta, calcada
no racionalismo, sem qualquer contato com superstições. Crossley também conta
que conheceu um feiticeiro local que lhe ensinou a técnica de matar as pessoas
através do grito, como se fosse um verdadeiro banshee, seres da
mitologia irlandesa conhecidos por seus gritos que decretavam a vida ou morte
das pessoas. Anthony duvida, mas sua curiosidade o leva a manter o estranho em
sua casa, a contragosto da esposa, e acompanhá-lo até as dunas isoladas, usando
cera de vela em seus ouvidos, para ver uma poderosa demonstração de seu poder.
Quem é marvete e fã de quadrinhos vai achar que o cara é o verdadeiro Raio
Negro, líder dos Inumanos. Ao emitir seu grito estridente, Anthony cai
perturbado e inconsciente enquanto um pastor, diversas ovelhas e aves marinhas
caem mortos no mesmo instante. Daí a vida do casal irá virar de cabeça para
baixo, primeiro por Crossley se aproveitar da fragilidade de seu anfitrião e
usar uma espécie de poder controlador sobre Rachel, construindo uma relação
sexual dominadora, enquanto o músico quer de qualquer forma descobrir o segredo
do estranho e ao mesmo tempo, tentar destrui-lo. Toda essa história é mesclada
com cenas do tedioso jogo, até que uma tempestade atinge o local e o clímax de
ambas as histórias em seus dois tempos narrativos distintos entram em
congruência. Então o filme retorna a mesma cena inicial, como se nos mostrasse
um loop do que está para acontecer, ou do que já aconteceu. Uma
habilidade sinistra de um personagem sinistro magistralmente interpretado por
Alan Bates. Um poder sobrenatural que invoca o ponto final da expressão de medo
e da dor: o grito. Mas que também, assim como nossos ancestrais, serve como
forma de intimidar os adversários. Crossley usa-o das duas formas e funciona
como retrocesso a uma civilização repleta de costumes antigos e sobrenaturais
em contraponto contra a racionalidade e experimentações tecnológicas de
Anthony, que vive buscando novas sonoridades em seu estúdio isolado,
principalmente vindos da natureza, o que o obriga a conhecer uma espécie de som
que não possui nenhuma naturalidade, e isso por si só, já é o suficiente para
abalar seus alicerces. Fora isso, a dinâmica dos dois com a manipulável Rachel
dentro de um relacionamento que parece uma montanha-russa de sentimentos e
repressões faz-se beirar o insustentável, desafiando o limite de suas
sanidades, ainda mais tendo em mente que a história está sendo contada dentro
de um asilo para loucos, utilizando quem está ali presente como personagens. O
Estranho Poder de Matar é um inquieto e aterrorizante filme de terror
sobre manipulação, descrito nas entrelinhas, visto através da abordagem do
controle, limites, medos e sentimentos obscuros. Tudo isso travestido dentro de
uma história que nada se sabe sobre sua veracidade (dentro do filme), apenas se
supõe. Os acontecimentos narrados por Crossley para Robert Graves aconteceram
de verdade? Ou é produto de uma mente insana? Os personagens são o que
realmente aparentam ser? Trata-se de um flashback ou de
um flash-forward? O filme continua na sua cabeça até aquele frio na
espinha causado por assisti-lo se dissipar.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/02/14/371-o-estranho-poder-de-matar-1978/
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