terça-feira, 22 de dezembro de 2015

#371 1978 O ESTRANHO PODER DE MATAR (The Shout, Reino Unido)


Direção: Jerzy Skolimowski
Roteiro: Michael Austin, Jerzy Skolimowski (baseado na história de Robert Graves)
Produção: Jeremy Thomas, Michael Austin (Produtor Associado)
Elenco: Alan Bates, Susannah York, John Hurt, Robert Stephens, Tim Curry

O Estranho Poder de Matar é um filme bizarro. Daqueles que você sente certo desconforto em assisti-lo, muito pela história sinistra e pela excelente dinâmica dos personagens, e sua estrutura linear díspar, com um final em aberto que deixa aquele ponto de interrogação no espectador, que com certeza era a intenção dos idealizadores. Dirigido por Jerzy Skolimowski e com um elenco fenomenal que compreende um triângulo entre Alan Bates, Susannah York e John Hurt, tudo é simbólico em O Estranho Poder de Matar. Uma ambígua metáfora dos extremos. Não irá agradar facilmente aquele espectador médio que gosta de conclusões didáticas e de todos os devidos pingos nos is, isso eu já adianto. Mas o que se sobressai é a atmosfera soturna e desconfortável que permeia o longa. A história foca nos acontecimentos bizarros narrados por Crossley (Alan Bates) a Robert Graves (Tim Curry) durante um jogo de críquete realizado dentro de uma instituição psiquiátrica. Ambos são os responsáveis por marcar a pontuação do jogo, e enquanto isso, Crossley começa a contar sobre a vida de um misterioso estranho que invade a vida do casal Anthony (John Hurt) e Rachel (Susannah York), moradores de Devon, na região sul da Inglaterra. Anthony é músico e engenheiro sonoro e Rachel é uma enfermeira, e ambos vivem uma vida enfadonha até que Crossley aparece. Ele mesmo se convida para almoçar na casa dos dois dizendo estar faminto por não comer a dois dias. Sisudo, usando seu sobretudo negro e irradiando uma aura de desconfiança, logo sua presença contamina o local quando ele começa a revelar que ficou 18 anos morando com aborígenes no outback australiano e assassinou seu filho e abandonou sua esposa (a lei deles permite que uma criança seja morta ainda jovem se houver dúvida quanto sua capacidade de sobrevivência), causando um profundo choque que começará a estremecer o casal, já que Rachel é incapaz de engravidar, e a vida dos dois é modorrenta, calcada no racionalismo, sem qualquer contato com superstições. Crossley também conta que conheceu um feiticeiro local que lhe ensinou a técnica de matar as pessoas através do grito, como se fosse um verdadeiro banshee, seres da mitologia irlandesa conhecidos por seus gritos que decretavam a vida ou morte das pessoas. Anthony duvida, mas sua curiosidade o leva a manter o estranho em sua casa, a contragosto da esposa, e acompanhá-lo até as dunas isoladas, usando cera de vela em seus ouvidos, para ver uma poderosa demonstração de seu poder. Quem é marvete e fã de quadrinhos vai achar que o cara é o verdadeiro Raio Negro, líder dos Inumanos. Ao emitir seu grito estridente, Anthony cai perturbado e inconsciente enquanto um pastor, diversas ovelhas e aves marinhas caem mortos no mesmo instante. Daí a vida do casal irá virar de cabeça para baixo, primeiro por Crossley se aproveitar da fragilidade de seu anfitrião e usar uma espécie de poder controlador sobre Rachel, construindo uma relação sexual dominadora, enquanto o músico quer de qualquer forma descobrir o segredo do estranho e ao mesmo tempo, tentar destrui-lo. Toda essa história é mesclada com cenas do tedioso jogo, até que uma tempestade atinge o local e o clímax de ambas as histórias em seus dois tempos narrativos distintos entram em congruência. Então o filme retorna a mesma cena inicial, como se nos mostrasse um loop do que está para acontecer, ou do que já aconteceu. Uma habilidade sinistra de um personagem sinistro magistralmente interpretado por Alan Bates. Um poder sobrenatural que invoca o ponto final da expressão de medo e da dor: o grito. Mas que também, assim como nossos ancestrais, serve como forma de intimidar os adversários. Crossley usa-o das duas formas e funciona como retrocesso a uma civilização repleta de costumes antigos e sobrenaturais em contraponto contra a racionalidade e experimentações tecnológicas de Anthony, que vive buscando novas sonoridades em seu estúdio isolado, principalmente vindos da natureza, o que o obriga a conhecer uma espécie de som que não possui nenhuma naturalidade, e isso por si só, já é o suficiente para abalar seus alicerces. Fora isso, a dinâmica dos dois com a manipulável Rachel dentro de um relacionamento que parece uma montanha-russa de sentimentos e repressões faz-se beirar o insustentável, desafiando o limite de suas sanidades, ainda mais tendo em mente que a história está sendo contada dentro de um asilo para loucos, utilizando quem está ali presente como personagens. O Estranho Poder de Matar é um inquieto e aterrorizante filme de terror sobre manipulação, descrito nas entrelinhas, visto através da abordagem do controle, limites, medos e sentimentos obscuros. Tudo isso travestido dentro de uma história que nada se sabe sobre sua veracidade (dentro do filme), apenas se supõe. Os acontecimentos narrados por Crossley para Robert Graves aconteceram de verdade? Ou é produto de uma mente insana? Os personagens são o que realmente aparentam ser? Trata-se de um flashback ou de um flash-forward? O filme continua na sua cabeça até aquele frio na espinha causado por assisti-lo se dissipar.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/14/371-o-estranho-poder-de-matar-1978/

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