Direção: Werner
Herzog
Roteiro: Werner
Herzog (baseado na obra de Bram Stoker)
Produção: Werner
Herzog, Michael Gruskoff e Daniel Toscan du Plantier (não creditados), Walter
Saxer (Produtor Executivo)
Elenco: Klaus Kinski, Isabelle Adjani, Bruno Ganz, Roland Topor,
Walter Ladenganst
Nosferatu – O Fantasma da Noite é um belíssimo
filme de vampiro. Ao mesmo tempo que o diretor Werner Herzog presta uma
homenagem ao expressionismo alemão e ao filme original Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror de Murnau, ele
consegue imprimir sua própria estética para fazer, na minha opinião, a melhor
adaptação cinematográfica, mesmo que não creditada, da obra de Bram Stoker. Pontuado
por um ritmo quase hipnótico, fotografia belíssima de Jörg Schmidt-Reitwein,
direção de arte impecável (vencedora do Urso de Prata no Festival de Berlim
daquele ano) e uma trilha sonora fúnebre e orgânica (assinada pelo grupo Popol
Vuh), Nosferatu – O Fantasma da Noite em muito supera o filme de
1922, até por conta de recursos técnicos mais avançados e da sensibilidade de
Herzog. Na verdade a produção teve a liberdade de adaptar à sua maneira o livro
Drácula, de Stoker, podendo utilizar o próprio nome dos personagens da trama
original, sem enfrentar os problemas de direitos autorais que Murnau sofreu em
seu filme. Ou seja, aqui não somos apresentados ao Conde Orlok, nem a Huter ou
Ellen, e sim ao próprio Conde Drácula, Jonathan e Lucy Harker, tal
qual Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror se propunha em sua ideia original.
A história é aquela que todos nós conhecemos: o corretor Jonathan Harker (Bruno
Ganz) parte em meio às tenebrosas, porém, deslumbrantes paisagens dos Montes
Cárpatos para fechar negócio com o repugnante Conde Drácula (Klaus Kinski), com
sua expressão asquerosa, lembrando um rato humano, nariz adunco, longos dedos
esqueléticos e face pálida. Nem de longe lembrando os aristocráticos Bela
Lugosi em Drácula da Unviersal ou
o altivo Cristopher Lee em O Vampiro da Noite da Hammer e
muito menos o sedutor Frank Lagella em Drácula lançado no
mesmo ano, e sim mantendo-se fiel a visão de Murnau do monstro vampiresco,
assim como o livro de Stoker. O temível conde compra uma casa em Bremen, na
Alemanha e ao chegar de navio até o porto local espalha seu exército de ratos
na cidade, que são responsáveis por alastrar um surto de peste e aterrorizar os
moradores. Enquanto Jonathan, mordido pelo vampiro, sucumbe a maldição do
morto-vivo, cabe a sua amada, Lucy (interpretada pela sempre linda Isabelle
Adjani), assim como no filme de Murnau, ser o peso da balança, que com seu amor
puro e verdadeiro e sua inocência, fará o papel de mártir para ludibriar a
criatura e por fim de uma vez por todas nos malignos planos do Conde. A
peculiaridade dos personagens, completamente avessa ao livro, é um dos grandes
diferenciais do filme. Aqui vemos Harker deixando de lado seu manto heroico e
desmoronando sem piedade na transformação de vampiro, Lucy deixando de lado a
fragilidade para tentar destruir Drácula, um Dr. Van Helsing meramente
ilustrativo e completamente cético e um Drácula rabugento e menos sagaz e
sedento por sangue do que outras encarnações nas telas. Um dos maiores trunfos
de Nosferatu – O Fantasma da Noite, responsável por não ser taxado como
uma mera cópia do original, e posicionando-se como superior em certos momentos,
é a tentativa de Herzog em mostrar uma espécie de beleza poética no mal (como
as cenas em câmera lenta de um morcego batendo suas asas, ou a abertura com os
closes de múmias embalsamadas com uma expressão angustiante de terror no
rosto), e o mix de sensações etéreas e assustadoras que ele vai criando para
preparar o espectador para o infortúnio e desilusão que está para se abater na
cidade com a chegada do Conde e de seus maus agouros. Herzog utiliza
brilhantemente planos abertos, clima atmosférico e paisagens lindas,
principalmente na estonteante cena onde vemos o dia se esvaecer pelas montanhas
enquanto a noite, cheia de mistérios terríveis, começa a cair sobre o até então
intrépido Jonathan Harker em sua viagem à Transilvânia, ou quando a praça
central da cidade está tomada por ratos, caixões, animais soltos e de uma
forma mambembe, alguns tentam brindar a vida antes de serem tomados pelo abraço
gelado da morte. Nosferatu – O Vampiro da Noite celebra a perda da
humanidade. De Drácula que vive atormentado achando a imortalidade, assim como
seu sofrimento pela solidão e ausência de amor, uma maldição que o transformou
em uma vil criatura, de Harker que mostra-se impotente ao domínio do mal e
prepara-se, na linda cena final do filme, para continuar o legado do vampiro,
de Van Helsing que é arrancado de seu seguro mundo científico ao matar a besta
e ter que sofrer o mesmo destino de um assassino comum e finalmente de Lucy,
cujo amor propriamente dito e a esperança, por maiores que sejam, não consegue
quebrar os efeitos da maldade.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/03/25/397-nosferatu-o-vampiro-da-noite-1979/
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