sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

#397 1979 NOSFERATU O VAMPIRO DA NOITE (Nosferatu – Phantom der Nacht / Nosferatu, the Vampyre, Alemanha, França)


Direção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog (baseado na obra de Bram Stoker)
Produção: Werner Herzog, Michael Gruskoff e Daniel Toscan du Plantier (não creditados), Walter Saxer (Produtor Executivo)
Elenco: Klaus Kinski, Isabelle Adjani, Bruno Ganz, Roland Topor, Walter Ladenganst

Nosferatu – O Fantasma da Noite é um belíssimo filme de vampiro. Ao mesmo tempo que o diretor Werner Herzog presta uma homenagem ao expressionismo alemão e ao filme original Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror de Murnau, ele consegue imprimir sua própria estética para fazer, na minha opinião, a melhor adaptação cinematográfica, mesmo que não creditada, da obra de Bram Stoker. Pontuado por um ritmo quase hipnótico, fotografia belíssima de Jörg Schmidt-Reitwein, direção de arte impecável (vencedora do Urso de Prata no Festival de Berlim daquele ano) e uma trilha sonora fúnebre e orgânica (assinada pelo grupo Popol Vuh), Nosferatu – O Fantasma da Noite em muito supera o filme de 1922, até por conta de recursos técnicos mais avançados e da sensibilidade de Herzog. Na verdade a produção teve a liberdade de adaptar à sua maneira o livro Drácula, de Stoker, podendo utilizar o próprio nome dos personagens da trama original, sem enfrentar os problemas de direitos autorais que Murnau sofreu em seu filme. Ou seja, aqui não somos apresentados ao Conde Orlok, nem a Huter ou Ellen, e sim ao próprio Conde Drácula, Jonathan e Lucy Harker, tal qual Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror se propunha em sua ideia original. A história é aquela que todos nós conhecemos: o corretor Jonathan Harker (Bruno Ganz) parte em meio às tenebrosas, porém, deslumbrantes paisagens dos Montes Cárpatos para fechar negócio com o repugnante Conde Drácula (Klaus Kinski), com sua expressão asquerosa, lembrando um rato humano, nariz adunco, longos dedos esqueléticos e face pálida. Nem de longe lembrando os aristocráticos Bela Lugosi em Drácula da Unviersal ou o altivo Cristopher Lee em O Vampiro da Noite da Hammer e muito menos o sedutor Frank Lagella em Drácula lançado no mesmo ano, e sim mantendo-se fiel a visão de Murnau do monstro vampiresco, assim como o livro de Stoker. O temível conde compra uma casa em Bremen, na Alemanha e ao chegar de navio até o porto local espalha seu exército de ratos na cidade, que são responsáveis por alastrar um surto de peste e aterrorizar os moradores. Enquanto Jonathan, mordido pelo vampiro, sucumbe a maldição do morto-vivo, cabe a sua amada, Lucy (interpretada pela sempre linda Isabelle Adjani), assim como no filme de Murnau, ser o peso da balança, que com seu amor puro e verdadeiro e sua inocência, fará o papel de mártir para ludibriar a criatura e por fim de uma vez por todas nos malignos planos do Conde. A peculiaridade dos personagens, completamente avessa ao livro, é um dos grandes diferenciais do filme. Aqui vemos Harker deixando de lado seu manto heroico e desmoronando sem piedade na transformação de vampiro, Lucy deixando de lado a fragilidade para tentar destruir Drácula, um Dr. Van Helsing meramente ilustrativo e completamente cético e um Drácula rabugento e menos sagaz e sedento por sangue do que outras encarnações nas telas. Um dos maiores trunfos de Nosferatu – O Fantasma da Noite, responsável por não ser taxado como uma mera cópia do original, e posicionando-se como superior em certos momentos, é a tentativa de Herzog em mostrar uma espécie de beleza poética no mal (como as cenas em câmera lenta de um morcego batendo suas asas, ou a abertura com os closes de múmias embalsamadas com uma expressão angustiante de terror no rosto), e o mix de sensações etéreas e assustadoras que ele vai criando para preparar o espectador para o infortúnio e desilusão que está para se abater na cidade com a chegada do Conde e de seus maus agouros. Herzog utiliza brilhantemente planos abertos, clima atmosférico e paisagens lindas, principalmente na estonteante cena onde vemos o dia se esvaecer pelas montanhas enquanto a noite, cheia de mistérios terríveis, começa a cair sobre o até então intrépido Jonathan Harker em sua viagem à Transilvânia, ou quando a praça central da cidade está tomada por ratos, caixões, animais soltos  e de uma forma mambembe, alguns tentam brindar a vida antes de serem tomados pelo abraço gelado da morte. Nosferatu – O Vampiro da Noite celebra a perda da humanidade. De Drácula que vive atormentado achando a imortalidade, assim como seu sofrimento pela solidão e ausência de amor, uma maldição que o transformou em uma vil criatura, de Harker que mostra-se impotente ao domínio do mal e prepara-se, na linda cena final do filme, para continuar o legado do vampiro, de Van Helsing que é arrancado de seu seguro mundo científico ao matar a besta e ter que sofrer o mesmo destino de um assassino comum e finalmente de Lucy, cujo amor propriamente dito e a esperança, por maiores que sejam, não consegue quebrar os efeitos da maldade.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/03/25/397-nosferatu-o-vampiro-da-noite-1979/

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