Direção: Joe
D’Amato
Roteiro: Ottavio
Fabbri, Giacomo Guerrini (história)
Produção: Marco
Rossetti
Elenco: Kieran
Carter, Cinzia Monreale, Franca Stoppi, Sam Modesto, Anna Cardini
Que Joe D’Amato é um
sujeito xarope, quem é fã de terror já sabe. Para quem não está familiarizado
com o nome, pense que ele foi responsável por Emanuelle e os
Últimos Canibais,
representante do ciclo italiano canibal misturado com a personagem ninfomaníaca
safada, o controverso Antrhopophagus e sua infame
cena onde o vilão devora um feto recém-abortado, e o pornô hardcore com
zumbis Erotic Night of Living Dead. Pronto, esses três exemplares o credenciam
como um dos cineastas mais transgressores e retardados do gênero. Mas Buio Omega é a comprovação
por A + B que Aristide Massaccesi (seu nome de batismo) tem alguns parafusos a
menos. Essa é sua “obra prima”, não que o termo possa ser aplicado a qualquer
conotação artística que o filme possa ter, pois não tem nenhuma. E sim porque
nessa história de amor suja, doente, repugnante e odiosa de um homem pelo
cadáver de sua amada empalhada, é uma peça bruta, visceral e só para aqueles
que têm estômago forte e não sejam impressionáveis. Necrofilia sempre foi um
tabu, até no cinema de horror. D’Amato como de praxe manda qualquer convenção
cultural sobre o tema às favas e explora essa tara grotesca sem colocar o pé no
freio, testando todos os limites possíveis do exploitation, abusando de
vísceras, sangue, canibalismo e algumas das mortes mais escabrosas do cinema de
terror. Buio Omega é um festejo à morte. A sublimação do amor na sua mais
pura esfera, só que esse amor é doente, de alguém que não quer de nenhuma forma
se desligar da pessoa amada, não tendo a morte como uma barreira. E vamos
pensar que estamos no ano de 1979 e Buio Omega foi feito muito, mas
muito antes de outras produções consideradas perturbadoras e entrarem naquelas
fatídicas listas dos filmes que farão nego perder a fé na humanidade, serem
lançadas, como Nekromantik ou Aftermath (isso
para ficarmos só no campo da necrofilia). Roteiro? Não tem. Uma única história
serve de fiapo condutor para a loucura demente de Frank Wyler (Kieran Carter),
taxidermista endinheirado que mora em uma pequena vila cuidada por Íris (Franca
Stoppi), uma governante rabugenta, possessiva e que vive fazendo joguinhos
sexuais com o mesmo. Frank tem uma namorada, Anna Völki (Cinzia Monreale) que
está enferma no hospital e acaba por perder sua vida por conta de um ato vodu
praticado pela ciumenta Íris. Inconformado e incapaz de superar a dor da perda,
Frank rouba o corpo da garota do cemitério e transforma-a em sua boneca
empalhada. A cena didática e extensa mostrando os procedimentos de evisceração
da garota nua em pelo sobre a mesa, quando os seus órgãos são retirados e jogados
dentro de um balde, depois todos seus fluídos corporais sendo sugados para
serem substituídos por um líquido embalsamante, é de deixar o mais vivido
espectador de filmes de terror nauseado, tamanha impassividade e nojeira com
que D’Amato dirige a cena. Daí pra frente, uma sequência de cenas absurdas sem
o menor sentido vão se seguindo somente para o diretor compor sua ópera da
morte, onde a vida humana passa a ter valor zero e mostrar uma estranha relação
de subserviência entre Frank, Íris e claro, o corpo sem vida de Anna, maquiada
e deitada em sua cama. Primeiro uma gordinha pega carona com o rapaz e adormece
fumando um gigantesco baseado. Ela acorda na garagem de Frank e o pega com a
boca na botija embalsamando a “noiva cadáver”. Não basta ela ser morta
estrangulada não. Primeiro ele arranca com um alicate TODAS as unhas de seus
dedos, e depois de morta, com a ajuda de Íris, que decapita a moça nua e decepa
todos os seus membros, joga os pedaços em uma banheira de ácido para
decompô-la. Essa cena seguida de um jantar onde Íris come porcamente uma
refeição escrota, é preciso muito sangue frio e autocontrole para segurar o
vômito. Continuando o nonsense, uma gracinha está fazendo cooper perto da vila de Frank,
torce o tornozelo e é levada para a casa dele para que ele possa fazer um
curativo. Ela vai querer dar para o cara, assim fácil, fácil, e então ele a
leva para o quarto para fazerem um, digamos, ménage à trois com o defunto. Mais doentio é impossível.
Como se não bastasse, Frank também tem um lado meio canibal e ataca a moça com
dentadas em sua jugular (ele já havia dado umas mordidelas no coração de Anna
durante o processo de extração de órgãos) e depois, novamente com a ajuda de
Íris, vai ser metida na imensa fornalha no porão para ser incinerada viva (com
destaque para close no bico do peito da moça pegando fogo). Enquanto tudo isso
acontece, o agente funerário pago pelos pais de Anna para que tomasse conta do
corpo, começa a investigar por sua conta própria o roubo do cadáver e tenta
recuperá-lo. As ações de todos os personagens culminam quando Elena, a irmã
gêmea de Anna, vai até a vila despedir-se do ex-cunhado. D’Amato pouco se
importa com o discurso e a com a construção de uma história sensata. Tudo é
motivo para mais e mais cenas de choque e terror, transgressão, violação do
corpo humano, que nada mais é quem um saco de carne, sangue e tripas. É cinema
cru, simples, tosco, sem papas na língua e sem nenhum pudor com uma passividade
assustadora. E para piorar, aqui o vilão é o mocinho. Não há nenhum maniqueísmo
aparente. O responsável pelos atos necrófilos e de barbárie é o protagonista.
Aquele que somos testemunha ocular de seus atos nefastos, e que nos aproxima do
longa. E isso que deixa mal aquele que assiste. Porque ele é um maluco de
pedra, mas nas entrelinhas, faz tudo por amor, o mais nobre dos sentimentos. D’Amato
é um demente mestre da baixeza. Buio Omega é seu retrato mais cruel e
perverso dos desejos obscuros da mente humana, e difícil acreditar que o cara
não está sentindo tesão naquilo que está fazendo com tamanha maestria.
Contestadora e desafiadora de limites, a fita não é nem um pouco recomendada
para puritanos, casais apaixonados ou aqueles que apenas desejam uma sessão
pipoca de filme de terror. É bom que você esteja ciente que o assistindo está
entrando em um caminho sem volta, mostrando que o cinema pode sim explorar
psicoses sombrias e fetiches que simplesmente gostaríamos que não existisse ou
que ficassem embaixo do tapete, mas que vai além da escuridão.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/03/12/388-buio-omega-1979/
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