Direção: Ruggero
Deodato
Roteiro: Gianfranco
Clerici
Produção: Franco Di
Nunzio, Franco Palaggi
Elenco: Robert
Kerman, Francesca Ciardi, Perry Pirkanen, Luca Barbareschi, Gabriel Yorke
O que falar de um
filme que se auto-intitula o mais controverso já feito? Pense em uma produção
que resolve colocar todos os elementos possíveis para chocar o espectador em uma
única película: estupro, empalamento, canibalismo, aborto, crueldade com
animais, desmembramento, nudismo frontal… Isso é Cannibal Holocaust, o hors
concours dos filmes exploitation. Em 1980, Ruggero Deodato
revolucionava o cinema. Sabe essa febre de filmes de found footage que
vemos hoje em dia a rodo? Que Já tem até exemplo produzido no Brasil? Foi
Deodato o percursor. Pois é, antes de A Bruxa de Blair virar um
fenômeno cinematográfico e de marketing, Cannibal Holocaust já
trazia esse conceito de exibir cenas gravadas como se fossem filmagens reais.
E A Bruxa de Blair é filme de escoteiro perto desse daqui. Cannibal chocou
tanto o mundo e de maneira tão transgressora que o diretor acabou sendo preso,
dez dias depois do lançamento nos cinemas e todas as fitas foram apreendidas,
sob a acusação de que estava sendo exibindo um snuff movie, aqueles
filmes, meio lendas urbanas, onde as pessoas são mortas de verdade em cena.
Isso por dois motivos: o primeiro é que Deodato proibiu todos os atores do
filme de fazer qualquer campanha de promoção do filme. Não apareceram em TV,
nada. A segunda é porque as filmagens são extremamente reais, os efeitos
visuais são fantásticos, obtidos através da magnífica maquiagem de Massimo
Giustini e realmente parece que a galera está sendo trucidada em cena, tamanho
o realismo. Conclusão: Deodato só conseguiu sair do xilindró depois que
apresentou os atores vivinhos da silva no tribunal e jurou de pé junto que não
matou ninguém. Ninguém humano, para bem dizer. Porque o diretor promove uma
verdadeira chacina explícita contra vários animaizinhos da selva: quatis,
antas, ratazanas e uma tartaruga gigante de água doce, que é aberta e dissecada
em pleno close, na cena mais nojenta já vista no cinema. Sério. Depois Deodato
se arrependeu dessa barbaridade, mas também conseguiu escapar de uma multa
pesada após alegar que os animais eram servidos de comida para a produção e os
índios das tribos que participaram do longa. E só em 1983 ele conseguiu na
justiça o direito de exibir o filme novamente. Não preciso nem falar que
foi proibido em diversos países. Foram 33 para ser mais preciso. Ah sim, a
história. Um grupo de documentaristas, ao melhor estilo National Geographic, só
que mega sensacionalistas, resolve viajar até a floresta Amazônica para
encontrar uma tribo de canibais perdida do resto da civilização e fazer seu
filme. Eles desaparecem e a Universidade de Nova York e uma rede de televisão
financiam uma busca, liderada pelo antropólogo, Prof. Harold Monroe. Ao chegar
lá, descobrem que a equipe tinha realmente encontrado essa tribo canibal e que
foram o prato principal deles. O Prof. Monroe consegue recuperar as gravações e
a todo custo, os executivos do canal querem exibi-las. Até realmente verem seu
conteúdo inteiro e descobrirem porque os documentaristas foram devorados. No
tradicional choque de cultura entre homem branco e os nativos, os americanos
alopram os índios de todas as formas possíveis e imagináveis. Primeiro eles
acabam com o acampamento onde eles vivem, enfiando todos os locais em uma única
oca e metendo fogo, gratuitamente, matando vários deles carbonizados. Depois eles
transam na frente de vários outros índios pequenos que assistem a cena. Depois
fazem um rodízio para estuprar uma nativa. E atiram nos coitados. E os
humilham. E por aí vai. “Sobrevivência do mais forte˜, um deles dispara. Mas as
coisas não iam ficar baratas. Eles são impiedosamente caçados, e violentamente
assassinados. A única mulher do time é a que tem a pior morte. Ela é estuprada
por vários selvagens, depois é linchada pelas mulheres da aldeia e depois
desmembrada, com seus braços e pernas arrancados, sobrando só o tronco, até ser
destroçada e comida ali mesmo pelos canibais. E lembrem-se, não estamos falando
aqui de zumbis… E sim de pessoas que comem carne humana. Vai vendo… E no meio
de toda carnificina desmedida, há uma puta crítica social oculta por trás do
filme. Que os americanos se acham os donos do mundo, superiores e que tem o
completo direito de fazer o que quiserem com outras culturas ou povos que
consideram inferiores. Tanto que depois de tanta barbaridade, a primeira reação
no final do filme é choque, claro, mas a segunda com certeza é não sentir nem
um pingo de dó daqueles infelizes mortos de forma tão brutal. Esse paralelo
para mim foi muito claro pela época em que assisti o filme da primeira vez. Foi
bem tardio, passado mais de 20 anos de seu lançamento. Vi durante a primeira
metade dos anos 2000, em plena invasão americana no Afeganistão e Iraque e
aquele política escabrosa de George W. Bush de chegar detonando tudo por lá e
pouco se lixando para baixas civis e para o povo que morava nos países
ocupados. E para mim era muito contundente a mensagem de Cannibal
Holocaust, apesar de todo o exploitation. Isso sem falar nos
inescrupulosos executivos da TV que querem editar o documentário e passar em
rede nacional de qualquer jeito, pois é aquilo que dá audiência. Imagina se uma
fita dessas cai na mão do Datena hoje em dia? E se levantam alguns
questionamentos pertinentes ao terminar o filme: Qual é pior, a selva de verdade
ou a selva de concreto? Quem são os verdadeiros selvagens, eles ou nós? A trilha
sonora de Riz Ortolani é um capítulo a parte. O filme começa com um take aéreo
da floresta Amazônica e seus rios, enquanto uma doce música lenta e melodiosa,
típica dos anos 70, vai sendo tocada ao fundo. Você nem faz ideia do que está
por vir. E essa mesma música é usada em várias cenas, inclusive de canibalismo
e desmembramento. Vai entender. Isso além de outras músicas com batidas e
efeitos sonoros de sintetizadores, toques minimalistas que vão crescendo e
tornando-a cada vez mais tensos, e que quando essa música começa a tocar, você
pode prever que vai dar merda. Se você ainda não assistiu essa preciosidade do
mau gosto, não pode dizer que é fã de filmes de terror!
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/04/03/405-cannibal-holocaust-1980/
Nenhum comentário:
Postar um comentário