quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

#395 1979 A ILHA DOS HOMENS-PEIXE (L’Isola degli uomini pesce / The Island of the Fishmen / Screamers Itália)


Direção: Sergio Martino
Roteiro: Sergio Donati, Cesare Frugoni, Sergio Martino
Produção: Luciano Martino
Elenco: Barbara Bach, Claudio Cassinelli, Richard Johnson, Beryl Cunningham, Joseph Cotten

A italianada não tinha jeito mesmo. Era só um filme americano fazer sucesso, e BANG!, lá vinham os diretores e produtores da Terra da Bota com suas versões macarrônicas com um orçamento minúsculo, atores canastras, efeitos especiais mambembes e roteiros descaradamente copiados. Isso é o bastante para resumir A Ilha dos Homens-Peixe. Mas antes de qualquer coisa, vale salientar que esse é mais um daqueles filmes que minha geração teve o prazer de ver (até em sessões duplas) na finada Sessão das Dez do SBT lá no idos dos anos 80. E aí claro, faz parte do imaginário popular de uma molecada que cresceu durante aquela década que nunca irá morrer. Assistir a essa pérola hoje só mesmo para comprovar sua ruindade e dar boas risadas da tosqueira. Tosqueira essa assinada por Sergio Martino, um dos mais interessantes diretores do giallo italiano no começo da década, que no final dos anos 70, que virou uma caricatura de si próprio com filmes sofríveis. Suas últimas incursões no gênero já vinham sendo pontuadas por um pé no exótico, com selvas, tribos e natureza, que começou com A Montanha dos Canibais, passou pelo sofrível Crocodilo – A Fera Assassina e continua aqui em A Ilha dos Homens-Peixe. E lá no começo do texto falei sobre a cópia descarada né? Pois bem, dessa vez, o coitado plagiado foi o pobre H.G. Wells e seu clássico A Ilha do Dr. Moreau, que havia sido levado às telas dois anos antes num filme homônimo produzido pelo inescrupuloso Samuel Z. Arkoff, com Burt Lancaster no elenco, e ainda antes disso, em A Ilha das Almas Selvagens com Charles Laughton e Bela Lugosi. Para quem não conhece a trama, um maquiavélico cientista vive isolado em uma ilha e lá faz terríveis experiências genéticas de humanos com diversos tipos de animais. Pois bem, aqui no roteiro escrito a seis mãos por Martino, Cesare Frugoni e Sergio Donati (além do irmão de Sergio, Luciano Martino, também produtor do filme, tendo ajudado na concepção da história), um grupo de náufragos de um navio que transportava um bando de prisioneiros para uma ilha penitenciária vai parar nas praias de uma ilha vulcânica que não está em nenhum mapa. O barco com esses sobreviventes, chefiados pelo médico militar tenente Claude de Ross (Claudio Cassinelli) subitamente é atacado por estranhas criaturas (que seriam os homens-peixe do título, mas que em nenhum momento neste início de filme são mostrados claramente) e poucos conseguem chegar com vida à ilha. Os desafortunados vão morrendo um por um, ou por tomar um estranho líquido branco que pulsa do chão e é extremamente venenoso, ou por cair em armadilhas no meio da floresta, ou ter o rosto dilacerado por um mortal ataque de uma dessas criaturas mutantes que como se não bastasse, possuem afiadas garras em suas nadadeiras. No final das contas, apenas três sobreviventes acabam por encontrar o casarão de Edmond Rackham (Richard Johnson) que é o maioral da ilha, controla os nativos locais praticantes de vodu através da influência sobre sua sacerdotisa Shakira (que infelizmente não lembra em nada a sua versão colombiana) e também mantém a bela e infeliz Amanda Marvin (Barbara Bach – ex-Bond Girl e esposa de Ringo Starr) sob domínio do medo. Acontece que o tenente desconfia que algo está errado naquela ilha (jura?) e nós espectadores descobriremos quando vimos Amanda saindo tarde da noite para o meio de uma lagoa, levando um líquido branco em uma jarra para alimentar os homens-peixe, que na verdade é uma espécie de droga que os controla. Aqui é a primeira vez que vemos como os monstros são mal feitos! Até o Gill Man, feito 25 anos antes em O Monstro da Lagoa Negra é melhor do que as criaturas de Martino. Roupas salafrárias de borracha com uma máscara truqueira com olhos esbugalhados que ficam se mexendo para um lado e para o outro dão o tom cômico involuntário à produção, culpa da pouca grana na mão de Massimo Antonello Geleng. A saída de Martino então era ou filmá-los muito de perto, ou muito de longe, para não expor todos os toscos detalhes. A maior baboseira então está por vir, quando Claude descobre por meio de Rackham que na verdade a ilha está localizada bem acima da cidade perdida de Atlântida (hã???) e que os anfíbios são na verdade os descendentes dos atlantes que evoluíram depois de milhares de anos para sobreviver embaixo d’água e na superfície, e o inescrupuloso vilão os usa para trazer os perdidos tesouros submersos para ele, já que são os únicos que conseguem descer a tamanha profundidade. Bom, então você me pergunta: mas pera aí, aonde entra a parte da cópia de A Ilha do Dr. Moreau? Apesar de até então o filme “andar sozinho”, tudo isso é lorota de Rackham e na verdade, o pai de Amanda, o infame biólogo Prof. Ernest Marvin (Joseph Cotten) foi fugido para a ilha depois de ser condenado por experiências bizarras de transplante de órgãos animais e humanos e é o responsável por transformar os nativos nesses seres peixes através de modificação genética. Ahá, olha aí a história cuspida e escarrada do Dr. Moreau! Pelo menos quando Claude adentra o laboratório de Marvin, é o que rende o momento mais bacana desse filmeco, ao ver José, um dos prisioneiros sobreviventes que chegaram à ilha e misteriosamente desapareceu anteriormente, dentro de um tanque em um estágio do processo da transformação humano-pisciana. Mas apesar dos apesares, sabe qual o principal defeito de A Ilha dos Homens-Peixe? A falta de violência, gore e nudez gratuita, antes marca registrada do cinema de Martino (lembra de Torso?). Aqui as mortes são bem das fraquinhas, não há violência desmedida (até porque os movimentos dos homens-peixe era seriamente comprometidos por aquela roupa de borracha paupérria) e só vemos um vislumbre de Barbara Bach dentro de uma roupa branca molhada coberta no corpo quando vai dar de mamar aos anfíbios. Oh, wait… Uma curiosidade sobre A Ilha dos Homens-Peixe é que a versão repetida à exaustão na Sessão das Dez era a versão original e europeia do filme, pois ninguém menos que Roger Corman, o rei dos filmes B comprou os direitos para distribuir o filme nos EUA pela sua nova produtora, a New World Pictures e praticamente criou outra versão, editando-a e enxertando novas cenas apenas para deixá-lo mais sangrento e ser exibido nas sessões grindhouse com o título de “Screamers”. E como se não bastasse, ele gostou tanto da ideia desses monstros subaquáticos que no ano seguinte lançaria sua gema Criaturas das Profundezas, obviamente inspirado pelo clássico trash de Martino, mas com aquele toque especial de Corman, com direito até a um estupros desses mutantes nas humanas e muita sangreira.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/03/21/395-a-ilha-dos-homens-peixe-1979/

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