Direção: Sergio
Martino
Roteiro: Sergio
Donati, Cesare Frugoni, Sergio Martino
Produção: Luciano
Martino
Elenco: Barbara Bach, Claudio Cassinelli, Richard Johnson, Beryl
Cunningham, Joseph Cotten
A italianada não
tinha jeito mesmo. Era só um filme americano fazer sucesso, e BANG!, lá vinham
os diretores e produtores da Terra da Bota com suas versões macarrônicas com um
orçamento minúsculo, atores canastras, efeitos especiais mambembes e roteiros
descaradamente copiados. Isso é o bastante para resumir A Ilha dos Homens-Peixe. Mas antes de
qualquer coisa, vale salientar que esse é mais um daqueles filmes que minha
geração teve o prazer de ver (até em sessões duplas) na finada Sessão das Dez
do SBT lá no idos dos anos 80. E aí claro, faz parte do imaginário popular de
uma molecada que cresceu durante aquela década que nunca irá morrer. Assistir a
essa pérola hoje só mesmo para comprovar sua ruindade e dar boas risadas da
tosqueira. Tosqueira essa assinada por Sergio Martino, um dos mais
interessantes diretores do giallo italiano no começo da década, que
no final dos anos 70, que virou uma caricatura de si próprio com filmes
sofríveis. Suas últimas incursões no gênero já vinham sendo pontuadas por um pé
no exótico, com selvas, tribos e natureza, que começou com A Montanha dos
Canibais,
passou pelo sofrível Crocodilo – A Fera
Assassina e
continua aqui em A Ilha dos Homens-Peixe. E lá no começo do texto falei
sobre a cópia descarada né? Pois bem, dessa vez, o coitado plagiado foi o pobre
H.G. Wells e seu clássico A Ilha do Dr. Moreau, que havia sido
levado às telas dois anos antes num filme homônimo produzido pelo inescrupuloso
Samuel Z. Arkoff, com Burt Lancaster no elenco, e ainda antes disso, em A Ilha das Almas Selvagens com Charles
Laughton e Bela Lugosi. Para quem não conhece a trama, um maquiavélico
cientista vive isolado em uma ilha e lá faz terríveis experiências genéticas de
humanos com diversos tipos de animais. Pois bem, aqui no roteiro escrito a seis
mãos por Martino, Cesare Frugoni e Sergio Donati (além do irmão de Sergio,
Luciano Martino, também produtor do filme, tendo ajudado na concepção da
história), um grupo de náufragos de um navio que transportava um bando de
prisioneiros para uma ilha penitenciária vai parar nas praias de uma ilha
vulcânica que não está em nenhum mapa. O barco com esses sobreviventes,
chefiados pelo médico militar tenente Claude de Ross (Claudio Cassinelli)
subitamente é atacado por estranhas criaturas (que seriam os homens-peixe do
título, mas que em nenhum momento neste início de filme são mostrados
claramente) e poucos conseguem chegar com vida à ilha. Os desafortunados vão
morrendo um por um, ou por tomar um estranho líquido branco que pulsa do chão e
é extremamente venenoso, ou por cair em armadilhas no meio da floresta, ou ter
o rosto dilacerado por um mortal ataque de uma dessas criaturas mutantes que
como se não bastasse, possuem afiadas garras em suas nadadeiras. No final das
contas, apenas três sobreviventes acabam por encontrar o casarão de Edmond
Rackham (Richard Johnson) que é o maioral da ilha, controla os nativos locais
praticantes de vodu através da influência sobre sua sacerdotisa Shakira (que
infelizmente não lembra em nada a sua versão colombiana) e também mantém a bela
e infeliz Amanda Marvin (Barbara Bach – ex-Bond Girl e esposa de Ringo Starr)
sob domínio do medo. Acontece que o tenente desconfia que algo está errado
naquela ilha (jura?) e nós espectadores descobriremos quando vimos Amanda
saindo tarde da noite para o meio de uma lagoa, levando um líquido branco em
uma jarra para alimentar os homens-peixe, que na verdade é uma espécie de droga
que os controla. Aqui é a primeira vez que vemos como os monstros são mal
feitos! Até o Gill Man, feito 25 anos antes em O Monstro da Lagoa Negra é melhor do que
as criaturas de Martino. Roupas salafrárias de borracha com uma máscara
truqueira com olhos esbugalhados que ficam se mexendo para um lado e para o
outro dão o tom cômico involuntário à produção, culpa da pouca grana na mão de
Massimo Antonello Geleng. A saída de Martino então era ou filmá-los muito de
perto, ou muito de longe, para não expor todos os toscos detalhes. A maior
baboseira então está por vir, quando Claude descobre por meio de Rackham que na
verdade a ilha está localizada bem acima da cidade perdida de Atlântida (hã???)
e que os anfíbios são na verdade os descendentes dos atlantes que evoluíram
depois de milhares de anos para sobreviver embaixo d’água e na superfície, e o
inescrupuloso vilão os usa para trazer os perdidos tesouros submersos para ele,
já que são os únicos que conseguem descer a tamanha profundidade. Bom, então
você me pergunta: mas pera aí, aonde entra a parte da cópia de A Ilha do
Dr. Moreau? Apesar de até então o filme “andar sozinho”, tudo isso é lorota de
Rackham e na verdade, o pai de Amanda, o infame biólogo Prof. Ernest Marvin
(Joseph Cotten) foi fugido para a ilha depois de ser condenado por experiências
bizarras de transplante de órgãos animais e humanos e é o responsável por
transformar os nativos nesses seres peixes através de modificação genética.
Ahá, olha aí a história cuspida e escarrada do Dr. Moreau! Pelo menos quando
Claude adentra o laboratório de Marvin, é o que rende o momento mais bacana
desse filmeco, ao ver José, um dos prisioneiros sobreviventes que chegaram à
ilha e misteriosamente desapareceu anteriormente, dentro de um tanque em um
estágio do processo da transformação humano-pisciana. Mas apesar dos apesares,
sabe qual o principal defeito de A Ilha dos Homens-Peixe? A falta de
violência, gore e nudez gratuita, antes marca registrada do cinema de
Martino (lembra de Torso?). Aqui as mortes
são bem das fraquinhas, não há violência desmedida (até porque os movimentos
dos homens-peixe era seriamente comprometidos por aquela roupa de borracha
paupérria) e só vemos um vislumbre de Barbara Bach dentro de uma roupa branca
molhada coberta no corpo quando vai dar de mamar aos anfíbios. Oh, wait… Uma
curiosidade sobre A Ilha dos Homens-Peixe é que a versão repetida à
exaustão na Sessão das Dez era a versão original e europeia do filme, pois
ninguém menos que Roger Corman, o rei dos filmes B comprou os direitos para
distribuir o filme nos EUA pela sua nova produtora, a New World Pictures e
praticamente criou outra versão, editando-a e enxertando novas cenas apenas
para deixá-lo mais sangrento e ser exibido nas sessões grindhouse com
o título de “Screamers”. E como se não bastasse, ele gostou tanto da ideia
desses monstros subaquáticos que no ano seguinte lançaria sua gema Criaturas das Profundezas, obviamente
inspirado pelo clássico trash de Martino, mas com aquele toque
especial de Corman, com direito até a um estupros desses mutantes nas humanas e
muita sangreira.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/03/21/395-a-ilha-dos-homens-peixe-1979/
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