Direção: Kevin
Connor
Roteiro: Robert
Jaffe, Steven-Charles Jaffe
Produção: Robert
Jaffe, Steven-Charles Jaffe, Austen Jewell (Produtor Associado), Herb Jaffe
(Produtor Executivo)
Elenco: Rory Callhoun, Paul Linke, Nancy Parsons, Nina Axelrod,
Wolfman Jack
Motel Diabólico é um daqueles
emblemáticos trash oitentistas que traz nele todo o perfil da década
do gênero: é nonscense, divertido,
lunático, perverso e com suas doses de sangue e humor negro. Daqueles em que 11
entre 10 fãs do horror gostam e se divertem pacas assistindo. Afinal, Motel
Diabólico reúne durante toda sua metragem canibalismo, plantações humanas
(!?), serras elétricas, gente vestida com cabeça de porco, mau gosto, sujeira,
depravação, comédia pastelão, um ou outro peito de fora, crítica à religião e
ao sistema e por aí vai. Ou seja, não tem como não ser querido! E há de se
pensar: o que diabo se passa com os caipiras americanos, pois geralmente eles
sempre são psicopatas canibais nos filmes de terror? O diretor Kevin Connor
dirige essa fita como um influenciado pelo cinema setentista do Tobe Hooper
(que por sinal, originalmente fora cotado para dirigi-lo, quando o projeto
ainda era da Universal, antes de ser vetado pelo estúdio). A trama
de rednecks canibais, apesar de mais sutis (entenda isso como quiser)
que a família de Leatherface, claramente tem um que de O Massacre da Serra Elétrica, e a ideia de
utilizar um motel beira de estrada onde os hóspedes são transformados em
vítimas, também lembra o seu filme seguinte, Eaten Alive. A diferença é
que aqui os hóspedes não são usados como alimentos de um crocodilo de
estimação, e sim transformados em carne defumada e vendidos no motel e no
comércio local. É isso mesmo, o fazendeiro Vincent Smith (Rory Calhoun) ao lado
de sua irmã, Ida (Nancy Parsons, a eterna treinadora Balbricker de Porky’s
– A Casa do Amor e do Riso) além de gerirem esse simples e modesto motel localizado
na sua fazenda, espalham armadilhas pela estrada da cidadezinha que usam para
capturar suas vítimas, enterrá-las no fundo da sua fazenda, deixando somente as
cabeças para fora (como uma plantação humana mesmo!), cortar as suas cordas
vocais para não gritarem e mantê-las alimentadas (despejando uma gororoba em
suas gargantas por meio de um funil) – detalhe, sem usar agrotóxicos ou química
– e quando estiverem prontas para serem colhidas, são defumadas, misturadas com
carne de porco e servidas como o melhor presunto da região. Pois bem, acontece
que em uma dessas noites, Vincent ataca um casal de moto, e leva a bela
loirinha Terry (Nina Axelrod) para o motel, deixando-a sob seus cuidados,
alegando que seu namorado tinha morrido no acidente e sido enterrado. Só que o
casal tem mais um irmão adotivo, Bruce Smith (Paul Linke), que por sua vez é o
xerife da cidade, e ele acaba caindo de amores pela Terry, que por sua vez, se
apaixona pelo velho Vincent, seu salvador e benfeitor. Movido por ciúmes que
Bruce resolve começar a investigar os misteriosos desaparecimentos,
principalmente após o pedido de socorro de uma garota que vinha sendo
perseguida por Vincent, e acaba ligando os pontos e descobrindo as atrocidades
que seus irmãos cometiam e a origem daquela deliciosa e tenra carne que todos
adoravam. Tudo bem, a trama pode ser uma porcaria, as atuações tão péssimas
quanto exageradas e caricatas (claro que essa é a intenção), a trilha sonora de
comédia oitentista e fotografia e iluminação que deixam a desejar. Maaaas há
várias particularidades que fazem o filme ser o máximo (se a ideia de caipiras
canibais defumando carne humana e mantendo uma plantação de gente não tenha
sido o suficiente para você). Uma delas sem dúvida é a “fantasia” que Vincent
gosta de usar para vez ou outra atacar suas vítimas ou então para acompanha-lo
em sua jornada de preparação culinária: uma bizarra máscara de porco, que
combina perfeitamente com sua camisa xadrez, seu macacão jeans e sua
motosserra. Outras são as críticas subentendidas de cunho religioso e de
autoridade. Vira e mexe aparece um pastor na televisão, daqueles naipes
cafajestes ao melhor estilo evangelista televisivo brasileiro, pedindo doação e
subvertendo palavras da bíblia para sua comodidade, como o próprio Vincent o
faz, utilizando como cúmplice os dogmas e verdades absolutas da Igreja para
justificar suas barbáries, afinal, ele é amparado por Deus, busca caçar aqueles
que têm certo desvio de conduta e acredita fazer “Sua vontade”, cheio das boas
intenções, como acabar com dois problemas mundiais com essa sua solução
gastronômica: erradicar a fome e dar um jeito na superpopulação. Justo! A
crítica à autoridade está na forma do xerife Bruce, que certo momento tenta
impressionar a bela Terry levando-a para o Drive-In (para assistir ao
infame sci-fi dos anos 50, O Monstro que Deafiou o Mundo), só
que ele chega a um local onde vários carros estão parados com cidadãos usando
aquele point para dar seus amassos, e expulsa a todos abusando da
autoridade policial, para que ali ele fique sozinho com a moçoila, e assista ao
filme de binóculos e pede para que lá na delegacia o áudio seja transferido
para seu rádio policial (e aí estamos nos primórdios da pirataria). E ainda
nisso vai tentar bolinar Terry a força usando seu xaveco barato e sua
demonstração de poder. Ou seja, façam o que eu digo, mas não façam o que eu
faço. Mas tudo bem, essas sutilezas realmente não são o ponto forte de Motel
Diabólico (mesmo sendo deveras interessante). Só uma forma de tentar
deixa-lo, digamos, mais profundo. Porque o que é para valer mesmo é a
bagaceira, o humor negro e as cenas antológicas de tosquice desvairada. Que é
exatamente o que tornou o cinema de terror dos anos 80 tão singular e tão amado
para os fãs.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/04/14/414-motel-diabolico-1980/
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