quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

#414 1980 MOTEL DIABÓLICO (Motel Hell, EUA)


Direção: Kevin Connor
Roteiro: Robert Jaffe, Steven-Charles Jaffe
Produção: Robert Jaffe, Steven-Charles Jaffe, Austen Jewell (Produtor Associado), Herb Jaffe (Produtor Executivo)
Elenco: Rory Callhoun, Paul Linke, Nancy Parsons, Nina Axelrod, Wolfman Jack

Motel Diabólico é um daqueles emblemáticos trash oitentistas que traz nele todo o perfil da década do gênero: é nonscense, divertido, lunático, perverso e com suas doses de sangue e humor negro. Daqueles em que 11 entre 10 fãs do horror gostam e se divertem pacas assistindo. Afinal, Motel Diabólico reúne durante toda sua metragem canibalismo, plantações humanas (!?), serras elétricas, gente vestida com cabeça de porco, mau gosto, sujeira, depravação, comédia pastelão, um ou outro peito de fora, crítica à religião e ao sistema e por aí vai. Ou seja, não tem como não ser querido! E há de se pensar: o que diabo se passa com os caipiras americanos, pois geralmente eles sempre são psicopatas canibais nos filmes de terror? O diretor Kevin Connor dirige essa fita como um influenciado pelo cinema setentista do Tobe Hooper (que por sinal, originalmente fora cotado para dirigi-lo, quando o projeto ainda era da Universal, antes de ser vetado pelo estúdio). A trama de rednecks canibais, apesar de mais sutis (entenda isso como quiser) que a família de Leatherface, claramente tem um que de O Massacre da Serra Elétrica, e a ideia de utilizar um motel beira de estrada onde os hóspedes são transformados em vítimas, também lembra o seu filme seguinte, Eaten Alive. A diferença é que aqui os hóspedes não são usados como alimentos de um crocodilo de estimação, e sim transformados em carne defumada e vendidos no motel e no comércio local. É isso mesmo, o fazendeiro Vincent Smith (Rory Calhoun) ao lado de sua irmã, Ida (Nancy Parsons, a eterna treinadora Balbricker de Porky’s – A Casa do Amor e do Riso) além de gerirem esse simples e modesto motel localizado na sua fazenda, espalham armadilhas pela estrada da cidadezinha que usam para capturar suas vítimas, enterrá-las no fundo da sua fazenda, deixando somente as cabeças para fora (como uma plantação humana mesmo!), cortar as suas cordas vocais para não gritarem e mantê-las alimentadas (despejando uma gororoba em suas gargantas por meio de um funil) – detalhe, sem usar agrotóxicos ou química – e quando estiverem prontas para serem colhidas, são defumadas, misturadas com carne de porco e servidas como o melhor presunto da região. Pois bem, acontece que em uma dessas noites, Vincent ataca um casal de moto, e leva a bela loirinha Terry (Nina Axelrod) para o motel, deixando-a sob seus cuidados, alegando que seu namorado tinha morrido no acidente e sido enterrado. Só que o casal tem mais um irmão adotivo, Bruce Smith (Paul Linke), que por sua vez é o xerife da cidade, e ele acaba caindo de amores pela Terry, que por sua vez, se apaixona pelo velho Vincent, seu salvador e benfeitor. Movido por ciúmes que Bruce resolve começar a investigar os misteriosos desaparecimentos, principalmente após o pedido de socorro de uma garota que vinha sendo perseguida por Vincent, e acaba ligando os pontos e descobrindo as atrocidades que seus irmãos cometiam e a origem daquela deliciosa e tenra carne que todos adoravam. Tudo bem, a trama pode ser uma porcaria, as atuações tão péssimas quanto exageradas e caricatas (claro que essa é a intenção), a trilha sonora de comédia oitentista e fotografia e iluminação que deixam a desejar. Maaaas há várias particularidades que fazem o filme ser o máximo (se a ideia de caipiras canibais defumando carne humana e mantendo uma plantação de gente não tenha sido o suficiente para você). Uma delas sem dúvida é a “fantasia” que Vincent gosta de usar para vez ou outra atacar suas vítimas ou então para acompanha-lo em sua jornada de preparação culinária: uma bizarra máscara de porco, que combina perfeitamente com sua camisa xadrez, seu macacão jeans e sua motosserra. Outras são as críticas subentendidas de cunho religioso e de autoridade. Vira e mexe aparece um pastor na televisão, daqueles naipes cafajestes ao melhor estilo evangelista televisivo brasileiro, pedindo doação e subvertendo palavras da bíblia para sua comodidade, como o próprio Vincent o faz, utilizando como cúmplice os dogmas e verdades absolutas da Igreja para justificar suas barbáries, afinal, ele é amparado por Deus, busca caçar aqueles que têm certo desvio de conduta e acredita fazer “Sua vontade”, cheio das boas intenções, como acabar com dois problemas mundiais com essa sua solução gastronômica: erradicar a fome e dar um jeito na superpopulação. Justo! A crítica à autoridade está na forma do xerife Bruce, que certo momento tenta impressionar a bela Terry levando-a para o Drive-In (para assistir ao infame sci-fi dos anos 50, O Monstro que Deafiou o Mundo), só que ele chega a um local onde vários carros estão parados com cidadãos usando aquele point para dar seus amassos, e expulsa a todos abusando da autoridade policial, para que ali ele fique sozinho com a moçoila, e assista ao filme de binóculos e pede para que lá na delegacia o áudio seja transferido para seu rádio policial (e aí estamos nos primórdios da pirataria). E ainda nisso vai tentar bolinar Terry a força usando seu xaveco barato e sua demonstração de poder. Ou seja, façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço. Mas tudo bem, essas sutilezas realmente não são o ponto forte de Motel Diabólico (mesmo sendo deveras interessante). Só uma forma de tentar deixa-lo, digamos, mais profundo. Porque o que é para valer mesmo é a bagaceira, o humor negro e as cenas antológicas de tosquice desvairada. Que é exatamente o que tornou o cinema de terror dos anos 80 tão singular e tão amado para os fãs.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/04/14/414-motel-diabolico-1980/

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