Direção: Sergio
Martino
Roteiro: Cesare
Frugoni, Sergio Martino
Produção: Luciano
Martino
Elenco: Ursula
Andress, Stacy Keach, Claudio Cassinelli, Antonio Marsina, Franco Fantasia,
Lanfranco Spinola, Carlo Longhi
A grande diferença
entre A Montanha dos Canibais e todos os
demais filmes do ciclo canibal italiano é Sergio Martino na direção. Como já
disse antes aqui no blog, se você viu um filme de canibal, você viu todos. Só
que Martino é muito mais diretor do que qualquer Ruggero Deodato ou Umberto
Lenzi da vida, mesmo tendo seu trabalho subestimado perto de outros nomes do
cinema italiano. Martino transitou pelo giallo, pelo sobrenatural,
pelo exploitation, pela protogênese do slasher,
pelo eco-horror e claro, pelo boom do cinema
italiano canibal. E por mais que Ruggero Deodato e Umberto Lenzi tenham chutado
o pau da barraca em seus Cannibal Holocaust e Cannibal
Ferox respectivamente, A Montanha dos Canibais apela para valer
e é muito mais brutal que seus predecessores (e já controversos) Mundo Canibal e O Último Mundo dos
Canibais.
Toda aquela história formuláica do subgênero está presente. Ou seja, um grupo
de homens brancos perdidos na selva se deparam com uma tribo antropófaga
perdida, com seus rituais bizarros e primitivos e sua predileção por carne
humana. Pano de fundo para cenas chocantes e que são feitas para abalar a moral
e os bons costumes dos pudicos. Para isso, recheia o meio da fita com
canibalismo, evisceração, castração, crueldade com animais, nudez e esse aqui,
consegue até o mal gosto de uma cena de zoofilia, com um dos nativos transando
com uma porca gigante! É meu amigo. Sergio Martino entrou no ciclo canibal com
os dois pés no peito. Se em seus gialli já abusava de nudez e mortes
gráficas e violentas (taí Torso, que não me deixa
mentir, por exemplo), A Montanha dos Canibais é um prato cheio para a
veia imoral e sanguinária do diretor saltar. A imensidão daquela floresta tropical
é o local perfeito para ele enfiar seus personagens sem escrúpulos, mesquinhos,
egoístas, perdidos no meio da selva e tendo que lidar com esses nativos que
adoram tortura e carne humana. Em algumas praças, A Montanha dos
Canibais teve até absurdos 11 minutos cortados com relação a sua versão do
diretor (e no Reino Unido, entrou para a famigerada lista dos nasty
videos do DPP). A trama CTRL C + CTRL V de todos os demais filmes do
subgênero consiste em um grupo formado por Susan Stevensno (a bela e eterna
Bond Girl Ursula Andress, aquela loiraça da icônica cena da garota saindo do
mar em 007 Contra o Satânico Dr. No) cujo marido se perdeu em uma
expedição na Nova Guiné, seu cunhado Arthur Weisser (Antonio Marsina) e o
explorador e antropólogo Prof. Edward Foster (Stacy Keach). Filme vai, filme
vem, os guias que os acompanham vão morrendo violentamente (atacados por um
misterioso guerreiro tribal usando uma máscara ou sendo devorados por jacarés),
os três descobrem uma tribo no meio do mato, conduzidas pelo missionário Padre
Moses (Franco Fantasia). Manolo (Claudio Cassinelli), que vive nesta tribo, é
quem acabará ajudando os três a encontrarem a tal montanha dos canibais onde
vive a lendária tribo perdida e provavelmente seja o paradeiro do marido de
Susan. Todos acabam expulsos do acampamento por trazer morte, destruição e
fornicação ao local, quando umas das índias se engraça com Arthur e as
consequências são desastrosas. Mas não antes de descobrirem sobre a tribo dos
Poka, os antropófagos da vez, e que Foster havia fugido do local onde ficara
prisioneiro deles e fora obrigado a comer carne humana em um ritual. Ou seja, o
verdadeiro motivo dele em voltar para lá não é tentar encontrar o amigo
antropólogo perdido, e sim se vingar dos nativos, assim como os motivos de
Susan e Arthur também não são esses, mas pegar toda a reserva de urânio que há
dentro da caverna. Todos fazem Manolo de trouxa, mas todos irão pagar o pato. Os
canibais e sua aldeia vão aparecer somente depois de mais de 40 minutos de
filme e daí para frente é grosseria da brava, com aqueles efeitos de maquiagens
pobretões e falsos de doer típicos do cinema italiano, cenas gráficas de órgãos
sendo retirados e servidos de jantar, cobras e lagartos sendo esfolados vivos,
a gostosíssima Ursula Andress peladinha sendo besuntada em um óleo para ser
sacrificada ao Deus deles, animais sendo colocados pela produção para se
degladiarem (a cena do macaco que foi jogado para ser morto de forma agonizante
por uma cobra constritora é tão desnecessária quanto perversa) e até um canibal
anão! A culpa das cenas de violência gratuita com os animais foi mais uma vez
colocada nos famigerados produtores, que insistiram em chocar a plateia. Lenzi,
Deodato, Martino, todos eles tinha esse mesmo discurso pronto. Fora isso, se
sobressai aquela outra mensagem famosa sobre a atitude imperialista
desconfortável contra grupos ou minorias, colocando como motivo de repulsa,
revolta e xacota os costumes indígenas e as subculturas das tribos que vivem
isoladas nos extremos do terceiro mundo, aqui no sudeste asiático, e nas
florestas da América do Sul nos filmes posteriores. A Montanha dos
Canibais certamente não é o melhor exemplar do gênero e passa longe de ser
o melhor filme de Martino. Mas para os fãs de barbaridade e que não se cansam
com o repeteco, é sempre uma boa pedida.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/02/19/375-a-montanha-dos-canibais-1978/
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