quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

#375 1978 A MONTANHA DOS CANIBAIS (La montagna del dio cannibale / The Mountain of the Cannibal God / Slave of the Cannibal God / Prisoner of the Cannibal God, Itália)


Direção: Sergio Martino
Roteiro: Cesare Frugoni, Sergio Martino
Produção: Luciano Martino
Elenco: Ursula Andress, Stacy Keach, Claudio Cassinelli, Antonio Marsina, Franco Fantasia, Lanfranco Spinola, Carlo Longhi

A grande diferença entre A Montanha dos Canibais e todos os demais filmes do ciclo canibal italiano é Sergio Martino na direção. Como já disse antes aqui no blog, se você viu um filme de canibal, você viu todos. Só que Martino é muito mais diretor do que qualquer Ruggero Deodato ou Umberto Lenzi da vida, mesmo tendo seu trabalho subestimado perto de outros nomes do cinema italiano. Martino transitou pelo giallo, pelo sobrenatural, pelo exploitation, pela protogênese do slasher, pelo eco-horror e claro, pelo boom do cinema italiano canibal. E por mais que Ruggero Deodato e Umberto Lenzi tenham chutado o pau da barraca em seus Cannibal Holocaust e Cannibal Ferox respectivamente, A Montanha dos Canibais apela para valer e é muito mais brutal que seus predecessores (e já controversos) Mundo Canibal e O Último Mundo dos Canibais. Toda aquela história formuláica do subgênero está presente. Ou seja, um grupo de homens brancos perdidos na selva se deparam com uma tribo antropófaga perdida, com seus rituais bizarros e primitivos e sua predileção por carne humana. Pano de fundo para cenas chocantes e que são feitas para abalar a moral e os bons costumes dos pudicos. Para isso, recheia o meio da fita com canibalismo, evisceração, castração, crueldade com animais, nudez e esse aqui, consegue até o mal gosto de uma cena de zoofilia, com um dos nativos transando com uma porca gigante! É meu amigo. Sergio Martino entrou no ciclo canibal com os dois pés no peito. Se em seus gialli já abusava de nudez e mortes gráficas e violentas (taí Torso, que não me deixa mentir, por exemplo), A Montanha dos Canibais é um prato cheio para a veia imoral e sanguinária do diretor saltar. A imensidão daquela floresta tropical é o local perfeito para ele enfiar seus personagens sem escrúpulos, mesquinhos, egoístas, perdidos no meio da selva e tendo que lidar com esses nativos que adoram tortura e carne humana. Em algumas praças, A Montanha dos Canibais teve até absurdos 11 minutos cortados com relação a sua versão do diretor (e no Reino Unido, entrou para a famigerada lista dos nasty videos do DPP). A trama CTRL C + CTRL V de todos os demais filmes do subgênero consiste em um grupo formado por Susan Stevensno (a bela e eterna Bond Girl Ursula Andress, aquela loiraça da icônica cena da garota saindo do mar em 007 Contra o Satânico Dr. No) cujo marido se perdeu em uma expedição na Nova Guiné, seu cunhado Arthur Weisser (Antonio Marsina) e o explorador e antropólogo Prof. Edward Foster (Stacy Keach). Filme vai, filme vem, os guias que os acompanham vão morrendo violentamente (atacados por um misterioso guerreiro tribal usando uma máscara ou sendo devorados por jacarés), os três descobrem uma tribo no meio do mato, conduzidas pelo missionário Padre Moses (Franco Fantasia). Manolo (Claudio Cassinelli), que vive nesta tribo, é quem acabará ajudando os três a encontrarem a tal montanha dos canibais onde vive a lendária tribo perdida e provavelmente seja o paradeiro do marido de Susan. Todos acabam expulsos do acampamento por trazer morte, destruição e fornicação ao local, quando umas das índias se engraça com Arthur e as consequências são desastrosas. Mas não antes de descobrirem sobre a tribo dos Poka, os antropófagos da vez, e que Foster havia fugido do local onde ficara prisioneiro deles e fora obrigado a comer carne humana em um ritual. Ou seja, o verdadeiro motivo dele em voltar para lá não é tentar encontrar o amigo antropólogo perdido, e sim se vingar dos nativos, assim como os motivos de Susan e Arthur também não são esses, mas pegar toda a reserva de urânio que há dentro da caverna. Todos fazem Manolo de trouxa, mas todos irão pagar o pato. Os canibais e sua aldeia vão aparecer somente depois de mais de 40 minutos de filme e daí para frente é grosseria da brava, com aqueles efeitos de maquiagens pobretões e falsos de doer típicos do cinema italiano, cenas gráficas de órgãos sendo retirados e servidos de jantar, cobras e lagartos sendo esfolados vivos, a gostosíssima Ursula Andress peladinha sendo besuntada em um óleo para ser sacrificada ao Deus deles, animais sendo colocados pela produção para se degladiarem (a cena do macaco que foi jogado para ser morto de forma agonizante por uma cobra constritora é tão desnecessária quanto perversa) e até um canibal anão! A culpa das cenas de violência gratuita com os animais foi mais uma vez colocada nos famigerados produtores, que insistiram em chocar a plateia. Lenzi, Deodato, Martino, todos eles tinha esse mesmo discurso pronto. Fora isso, se sobressai aquela outra mensagem famosa sobre a atitude imperialista desconfortável contra grupos ou minorias, colocando como motivo de repulsa, revolta e xacota os costumes indígenas e as subculturas das tribos que vivem isoladas nos extremos do terceiro mundo, aqui no sudeste asiático, e nas florestas da América do Sul nos filmes posteriores. A Montanha dos Canibais certamente não é o melhor exemplar do gênero e passa longe de ser o melhor filme de Martino. Mas para os fãs de barbaridade e que não se cansam com o repeteco, é sempre uma boa pedida.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/19/375-a-montanha-dos-canibais-1978/


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