Direção: Meir Zarchi
Roteiro: Meir Zarchi
Produção: Meir Zarchi, Joseph Zbeda
Elenco: Camille Keaton, Eron Taber, Richard Pace, Anthony
Nichols, Gunter Kleemann
Só mesmo nos anos 70
que um filme como A Vingança de Jennifer poderia ser realizado. Cru, tosco, quase
amador, sem nenhum recurso financeiro e técnico, com péssimos atores, mas com
uma violência, sangue e nudez ímpares. A Vingança de Jennifer é um clássico do sexploitation. Seu
roteiro se resume a isso: agressão, brutalidade, barbárie e humilhação com uma
mulher, e depois o revide, frio, calculista, perverso e violento. Mas como a
própria tagline do filme diz: “nenhum júri da América iria condená-la”.
Será, ainda mais tratando-se da escrota sociedade machista em que vivemos, ou
ia ter neguinho falando que “ela pediu para ser estuprada”? Enfim, há muitas
questões a serem discutidas que o argumento de A
Vingança de Jennifer passa. Principalmente
o famoso ditado de que violência gera violência. E até que ponto uma pessoa
pode passar por uma experiência extremamente traumática, até tornar-se mental e
moralmente apta a vingar-se na mesma moeda? Claro que na verdade o roteirista e
diretor Meir Zarchi está dando lhufas para isso no fundo. Só queria mesmo era
chocar, mostrar cenas de estupro pesadíssimas e depois mortes sangrentas, de
forma brutal e realista. Mas é sempre bom nos atentarmos a essas discussões,
pelo bem da sociedade, né? Supostamente baseado em fatos reais, onde o diretor
encontrou uma garota nua e coberta de sangue, com o maxilar quebrado, vítima de
um estupro engatinhando para fora do Central Park, e a auxiliou na busca de
ajuda pela polícia e a levando até um hospital, A
Vingança de Jennifer acompanha a bela personagem título do filme (interpretada
por Camille Keaton, neta do famoso comediante Buster Keaton), uma aspirante a
escritora que deixa a cidade de Nova York para se refugiar no campo, onde aluga
uma casa à beira do lago e assim poder escrever seu primeiro romance. Mas a
cidade não é tão pacata quanto se imagina, pois um grupo de caipiras resolve
perturbar o sossego de Jennifer. Acreditando que ela está “dando sopa” com seus
biquínis e pernas de fora, e que todas as garotas nova-iorquinas são vadias
sedentas por sexo, eles usam esse discurso misógino para abordá-la no lago para
que seu amigo retardado, o empacotador Matthew (Richard Pace), perca a
virgindade com ela. Liderados por Johnny (Eron Tabor) e seguido por mais outros
três homens, Jennifer é estuprada, sodomizada, humilhada e espancada quase até
a morte. E não pense que essas cenas são aliviadas para a censura. Que nada. É
tudo extremamente gráfico e realista. No final, Johnny ordena que Matthew mate
a garota. Porém isso ele não consegue fazer e a deixa viva. Foi seu maior erro…
Toda esse trauma horrível libera um desejo assassino incontrolável por vingança
e um por um, ela vai dando aos seus algozes o que eles merecem. Se a vingança é
um prato que se come frio, no menu entram um enforcamento, uma machadada,
dilaceração por motor de barco e uma castração, em uma das cenas mais
agoniantes e impressionantes do cinema transgressor, mesmo sem ser explícita,
vendo apenas o jorro de sangue e se ouvindo os gritos do rapaz, deixado para
sangrar como um porco no abate. Grosseiro, tosco e apelativo ao extremo, A Vingança de Jennifer não teria uma vida
fácil nas salas de exibição. Foi exibido no ano de 78 em pouquíssimas grindhouses, e só em 1981 quando foi parar na mão de
Jerry Gross, distribuidor de filmes exploitation, que
comprou os direitos e mudou o nome original de Day
of the Woman pelo chocante I Spit on your Grave (tradução literal de
“Eu Cuspo em seu Túmulo”, nome SENSACIONAL, diga-se de passagem!!!!) que ele
ganhou fama nos cinemas de bairro e drive-ins e tornou-se cultuado como é hoje. O tema vingança sempre
foi bem comum no cinema. Antes mesmo de A Vingança de
Jennifer, o estupro seguido do revide, gênero conhecido como rape and revenge, também é utilizado
em outros filmes igualmente violentos lançados anteriormente, como Aniversário Macabro de Wes Craven e o sueco Thriller – A Cruel Picture (mesmo não sendo estupro propriamente dito, e
sim prostituição forçada). Além disso, fora esses exemplos do cinema exploitation, há outros filmes clássicos de vingança,
como Sob Domínio do Medo, de Sam Peckinpah, Desejo de Matar com Charles Bronson e
suas sequências, e os mais recentes Kill
Bill de
Quentin Tarantino e Old Boy de Park Chan-wook.
Outro filme para se citar com uma cena de estupro tão chocante e incômoda é o
francês Irreversível de Gaspar Noé. É de se admirar que no mundo coxa em que
vivemos hoje, um filme tão absurdo quanto A Vingança de
Jennifer ganhasse um remake. É uma das provas cabais que os roteiristas de
Hollywood se afogaram no mar da falta de criatividade e estão resgatando qualquer
filme. Mas o mais chocante é que a refilmagem é boa e também bastante violenta,
com uma cena de estupro que também incomoda (mas não tão explícita e realista
quanto o original) e as vinganças são muito mais mirabolantes e brutais, afinal
foi feito para a geração Jogos Mortais. Aqui
no Brasil, ele levou o infeliz título de Doce Vingança, dado
pela inescrupulosa Paris Filmes, na tentativa de enganar possíveis espectadores
que procurassem uma comédia romântica com a Reese Whiterspoon ou com a
Katherine Heigl. Já pensou?
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/28/382-a-vinganca-de-jennifer-1978/
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