quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

#382 1978 A VINGANÇA DE JENNIFER (I Spit on your Grave / Day of the Woman, EUA)


Direção: Meir Zarchi
Roteiro: Meir Zarchi
Produção: Meir Zarchi, Joseph Zbeda
Elenco: Camille Keaton, Eron Taber, Richard Pace, Anthony Nichols, Gunter Kleemann

Só mesmo nos anos 70 que um filme como A Vingança de Jennifer poderia ser realizado. Cru, tosco, quase amador, sem nenhum recurso financeiro e técnico, com péssimos atores, mas com uma violência, sangue e nudez ímpares. A Vingança de Jennifer é um clássico do sexploitation. Seu roteiro se resume a isso: agressão, brutalidade, barbárie e humilhação com uma mulher, e depois o revide, frio, calculista, perverso e violento. Mas como a própria tagline do filme diz: “nenhum júri da América iria condená-la”. Será, ainda mais tratando-se da escrota sociedade machista em que vivemos, ou ia ter neguinho falando que “ela pediu para ser estuprada”? Enfim, há muitas questões a serem discutidas que o argumento de A Vingança de Jennifer passa. Principalmente o famoso ditado de que violência gera violência. E até que ponto uma pessoa pode passar por uma experiência extremamente traumática, até tornar-se mental e moralmente apta a vingar-se na mesma moeda? Claro que na verdade o roteirista e diretor Meir Zarchi está dando lhufas para isso no fundo. Só queria mesmo era chocar, mostrar cenas de estupro pesadíssimas e depois mortes sangrentas, de forma brutal e realista. Mas é sempre bom nos atentarmos a essas discussões, pelo bem da sociedade, né? Supostamente baseado em fatos reais, onde o diretor encontrou uma garota nua e coberta de sangue, com o maxilar quebrado, vítima de um estupro engatinhando para fora do Central Park, e a auxiliou na busca de ajuda pela polícia e a levando até um hospital, A Vingança de Jennifer acompanha a bela personagem título do filme (interpretada por Camille Keaton, neta do famoso comediante Buster Keaton), uma aspirante a escritora que deixa a cidade de Nova York para se refugiar no campo, onde aluga uma casa à beira do lago e assim poder escrever seu primeiro romance. Mas a cidade não é tão pacata quanto se imagina, pois um grupo de caipiras resolve perturbar o sossego de Jennifer. Acreditando que ela está “dando sopa” com seus biquínis e pernas de fora, e que todas as garotas nova-iorquinas são vadias sedentas por sexo, eles usam esse discurso misógino para abordá-la no lago para que seu amigo retardado, o empacotador Matthew (Richard Pace), perca a virgindade com ela. Liderados por Johnny (Eron Tabor) e seguido por mais outros três homens, Jennifer é estuprada, sodomizada, humilhada e espancada quase até a morte. E não pense que essas cenas são aliviadas para a censura. Que nada. É tudo extremamente gráfico e realista. No final, Johnny ordena que Matthew mate a garota. Porém isso ele não consegue fazer e a deixa viva. Foi seu maior erro… Toda esse trauma horrível libera um desejo assassino incontrolável por vingança e um por um, ela vai dando aos seus algozes o que eles merecem. Se a vingança é um prato que se come frio, no menu entram um enforcamento, uma machadada, dilaceração por motor de barco e uma castração, em uma das cenas mais agoniantes e impressionantes do cinema transgressor, mesmo sem ser explícita, vendo apenas o jorro de sangue e se ouvindo os gritos do rapaz, deixado para sangrar como um porco no abate. Grosseiro, tosco e apelativo ao extremo, A Vingança de Jennifer não teria uma vida fácil nas salas de exibição. Foi exibido no ano de 78 em pouquíssimas grindhouses, e só em 1981 quando foi parar na mão de Jerry Gross, distribuidor de filmes exploitation, que comprou os direitos e mudou o nome original de Day of the Woman pelo chocante I Spit on your Grave (tradução literal de “Eu Cuspo em seu Túmulo”, nome SENSACIONAL, diga-se de passagem!!!!) que ele ganhou fama nos cinemas de bairro e drive-ins e tornou-se cultuado como é hoje. O tema vingança sempre foi bem comum no cinema. Antes mesmo de A Vingança de Jennifer, o estupro seguido do revide, gênero conhecido como rape and revenge, também é utilizado em outros filmes igualmente violentos lançados anteriormente, como Aniversário Macabro de Wes Craven e o sueco Thriller – A Cruel Picture (mesmo não sendo estupro propriamente dito, e sim prostituição forçada). Além disso, fora esses exemplos do cinema exploitation, há outros filmes clássicos de vingança, como Sob Domínio do Medo, de Sam Peckinpah, Desejo de Matar com Charles Bronson e suas sequências, e os mais recentes Kill Bill de Quentin Tarantino e Old Boy de Park Chan-wook. Outro filme para se citar com uma cena de estupro tão chocante e incômoda é o francês Irreversível de Gaspar Noé. É de se admirar que no mundo coxa em que vivemos hoje, um filme tão absurdo quanto A Vingança de Jennifer ganhasse um remake. É uma das provas cabais que os roteiristas de Hollywood se afogaram no mar da falta de criatividade e estão resgatando qualquer filme. Mas o mais chocante é que a refilmagem é boa e também bastante violenta, com uma cena de estupro que também incomoda (mas não tão explícita e realista quanto o original) e as vinganças são muito mais mirabolantes e brutais, afinal foi feito para a geração Jogos Mortais. Aqui no Brasil, ele levou o infeliz título de Doce Vingança, dado pela inescrupulosa Paris Filmes, na tentativa de enganar possíveis espectadores que procurassem uma comédia romântica com a Reese Whiterspoon ou com a Katherine Heigl. Já pensou?
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/02/28/382-a-vinganca-de-jennifer-1978/

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