sábado, 19 de dezembro de 2015

#391 1979 FANTASMA (Phantasm, EUA)


Direção: Don Coscarelli
Roteiro: Don Coscarelli
Produção: D.A. Coscarelli, Paul Pepperman
Elenco: Michael Baldwin, Bill Thornbury, Reggie Bannister, Kathy Lester, Terrie Kalbus, Angus Scrimm

OK, temos que respeitar os clássicos. Fantasma é um filme de terror cult, que deixou muita molecada em parafusos, traz um dos personagens mais icônicos do gênero, o Tall Man, e foi feito na cara e na coragem por um iniciante e guerreiro Don Coscarelli. Mas tenho que confessar que o filme não me desce. Acho muito ruim, chato, sem pé nem cabeça e por mais que eu o assista, não consigo gostar. Opinião pessoal, sabe como é. Mas meu gosto não invalida sua necessidade de estar neste blog como o devido clássico que é. É cinema barato que apela para a criatividade. Dirigido, escrito, fotografado, co-produzido e editado pro Coscarelli com um orçamento de 300 mil dólares, atores amadores e gravado só aos finais de semana, já que os equipamentos necessários eram alugados em uma sexta-feira e eram entregues na segunda, para que fossem pagas apenas uma diária, levando quase um ano para ficar pronto. Cinema independente até a última gota de suor, o que já é louvável. Além disso, rola uma pegada folk em Fantasma, uma pegada interiorana já que é ambientado em uma típica cidadezinha dos EUA, mas que nas suas entrelinhas fala sobre aceitação e sentir-se deslocado, não pertencer ao local onde vive ou quadro social ali existente. Também é sobre dor da perda, descobertas sexuais e taras e principalmente sobre o medo da morte, que sim, é o maior medo de qualquer ser vivo. De como nem com a morte, o chamado descanso eterno, teremos sossego e podemos ser transformados em escravos anões de uma força maligna personificada na figura de um coveiro interdimensional alto pra chuchu. A premissa de Fantasma é de bizarrice atrás da bizarrice. Além do sinistro Tall Man interpretado por Angus Scrimm (que também se transforma em uma loira gostosona maneater às vezes), temos esferas voadoras assassinas, anões malignos que se vestem como os Jawas deStar Wars, sangue amarelo que jorram de dedos decepados que depois se transformam em moscas esquisitas… Tudo bem sem noção, que prende (e impressiona) o espectador pela esquisitice. Tanto as críticas positivas e negativas, e os motivos que o levou a se tornar um objeto de culto e estar sempre presente nas listas de melhores filmes de terror é por conta da narrativa surreal e a imagética que brinca com a tênue linha sobre o que é sonho e o que é realidade. A história surgiu na mente de Coscarelli em um sonho que teve durante o final de sua adolescência, quando sonhou que estava fugindo por longos corredores de mármore perseguido por uma esfera prateada que queria penetrar em seu crânio com uma agulha. Deste momento onírico do diretor e roteirista surgiu a mais emblemática cena do longa, quando essa esfera atinge a cabeça de uma vítima dentro de um mausoléu e começa a sair um potente esguicho de sangue. A trama envolve três pessoas: Mike (Michael Baldwin), um garoto de 13 anos que parece não ter medo de nada, exceto que seu irmão, o andarilho metido a rock ‘n’ roll, Jody (Bill Thornbury), pegue sua moto e parta sem destino, após os pais deles terem morrido em um trágico acidente e os deixado órfãos; e o melhor amigo deles, o sorveteiro boa praça Reggie (Reggie Bannister). Eles estarão às voltas com o terrível Tall Man que anda profanando túmulos e assassinando outros membros da comunidade (geralmente usando uma tática de se transformar em mulher) para torna-los anões (que são interpretados por crianças) enviados para uma maligna dimensão paralela onde são feitos de escravos. E há um gigantesco ponto de interrogação em seu final sobre o que realmente aconteceu ou foi devaneio (ou válvula de escape psicológica) do garoto. Mas o grande trunfo de Fantasma é a criação de Tall Man, com todo seu visual sinistro, e como ele se tornou um ícone do horror em uma década que não havia ícones do horror. Desde os monstros da Universal e suas reformulações da Hammer, o gênero não via vilões marcantes há um bom tempo. O niilismo e hedonismo dos anos 70 não permitia essa construção, e durante todo uma década, apenas Leatherface fora criado, mas que tornaria-se um ícone propriamente dito algum tempo depois, e Michael Myers havia nascido apenas um ano antes do lançamento do filme de Coscarelli e não se tornado um movie-maniac ainda. Dr. Phibes era muito excêntrico e camp para se encaixar neste grupo. Então aquele grande coveiro com seu terno preto e sobrancelha levantada foi sim um sujeito que meteu medo em muita gente e enraizou-se no imaginário popular dos fãs. Fantasma é um horror existencialista que mistura elementos para lá de estranhos, gore barato e improvisado, e jogos mentais psicológicos que causam uma mistura desfocada proposital entre a vigília e o sono, misturado com acontecimentos bizarros que se alocam na imaginação de um garoto perturbado pela perda. Consegue ser complexo enquanto simples e isso é um ganho. Talvez eu ainda tenha que assistir mais algumas (muitas) vezes para realmente gostar do filme, mas ainda assim o recomendo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/03/15/391-fantasma-1979/

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