Direção: Don
Coscarelli
Roteiro: Don
Coscarelli
Produção: D.A.
Coscarelli, Paul Pepperman
Elenco: Michael Baldwin, Bill Thornbury, Reggie Bannister, Kathy
Lester, Terrie Kalbus, Angus Scrimm
OK, temos que
respeitar os clássicos. Fantasma é um filme de
terror cult, que deixou muita molecada em parafusos, traz um dos personagens
mais icônicos do gênero, o Tall Man, e foi feito na cara e na coragem por um
iniciante e guerreiro Don Coscarelli. Mas tenho que confessar que o filme não
me desce. Acho muito ruim, chato, sem pé nem cabeça e por mais que eu o
assista, não consigo gostar. Opinião pessoal, sabe como é. Mas meu gosto não
invalida sua necessidade de estar neste blog como o devido clássico que é. É
cinema barato que apela para a criatividade. Dirigido, escrito, fotografado,
co-produzido e editado pro Coscarelli com um orçamento de 300 mil dólares,
atores amadores e gravado só aos finais de semana, já que os equipamentos
necessários eram alugados em uma sexta-feira e eram entregues na segunda, para
que fossem pagas apenas uma diária, levando quase um ano para ficar pronto.
Cinema independente até a última gota de suor, o que já é louvável. Além disso,
rola uma pegada folk em Fantasma, uma pegada interiorana já que
é ambientado em uma típica cidadezinha dos EUA, mas que nas suas entrelinhas
fala sobre aceitação e sentir-se deslocado, não pertencer ao local onde vive ou
quadro social ali existente. Também é sobre dor da perda, descobertas sexuais e
taras e principalmente sobre o medo da morte, que sim, é o maior medo de
qualquer ser vivo. De como nem com a morte, o chamado descanso eterno, teremos
sossego e podemos ser transformados em escravos anões de uma força maligna
personificada na figura de um coveiro interdimensional alto pra chuchu. A
premissa de Fantasma é de bizarrice atrás da bizarrice. Além do
sinistro Tall Man interpretado por Angus Scrimm (que também se transforma em
uma loira gostosona maneater às
vezes), temos esferas voadoras assassinas, anões malignos que se vestem como os
Jawas deStar Wars, sangue amarelo que jorram de dedos decepados que depois se
transformam em moscas esquisitas… Tudo bem sem noção, que prende (e
impressiona) o espectador pela esquisitice. Tanto as críticas positivas e
negativas, e os motivos que o levou a se tornar um objeto de culto e estar
sempre presente nas listas de melhores filmes de terror é por conta da
narrativa surreal e a imagética que brinca com a tênue linha sobre o que é
sonho e o que é realidade. A história surgiu na mente de Coscarelli em um sonho
que teve durante o final de sua adolescência, quando sonhou que estava fugindo
por longos corredores de mármore perseguido por uma esfera prateada que queria
penetrar em seu crânio com uma agulha. Deste momento onírico do diretor e
roteirista surgiu a mais emblemática cena do longa, quando essa esfera atinge a
cabeça de uma vítima dentro de um mausoléu e começa a sair um potente esguicho
de sangue. A trama envolve três pessoas: Mike (Michael Baldwin), um garoto de
13 anos que parece não ter medo de nada, exceto que seu irmão, o andarilho
metido a rock ‘n’ roll, Jody (Bill Thornbury), pegue sua moto e parta sem
destino, após os pais deles terem morrido em um trágico acidente e os deixado
órfãos; e o melhor amigo deles, o sorveteiro boa praça Reggie (Reggie
Bannister). Eles estarão às voltas com o terrível Tall Man que anda profanando
túmulos e assassinando outros membros da comunidade (geralmente usando uma
tática de se transformar em mulher) para torna-los anões (que são interpretados
por crianças) enviados para uma maligna dimensão paralela onde são feitos de
escravos. E há um gigantesco ponto de interrogação em seu final sobre o que
realmente aconteceu ou foi devaneio (ou válvula de escape psicológica) do
garoto. Mas o grande trunfo de Fantasma é a criação de Tall Man, com
todo seu visual sinistro, e como ele se tornou um ícone do horror em uma década
que não havia ícones do horror. Desde os monstros da Universal e suas
reformulações da Hammer, o gênero não via vilões marcantes há um bom tempo. O
niilismo e hedonismo dos anos 70 não permitia essa construção, e durante todo
uma década, apenas Leatherface fora criado, mas que tornaria-se um ícone
propriamente dito algum tempo depois, e Michael Myers havia nascido apenas um
ano antes do lançamento do filme de Coscarelli e não se tornado
um movie-maniac ainda. Dr. Phibes era muito excêntrico e camp para se encaixar neste grupo.
Então aquele grande coveiro com seu terno preto e sobrancelha levantada foi sim
um sujeito que meteu medo em muita gente e enraizou-se no imaginário popular
dos fãs. Fantasma é um horror existencialista que mistura elementos para
lá de estranhos, gore barato e improvisado, e jogos mentais
psicológicos que causam uma mistura desfocada proposital entre a vigília e o
sono, misturado com acontecimentos bizarros que se alocam na imaginação de um
garoto perturbado pela perda. Consegue ser complexo enquanto simples e isso é
um ganho. Talvez eu ainda tenha que assistir mais algumas (muitas) vezes para
realmente gostar do filme, mas ainda assim o recomendo.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/03/15/391-fantasma-1979/
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