quinta-feira, 31 de março de 2016

HE NEVER DIED (EUA, Canadá, 2014)


#543 1987 TERROR NA ÓPERA (Opera / Terror at the Opera, Itália)


Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Franco Ferrini
Produção: Dario Argento; Mario Cecchi Gori, Vittorio Cecchi Gori (Coprodutores); Ferdinando Caputo (Produtor Executivo)
Elenco: Cristina Marsillach, Ian Charleson, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Coralina Cataldi-Tassoni, Antonella Vitale

Assistir a um filme de Dario Argento é assistir a todos os filmes de Dario Argento, e Terror na Ópera é a prova cabal disso, quer você goste ou não. E mais, essa volta ao giallo que o consagrou com sua trilogia dos animais e Prelúdio Para Matar, é uma espécie de compêndio de todos os elementos cinematográficos do diretor italiano nas duas décadas anteriores e considerados por muitos como seu último grande trabalho. Quando falo em compêndio, isso vale para o bem ou para o mal. Argento em seu projeto mais ambicioso e de maior orçamento (que acabou se mostrando um fracasso retumbante de público e crítica) mais uma vez coloca acima de tudo sua busca pela estética perfeita, abusando de ângulos inusitados, cortes abruptos, travelling ousados, câmera subjetiva emulando a visão de assassino, testemunha e até corvos, colocando o espectador quase que sempre no primeiro plano das ações. Em contrapartida, Terror na Ópera derrapa, e feio, no roteiro (que convenhamos, nunca foi muito a preocupação do diretor), com aquela mesma ladainha gialli que estamos carecas de ver em praticamente todas as produções do gênero, com seus whodunit à la Edgar Wallace, furos inexplicáveis no roteiro, situações pra lá de inverossímeis e um daqueles finais rocambolescos (que obviamente envolve sexismo e trauma de infância) onde se você prestar o mínimo de atenção já sabe quem é o assassino na primeira vez que ele aparece na película. Isso sem mencionar a sempre péssima direção de atores características. Então talvez esse seja o maior bode de Terror na Ópera. Faz lá mais de dez anos queSuspira (para mim, sua obra-prima) fora lançado e desde então, por mais que seja absolutamente do caralho a forma com que Argento conduza suas obras do ponto de vista artesão de se fazer cinema impecável, o uso pontual de trilha sonora (mecânica, efeitos sonoros e a estrambólica mistura de música clássica, rock progressivo e heavy metal) e a sempre exagerada ultraviolência que atinge o limite do impressionável e aflitivo aqui, simplesmente você não consegue manter um linha de interesse (e de raciocínio) em todo o longa que não seja essas imagens e sequências maravilhosas esparsas. Escrito por Argento e Franco Ferrini, uma jovem soprano, Betty (Cristina Marsillach, considerada pelo cineasta a atriz mais problemática com quem já trabalhou) é escolhida para atuar na ópera Macbeth de Verdi no lugar de uma grande atriz que se machucou (colocada na conta de uma espécie de maldição ao redor da obra), dirigida de forma inusitada e inovadora por um conhecido diretor de filmes de terror, Marco (Ian Charleson), inspirado no próprio Argento. A ópera conta com efeitos especiais grandiosos e uma revoada de corvos que vira e mexe são colocados em cena. Só que um assassino psicopata maníaco pervertido vestido de luva preta de couro (sempre) e máscara começa a perseguir Betty e matar impiedosamente membros da produção (e corvos, informação muito importante uma vez que eles serão responsáveis pela descoberta da identidade do assassino, já que segundo os roteiristas, eles são criaturas vingativas e nunca se esquecem de quem lhes fizera mal). E por falar em “matar impiedosamente”, esse definitivamente é o ponto alto da película para os fãs do Argento, onde somos agraciados com brutalidade sangrenta ímpar. E não é só isso, o sadismo do assassino da vez extrapola qualquer outro vilão do giallo italiano, e olha que já vimos todo tipo de perversão. O psicopata simplesmente amarra Betty e coloca esparadrapo com agulhas em suas pálpebras para que ela não possa fechar seus olhos e assista impassível todas as mortes aterradoras de suas vítimas. Então dá-lhe facadas, tesouradas e por aí vai. Outra cena não menos que fantástica é quando a personagem de Daria Nicolodi (já ex-mulher de Argento nessa altura do campeonato) está olhando pelo buraco da fechadura e toma um tiro no olho em câmera lenta. Mas como disse lá em cima, o problema é que a história não consegue se sustentar. Impressionante como Betty, depois da experiência traumática de ser testemunha ocular da primeira vítima, simplesmente NÃO CHAMA a polícia, e tem um diálogo PÉSSIMO sobre sua frigidez com Marco no carro, como se absolutamente nada de, no mínimo escabroso, tivesse acontecido. Toda a virtuose do diretor e sua obsessão pela imagem consegue apenas criar uma espécie de rejeição absurda do espectador no decorrer do filme de tão canhestro é seu desenrolar. E depois de descobrirmos o assassino (no que chamo do “estratagema dos corvos”), suas motivações sexuais e o suposto embate final com a mocinha que sobrevive, ainda há tempo para um epílogo completamente desnecessário, e vou abrir espaço para um 
ALERTA DE SPOILER para comentá-lo, então volte no próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Depois de forjar seu próprio incêndio, demora UMA CARA para a polícia descobrir que o assassino fugiu e que um manequim, sim um manequim, havia sido queimado em seu lugar. Na boa, plástico derretendo e gente derretendo, você descobre no MESMO segundo a diferença. A película ainda representa uma espécie de ponto de ruptura na carreira e vida de Argento, que pontua o final de um ciclo estilístico do diretor, iniciado em Suspiria (com todos os demais filmes tendo seu título original em latim: InfernoTenebrePhenomena) que ora engendrou pelo sobrenatural, ora pelo suspense italiano. Mas infelizmente, a obra vindoura de Argento foi para o buraco, nunca mais se encontrou até hoje, e está aí Drácula 3D que não me deixa mentir. Então aprecie Terror na Ópera com fervor literalmente como se fosse o último.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/14/543-terror-na-opera-1987/

#542 1987 QUANDO CHEGA A ESCURIDÃO (Near Dark, EUA)


Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Kathryn Bigelow, Eric Red /Produção: Steven-Charles Jaffe; Eric Red (Coprodutor); Mark Allan, Diane Nabatoff (Produtores Associados); Edward S. Feldman, Charles R. Meeker (Produtores Executivos)
Elenco: Adrian Pasdar, Jenny Wright, Lance Henriksen, Bill Paxton, Jenette Goldstein, Tim Thomerson

Mais um daqueles bons filmes de vampiros dos anos 80. Esse é Quando Chega a Escuridão, western horror vampiresco da diretora Kathryn Bigelow, futura senhora James Cameron e futura ganhadora do Oscar. Lançado no ano de 1987, prolífico para os chupadores de sangue, mesmo ano de lançamento de Os Garotos Perdidos, Quando Chega a Escuridão possui razoavelmente a mesma temática de seu irmão dirigido por Joel Schumacher e muito mais conhecido, abordando clãs de vampiros modernos que fazem suas vítimas incautas em pedaços de chão esquecidos dos EUA (nesse caso, no centro oeste americano), deixando completamente para trás todo seu aparato gótico e aristocrático que um dia a criatura já teve sob seus ombros. E mais, mesmo passando por impopular, arrisco-me a dizer que tirando todo o sentimentalismo de lado, o fato de ter assistido quando era criança, a turma de Bill Paxton, Lance Henrikssen e companhia comem com farinha os vampiros liderados por Kiefer Sutherland. Na verdade Quando Chega a Escuridão é superior a Os Garotos Perdidos, afinal vemos dois estilos bastante distintos de cinema, enquanto o primeiro preza pela estilização total dos anos 80 em todos os seus aspectos, e principalmente, na proposta leve e exagerada, a fita de Bigelow escrita por ela e por Eric Red, de A Morte Pede Carona, é um road movie muito mais introspectivo, sentimental, bruto e cruel. Seguimos o infortúnio do jovem Caleb Colton (Adrian Pasdar), que se engraça com uma forasteira, Mae (Jenny Wright), cativante e misteriosa no primeiro momento, mas que é uma sugadora de sangue, e o fato de sabermos isso durante seu papo melancólico, que um matuto como Caleb não entende lhufas, e principalmente durante a forma como reluta em se envolver e na urgência de chegar em casa antes do sol nascer, cria um clima de tensão constante onde parece que o ar pode ser cortado com uma faca de rocambole. Mas a menina transforma o caubói apaixonado em vampiro e depois de quase torrar com a luz do sol, não há outra escapatória senão juntar-se ao bando de vampiros errantes, desajustados e párias da sociedade, que vem a ser a família de Mae. O líder é Jesse Hooker (Henriksen), que profere uma das melhores frases do longa ao ser questionado sobre sua idade (“vamos colocar desta forma: eu lutei pelo sul” – referindo-se a Guerra de Secessão), e é composto pelo sádico alucinado Severen (que seria facilmente um Malkavian se estivéssemos falando do RPG, Vampiro – A Máscara), papel de Paxton, Diamond back (Jenette Goldstein) e a criança (apenas na aparência, claro), Homer (Joshua John Miller). Se você perceber bem, todos eles (com exceção de Joshua Miller) são atores de Aliens – O Resgate, que foi dirigido por? James Cameron, com quem Bigelow casaria dali a dois anos (e separaria depois de outros dois), e indicou-os para o elenco do filme. Michael Biehn também foi considerado para o papel de Henriksen, mas acabou recusando-o. E uma curiosidade é que Johnny Depp e D.B. Sweeney fizeram testes para o protagonista. Voltando à trama, acontece que a personalidade tranquila e pacata de Caleb não condiz com o comportamento errático e psicopata do bando, principalmente no quesito de ter de assassinar seres humanos para se alimentar. O ponto alto, quer dizer, altíssimo, de Quando Chega a Escuridão é exatamente a emblemática cena do bar, onde ausentes de qualquer compaixão, moral e apreço pelo ser humano, que é sua refeição, a gangue trucida o barmen e todos os ali presentes, exatamente para que também sirva como uma prova de fogo para Caleb em tornar-se um deles, mas que acaba falhando, deixando um sobrevivente, que levará a polícia ao encalço dos vampiros. Mas o que vai gerar uma cisma no grupo é quando a sua família, nas figuras de seu pai, Loy (Tim Thomerson) e Sarah (Marcie Leeds) está em perigo. Quando Chega a Escuridão mantém-se em um clima fora da lei seguindo esse bando de assassinos vampirescos da estrada, até seu embate – maniqueísta até demais – final, quando mais uma vez os elementos do faroeste (que era a intenção original de diretora e roteirista, mas como o gênero estava morto naquela década, resolveram pegar exatamente o que estava em voga – o terror – e fazer um mix das duas escolas) se colocam em cena (só faltou um chaparral noturno rolando por ali). Vale também uma menção para a excelente maquiagem, principalmente quando os mortos-vivos estão queimando sob o perigoso efeito do sol, criada por Gordon J. Smith e a trilha sonora eletrônica industrial do grupo Tangerine Dream. O grande problema é a solução canhestra e apressadíssima, dando uma nova teoria sobre o vampirismo, com uma resolução deveras fácil para algo que parecia ser uma maldição secular, eliminando todo e qualquer elemento místico dos seres da noite. Mas que também se percebe ser mais uma questão de escolha do que qualquer outra coisa. Tudo sobre o amor, o bem e o mal, redenção, que congrega para um final bem piegas, mas é o que tem para hoje. Quando Chega a Escuridão fracassou na bilheteria, muito por conta da falta de investimento em marketing da produtora de Dino de Laurentiis que faliria em breve, acabou até tornando-se cult, mas infelizmente não sobreviveu como outros tantos do gênero lançado no mesmo período, Mas uma revisita ao longa é interessantíssimo, tendo em vista a assepsia pela qual o monstro histórico passou na última década, culpa de literatura pré-adolescente de quinta, e como o lado sádico bandido fora-da-lei e Brujah (mais uma vez pegando um clã do RPG como exemplo) rende um baita filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/11/542-quando-chega-a-escuridao-1987/

#541 1987 O PRÍNCIPE DAS SOMBRAS (Prince of Darkness, EUA)

Direção: John Carpenter
Roteiro: John Carpenter
Produção: Larry J. Franco; Andre Blay, Shep Gordon (Produtores Executivos)
Elenco: Donald Pleasence, Jameson Parker, Victor Wong, Lisa Blount, Dennis Dun, Susan Blanchard, Anne Marie Howard, Alice Cooper

Não sei se tenho uma opinião completamente formada sobre Príncipe das Sombras. Na real nem sei, no alto da minha ignorância, se consegui entender todo o samba do crioulo doido que John Carpenter enfiou em sua película. Ao mesmo tempo em que a fita é enigmática e prende a atenção do espectador, ela se perde em um monte de baboseiras metafísicas, religiosas e científicas que não fazem o menor nexo, misturando na mesma receita de bolo esquisito o sobrenatural, o filho do capeta na forma de um líquido verde, sociedades secretas dentro da Igreja, possessão demoníaca, zumbis e viagens no tempo. Na verdade, Carpenter detestou trabalhar para grandes estúdios, principalmente depois do resultado nada esperado de seu filme anterior, o divertido clássico da Sessão da Tarde, Os Aventureiros do Bairro Proibido, e resolveu tocar o rale-se e voltar para o terror independente, terreno que conhecia muito bem. Fechando contrato com a Alive Films, em troca de total liberdade criativa, o diretor escreveu o roteiro de Príncipe das Sombras sob o pseudônimo de Martin Quatermass, inspirado no famoso professor britânico e cientista de foguete, Bernard Quatermass e mandou ver na sua loucura criativa. Pois bem, o Padre Loomis (que deve ser irmão gêmeo do Dr. Sam Loomis, vivido também por Donald Pleasence em Halloween – A Noite do Terror) é chamado a uma igreja para iniciar uma série de investigação após a morte de um dos párocos, quando encontrada uma chave que dá acesso a um salão secreto com um misterioso (e maligno) líquido verde dentro de um tanque de contenção. Na real, apertando aqui um pouco o fast forward, durante gerações um padre foi designado para ser o guardião do tal líquido, membro de uma sociedade secreta chamada A Irmandade do Sono (?!). O conteúdo desse recipiente nada mais é que O FILHO DO TINHOSO, muito bem preservado há dois mil anos. Para tentar encontrar evidências científicas, Loomis recorre a ajuda do Prof. Birack (Victor Wong, que também já havia trabalhado com Carpenter em Os Aventureiros…) que reúne seus melhores físicos, entre eles Brian Marsh (Jameson Parker), Catherine Danforth (Lisa Bount) e Walter (Dennis Dun), junto com outros proeminentes estudantes e professores de suas áreas, para se encalacrarem durante o final de semana na igreja e descobrir toda a verdade sobre o líquido verde do mal. Se a história já é bem difícil de engolir (que aquela forma fluída verdejante é o anticristo), piora quando sem o menor sentido os mendigos em volta da igreja (encabeçados por ninguém menos que o roqueiro Alice Cooper) começam a virar zumbis e sitiarem os especialistas no local, além de formigas, escaravelhos e minhocas começarem a surtar pela presença maligna. Completa o fato de que o liquido passa a esguichar na boca da galera e possui-los, até uma das estudantes tomar uma grande quantidade do filho do capiroto e tornar-se o receptáculo para sua transformação material que levará o mundo à danação. Tiro o chapéu para a maquiagem da deformação da moça, cheio de pústulas e feridas em carne viva, sem dúvida nenhuma o ponto alto do longa. Tudo meio complicado e sem lógica? Ainda tem mais quando nos é revelado que todo mundo que dorme ali naquela igreja recebe em seus sonhos uma mensagem gravada em VHS vinda do ano de 1999 (?!), mostrando um possível futuro onde uma sinistra figura de preto, talvez o filho do coisa-ruim encarnado, está saindo da igreja para reivindicar seu apocalipse pessoal. Também tem um eclipse iminente que está para acontecer que só fica nisso e não é mais aprofundado. Sei lá, a meu ver, com todos esses elementos díspares, não tinha como a história de Príncipe das Trevas funcionar. Talvez se Carpenter tivesse optado pelo simples da possessão e dos heróis encalacrados naquela igreja combatendo uma destruidora força das trevas, mesmo que soasse clichê, teria um resultado mais satisfatório, simplesmente porque Carpenter SABE como fazer a parada e nos entregar um belo suspense. A partir do momento que um monte de explicações que, convenhamos, seriam esdrúxulas por natureza, começa a pipocar atirando para tudo quanto é lado, o filme fica soa pretensioso e filosófico demais. Prova cabal disso é o completo desperdício do personagem de Loomis com sua falácia e auto lamentação constante, com aquela cara de cachorro largado na chuva, ou mesmo a quantidade de verborreia metafísica e psedo-intelectual que o próprio Birack ensina para seus alunos. Eu vi, revi, assisti de novo e de novo e continuo me mantendo inócuo quanto ao Príncipe das Sombras, e logo isso faz ele se tornar um filme mediano, esquecível, sem impacto. Carpenter estava cheio das boas intenções, tinha uma história bombástica nas mãos, mas se perdeu em seu próprio modus operandi, uma vez que o filme começa envolvente e termina de forma risível. Uma pena.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/10/541-principe-das-sombras-1987/

domingo, 27 de março de 2016

#540 1987 O PREDADOR (Predator, EUA)


Direção: John McTiernan
Roteiro: Jim Thomas, John Thomas
Produção: John Davis, Lawrence Gordon, Joel Silver; John Vallone, Beau Marks (Produtores Associados); Jim Thomas, Laurence P. Pereira (Produtores Executivos)
Elenco: Arnold Schwarzenegger. Carl Weathers, Elipidia Carrillo, Bill Duke, Jesse Ventura, Sonny Landham, Richard Chaves, Shane Black

O cinema de ação vivia seu auge nos anos 80. Excesso de testosterona, atores musculosos, armas poderosas, matança desenfreada, e habilidades em artes marciais fizeram surgir uma leva inteira de péssimos atores canastras que foram elevados ao statusde astros de Hollywood (e que hoje fazem paródias de si próprios na franquia Os Mercenários). Indubitavelmente um dos maiores nomes do cinema de ação foi Arnold Schwarzenegger. E por isso seu sobrenome vem em uma grafia no pôster maior do que o próprio título do filme, O Predador. Acontece que essa mistura de action movie, com guerra, sci-fi, terror e suspense é um dos grandes ícones da década de 80. Afinal, não tinha como dar errado uma película que juntasse todos esses gêneros acima metendo ainda na trama um alienígena caçador impiedoso que vem parar na Terra, é invisível, tem visão termográfica e armas avançadíssimas. Coloque Schwarzza para ser o mocinho que combate a criatura interplanetária e bingo! E foi isso que os produtores Joel Silver (que havia trabalhado com o ex-Mister Universo emComando Para Matar) e Lawrence Gordon pensaram ao resolver levar a frente um roteiros dos irmãos Jim e John Thomas (que surgiu como uma piada com a série Rocky e o fato que logo menos ele teria que sair na mão com um extraterrestre) e acabou encontrando seu caminho dentro da 20th Century Fox. Inspirado em Aliens – O Resgate, o roteiro ganhou sinal verde e a turma toda se mandou para Puerto Vallarta, no México para dar início às gravações. Na real o miolo da trama não traz absolutamente nenhuma novidade com relação à maioria dos filmes de ação do período. Schwarzza é Dutch, um ex-major do exército que é contratado com seu grupo de guerrilheiros bad ass para uma missão especial em uma republiqueta de bananas comunista da América Central e resgatar uns figurões que foram sequestrados por terroristas. Uma enxurrada de clichês e atitudes primitivas de macho men(quem cospe mais longe, quem faz piada sexista mais pesada, quem tem os bíceps maiores, e por aí vai), explosões e tiros está lá para aquele espectador incauto que não imagina que um dos mais importantes monstros do cinema estaria à espreita, camuflado ali entre as árvores. O tal predador é um caçador interplanetário ugly motherfucker (como a própria célebre frase de Arnie ao ver o visual do bicho sem máscara pela primeira vez) que viaja pela galáxia para praticar seu esporte, encontrar seus troféus e meter suas cabeças na sala de exibição de sua nave e esfolar suas vítimas. Entre suas habilidades, possui uma visão de calor (que era um desbunde para a época), armas com garras e canhões de laser (no segundo filme seria acrescentados ao seu arsenal lanças retráteis e discos cortantes), um kit de primeiros socorros extraterrestre e um reloginho bacanudo que pode tornar o visitante invisível e tem lá um botão do juízo final para quando ele quiser se autodestruir (ser derrotado, jamais!). Um a um dos soldados grandões vão sendo caçados e mortos impiedosamente até que esperamos pelo seu aguardado final, quando Schwarzza deverá usar todos seus recursos de guerrilheiro e enfrentar o alienígena em um combate selvagem, logo após ter sua vida poupada ao descobrir que a lama diminui o calor do seu corpo e o esconde da visão termográfica do monstro. Tirando toda essa parafernália de filme de ação e o fato que Dutch e sua equipe matam muito mais gente que o predador na tentativa de desbaratar os terroristas e resgatar os reféns (O Predador tem uma absurda contagem de cadáveres de 65 humanos – isso sem contar um javali e um escorpião), há três elementos que devem se destacar com louvor na fita de McTiernan. O primeiro são os efeitos especiais, que para a época foram incríveis. A habilidade de camuflagem da criatura e suas armas tecnológicas são interessantíssimas. O segundo é o visual emblemático do extraterrestre, criado pelo mestre Stan Winston, que teve de ser alterado do primeiro esboço, uma versão meio reptiliana e meio anfíbia apresentada pelos produtores, por não ter sido considerado assustador o suficiente. Até James Cameron deu um pitaco, sugerindo as suas famosas mandíbulas. O terceiro foi a direção de McTiernan, que, longe de comparações, mas seguindo escolas de Hitchcock e Spielberg, vai gradativamente colocando o vilão em cena e criando uma escalada de tensão e curiosidade, primeiro com o desconforto dos guerrilheiros em acreditarem estar sendo seguidos e observados, já assustados pelas vítimas destroçadas encontradas pelo caminho, depois com sua camuflagem, seu sangue verde fluorescente (“se ele sangra, pode ser morto” – outra pérola inestimável da sétima arte dita pelo Governator) até revela-lo em todo seu esplendor. Falando no predador, não custa escrever sobre outro futuro ícone do cinema de ação, Jean-Claude Van Damme, que originalmente seria o intérprete do alienígena. Na real, uma espécie de dublê de luxo, por assim dizer. Acontece que o belga achou que a roupa vermelha (cor escolhida em contraposição ao verde da mata) que ele usava nas gravações seria seu visual, e não que era exatamente um artifício de efeitos especiais para depois ser substituído pela invisibilidade, e por isso vivia reclamando da indumentária. Depois do mal entendido resolvido, o soneto ficou pior que a emenda quando soube que ele seria um personagem invisível pela metade do filme e não poderia mostrar suas habilidades marciais e de espacate contra Schwarzenegger. Gravou apenas uma cena (que dá para ver o teste no Youtube, e também como seria diferente o visual do bicho) e abandonou o barco, sendo substituído pelo ator Kevin Peter Hall de 2,18m de altura, que vivera o Pé-Grande em Um Hóspede do Barulho e até a criatura de O Monstro do Armário da Troma. O Predador foi um sucesso estrondoso. Faturou quase 60 milhões de dólares nas bilheterias americanas e colocou no cânone do sci-fi outro famoso alienígena para a Fox, que já tinha os alienígenas de Alien em sua propriedade. Inevitavelmente depois do encontro dos dois extraterrenos em diversas mídias como quadrinhos e videogame, eles foram metidos em dois crossovers pavorosos no cinema, mas isso nem vem ao caso. Uma segunda parte foi lançada em 1990, Predador 2 – A Caçada Continua, que é até superior ao original em diversos pontos, e a mitologia foi revisitada em Predadores, produzido por Robert Rodriguez em 2010. Um novo longa, que não será um reboot, mas sim uma sequência direta deste aqui, está sendo desenvolvido pela Fox, com roteiro e direção de Shane Black, que atuou como Hawkins no primeiro filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/09/540-o-predador-1987/

#539 1987 O PORTÃO (The Gate, Canadá, EUA)


Direção: Tibor Takács
Roteiro: Michael Nankin
Produção: John Kemeny; Andras Hamori (Coprodutor)
Elenco: Stephen Dorff, Christa Denton, Louis Tripp, Kelly Rowan, Jennifer Irwin, Deborah Grover, Scot Denton

O Portão é um filme que me gera sentimentos ambíguos. Eu me lembro de três momentos distintos e três análises sobre a fita durante minha vida, cada uma das três chegando a uma conclusão diferente. Quando eu o vi criança, quando nos meus vinte e poucos anos e agora para escrever sua resenha para o blog. E a conclusão que cheguei é que O Portal é um filme de terror infantil, quase como uma fábula macabra. Ao vê-lo quando criança tinha lembranças de que era um filme verdadeiramente assustador. Quase não lembrava nada do desenrolar da trama, mas gravara na memória que a atmosfera havia me deixado incomodado, com toda aquela história de um buraco se abrindo no quintal e sendo um portal do inferno, trazendo criaturas demoníacas para nossa realidade através de uma espécie de ritual envolvendo antigas inscrições e um disco de heavy metal. Somente depois de muitos anos eu pude assisti-lo novamente. O Portão foi um desses filmes que insisti para alugarmos por ter exatamente essa lembrança de ser bem assustador, e fiz um enorme alarde sobre a fita. Foi uma decepção sem tamanho vê-lo novamente. Tudo caminhava exatamente como eu me lembrava, até o portal se abrir e aparecer aqueles malditos asseclas demônio em stop-motion e a fita escambar para o tosco, para o ridículo, e juro que não me recordava de ser um filme desse tipo. Frustração estabelecida, passei a detestá-lo, nunca mais assistindo novamente. Até que fatidicamente cheguei a sua vez na minha lista esquizofrênica e pensei: “bom, lá vou eu assistir novamente essa porcaria”. Eis então que agora com 32 anos nas costas, a minha visão do filme mudou drasticamente (de novo). Continua sendo um filme tosco e aqueles demônios cinza diminutos que parecem ter saído de algum filme B do Ray Harryhausen são ridículos, mas a visão por trás do contexto da história (e a expectativa gritante deixada de lado) criou certa mudança de perspectiva em meu julgamento. O Portão é um filme de terror infantil e é dessa forma que você tem que encará-lo. O próprio roteirista Michael Nankin baseou o roteiro em diversas experiências de sua infância e por isso o filme assusta tanto quando se é um jovem infante. São medos particularmente infantis, explora a dor da perda, de ter uma irmã mais velha adolescente, estar sozinho em casa por seus pais terem ido viajar e a eterna impressão de que algo sinistro ou macabro pode acontecer, misturado com um buraco aberto em seu quintal que com certeza vai ser o portão para alguma dimensão maligna (óbvio que você irá pensar isso!). Glen (vivido por um Stephen Dorff moleque em seu debute no cinema) é um garoto gordinho que gosta de lançamentos de foguetes de brinquedo e seu melhor amigo inseparável é um pequeno poser-metaleiro-farofa chamado Terry (Louis Tripp) que perdera a mãe há pouco tempo e mora com o pai que lhe dá discos de metaaaaaaaal de presente. Os pais de Glen viajam um final de semana e deixam a casa aos cuidados da irmã mais velha adolescente, Alexandra (Christa Denton). Mas durante a noite anterior um raio cai na árvore que fica no quintal, abrindo um buraco no chão. Ao investigar o buraco, Glen se espeta em uma farpa e deixa cair sangue no local, de onde saiu um geode. Mais tarde naquela noite em que Terry vai dormir na casa do amigo (o quão você se lembra da sua infância por conta disso?), eles abrem o geode que deixa uma bizarra inscrição. Na mesma noite, alguns acontecimentos sinistros se revelam como Terry ver a aparição de sua mãe morta e o velho cachorro de Glen, Angus, vir a falecer. No dia seguinte, Terry descobre no álbum de heavy metal da banda Sacrifice (que existiu de verdade no Canadá) letras supostamente baseadas em um tal “Livro das Trevas”. Ele acredita que o buraco é uma porta de entrada para antigos deuses malignos (olha a inspiração à lá Lovecraft aí). Com o sangue do virgem Glen e mais o sacrifício de um animal enterrado ali (um dos amigos de Alexandra não conseguiu nenhum local para enterrar Angus e acabou jogando-o no buraco), a conjuração está completa e nosso mundo será invadido por criaturas das trevas. É um PUTA roteiro, a atmosfera até esse momento é incrível e poderia render um filmaço, se não fossem aquelas entidades demoníacas tosquinhas que estragam todo o clima e o andar a carruagem. Ainda há espaço para a aparição de um zumbi, o ataque de um possuído Terry, portais dimensionais que se abrem pela casa, um olho que surge na palma da mão do garoto (em uma cena MUITO legal até hoje) e no final, uma criatura gigante também de stop-motion que não ajuda em nada a melhorar o longa. Uma pena! Detalhe que os criador dos efeitos visuais das criaturas, Randall William Cook ganharia três Oscar futuramente pelo FX da trilogia O Senhor dos Anéis. Mas, aí entramos de novo no preceito básico que por mais que você quisesse que os demônios ou os deuses antigos fossem diferentes, até com uma pegada mais Lovecraft ou uma coisa mais sinistra que aqueles tampinhas (que na verdade são atores reais vestidos em uma fantasia de borracha, filmados com uma perspectiva forçada para parecerem pequeninos) para dar outro clima ao filme, devemos no ater ao fato de O Portão ser simplesmente um conto de fadas às avessas. É um filme de terror para crianças como comentei lá em cima (duas vezes até). E nisso ele funciona perfeitamente bem. Afinal, quantos de vocês não adorou o filme ou tinha medo do mesmo quando novinhos? Não é um filme de terror para adolescente ou para adulto (exceto para ver com os filhos, talvez). E é isso, ponto. Eu não sou mais o público alvo, você aí do outro lado da telinha do computador também não é. Mas já foi quando criança. Nem sei se realmente essa era a verdadeira expectativa dos realizadores porque nunca li nada sobre, ou estou nas elucubrações a mil, mas é uma forma de encarar a fita ao invés de simplesmente julgá-la tosca gratuitamente (como muita porcaria produzida por Charles Band, por exemplo) como eu mesmo já o fiz. Deixe isso de lado, coloque o saudosismo à prova e aproveite a experiência já que o cinema é uma das poucas chances que você tem de voltar ao tempo e lembrar-se de outra vida que você teve antes de tudo tornar-se tão mais sério e realista.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/08/539-o-portao-1987/

#538 1987 O PADRASTO (The Stepfather, EUA)


Direção: Joseph Ruben
Roteiro: Donald E. Westlake; Carolyn Lefcourt, Brian Garfield e Donald E. Westlake (história)
Produção: Jay Benson
Elenco:Terry O’Quinn, Jill Schoelen, Shelley Hack, Charles Lanyer, Stephen Shellen

O roteiro de O Padrasto é baseado no livro de Brian Garfiled, que por sua vez é vagamente inspirado na história de John List, um sujeito de Nova Jérsei que matou sua família em 1971 e ficou foragido até 1989, quando a exibição de seu perfil no programa “America’s Most Wanted” foi ao ar na televisão. Dirigido por Joseph Ruben, trata-se um suspense correto, redondo, com todos os elementos necessários do gênero. Quem realmente pega o filme e coloca embaixo do braço é o ator Terry O’Quinn, o famoso carequinha Locker de Lost, que interpreta o psicopata Jerry Blake, o tal padrasto do título. Completamente entregue ao papel, com uma atuação verdadeiramente visceral, O’Quinn convence o espectador tanto como o maníaco frio, calculista e completamente desequilibrado (como a emblemática cena em que extravasa sua raiva no porão e é pego com a boca na botija por sua enteada) como o bondoso homem de família, que tenta ser um bom marido, um bom pai substituto, um bom corretor imobiliário e pregar veementemente os valores familiares. Logo no começo somos apresentados ao personagem em sua visão mais cruel, após tomar banho, fazer a barba e cortar o cabelo em um banheiro, e lavar mãos e rosto ensanguentados. Ao descer as escadas, arrumado para ir ao trabalho, vemos o estado brutal em que deixou sua atual família mutilada, com sangue por todo o lado e uma criança assassinada com seu ursinho de pelúcia. Jerry sai pelo quintal, pega o jornal, assobia “Camptown Race”, que acaba se tornando uma marca registrada do maníaco, e sai incólume à barbárie que cometeu. Um ano se passou, a polícia não descobriu nenhuma pista do assassino, e Jerry entra na vida da viúva Susan (Shelley Hack) e sua filha “adolescente” Stephanie (Jill Schoelen). Adolescente entre aspas porque ela tinha 23 anos simulando 16, o que rendeu para nós marmanjos uma sensacional cena no banho quase no final da fita. A enteada vive revoltada por conta da morte do pai, arruma confusão na escola e detesta o novo relacionamento da mãe, acreditando que alguma coisa há de errado com o padrasto, claro sem imaginar que o buraco é bem mais embaixo. Ainda temos uma história paralela de Jim Ogilvile (Stephen Shellen), irmão da menina morta no começo do filme, que tenta fazer justiça com as próprias mãos e vem caçando o assassino desde o acontecido, sem conseguir ajuda da polícia (que encerrou o caso por não possuir mais provas) e da imprensa. O suspense vai crescendo com as investigações em cima de Jerry e uma reviravolta na sua conciliação com a garota após ele ter matado seu psiquiatra. Mas só então no terceiro ato que veremos a face monstruosa de Jerry por completo, quando ele começa a se perder em seu alucinado estado de múltipla personalidade (uma vez que ele vem criando vários alter egos e sempre entra em um novo papel, mudando de emprego e conhecendo a próxima vítima, pouco antes de assassinar a família atual).
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Pois bem, o final reserva toda a intensidade das perseguições em um ambiente fechado (no caso dentro da residência) deste tipo de thriller, com o maníaco tentando dar cabo de Susan e Stephanie. Vale citar a participação nula e completamente imbecil de Jim, que procura o sujeito pelo filme todo e ao conseguir encontra-lo é morto no mesmo instante com uma facada, fazendo com que o imprestável não sirva para nada, exceto ter levado uma arma até a casa que será usada mais tarde por Susan para alvejar o psicopata. Os pontos fracos do filme são as atuações dos demais atores que são todos engolidos com farinha por O’Quinn e a trilha sonora esdrúxula que destoa completamente do teor de suspense da fita, mas que reflete muito bem os famigerados anos 80, composta por Patrick Moraz, ex-tecladista da banda de rock progressivo Yes. Em compensação a direção de Ruben é precisa, vai criando um escalar de acontecimentos e envolvendo o espectador até a explosão psicótica do personagem do nosso vilão. O Padrasto não teve uma vida próspera nas bilheterias americanas, faturando apenas pouco mais de dois milhões de dólares, mas acabou fazendo fama e tornando-se cult quando seu lançamento em VHS e nas infinitas reprises na TV aberta, incluindo aqui no Brasil. Ainda gerou mais duas continuações e uma refilmagem em 2009 (que para variar é muito inferior ao original).
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/07/538-o-padrasto-1987/

#537 1987 OS OLHOS DA CIDADE SÃO MEUS (Angustia / Anguish, Espanha)


Direção: Bigas Luna
Roteiro: Bigas Luna
Produção: Pepón Coromina; Xavier Visa (Produtor Associado); George Ayoub, Andreu Coromina (Produtores Executivos)
Elenco: Zelda Rubinstein, Michael Lerner, Talia Paul, Angel Jové, Clara Pastor, Isabel García Lorca

O espanhol Os Olhos da Cidade São Meus (e por que Jeová ele não manteve o título original, Angústia, aqui no Brasil e surgiu mais essa bizarrice?), dirigido por Bigas Luna, é um excelentíssimo exercício de terror, suspense e metalinguagem. Na real ele é metalinguístico até a medula, só que você não se dá conta disso até a metade do filme, quando o espectador tem um verdadeiro choque e pensa: “opa, mas esse filme é ainda mais interessante do que eu pensava”. Pelo menos essa foi minha conclusão quando o assisti pela primeira vez, de forma tardia, quando lançado em DVD pelo selo Dark Side da Works Editora, lá em meados da década passada. E já estava gostando MUITO da película. Começa pela atenção prendida por aquele velho truque marqueteiro do cinema de dizer que o filme tem cenas fortes, podem impressionar e atormentar o público, sendo que no saguão do cinema há enfermeiros para ajudar. A trama, escrita pelo diretor, é simples, didática e direta ao ponto. Logo na primeira cena já vemos muito bem os desvios psicológicos dos dois personagens principais muito bem delineados: a Sra. Pressman (vivida pela excepcional Zelda Rubinstein, que você deve conhecer mais como Tagina de Poltergeist – O Fenômeno) e seu filho John (Michael Lerner). Aquela típica relação doentia entre mãe controladora e filho submisso está presente, mas aqui ele é levado um patamar superior. John trabalha como auxiliar de oftalmologista, porém é diabético e está perdendo a visão (além de ser muito sensível a esse assunto). Uma paciente reclama de uma lente de contato, humilhando o rapaz e fazendo com que ele seja repreendido no hospital que trabalha. Ao desabafar para a mamãe, descobrimos que a velha é uma LOUCA DE PEDRA que hipnotiza o próprio filho para que ele saia pela cidade coletando olhos humanos para sua bizarríssima coleção. Primeiro ele parte em busca dos globos oculares da mulher que reclamou dele, matando-a, assim como seu marido, retirando os órgãos com um bisturi. Até aí o filme já está ótimo, com uma cena bem sangrenta e aflitiva do olho sendo arrancado, como uma espécie de toque gore ao Um Cão Andaluz de Buñuel. Mas para a surpresa do espectador a cena começa a afastar e BINGO! Estamos no cinema e aquilo nada mais é que um filme chamado “The Mommy”, dirigido por um tal Sanul Agib (anagrama com o nome do diretor, Biga Lunas). Sim, é isso mesmo, estamos vendo um filme dentro de um filme. Olha a metalinguagem aí. Então em paralelo a história de John e sua mãe, temos o desenrolar de uma subtrama (ou trama principal?) na sala de exibição, onde a jovem Patty (Talia Paul) está sentindo-se nervosa e incomodada com o teor sugestivo da película e começa a ficar paranoica, achando que um sujeito qualquer na plateia é o assassino. Pois bem, John Pressman, hipnotizado pela megera, invade um cinema e começa a arrancar os olhos dos espectadores, o que vai criar um pânico generalizado. Eis que realidade e ficção (dentro da ficção) se misturam e influenciado pelo teor do filme, um maluco no cinema (Ángel Jové) com os mesmos problemas psicológicos e controle maternal resolve também começar a matar gente dentro do local. Tudo acaba convergindo para uma cena em que ambos fazem uma pessoa como refém (no caso aqui a Patty que teve razão em desconfiar do sujeito desde o começo) e seu final, mostrando o quanto a moça também acabou afetada com a projeção e abrindo aquela velha discussão de quanto um filme pode mesmo ser influenciador de comportamento ou gatilho para alguma psicose (na hora me veio o paralelo com o sujeito que entrou abrindo fogo com uma Uzi no cinema do Shopping Morumbi após assistir Clube da Luta). Tudo isso já seria o suficiente para ser um ótimo filme, mas ainda há as cenas de hipnose que são verdadeiramente perturbadoras e até nauseantes. A Sra. Pressman utiliza todos os artifícios possíveis para a lavagem cerebral no filho, como: espirais, pêndulos, luzes, ecos, efeitos sonoros e até caracóis, filmado em close para também deixar o espectador baratinado. A cena final também é incrível, mas não entrarei em detalhes aqui e nem farei nenhum SPOILER. E claro, fique até o final dos créditos, que irá explodir sua mente (não, não terá nenhuma cena de Os Vingadores 2: A Era de Ultron). Então se quer uma dica de um filme de terror redondo e fora dos padrões convencionais do que se vinha fazendo na época, Os Olhos da Cidade são Meus é a pedida.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/04/537-os-olhos-da-cidade-sao-meus-1987/

sexta-feira, 25 de março de 2016

#535 1987 A MALDIÇÃO RAÍZES DO TERROR (The Curse, EUA, Itália)


Direção: David Keith
Roteiro: David Chaskin (baseado no conto de H.P. Lovecraft)
Produção: Ovidio G. Assonitis; Lucio Fulci (Produtor Associado); Moshe Diamant (Produtor Executivo)
Elenco: Wil Wheaton, Claude Atkins, Malcom Danare, Cooper Huckabee, John Schneider, Amy Wheaton

O obscuro filme B A Maldição – Raízes do Terror inicialmente chama a atenção pelo seguinte fato: é baseado em um conto de H.P. Lovecraft. Isso já é motivo para gerar curiosidade suficiente para se assisti-lo, ainda mais se tratando de uma de suas melhores histórias: “A Cor que Caiu do Céu”. Mas na verdade o filme trata-se de uma boa surpresa. Vale lembrar que o mesmo conto já fora adaptado anteriormente para o cinema nos anos 60, no filme Morte Para um Monstro, estrelado por ninguém menos que Boris Karloff. Essa fita ítalo-americana foi produzida por Ovidio G. Assonitis, conhecido dos fãs do horror por pérolas como Tentáculos Piranha 2 – Assassinas Voadoras. Também é o primeiro filme como diretor do ator David Keith (aquele de Chamas da Vingança, baseado no livro de Stephen King) e traz no elenco um adolescente Wil Wheaton, muito antes de se tornar a nêmese de Sheldon Cooper. Mas talvez a informação mais interessante ou estranha dos créditos, é que temos um tal Louis Fulci como produtor associado, que sim, é nosso velho chapa Lucio Fulci, que também foi diretor de segunda unidade (e inicialmente cotado para dirigir o longa – o que instantaneamente já nos faz pensar como poderia ter sido diferente o filme entregue). Pois bem, o começo de A Maldição – Raízes do Terror é extremamente misterioso e eficiente em prender a atenção do espectador, onde um sujeito alterado com pústulas nojentas no rosto é preso por policiais gritando que “algo está na água”. Elipse para um passado recente para nos contar o que se sucedeu em Tellico Plains, no Kansas, mais precisamente na fazenda de Nathan Crane (Claude Akins) um bronco e religioso fundamentalista que passa por uns maus bocados por conta da recessão que atingia as fazendas familiares americanas na era Reagan. Nathan é casado com Frances (Kathleen Jordon Gregory), viúva com dois filhos, Zack (Wheaton) e Alice (Amy Wheaton, sua irmã também na vida real). Além disso, ele também tem um filho de seu primeiro casamento, Cyrus (Malcom Danare) um verdadeiro matuto rude com o QI menor que uma doninha. Nathan é aquele sujeito grosso patriarcal que bate no enteado por usar o nome de Deus em vão, recita frase da bíblia em todas as situações e não comparece com a esposa, pois é pecado fornicação por motivos que não sejam reprodutivos. Até que uma noite, com fogo na bacorinha, Frances resolve dar para o empregado da fazenda que está abrindo um poço no local e eis que do céu, um meteoro brilhante cai durante a noite bem nos arredores da fazenda de Nathan. Inicialmente o Dr. Alan Forbes (Cooper Huckabee) é chamado para analisar o fragmento espacial (com seu contador Geiger, afinal não sabia que os médicos dos consultórios do interior americano possuíam o equipamento em seu escritório) e quando decide procurar alguma ajuda técnica, é impedido por Charley Davidson (Steve Carlisle), presidente da junta comercial e da câmara municipal da cidade, interessado na especulação imobiliária e doidinho para comprar a propriedade de Crane, que se recusa em vendê-la. Paralelo a isso, um funcionário do departamento hídrico do estado está em visita ao local para estudos da construção de uma barragem. Pois bem, um belo dia o meteoro brilhante derrete e sua composição química adentra o poço, fazendo com que a água fique contaminada e toda a plantação irrigada e animais comecem a adoecer ou apodrecer. No caso dos humanos que beberem a água, como Frances, Cyrus e o próprio Nathan, um comportamento insano surgirá junto com terríveis deformações na pele. Frances é a primeira afetada, mas Nathan recusa procurar qualquer tipo de ajuda, pois acredita que Deus a está castigando pelo adultério. Zach e Alice salvam-se já que o moleque, ao perceber o gosto estranho na água, para de toma-la e vai buscar água na casa do Dr. Forbes, assim como alimentos na cidade, que dá também a sua irmã. Há três aspectos que compromete o andamento de A Maldição – Raízes do Terror. O primeiro e evidente é a falta de verba que acabou afetando consideravelmente na parte técnica do filme e principalmente nos efeitos especiais. O segundo é alguma inépcia da direção de David Keith, dando um desconto por ser seu debute atrás das câmeras. O terceiro e principal, é o maldito alívio cômico completamente desnecessário e situações esdrúxulas, como o insuportável personagem de Carlisle, completamente exagerado e caricato e a esposa dondoca do Dr. Forbes, Esther (Hope North), colocando na conta dela uma cena patética onde tenta convencer o bom médico a ceder à pressão de Davidson em não buscar por ajuda, seduzindo-o com um baby-doll provocante e passando óleo nas pernas. A conclusão infelizmente é apressada e novamente por conta da verba, fica obviamente muito aquém da resolução do próprio conto de Lovecraft, que seria impossível de ser adaptado. Mas há algo que se deva tirar o chapéu: a atuação de Frances quando começa a se transformar em uma criatura mutante disforme. Uma cena em particular vale por toda e qualquer deficiência do filme: o momento em que Davidson entra no porão da fazenda, sem saber que Frances foi confinada ali pelo marido. É realmente assustadora, climática e muito bem conduzida até seu desfecho sangrento. Seu final também é pessimista e interessante e nos mostra (logo na primeira cena na real) que a barragem fora construída e a “cor que caiu do céu” irá se espalhar e contaminar mais pessoas. Apesar dos apesares, A Maldição – Raízes do Terror é um bom filme. Teve uma péssima recepção, sendo muito criticado (inclusive por Wheaton que diz que a única coisa boa do longa é que ele pode atuar com sua irmã) e subestimado, mas mesmo pecando na técnica e em sua condução, tem um roteiro interessante e momentos assustadores e nojentos. Vale a pena conferir.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/02/535-a-maldicao-raizes-do-terror-1987/

#534 1987 A HORA DO PESADELO 3 GUERREIROS DOS SONHOS (A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors. EUA)


Direção: Chuck Russell
Roteiro: Wes Craven, Bruce Wagner, Frank Darabont, Chuck Russell
Produção: Robert Shaye; Sara Risher (Coprodutor); Niki Marvin, Steve Thompson (Produtores Associados); Wes Craven, Stephen Diener (Produtores Executivos)
Elenco: Heather Langenkamp, Craig Wasson, Patricia Arquette, Robert Englund, Ken Sagoes, Rodney Eastman

A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos, depois do A Hora do Pesadelooriginal, é o melhor filme da franquia. E claro que isso se deve a volta triunfal de Wes Craven à série, como produtor executivo, escritor da história e da primeira versão do roteiro, na tentativa de apagar a porcaria deixada pelo infame A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy. Na verdade, Craven recusou-se a estar envolvido na produção da sequência do seminal filme que colocou no mapa um dos principais vilões do cinema de terror, por conta de não acreditar na fórmula de transformar seu filme em uma cinesérie. Com a ótima bilheteria da continuação, Craven descobriu ter se enganado e resolveu voltar para, de uma vez por todas, finalizar sua criação. Na verdade, o grande mérito de A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos é retomar ao ambiente do primeiro filme e expandir a mitologia do assassino que mata nos sonhos. E o elo entre as duas películas é a personagem Nancy Thompson (Heather Langenkamp – de volta ao papel) sobrevivente do massacre inicial na Rua Elm, localizada na outrora pacata cidade de Springwood. A primeira ideia de Craven era exatamente um exercício metalinguístico onde os atores do primeiro filme seriam perseguidos por Freddy Krueger na vida real, mas foi veementemente vetada pelo estúdio. E sim, foi utilizada no último filme da série, O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger, sete anos depois. Escrito por Craven e Bruce Wagner, o roteiro passou pela revisão do próprio diretor, Chuck Russel, e vejam só, do futuro indicado ao Oscar®, Frank Darabont, diretor de Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre, O Nevoeiro e idealizador da série The Walking Dead. Na trama, Kristen (debute de Patricia Arquette no cinema) é uma adolescente problemática, revoltada, deprimida, com tendências suicidas, vinda de uma família disfuncional onde mora só com a mãe que leva estranhos para casa para farrear e beber uísque. Ou seja, é exatamente o perfil das jovens vítimas dos pesadelos de Freddy. Após mais um pesadelo e ataque do maluco queimado de chapéu de feltro e pulôver vermelho e verde, é mandada para uma instituição psiquiátrica comandada pelo Dr. Neil Gordon (Craig Wasson) junto de outros jovens internados que também tem problemas de privação de sono. Todos eles filhos dos envolvidos na justiça feita com as próprias mãos pelos pais das crianças abusadas por Krueger ainda em vida. Como diz Nancy: “As últimas crianças da Rua Elm”. Ah sim, Nancy reaparece adulta, como uma psicóloga na clínica, na esperança de ajudar o Dr. Gordon a tratar os pacientes, inclusive receitando uma droga experimental chamada Hyponocil, que funciona como um supressor de sono. Um a um os jovens começam a serem abatidos como moscas em uma sequência simplesmente impressionante de mortes: um garoto tem suas veias arrancadas e usadas como cordas de marionete com Freddy Krueger como titeteiro; a outra tem a cabeça enfiada dentro da televisão; outro é empalado por uma cadeira de rodas versão Trono de Ferro do Game of Thrones; e ainda Freddy transforma seus dedos em injeções e enfia nos buracos de picos de uma viciada, que se transformam em boquinhas implorando pelo tóxico. Além dos efeitos especiais caprichados para essa terceira parte (lembre-se que estamos nos anos 80) dois elementos são importantíssimos para a construção do personagem e de sua própria mitologia, norteando passado e futuro de Freddy Krueger. O primeiro é o abuso do sarcasmo e do humor negro, com o personagem de Robert Englund sempre soltando uma frase de impacto ou piadinha logo antes ou depois de suas chacinas. As duas mais clássicas são o famosíssimo “bem-vindo ao horário nobre, cadela” antes de enfiar a cabeça da moça dentro do tubo de TV e o não menos clássico “vamos ficar doidões” antes de atacar a junkie. O segundo é a história do nascimento do sujeito, quando o Dr. Gordon descobre por meio de uma freira, a irmã Mary Hellen (Nan Martin), que sua mãe, Amanda Krueger, trabalhava em um hospital psiquiátrico onde só os piores elementos eram levados, e ficara presa no local durante um feriado, sendo estuprada dezena de vezes “por uma centena de tarados”, encontrada quase morta e grávida do bebê Freddie. Com mortes impressionantes, Freddy mais maligno e engenhoso que nunca, pesadelos tétricos, a volta das criancinhas pulando corda e cantando aquela assustadora cantiga e cenários sombrios, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos tinha TUDO para ser perfeito, mas… Sempre tem um “mas”, e são os tais Guerreiros dos Sonhos. Beleza, eu adorava quando era moleque e assistia no SBT, só que depois de velho ver os poderes que os jovens adquirem dentro dos sonhos é tosco demais e bem vergonha alheia. Kristen que além de poder trazer todos para o mundo dos sonhos, vira uma espécie de Daiane dos Santos; Kincaid (Ken Sagoes) adquire força sobre-humana; Joey (Rodney Eastman) que é mudo transforma-se no Banshee dos X-Men; Will (Ira Helden) se torna um mago à lá Presto de Caverna do Dragão; e Taryn (Jennifer Rubin), a viciada, numa punk de moicano gigantesco, roupa de couro e canivetes. Sério, por que, Sr. Craven? Outro momento constrangedor, e aí vai 
ALERTA DE SPOILER, 
é quando o Dr. Gordon e o pai de Nancy (John Saxon também de volta) precisam encontrar os restos mortais de Freddy, que estão em um ferro-velho, e segundo a freira, enterrar em solo sagrado para que o monstro finalmente descanse em paz. Freddy consegue sair do mundo dos sonhos (só essa vez especificamente, e não me pergunte por que ele nunca o fez em outras oportunidades) e ressuscita seu esqueletinho que mata o pai de Nancy (em uma cena ao melhor estilo Jasão e os Argonautas) e dá um cacete em Gordon, jogando-o na vala aberta e o cobrindo com duas pás de terra (adoram fazer isso com Craig Wasson. Lembra de Dublê de Corpo?). Só para o psiquiatra voltar no último instante e enterrar os ossos de Krueger e acabar com o cabra da peste. Mas pera lá, porque ele não matou o sujeito ou pelo menos o enterrou de forma decente para não ser derrotado depois? E pera lá 2, ele não tinha que enterrar os ossos em solo sagrado? Não sabia que a terra de um ferro-velho é sagrada! Mas enfim. Apesar dessas derrapadas, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos é um ótimo filme de Freddy Krueger, e se junta ao original como os únicos que efetivamente prestam na cinesérie. Mas claro que a ideia de Craven em matar sua criação de uma vez por todas não deu certo, muito por conta dos mais de quarenta milhões que arrecadou na bilheteria americana (dez vezes mais que seu orçamento). No ano seguinte mesmo ele já voltaria a atazanar os sonhos dos adolescentes.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/01/534-a-hora-do-pesadelo-3-os-guerreiros-dos-sonhos-1987/

#533 1987 HELLRAISER RENASCIDO DO INFERNO (Hellraiser, Reino Unido)


Direção: Clive Barker
Roteiro: Clive Barker
Produção: Christopher Figg, Selwyn Roberts (Produtor Associado), Mark Armstrong, Davis Saunders e Christopher Webster (Produtores Executivos)
Elenco: Andrew Robinson, Clare Higgins, Ashley Laurence, Sean Chapman, Doug Bradley

Os anos 80 realmente foram muito significativos para o cinema de terror. Algumas excelentes produções foram feitas nessa década e serviu para colocar personagens que ficariam marcados para sempre na história do gênero e seriam venerados pelos fãs, como o caso de Jason Voohrees de Sexta-Feira 13 e Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo, juntando-se aos setentistas Michael Myers de Halloween e Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica. Outro desses personagens que também se tornaria um ícone é Pinhead, de Hellraiser – Renascido do Inferno, de Clive Barker. Hellraiser é baseado no conto “Hellbound Heart” escrito por Barker, parte da coletânea chamada “Livros de Sangue”, que chamou a atenção de ninguém menos que Stephen King, que escreveu a seguinte resenha: “Eu vi o futuro da ficção de horror, e seu nome é Clive Barker”. Com um marketing espontâneo como esse, Barker estava pronto para transportá-lo para as telas, em um filme que ele mesmo dirigiu, deixando a história ainda mais sádica e repleta de elementos gore. Na verdade o título original da película deveria ser homônimo ao conto, mas vetado pelos executivos do estúdio por parecer-se com um romance. O fanfarrão Barker sugeriu algumas outras pérolas como “Sadomasoquistas do Além Túmulo” ou “O que uma mulher faz por uma boa foda”, em tradução literal, obviamente mais vetados ainda. Frank Cotton (Sean Chapman) é um hedonista aventureiro sexual que quer de qualquer forma descobrir novas formas de prazer que o satisfaça. Nessa busca incessante ele acaba se deparando com um artefato mágico, uma espécie de cubo que abre portais dimensionais que o leva até um universo fantástico repleto de criaturas masoquistas conhecidas como Cenobitas, que o destroçam e o aprisionam numa realidade paralela localizada no sótão da antiga casa dos seus pais, fazendo com que viva sensações onde a dor e o prazer são inseparáveis, por toda a eternidade. Um parêntese sobre o cubo, que se tornaria um dos mais famosos gadgets do cinema de terror, é que seu conceito de portal para o inferno tem base na lenda urbana chamada “The Devil’s Toy Box” (ou a caixa de brinquedo do Diabo), um cubo de seis lados construído de espelhos virados para dentro. Segundo a lenda, você fica lá sentado na frente do cubo, que irá acionar um loop de energia e com o tempo você ouvirá barulhos estranhos vindo de seu interior, como rosnados, e poderá visualizar imagens bizarras refletidas no espelho. Voltando a trama, o irmão de Frank, Larry (Andrew Robbins), um sujeito que é um verdadeiro bundão, resolve se mudar para a antiga casa junto com sua esposa frígida e entediada, Julia (Clare Higgins). Só que a casa começa a trazer várias lembranças a Julia, que colocava um belo par de chifres em Larry tendo um selvagem caso sexual com Frank. No dia da mudança, Larry machuca a mão em um prego e perde uma boa quantidade de sangue no chão do sótão, o suficiente para que Frank comece a materializar seu corpo novamente, após enganar os Cenobitas e conseguir fugir do seu encalço. Julia então resolve ajudar o antigo amante voltar à vida novamente, providenciando outras vítimas que ela seduz e leva para casa, e assim vai o alimentando. Porém a filha de Larry, Kristy (Ashley Lawrence), que já não se dá nem um pouco bem com a madrasta, descobre o plano e encontra o cubo, libertando os Cenobitas que vem atrás de sua alma. Dedando que o tio havia fugido deles, e nunca ninguém fizera isso antes, Kristy convence as criaturas de que irá leva-los até ele, para recuperarem o fujão. Hellraiser – Renascido do Inferno é um clássico moderno do gênero, e um dos melhores filmes dos anos 80, sem dúvida, além de ser totalmente inovador, fugir do “terrir” insuportável da década, e apresentar o conceito dos Cenobitas, criaturas que vivem em uma dimensão paralela, todos marcados por profundos cortes, roupas pretas e instrumentos de dor e tortura ligados em seu corpo, como é o caso de Pinhead (eterno Doug Bradley) com os pregos espetados por todo seu rosto. E falando em Pinhead, o personagem se transformou em um ícone do horror desde sua primeira fala quando aparece para Kristy, dizendo que eles são exploradores das regiões profundas da experiência. Demônios para uns, e anjos para outros. Sinistro! Barker acerta muito a mão tanto na direção quanto na história, e abusa de momentos gráficos repleto de sangue, nojeira e violência ainda que para escapar do MPAA, diversas cenas tiveram de ser retiradas para evitar cair na nefasta agenda de tom do órgão regulador: uma cena de marteladas consecutivas, dedos entrando na carne, sexo S&M com espancamento praticado por Julia e Frank, estocadas durante a cena de sexo, e por aí vai. Outro ponto alto é a transformação de Frank, graças ao excelente trabalho de maquiagem. Maquiagem essa que também chama bastante atenção na caracterização dos Cenobitas. A única derrapada foi nos efeitos especiais do final da fita, quando o orçamento pífio de um milhão já havia ido para o espaço e Barker e um “cara grego” animaram essas cenas à mão, bêbados, durante um final de semana. Hellraiser – Renascido do Inferno depois deu origem a uma extensa franquia, com outras nove continuações até então, sendo que Doug Bradley interpretou Pinhead em todas elas, exceto o mais recente, Hellraiser – Revelações de 2011. Quanto a cinesérie, vale parafrasear o cabeça de chester: “bons para um, uma porcaria para outros”.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/30/533-hellraiser-renascido-do-inferno-1987/

#532 1987 OS GAROTOS PERDIDOS (The Lost Boys, EUA)


Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Janice Fischer, James Jeremias, Jeffrey Boam
Produção: Harvey Bernard; John Hyde, Mark Damon (Coprodutores Executivos); Richard Donner (Produtor Executivo)
Elenco: Jason Patric, Corey Haim, Dianne West, Bernard Hughes, Edward Herrmann, Kiefer Sutherland, Jami Gertz, Corey Feldman

Os Garotos Perdidos é talvez o filme de vampiro que mais tenha marcado a minha geração. Afinal, como já diz a tagline do mesmo: dormir de dia e festejar à noite, nunca envelhecer e nunca morrer. É demais ser vampiro! E eram demais mesmo aqueles vampiros punks góticos liderados por David (Kiefer Sutherland) que faziam suas vítimas nas noites da decadente praia de Santa Carla. E outro detalhe que torna o filme tão querido é que além dos momentos soturnos da vampirada (embalados pela música de Echo & The Bunnymen) ainda há todo o drama adolescente de aceitação e as peripécias da duplinha querida dos anos 80: Corey Haim e Corey Feldman (que junto com Jamison Newlander formaram a inesquecível dupla caçadora de vampiros mirins Irmãos Frog). E isso sim era filme de vampiro para adolescente, não umas aberrações que vimos por aí ultimamente criados por uma mórmon acéfala. Certamente o sucesso de Os Goonies catapultou a realização de Os Garotos Perdidos. Richard Donner, diretor do outro clássico da Sessão da Tarde aqui é o produtor executivo, que entregou a direção a cargo de um jovem Joel Schumacher (por ter optado em dirigirMáquina Mortífera) o qual ainda nem passava pela cabeça acabar com a imagem do Batman nos cinemas. Trocaram-se os piratas e a aventura para toda a família, para as criaturas das trevas, completamente imersos nos aspectos culturais e (principalmente) visuais da década de 80 (com os vampiros e suas jaquetas de couro, óculos de aros redondos e Wayfarers e brincos em uma orelha só). Na real, a ideia original escrita por Jan Fischer e James Jeremias realmente previa que os heróis seriam garotos da 5ª série à la Goonies, com os irmãos Frog sendo gordinhos escoteiros e por aí vai. Schumacher detestou, fez pressão nos produtores e só assinou o contrato para dirigir se fossem alterados para adolescentes e tornassem os personagens mais sexys e interessantes. Detalhe que ele foi a segunda escolha após o declínio de Donner. Mary Lambert deixou a cadeira de diretor vaga por “diferenças criativas”. Na verdade o principal aspecto que pode se acrescentar no universo dos vampiros foi a questão deles andarem em tribos. O status quo dos vampiros popularizado muito pela Hammer a partir dos anos 50 mostrava a criatura das trevas como um ser solitário, que vivia rodeado de seu aparato gótico costumeiro. Nos anos 70, a primeira quebra de paradigma veio ao trazer o morto-vivo para o meio da sociedade moderna, mas ainda assim limitados a um criador e uma criatura (ou servo), mas foi só nos anos 80, e principalmente em Os Garotos Perdidos, que ele se juntaram em bando para caçar, se divertir, viver um estilo de vida anárquico e cultural e até ditar moda. Na trama, Lucy (Dianne West) muda-se para a cidade costeira da Califórnia com seus dois filhos, o jovem rebelde Michael (Jason Patric) e o pré-adolescente Sam (Haim) para viver com seu pai, o Vovô (Barnard Hughes) na tentativa de reconstruir sua vida após o divórcio. Acontece que logo Michael se sente atraído pela cigana Star (Jami Gertz) que anda na companhia de David e seus vampiros. O rapaz para tentar se encaixar acaba entrando para a gangue de motoqueiros e não tarda para ser transformado em um chupador de sangue. Os únicos que poderão combater o terrível mal que nunca morre são os já citados irmãos Frog, Edgar (Feldman) e Alan (Newlander), nomes batizados em homenagem ao Edgar Alan Poe, claro. Claro que ninguém acredita nos dois, muito menos Sam. Mas quando ele descobre que seu irmão se transformou em um vampiro, mas diferente dos demais, um vampiro de bom coração que não quer matar humanos e deixar se levar pela maldade, se junta aos Frog, munidos de crucifixos, água benta e alho, na busca pelo vampiro mestre, aquele responsável por transformar toda a corja, uma vez que se ele for destruído, o efeito se dissipará e Michael voltará ao normal. Mas claro que como estamos na famigerada década o possível horror e o gore de Os Garotos Perdidos foi posto completamente de lado para se enquadrar naquele padrão de filmes mais leves da década. Mesmo que recheado de humor negro, com o visual assustador do grupo de vampiros e um ou outro clima sombrio de suspense, é tudo em nome diversão e dos baldes de pipoca até seu final. Não que seja um demérito, pois acabou sendo conduzido de forma muito competente por Schumacher. Sucesso absoluto, faturando mais de 32 milhões de dólares de bilheteria, Os Garotos Perdidos tornou-se um filme cultuado por toda uma geração, retrata perfeitamente os anos 80 (para o bem e para o mal), e continua angariando novos adeptos até hoje. Quanto as suas continuações caça-níqueis direto para o DVD mais de vinte anos depois, me poupo de qualquer comentário (até porque nunca tive o desprazer de assisti-las também).
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/27/532-os-garotos-perdidos-1987/