quinta-feira, 31 de março de 2016
#543 1987 TERROR NA ÓPERA (Opera / Terror at the Opera, Itália)
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Franco Ferrini
Produção: Dario Argento; Mario Cecchi
Gori, Vittorio Cecchi Gori (Coprodutores); Ferdinando Caputo (Produtor
Executivo)
Elenco: Cristina Marsillach, Ian
Charleson, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Coralina Cataldi-Tassoni,
Antonella Vitale
Assistir a um filme de Dario Argento é
assistir a todos os filmes de Dario Argento, e Terror na Ópera é a prova cabal
disso, quer você goste ou não. E mais, essa volta ao giallo que o
consagrou com sua trilogia dos animais e Prelúdio Para Matar, é uma espécie de
compêndio de todos os elementos cinematográficos do diretor italiano nas duas
décadas anteriores e considerados por muitos como seu último grande trabalho. Quando
falo em compêndio, isso vale para o bem ou para o mal. Argento em seu projeto
mais ambicioso e de maior orçamento (que acabou se mostrando um fracasso
retumbante de público e crítica) mais uma vez coloca acima de tudo sua busca
pela estética perfeita, abusando de ângulos inusitados, cortes
abruptos, travelling ousados, câmera subjetiva emulando a visão de
assassino, testemunha e até corvos, colocando o espectador quase que sempre no
primeiro plano das ações. Em contrapartida, Terror na Ópera derrapa,
e feio, no roteiro (que convenhamos, nunca foi muito a preocupação do diretor),
com aquela mesma ladainha gialli que estamos carecas de ver em
praticamente todas as produções do gênero, com seus whodunit à la Edgar
Wallace, furos inexplicáveis no roteiro, situações pra lá de inverossímeis e um
daqueles finais rocambolescos (que obviamente envolve sexismo e trauma de
infância) onde se você prestar o mínimo de atenção já sabe quem é o assassino
na primeira vez que ele aparece na película. Isso sem mencionar a sempre
péssima direção de atores características. Então talvez esse seja o maior bode
de Terror na Ópera. Faz lá mais de dez anos queSuspira (para mim, sua
obra-prima) fora lançado e desde então, por mais que seja absolutamente do
caralho a forma com que Argento conduza suas obras do ponto de vista artesão de
se fazer cinema impecável, o uso pontual de trilha sonora (mecânica, efeitos
sonoros e a estrambólica mistura de música clássica, rock progressivo e heavy
metal) e a sempre exagerada ultraviolência que atinge o limite do impressionável
e aflitivo aqui, simplesmente você não consegue manter um linha de interesse (e
de raciocínio) em todo o longa que não seja essas imagens e sequências
maravilhosas esparsas. Escrito por Argento e Franco Ferrini, uma jovem soprano,
Betty (Cristina Marsillach, considerada pelo cineasta a atriz mais problemática
com quem já trabalhou) é escolhida para atuar na ópera Macbeth de Verdi no
lugar de uma grande atriz que se machucou (colocada na conta de uma espécie de
maldição ao redor da obra), dirigida de forma inusitada e inovadora por um
conhecido diretor de filmes de terror, Marco (Ian Charleson), inspirado no
próprio Argento. A ópera conta com efeitos especiais grandiosos e uma revoada
de corvos que vira e mexe são colocados em cena. Só que um assassino psicopata
maníaco pervertido vestido de luva preta de couro (sempre) e máscara começa a
perseguir Betty e matar impiedosamente membros da produção (e corvos,
informação muito importante uma vez que eles serão responsáveis pela descoberta
da identidade do assassino, já que segundo os roteiristas, eles são criaturas
vingativas e nunca se esquecem de quem lhes fizera mal). E por falar em “matar
impiedosamente”, esse definitivamente é o ponto alto da película para os fãs do
Argento, onde somos agraciados com brutalidade sangrenta ímpar. E não é só
isso, o sadismo do assassino da vez extrapola qualquer outro vilão
do giallo italiano, e olha que já vimos todo tipo de perversão. O
psicopata simplesmente amarra Betty e coloca esparadrapo com agulhas em suas
pálpebras para que ela não possa fechar seus olhos e assista impassível todas
as mortes aterradoras de suas vítimas. Então dá-lhe facadas, tesouradas e por
aí vai. Outra cena não menos que fantástica é quando a personagem de Daria
Nicolodi (já ex-mulher de Argento nessa altura do campeonato) está olhando pelo
buraco da fechadura e toma um tiro no olho em câmera lenta. Mas como disse lá
em cima, o problema é que a história não consegue se sustentar. Impressionante
como Betty, depois da experiência traumática de ser testemunha ocular da
primeira vítima, simplesmente NÃO CHAMA a polícia, e tem um diálogo PÉSSIMO
sobre sua frigidez com Marco no carro, como se absolutamente nada de, no mínimo
escabroso, tivesse acontecido. Toda a virtuose do diretor e sua obsessão pela
imagem consegue apenas criar uma espécie de rejeição absurda do espectador no
decorrer do filme de tão canhestro é seu desenrolar. E depois de descobrirmos o
assassino (no que chamo do “estratagema dos corvos”), suas motivações sexuais e
o suposto embate final com a mocinha que sobrevive, ainda há tempo para um
epílogo completamente desnecessário, e vou abrir espaço para um
ALERTA
DE SPOILER para comentá-lo, então volte no próximo parágrafo ou leia por
sua conta e risco.
Depois de forjar seu próprio incêndio, demora
UMA CARA para a polícia descobrir que o assassino fugiu e que um manequim, sim
um manequim, havia sido queimado em seu lugar. Na boa, plástico derretendo e
gente derretendo, você descobre no MESMO segundo a diferença. A película ainda
representa uma espécie de ponto de ruptura na carreira e vida de Argento, que
pontua o final de um ciclo estilístico do diretor, iniciado
em Suspiria (com todos os demais filmes tendo seu título original em
latim: Inferno, Tenebre, Phenomena) que ora
engendrou pelo sobrenatural, ora pelo suspense italiano. Mas infelizmente, a
obra vindoura de Argento foi para o buraco, nunca mais se encontrou até hoje, e
está aí Drácula 3D que não me deixa mentir. Então aprecie Terror
na Ópera com fervor literalmente como se fosse o último.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/10/14/543-terror-na-opera-1987/
#542 1987 QUANDO CHEGA A ESCURIDÃO (Near Dark, EUA)
Direção: Kathryn
Bigelow
Roteiro: Kathryn
Bigelow, Eric Red /Produção: Steven-Charles Jaffe; Eric Red (Coprodutor);
Mark Allan, Diane Nabatoff (Produtores Associados); Edward S. Feldman, Charles
R. Meeker (Produtores Executivos)
Elenco: Adrian
Pasdar, Jenny Wright, Lance Henriksen, Bill Paxton, Jenette Goldstein, Tim
Thomerson
Mais um daqueles bons filmes de vampiros dos
anos 80. Esse é Quando Chega a
Escuridão, western
horror vampiresco da diretora Kathryn Bigelow, futura senhora James Cameron
e futura ganhadora do Oscar. Lançado no ano de 1987, prolífico para os
chupadores de sangue, mesmo ano de lançamento de Os Garotos Perdidos, Quando Chega a
Escuridão possui razoavelmente a mesma temática de seu irmão dirigido por
Joel Schumacher e muito mais conhecido, abordando clãs de vampiros modernos que
fazem suas vítimas incautas em pedaços de chão esquecidos dos EUA (nesse caso,
no centro oeste americano), deixando completamente para trás todo seu aparato
gótico e aristocrático que um dia a criatura já teve sob seus ombros. E mais,
mesmo passando por impopular, arrisco-me a dizer que tirando todo o
sentimentalismo de lado, o fato de ter assistido quando era criança, a turma de
Bill Paxton, Lance Henrikssen e companhia comem com farinha os vampiros
liderados por Kiefer Sutherland. Na verdade Quando Chega a Escuridão é
superior a Os Garotos Perdidos, afinal vemos dois estilos bastante
distintos de cinema, enquanto o primeiro preza pela estilização total dos anos
80 em todos os seus aspectos, e principalmente, na proposta leve e exagerada, a
fita de Bigelow escrita por ela e por Eric Red, de A Morte Pede Carona, é um road movie muito mais introspectivo,
sentimental, bruto e cruel. Seguimos o infortúnio do jovem Caleb Colton (Adrian
Pasdar), que se engraça com uma forasteira, Mae (Jenny Wright), cativante e
misteriosa no primeiro momento, mas que é uma sugadora de sangue, e o fato de
sabermos isso durante seu papo melancólico, que um matuto como Caleb não
entende lhufas, e principalmente durante a forma como reluta em se envolver e
na urgência de chegar em casa antes do sol nascer, cria um clima de tensão
constante onde parece que o ar pode ser cortado com uma faca de rocambole. Mas
a menina transforma o caubói apaixonado em vampiro e depois de quase torrar com
a luz do sol, não há outra escapatória senão juntar-se ao bando de vampiros
errantes, desajustados e párias da sociedade, que vem a ser a família de Mae. O
líder é Jesse Hooker (Henriksen), que profere uma das melhores frases do longa
ao ser questionado sobre sua idade (“vamos colocar desta forma: eu lutei pelo
sul” – referindo-se a Guerra de Secessão), e é composto pelo sádico alucinado
Severen (que seria facilmente um Malkavian se estivéssemos falando do RPG,
Vampiro – A Máscara), papel de Paxton, Diamond back (Jenette Goldstein) e a
criança (apenas na aparência, claro), Homer (Joshua John Miller). Se você
perceber bem, todos eles (com exceção de Joshua Miller) são atores de Aliens – O Resgate,
que foi dirigido por? James Cameron, com quem Bigelow casaria dali a dois anos
(e separaria depois de outros dois), e indicou-os para o elenco do filme.
Michael Biehn também foi considerado para o papel de Henriksen, mas acabou
recusando-o. E uma curiosidade é que Johnny Depp e D.B. Sweeney fizeram testes
para o protagonista. Voltando à trama, acontece que a personalidade tranquila e
pacata de Caleb não condiz com o comportamento errático e psicopata do bando,
principalmente no quesito de ter de assassinar seres humanos para se alimentar.
O ponto alto, quer dizer, altíssimo, de Quando Chega a Escuridão é
exatamente a emblemática cena do bar, onde ausentes de qualquer compaixão,
moral e apreço pelo ser humano, que é sua refeição, a gangue trucida o barmen e
todos os ali presentes, exatamente para que também sirva como uma prova de fogo
para Caleb em tornar-se um deles, mas que acaba falhando, deixando um
sobrevivente, que levará a polícia ao encalço dos vampiros. Mas o que vai gerar
uma cisma no grupo é quando a sua família, nas figuras de seu pai, Loy (Tim
Thomerson) e Sarah (Marcie Leeds) está em perigo. Quando Chega a
Escuridão mantém-se em um clima fora da lei seguindo esse bando de
assassinos vampirescos da estrada, até seu embate – maniqueísta até demais –
final, quando mais uma vez os elementos do faroeste (que era a intenção
original de diretora e roteirista, mas como o gênero estava morto naquela
década, resolveram pegar exatamente o que estava em voga – o terror – e fazer
um mix das duas escolas) se colocam em cena (só faltou um chaparral noturno
rolando por ali). Vale também uma menção para a excelente maquiagem,
principalmente quando os mortos-vivos estão queimando sob o perigoso efeito do
sol, criada por Gordon J. Smith e a trilha sonora eletrônica industrial do
grupo Tangerine Dream. O grande problema é a solução canhestra e
apressadíssima, dando uma nova teoria sobre o vampirismo, com uma resolução
deveras fácil para algo que parecia ser uma maldição secular, eliminando todo e
qualquer elemento místico dos seres da noite. Mas que também se percebe ser
mais uma questão de escolha do que qualquer outra coisa. Tudo sobre o amor, o
bem e o mal, redenção, que congrega para um final bem piegas, mas é o que tem
para hoje. Quando Chega a Escuridão fracassou na bilheteria, muito por
conta da falta de investimento em marketing da produtora de Dino de Laurentiis
que faliria em breve, acabou até tornando-se cult, mas infelizmente não
sobreviveu como outros tantos do gênero lançado no mesmo período, Mas uma
revisita ao longa é interessantíssimo, tendo em vista a assepsia pela qual o
monstro histórico passou na última década, culpa de literatura pré-adolescente
de quinta, e como o lado sádico bandido fora-da-lei e Brujah (mais uma vez
pegando um clã do RPG como exemplo) rende um baita filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/11/542-quando-chega-a-escuridao-1987/
#541 1987 O PRÍNCIPE DAS SOMBRAS (Prince of Darkness, EUA)
Direção: John
Carpenter
Roteiro: John
Carpenter
Produção: Larry J. Franco; Andre Blay, Shep Gordon (Produtores Executivos)
Elenco: Donald
Pleasence, Jameson Parker, Victor Wong, Lisa Blount, Dennis Dun, Susan
Blanchard, Anne Marie Howard, Alice Cooper
Não sei se tenho uma opinião completamente
formada sobre Príncipe das Sombras. Na real nem sei, no
alto da minha ignorância, se consegui entender todo o samba do crioulo doido
que John Carpenter enfiou em sua película. Ao mesmo tempo em que a fita é
enigmática e prende a atenção do espectador, ela se perde em um monte de
baboseiras metafísicas, religiosas e científicas que não fazem o menor nexo,
misturando na mesma receita de bolo esquisito o sobrenatural, o filho do capeta
na forma de um líquido verde, sociedades secretas dentro da Igreja, possessão
demoníaca, zumbis e viagens no tempo. Na verdade, Carpenter detestou trabalhar
para grandes estúdios, principalmente depois do resultado nada esperado de seu
filme anterior, o divertido clássico da Sessão da Tarde, Os Aventureiros do Bairro Proibido, e
resolveu tocar o rale-se e voltar para o terror independente, terreno que
conhecia muito bem. Fechando contrato com a Alive Films, em troca de total
liberdade criativa, o diretor escreveu o roteiro de Príncipe das Sombras sob o
pseudônimo de Martin Quatermass, inspirado no famoso professor britânico e
cientista de foguete, Bernard Quatermass e mandou ver na sua loucura criativa. Pois
bem, o Padre Loomis (que deve ser irmão gêmeo do Dr. Sam Loomis, vivido também
por Donald Pleasence em Halloween – A Noite do Terror) é chamado a uma
igreja para iniciar uma série de investigação após a morte de um dos párocos,
quando encontrada uma chave que dá acesso a um salão secreto com um misterioso
(e maligno) líquido verde dentro de um tanque de contenção. Na real, apertando
aqui um pouco o fast forward,
durante gerações um padre foi designado para ser o guardião do tal líquido,
membro de uma sociedade secreta chamada A Irmandade do Sono (?!). O conteúdo
desse recipiente nada mais é que O FILHO DO TINHOSO, muito bem preservado há
dois mil anos. Para tentar encontrar evidências científicas, Loomis recorre a
ajuda do Prof. Birack (Victor Wong, que também já havia trabalhado com
Carpenter em Os Aventureiros…)
que reúne seus melhores físicos, entre eles Brian Marsh (Jameson Parker),
Catherine Danforth (Lisa Bount) e Walter (Dennis Dun), junto com outros
proeminentes estudantes e professores de suas áreas, para se encalacrarem
durante o final de semana na igreja e descobrir toda a verdade sobre o líquido
verde do mal. Se a história já é bem difícil de engolir (que aquela forma
fluída verdejante é o anticristo), piora quando sem o menor sentido os mendigos
em volta da igreja (encabeçados por ninguém menos que o roqueiro Alice Cooper)
começam a virar zumbis e sitiarem os especialistas no local, além de formigas,
escaravelhos e minhocas começarem a surtar pela presença maligna. Completa o
fato de que o liquido passa a esguichar na boca da galera e possui-los, até uma
das estudantes tomar uma grande quantidade do filho do capiroto e tornar-se o
receptáculo para sua transformação material que levará o mundo à danação. Tiro
o chapéu para a maquiagem da deformação da moça, cheio de pústulas e feridas em
carne viva, sem dúvida nenhuma o ponto alto do longa. Tudo meio complicado e
sem lógica? Ainda tem mais quando nos é revelado que todo mundo que dorme ali
naquela igreja recebe em seus sonhos uma mensagem gravada em VHS vinda do ano
de 1999 (?!), mostrando um possível futuro onde uma sinistra figura de preto,
talvez o filho do coisa-ruim encarnado, está saindo da igreja para reivindicar
seu apocalipse pessoal. Também tem um eclipse iminente que está para acontecer
que só fica nisso e não é mais aprofundado. Sei lá, a meu ver, com todos esses
elementos díspares, não tinha como a história de Príncipe das Trevas funcionar. Talvez se Carpenter tivesse
optado pelo simples da possessão e dos heróis encalacrados naquela igreja
combatendo uma destruidora força das trevas, mesmo que soasse clichê, teria um
resultado mais satisfatório, simplesmente porque Carpenter SABE como fazer a
parada e nos entregar um belo suspense. A partir do momento que um monte de
explicações que, convenhamos, seriam esdrúxulas por natureza, começa a pipocar
atirando para tudo quanto é lado, o filme fica soa pretensioso e filosófico
demais. Prova cabal disso é o completo desperdício do personagem de Loomis com
sua falácia e auto lamentação constante, com aquela cara de cachorro largado na
chuva, ou mesmo a quantidade de verborreia metafísica e psedo-intelectual que o
próprio Birack ensina para seus alunos. Eu vi, revi, assisti de novo e de novo
e continuo me mantendo inócuo quanto ao Príncipe das Sombras, e logo isso faz ele se tornar um filme
mediano, esquecível, sem impacto. Carpenter estava cheio das boas intenções,
tinha uma história bombástica nas mãos, mas se perdeu em seu próprio modus operandi, uma vez que o filme
começa envolvente e termina de forma risível. Uma pena.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/10/541-principe-das-sombras-1987/
domingo, 27 de março de 2016
#540 1987 O PREDADOR (Predator, EUA)
Direção: John McTiernan
Roteiro: Jim Thomas, John Thomas
Produção: John Davis, Lawrence Gordon, Joel Silver;
John Vallone, Beau Marks (Produtores Associados); Jim Thomas, Laurence P.
Pereira (Produtores Executivos)
Elenco: Arnold Schwarzenegger. Carl Weathers, Elipidia Carrillo, Bill Duke,
Jesse Ventura, Sonny Landham, Richard Chaves, Shane Black
O cinema de ação
vivia seu auge nos anos 80. Excesso de testosterona, atores musculosos, armas
poderosas, matança desenfreada, e habilidades em artes marciais fizeram surgir
uma leva inteira de péssimos atores canastras que foram elevados ao statusde astros de Hollywood (e que
hoje fazem paródias de si próprios na franquia Os Mercenários). Indubitavelmente um dos maiores nomes do cinema
de ação foi Arnold Schwarzenegger. E por isso seu sobrenome vem em uma grafia
no pôster maior do que o próprio título do filme, O
Predador. Acontece que essa mistura de action movie, com guerra, sci-fi, terror e suspense é um dos grandes ícones da década de
80. Afinal, não tinha como dar errado uma película que juntasse todos esses
gêneros acima metendo ainda na trama um alienígena caçador impiedoso que vem
parar na Terra, é invisível, tem visão termográfica e armas avançadíssimas.
Coloque Schwarzza para ser o mocinho que combate a criatura interplanetária e
bingo! E foi isso que os produtores Joel Silver (que havia trabalhado com o
ex-Mister Universo emComando Para Matar)
e Lawrence Gordon pensaram ao resolver levar a frente um roteiros dos irmãos
Jim e John Thomas (que surgiu como uma piada com a série Rocky e o fato que
logo menos ele teria que sair na mão com um extraterrestre) e acabou
encontrando seu caminho dentro da 20th Century Fox. Inspirado em Aliens – O Resgate, o roteiro ganhou
sinal verde e a turma toda se mandou para Puerto Vallarta, no México para dar
início às gravações. Na real o miolo da trama não traz absolutamente nenhuma
novidade com relação à maioria dos filmes de ação do período. Schwarzza é
Dutch, um ex-major do exército que é contratado com seu grupo de guerrilheiros bad ass para uma missão especial
em uma republiqueta de bananas comunista da América Central e resgatar uns
figurões que foram sequestrados por terroristas. Uma enxurrada de clichês e
atitudes primitivas de macho men(quem
cospe mais longe, quem faz piada sexista mais pesada, quem tem os bíceps
maiores, e por aí vai), explosões e tiros está lá para aquele espectador
incauto que não imagina que um dos mais importantes monstros do cinema estaria
à espreita, camuflado ali entre as árvores. O tal predador é um caçador interplanetário ugly motherfucker (como a
própria célebre frase de Arnie ao ver o visual do bicho sem máscara pela
primeira vez) que viaja pela galáxia para praticar seu esporte, encontrar seus
troféus e meter suas cabeças na sala de exibição de sua nave e esfolar suas
vítimas. Entre suas habilidades, possui uma visão de calor (que era um desbunde
para a época), armas com garras e canhões de laser (no segundo filme seria
acrescentados ao seu arsenal lanças retráteis e discos cortantes), um kit de
primeiros socorros extraterrestre e um reloginho bacanudo que pode tornar o
visitante invisível e tem lá um botão do juízo final para quando ele quiser se
autodestruir (ser derrotado, jamais!). Um a um dos soldados grandões vão sendo
caçados e mortos impiedosamente até que esperamos pelo seu aguardado final,
quando Schwarzza deverá usar todos seus recursos de guerrilheiro e enfrentar o
alienígena em um combate selvagem, logo após ter sua vida poupada ao descobrir
que a lama diminui o calor do seu corpo e o esconde da visão termográfica do
monstro. Tirando toda essa parafernália de filme de ação e o fato que Dutch e
sua equipe matam muito mais gente que o predador na tentativa de desbaratar os
terroristas e resgatar os reféns (O
Predador tem uma absurda contagem de cadáveres de 65 humanos – isso
sem contar um javali e um escorpião), há três elementos que devem se destacar
com louvor na fita de McTiernan. O primeiro são os efeitos especiais, que para
a época foram incríveis. A habilidade de camuflagem da criatura e suas armas
tecnológicas são interessantíssimas. O segundo é o visual emblemático do
extraterrestre, criado pelo mestre Stan Winston, que teve de ser alterado do
primeiro esboço, uma versão meio reptiliana e meio anfíbia apresentada pelos
produtores, por não ter sido considerado assustador o suficiente. Até James
Cameron deu um pitaco, sugerindo as suas famosas mandíbulas. O terceiro foi a
direção de McTiernan, que, longe de comparações, mas seguindo escolas de
Hitchcock e Spielberg, vai gradativamente colocando o vilão em cena e criando
uma escalada de tensão e curiosidade, primeiro com o desconforto dos
guerrilheiros em acreditarem estar sendo seguidos e observados, já assustados
pelas vítimas destroçadas encontradas pelo caminho, depois com sua camuflagem,
seu sangue verde fluorescente (“se ele sangra, pode ser morto” – outra pérola
inestimável da sétima arte dita pelo Governator) até revela-lo em todo seu
esplendor. Falando no predador, não custa escrever sobre outro futuro ícone do
cinema de ação, Jean-Claude Van Damme, que originalmente seria o intérprete do
alienígena. Na real, uma espécie de dublê de luxo, por assim dizer. Acontece
que o belga achou que a roupa vermelha (cor escolhida em contraposição ao verde
da mata) que ele usava nas gravações seria seu visual, e não que era exatamente
um artifício de efeitos especiais para depois ser substituído pela
invisibilidade, e por isso vivia reclamando da indumentária. Depois do mal
entendido resolvido, o soneto ficou pior que a emenda quando soube que ele
seria um personagem invisível pela metade do filme e não poderia mostrar suas
habilidades marciais e de espacate contra Schwarzenegger. Gravou apenas uma
cena (que dá para ver o teste no Youtube, e também
como seria diferente o visual do bicho) e abandonou o barco, sendo substituído
pelo ator Kevin Peter Hall de 2,18m de altura, que vivera o Pé-Grande em Um Hóspede do Barulho e até a
criatura de O Monstro do Armário da
Troma. O Predador foi um
sucesso estrondoso. Faturou quase 60 milhões de dólares nas bilheterias
americanas e colocou no cânone do sci-fi outro
famoso alienígena para a Fox, que já tinha os alienígenas de Alien em sua
propriedade. Inevitavelmente depois do encontro dos dois extraterrenos em
diversas mídias como quadrinhos e videogame, eles foram metidos em dois crossovers pavorosos no cinema,
mas isso nem vem ao caso. Uma segunda parte foi lançada em 1990, Predador 2 – A Caçada Continua, que é
até superior ao original em diversos pontos, e a mitologia foi revisitada em Predadores, produzido por Robert
Rodriguez em 2010. Um novo longa, que não será um reboot, mas sim uma sequência direta deste aqui, está sendo
desenvolvido pela Fox, com roteiro e direção de Shane Black, que atuou como
Hawkins no primeiro filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/09/540-o-predador-1987/
#539 1987 O PORTÃO (The Gate, Canadá, EUA)
Direção: Tibor Takács
Roteiro: Michael Nankin
Produção: John Kemeny; Andras Hamori
(Coprodutor)
Elenco: Stephen
Dorff, Christa Denton, Louis Tripp, Kelly Rowan, Jennifer Irwin, Deborah
Grover, Scot Denton
O Portão é um filme que me gera sentimentos ambíguos. Eu
me lembro de três momentos distintos e três análises sobre a fita durante minha
vida, cada uma das três chegando a uma conclusão diferente. Quando eu o vi
criança, quando nos meus vinte e poucos anos e agora para escrever sua resenha
para o blog. E a conclusão que cheguei é que O Portal é um filme de
terror infantil, quase como uma fábula macabra. Ao vê-lo quando criança tinha
lembranças de que era um filme verdadeiramente assustador. Quase não lembrava
nada do desenrolar da trama, mas gravara na memória que a atmosfera havia me
deixado incomodado, com toda aquela história de um buraco se abrindo no quintal
e sendo um portal do inferno, trazendo criaturas demoníacas para nossa
realidade através de uma espécie de ritual envolvendo antigas inscrições e um
disco de heavy metal. Somente depois de muitos anos eu pude assisti-lo
novamente. O Portão foi um desses filmes que insisti para alugarmos por
ter exatamente essa lembrança de ser bem assustador, e fiz um enorme alarde
sobre a fita. Foi uma decepção sem tamanho vê-lo novamente. Tudo caminhava
exatamente como eu me lembrava, até o portal se abrir e aparecer aqueles
malditos asseclas demônio em stop-motion e a fita escambar para o
tosco, para o ridículo, e juro que não me recordava de ser um filme desse tipo.
Frustração estabelecida, passei a detestá-lo, nunca mais assistindo novamente. Até
que fatidicamente cheguei a sua vez na minha lista esquizofrênica e pensei:
“bom, lá vou eu assistir novamente essa porcaria”. Eis então que agora com 32
anos nas costas, a minha visão do filme mudou drasticamente (de novo). Continua
sendo um filme tosco e aqueles demônios cinza diminutos que parecem ter saído
de algum filme B do Ray Harryhausen são ridículos, mas a visão por trás do
contexto da história (e a expectativa gritante deixada de lado) criou certa
mudança de perspectiva em meu julgamento. O Portão é um filme de terror
infantil e é dessa forma que você tem que encará-lo. O próprio roteirista
Michael Nankin baseou o roteiro em diversas experiências de sua infância e por
isso o filme assusta tanto quando se é um jovem infante. São medos
particularmente infantis, explora a dor da perda, de ter uma irmã mais velha
adolescente, estar sozinho em casa por seus pais terem ido viajar e a eterna
impressão de que algo sinistro ou macabro pode acontecer, misturado com um
buraco aberto em seu quintal que com certeza vai ser o portão para alguma
dimensão maligna (óbvio que você irá pensar isso!). Glen (vivido por um Stephen
Dorff moleque em seu debute no cinema) é um garoto gordinho que gosta de
lançamentos de foguetes de brinquedo e seu melhor amigo inseparável é um
pequeno poser-metaleiro-farofa chamado Terry (Louis Tripp) que perdera a mãe há
pouco tempo e mora com o pai que lhe dá discos de metaaaaaaaal de presente. Os
pais de Glen viajam um final de semana e deixam a casa aos cuidados da irmã
mais velha adolescente, Alexandra (Christa Denton). Mas durante a noite
anterior um raio cai na árvore que fica no quintal, abrindo um buraco no chão.
Ao investigar o buraco, Glen se espeta em uma farpa e deixa cair sangue no
local, de onde saiu um geode. Mais tarde naquela noite em que Terry vai dormir
na casa do amigo (o quão você se lembra da sua infância por conta disso?), eles
abrem o geode que deixa uma bizarra inscrição. Na mesma noite, alguns
acontecimentos sinistros se revelam como Terry ver a aparição de sua mãe morta
e o velho cachorro de Glen, Angus, vir a falecer. No dia seguinte, Terry
descobre no álbum de heavy metal da banda Sacrifice (que existiu de
verdade no Canadá) letras supostamente baseadas em um tal “Livro das Trevas”.
Ele acredita que o buraco é uma porta de entrada para antigos deuses malignos
(olha a inspiração à lá Lovecraft aí). Com o sangue do virgem Glen e mais o
sacrifício de um animal enterrado ali (um dos amigos de Alexandra não conseguiu
nenhum local para enterrar Angus e acabou jogando-o no buraco), a conjuração
está completa e nosso mundo será invadido por criaturas das trevas. É um PUTA
roteiro, a atmosfera até esse momento é incrível e poderia render um filmaço,
se não fossem aquelas entidades demoníacas tosquinhas que estragam todo o clima
e o andar a carruagem. Ainda há espaço para a aparição de um zumbi, o ataque de
um possuído Terry, portais dimensionais que se abrem pela casa, um olho que
surge na palma da mão do garoto (em uma cena MUITO legal até hoje) e no final,
uma criatura gigante também de stop-motion que não ajuda em nada a
melhorar o longa. Uma pena! Detalhe que os criador dos efeitos visuais das
criaturas, Randall William Cook ganharia três Oscar futuramente pelo FX da
trilogia O Senhor dos Anéis. Mas, aí entramos de novo no preceito básico
que por mais que você quisesse que os demônios ou os deuses antigos fossem
diferentes, até com uma pegada mais Lovecraft ou uma coisa mais sinistra que
aqueles tampinhas (que na verdade são atores reais vestidos em uma fantasia de
borracha, filmados com uma perspectiva forçada para parecerem pequeninos) para
dar outro clima ao filme, devemos no ater ao fato de O Portão ser
simplesmente um conto de fadas às avessas. É um filme de terror para crianças
como comentei lá em cima (duas vezes até). E nisso ele funciona perfeitamente
bem. Afinal, quantos de vocês não adorou o filme ou tinha medo do mesmo quando
novinhos? Não é um filme de terror para adolescente ou para adulto (exceto para
ver com os filhos, talvez). E é isso, ponto. Eu não sou mais o público alvo,
você aí do outro lado da telinha do computador também não é. Mas já foi quando
criança. Nem sei se realmente essa era a verdadeira expectativa dos
realizadores porque nunca li nada sobre, ou estou nas elucubrações a mil, mas é
uma forma de encarar a fita ao invés de simplesmente julgá-la tosca
gratuitamente (como muita porcaria produzida por Charles Band, por exemplo)
como eu mesmo já o fiz. Deixe isso de lado, coloque o saudosismo à prova e
aproveite a experiência já que o cinema é uma das poucas chances que você tem
de voltar ao tempo e lembrar-se de outra vida que você teve antes de tudo
tornar-se tão mais sério e realista.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/08/539-o-portao-1987/
#538 1987 O PADRASTO (The Stepfather, EUA)
Direção: Joseph
Ruben
Roteiro: Donald
E. Westlake; Carolyn Lefcourt, Brian Garfield e Donald E. Westlake (história)
Produção: Jay
Benson
Elenco:Terry
O’Quinn, Jill Schoelen, Shelley Hack, Charles Lanyer, Stephen Shellen
O roteiro de O Padrasto é baseado
no livro de Brian Garfiled, que por sua vez é vagamente inspirado na história
de John List, um sujeito de Nova Jérsei que matou sua família em 1971 e ficou
foragido até 1989, quando a exibição de seu perfil no programa “America’s Most
Wanted” foi ao ar na televisão. Dirigido por Joseph Ruben, trata-se um suspense
correto, redondo, com todos os elementos necessários do gênero. Quem realmente
pega o filme e coloca embaixo do braço é o ator Terry O’Quinn, o famoso
carequinha Locker de Lost, que interpreta o psicopata Jerry Blake, o tal
padrasto do título. Completamente entregue ao papel, com uma atuação
verdadeiramente visceral, O’Quinn convence o espectador tanto como o maníaco
frio, calculista e completamente desequilibrado (como a emblemática cena em que
extravasa sua raiva no porão e é pego com a boca na botija por sua enteada)
como o bondoso homem de família, que tenta ser um bom marido, um bom pai
substituto, um bom corretor imobiliário e pregar veementemente os valores
familiares. Logo no começo somos apresentados ao personagem em sua visão mais
cruel, após tomar banho, fazer a barba e cortar o cabelo em um banheiro, e
lavar mãos e rosto ensanguentados. Ao descer as escadas, arrumado para ir ao
trabalho, vemos o estado brutal em que deixou sua atual família mutilada, com
sangue por todo o lado e uma criança assassinada com seu ursinho de pelúcia.
Jerry sai pelo quintal, pega o jornal, assobia “Camptown Race”, que acaba se
tornando uma marca registrada do maníaco, e sai incólume à barbárie que
cometeu. Um ano se passou, a polícia não descobriu nenhuma pista do assassino,
e Jerry entra na vida da viúva Susan (Shelley Hack) e sua filha “adolescente”
Stephanie (Jill Schoelen). Adolescente entre aspas porque ela tinha 23 anos
simulando 16, o que rendeu para nós marmanjos uma sensacional cena no banho
quase no final da fita. A enteada vive revoltada por conta da morte do pai,
arruma confusão na escola e detesta o novo relacionamento da mãe, acreditando
que alguma coisa há de errado com o padrasto, claro sem imaginar que o buraco é
bem mais embaixo. Ainda temos uma história paralela de Jim Ogilvile (Stephen
Shellen), irmão da menina morta no começo do filme, que tenta fazer justiça com
as próprias mãos e vem caçando o assassino desde o acontecido, sem conseguir
ajuda da polícia (que encerrou o caso por não possuir mais provas) e da
imprensa. O suspense vai crescendo com as investigações em cima de Jerry e uma
reviravolta na sua conciliação com a garota após ele ter matado seu psiquiatra.
Mas só então no terceiro ato que veremos a face monstruosa de Jerry por
completo, quando ele começa a se perder em seu alucinado estado de múltipla
personalidade (uma vez que ele vem criando vários alter egos e sempre entra em
um novo papel, mudando de emprego e conhecendo a próxima vítima, pouco antes de
assassinar a família atual).
ALERTA
DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Pois bem, o final reserva toda a intensidade
das perseguições em um ambiente fechado (no caso dentro da residência) deste
tipo de thriller, com o maníaco tentando dar cabo de Susan e Stephanie.
Vale citar a participação nula e completamente imbecil de Jim, que procura o
sujeito pelo filme todo e ao conseguir encontra-lo é morto no mesmo instante
com uma facada, fazendo com que o imprestável não sirva para nada, exceto ter
levado uma arma até a casa que será usada mais tarde por Susan para alvejar o
psicopata. Os pontos fracos do filme são as atuações dos demais atores que são
todos engolidos com farinha por O’Quinn e a trilha sonora esdrúxula que destoa
completamente do teor de suspense da fita, mas que reflete muito bem os
famigerados anos 80, composta por Patrick Moraz, ex-tecladista da banda de rock
progressivo Yes. Em compensação a direção de Ruben é precisa, vai criando um
escalar de acontecimentos e envolvendo o espectador até a explosão psicótica do
personagem do nosso vilão. O Padrasto não teve uma vida próspera nas
bilheterias americanas, faturando apenas pouco mais de dois milhões de dólares,
mas acabou fazendo fama e tornando-se cult
quando seu lançamento em VHS e nas infinitas reprises na TV aberta, incluindo
aqui no Brasil. Ainda gerou mais duas continuações e uma refilmagem em 2009
(que para variar é muito inferior ao original).
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/07/538-o-padrasto-1987/
#537 1987 OS OLHOS DA CIDADE SÃO MEUS (Angustia / Anguish, Espanha)
Direção: Bigas Luna
Roteiro: Bigas Luna
Produção: Pepón Coromina; Xavier Visa (Produtor
Associado); George Ayoub, Andreu Coromina (Produtores Executivos)
Elenco: Zelda Rubinstein, Michael Lerner, Talia
Paul, Angel Jové, Clara Pastor, Isabel García Lorca
O espanhol Os Olhos da
Cidade São Meus (e
por que Jeová ele não manteve o título original, Angústia, aqui no Brasil e
surgiu mais essa bizarrice?), dirigido por Bigas Luna, é um excelentíssimo
exercício de terror, suspense e metalinguagem. Na real ele é metalinguístico
até a medula, só que você não se dá conta disso até a metade do filme, quando o
espectador tem um verdadeiro choque e pensa: “opa, mas esse filme é ainda mais
interessante do que eu pensava”. Pelo menos essa foi minha conclusão quando o
assisti pela primeira vez, de forma tardia, quando lançado em DVD pelo selo
Dark Side da Works Editora, lá em meados da década passada. E já estava
gostando MUITO da película. Começa pela atenção prendida por aquele velho
truque marqueteiro do cinema de dizer que o filme tem cenas fortes, podem
impressionar e atormentar o público, sendo que no saguão do cinema há
enfermeiros para ajudar. A trama, escrita pelo diretor, é simples, didática e
direta ao ponto. Logo na primeira cena já vemos muito bem os desvios
psicológicos dos dois personagens principais muito bem delineados: a Sra.
Pressman (vivida pela excepcional Zelda Rubinstein, que você deve conhecer mais
como Tagina de Poltergeist – O Fenômeno) e seu filho
John (Michael Lerner). Aquela típica relação doentia entre mãe controladora e
filho submisso está presente, mas aqui ele é levado um patamar superior. John
trabalha como auxiliar de oftalmologista, porém é diabético e está perdendo a
visão (além de ser muito sensível a esse assunto). Uma paciente reclama de uma
lente de contato, humilhando o rapaz e fazendo com que ele seja repreendido no
hospital que trabalha. Ao desabafar para a mamãe, descobrimos que a velha é uma
LOUCA DE PEDRA que hipnotiza o próprio filho para que ele saia pela cidade
coletando olhos humanos para sua bizarríssima coleção. Primeiro ele parte em
busca dos globos oculares da mulher que reclamou dele, matando-a, assim como
seu marido, retirando os órgãos com um bisturi. Até aí o filme já está ótimo,
com uma cena bem sangrenta e aflitiva do olho sendo arrancado, como uma espécie
de toque gore ao Um Cão Andaluz de Buñuel.
Mas para a surpresa do espectador a cena começa a afastar e BINGO! Estamos no
cinema e aquilo nada mais é que um filme chamado “The Mommy”, dirigido por um
tal Sanul Agib (anagrama com o nome do diretor, Biga Lunas). Sim, é isso mesmo,
estamos vendo um filme dentro de um filme. Olha a metalinguagem aí. Então em
paralelo a história de John e sua mãe, temos o desenrolar de uma subtrama (ou
trama principal?) na sala de exibição, onde a jovem Patty (Talia Paul) está
sentindo-se nervosa e incomodada com o teor sugestivo da película e começa a
ficar paranoica, achando que um sujeito qualquer na plateia é o assassino. Pois
bem, John Pressman, hipnotizado pela megera, invade um cinema e começa a
arrancar os olhos dos espectadores, o que vai criar um pânico generalizado. Eis
que realidade e ficção (dentro da ficção) se misturam e influenciado pelo teor
do filme, um maluco no cinema (Ángel Jové) com os mesmos problemas psicológicos
e controle maternal resolve também começar a matar gente dentro do local. Tudo
acaba convergindo para uma cena em que ambos fazem uma pessoa como refém (no
caso aqui a Patty que teve razão em desconfiar do sujeito desde o começo) e seu
final, mostrando o quanto a moça também acabou afetada com a projeção e abrindo
aquela velha discussão de quanto um filme pode mesmo ser influenciador de
comportamento ou gatilho para alguma psicose (na hora me veio o paralelo com o
sujeito que entrou abrindo fogo com uma Uzi no cinema do Shopping Morumbi após
assistir Clube da Luta). Tudo
isso já seria o suficiente para ser um ótimo filme, mas ainda há as cenas de
hipnose que são verdadeiramente perturbadoras e até nauseantes. A Sra. Pressman
utiliza todos os artifícios possíveis para a lavagem cerebral no filho, como:
espirais, pêndulos, luzes, ecos, efeitos sonoros e até caracóis, filmado em
close para também deixar o espectador baratinado. A cena final também é
incrível, mas não entrarei em detalhes aqui e nem farei nenhum SPOILER. E claro, fique até o final
dos créditos, que irá explodir sua mente (não, não terá nenhuma cena de Os Vingadores 2: A Era de Ultron).
Então se quer uma dica de um filme de terror redondo e fora dos padrões
convencionais do que se vinha fazendo na época, Os Olhos da Cidade são Meus é a pedida.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/04/537-os-olhos-da-cidade-sao-meus-1987/
sexta-feira, 25 de março de 2016
#535 1987 A MALDIÇÃO RAÍZES DO TERROR (The Curse, EUA, Itália)
Direção: David Keith
Roteiro: David Chaskin (baseado no conto
de H.P. Lovecraft)
Produção: Ovidio G. Assonitis; Lucio
Fulci (Produtor Associado); Moshe Diamant (Produtor Executivo)
Elenco: Wil
Wheaton, Claude Atkins, Malcom Danare, Cooper Huckabee, John Schneider, Amy
Wheaton
O obscuro filme B A Maldição – Raízes do Terror inicialmente
chama a atenção pelo seguinte fato: é baseado em um conto de H.P. Lovecraft.
Isso já é motivo para gerar curiosidade suficiente para se assisti-lo, ainda
mais se tratando de uma de suas melhores histórias: “A Cor que Caiu do Céu”. Mas
na verdade o filme trata-se de uma boa surpresa. Vale lembrar que o mesmo conto
já fora adaptado anteriormente para o cinema nos anos 60, no filme Morte Para um Monstro, estrelado por
ninguém menos que Boris Karloff. Essa fita ítalo-americana foi produzida por
Ovidio G. Assonitis, conhecido dos fãs do horror por pérolas como Tentáculos e Piranha 2 – Assassinas Voadoras. Também é o primeiro
filme como diretor do ator David Keith (aquele de Chamas da Vingança, baseado no livro de Stephen King) e traz no
elenco um adolescente Wil Wheaton, muito antes de se tornar a nêmese de Sheldon
Cooper. Mas talvez a informação mais interessante ou estranha dos créditos, é
que temos um tal Louis Fulci como produtor associado, que sim, é nosso velho
chapa Lucio Fulci, que também foi diretor de segunda unidade (e inicialmente
cotado para dirigir o longa – o que instantaneamente já nos faz pensar como
poderia ter sido diferente o filme entregue). Pois bem, o começo de A
Maldição – Raízes do Terror é extremamente misterioso e eficiente em
prender a atenção do espectador, onde um sujeito alterado com pústulas nojentas
no rosto é preso por policiais gritando que “algo está na água”. Elipse para um
passado recente para nos contar o que se sucedeu em Tellico Plains, no Kansas,
mais precisamente na fazenda de Nathan Crane (Claude Akins) um bronco e
religioso fundamentalista que passa por uns maus bocados por conta da recessão
que atingia as fazendas familiares americanas na era Reagan. Nathan é casado
com Frances (Kathleen Jordon Gregory), viúva com dois filhos, Zack (Wheaton) e
Alice (Amy Wheaton, sua irmã também na vida real). Além disso, ele também tem
um filho de seu primeiro casamento, Cyrus (Malcom Danare) um verdadeiro matuto
rude com o QI menor que uma doninha. Nathan é aquele sujeito grosso patriarcal
que bate no enteado por usar o nome de Deus em vão, recita frase da bíblia em
todas as situações e não comparece com a esposa, pois é pecado fornicação por
motivos que não sejam reprodutivos. Até que uma noite, com fogo na bacorinha,
Frances resolve dar para o empregado da fazenda que está abrindo um poço no
local e eis que do céu, um meteoro brilhante cai durante a noite bem nos
arredores da fazenda de Nathan. Inicialmente o Dr. Alan Forbes (Cooper Huckabee)
é chamado para analisar o fragmento espacial (com seu contador Geiger, afinal
não sabia que os médicos dos consultórios do interior americano possuíam o
equipamento em seu escritório) e quando decide procurar alguma ajuda técnica, é
impedido por Charley Davidson (Steve Carlisle), presidente da junta comercial e
da câmara municipal da cidade, interessado na especulação imobiliária e
doidinho para comprar a propriedade de Crane, que se recusa em vendê-la.
Paralelo a isso, um funcionário do departamento hídrico do estado está em
visita ao local para estudos da construção de uma barragem. Pois bem, um belo
dia o meteoro brilhante derrete e sua composição química adentra o poço,
fazendo com que a água fique contaminada e toda a plantação irrigada e animais comecem
a adoecer ou apodrecer. No caso dos humanos que beberem a água, como Frances,
Cyrus e o próprio Nathan, um comportamento insano surgirá junto com terríveis
deformações na pele. Frances é a primeira afetada, mas Nathan recusa procurar
qualquer tipo de ajuda, pois acredita que Deus a está castigando pelo
adultério. Zach e Alice salvam-se já que o moleque, ao perceber o gosto
estranho na água, para de toma-la e vai buscar água na casa do Dr. Forbes,
assim como alimentos na cidade, que dá também a sua irmã. Há três aspectos que
compromete o andamento de A Maldição – Raízes do Terror. O primeiro e
evidente é a falta de verba que acabou afetando consideravelmente na parte
técnica do filme e principalmente nos efeitos especiais. O segundo é alguma
inépcia da direção de David Keith, dando um desconto por ser seu debute atrás
das câmeras. O terceiro e principal, é o maldito alívio cômico completamente
desnecessário e situações esdrúxulas, como o insuportável personagem de
Carlisle, completamente exagerado e caricato e a esposa dondoca do Dr. Forbes,
Esther (Hope North), colocando na conta dela uma cena patética onde tenta
convencer o bom médico a ceder à pressão de Davidson em não buscar por ajuda,
seduzindo-o com um baby-doll provocante e passando óleo nas pernas. A
conclusão infelizmente é apressada e novamente por conta da verba, fica
obviamente muito aquém da resolução do próprio conto de Lovecraft, que seria
impossível de ser adaptado. Mas há algo que se deva tirar o chapéu: a atuação
de Frances quando começa a se transformar em uma criatura mutante disforme. Uma
cena em particular vale por toda e qualquer deficiência do filme: o momento em
que Davidson entra no porão da fazenda, sem saber que Frances foi confinada ali
pelo marido. É realmente assustadora, climática e muito bem conduzida até seu
desfecho sangrento. Seu final também é pessimista e interessante e nos mostra
(logo na primeira cena na real) que a barragem fora construída e a “cor que
caiu do céu” irá se espalhar e contaminar mais pessoas. Apesar dos apesares, A
Maldição – Raízes do Terror é um bom filme. Teve uma péssima recepção,
sendo muito criticado (inclusive por Wheaton que diz que a única coisa boa do
longa é que ele pode atuar com sua irmã) e subestimado, mas mesmo pecando na
técnica e em sua condução, tem um roteiro interessante e momentos assustadores
e nojentos. Vale a pena conferir.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/10/02/535-a-maldicao-raizes-do-terror-1987/
#534 1987 A HORA DO PESADELO 3 GUERREIROS DOS SONHOS (A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors. EUA)
Direção: Chuck
Russell
Roteiro: Wes
Craven, Bruce Wagner, Frank Darabont, Chuck Russell
Produção: Robert
Shaye; Sara Risher (Coprodutor); Niki Marvin, Steve Thompson (Produtores
Associados); Wes Craven, Stephen Diener (Produtores Executivos)
Elenco: Heather
Langenkamp, Craig Wasson, Patricia Arquette, Robert Englund, Ken Sagoes, Rodney
Eastman
A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros
dos Sonhos,
depois do A Hora do Pesadelooriginal, é o melhor filme da franquia. E
claro que isso se deve a volta triunfal de Wes Craven à série, como produtor
executivo, escritor da história e da primeira versão do roteiro, na tentativa
de apagar a porcaria deixada pelo infame A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de
Freddy.
Na verdade, Craven recusou-se a estar envolvido na produção da sequência do
seminal filme que colocou no mapa um dos principais vilões do cinema de terror,
por conta de não acreditar na fórmula de transformar seu filme em uma
cinesérie. Com a ótima bilheteria da continuação, Craven descobriu ter se
enganado e resolveu voltar para, de uma vez por todas, finalizar sua criação. Na
verdade, o grande mérito de A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos
Sonhos é retomar ao ambiente do primeiro filme e expandir a mitologia do
assassino que mata nos sonhos. E o elo entre as duas películas é a personagem
Nancy Thompson (Heather Langenkamp – de volta ao papel) sobrevivente do
massacre inicial na Rua Elm, localizada na outrora pacata cidade de Springwood.
A primeira ideia de Craven era exatamente um exercício metalinguístico onde os
atores do primeiro filme seriam perseguidos por Freddy Krueger na vida real,
mas foi veementemente vetada pelo estúdio. E sim, foi utilizada no último filme
da série, O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger, sete anos depois.
Escrito por Craven e Bruce Wagner, o roteiro passou pela revisão do próprio
diretor, Chuck Russel, e vejam só, do futuro indicado ao Oscar®, Frank
Darabont, diretor de Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre, O
Nevoeiro e idealizador da série The Walking Dead. Na trama, Kristen
(debute de Patricia Arquette no cinema) é uma adolescente problemática,
revoltada, deprimida, com tendências suicidas, vinda de uma família
disfuncional onde mora só com a mãe que leva estranhos para casa para farrear e
beber uísque. Ou seja, é exatamente o perfil das jovens vítimas dos pesadelos
de Freddy. Após mais um pesadelo e ataque do maluco queimado de chapéu de
feltro e pulôver vermelho e verde, é mandada para uma instituição psiquiátrica
comandada pelo Dr. Neil Gordon (Craig Wasson) junto de outros jovens internados
que também tem problemas de privação de sono. Todos eles filhos dos envolvidos
na justiça feita com as próprias mãos pelos pais das crianças abusadas por
Krueger ainda em vida. Como diz Nancy: “As últimas crianças da Rua Elm”. Ah
sim, Nancy reaparece adulta, como uma psicóloga na clínica, na esperança de
ajudar o Dr. Gordon a tratar os pacientes, inclusive receitando uma droga
experimental chamada Hyponocil, que funciona como um supressor de sono. Um a um
os jovens começam a serem abatidos como moscas em uma sequência simplesmente
impressionante de mortes: um garoto tem suas veias arrancadas e usadas como
cordas de marionete com Freddy Krueger como titeteiro; a outra tem a cabeça
enfiada dentro da televisão; outro é empalado por uma cadeira de rodas versão
Trono de Ferro do Game of Thrones; e ainda Freddy transforma seus dedos em
injeções e enfia nos buracos de picos de uma viciada, que se transformam em
boquinhas implorando pelo tóxico. Além dos efeitos especiais caprichados para
essa terceira parte (lembre-se que estamos nos anos 80) dois elementos são
importantíssimos para a construção do personagem e de sua própria mitologia,
norteando passado e futuro de Freddy Krueger. O primeiro é o abuso do sarcasmo
e do humor negro, com o personagem de Robert Englund sempre soltando uma frase
de impacto ou piadinha logo antes ou depois de suas chacinas. As duas mais
clássicas são o famosíssimo “bem-vindo ao horário nobre, cadela” antes de
enfiar a cabeça da moça dentro do tubo de TV e o não menos clássico “vamos
ficar doidões” antes de atacar a junkie. O segundo é a história do nascimento
do sujeito, quando o Dr. Gordon descobre por meio de uma freira, a irmã Mary
Hellen (Nan Martin), que sua mãe, Amanda Krueger, trabalhava em um hospital
psiquiátrico onde só os piores elementos eram levados, e ficara presa no local
durante um feriado, sendo estuprada dezena de vezes “por uma centena de
tarados”, encontrada quase morta e grávida do bebê Freddie. Com mortes
impressionantes, Freddy mais maligno e engenhoso que nunca, pesadelos tétricos,
a volta das criancinhas pulando corda e cantando aquela assustadora cantiga e
cenários sombrios, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos tinha
TUDO para ser perfeito, mas… Sempre tem um “mas”, e são os tais Guerreiros dos
Sonhos. Beleza, eu adorava quando era moleque e assistia no SBT, só que depois
de velho ver os poderes que os jovens adquirem dentro dos sonhos é tosco demais
e bem vergonha alheia. Kristen que além de poder trazer todos para o mundo dos
sonhos, vira uma espécie de Daiane dos Santos; Kincaid (Ken Sagoes) adquire
força sobre-humana; Joey (Rodney Eastman) que é mudo transforma-se no Banshee
dos X-Men; Will (Ira Helden) se torna um mago à lá Presto de Caverna do Dragão;
e Taryn (Jennifer Rubin), a viciada, numa punk de moicano gigantesco, roupa de
couro e canivetes. Sério, por que, Sr. Craven? Outro momento constrangedor, e
aí vai
ALERTA DE SPOILER,
é quando o Dr. Gordon e o pai de Nancy (John
Saxon também de volta) precisam encontrar os restos mortais de Freddy, que
estão em um ferro-velho, e segundo a freira, enterrar em solo sagrado para que
o monstro finalmente descanse em paz. Freddy consegue sair do mundo dos sonhos
(só essa vez especificamente, e não me pergunte por que ele nunca o fez em
outras oportunidades) e ressuscita seu esqueletinho que mata o pai de Nancy (em
uma cena ao melhor estilo Jasão e os Argonautas) e dá um cacete em Gordon,
jogando-o na vala aberta e o cobrindo com duas pás de terra (adoram fazer isso
com Craig Wasson. Lembra de Dublê de Corpo?). Só para o psiquiatra voltar no último
instante e enterrar os ossos de Krueger e acabar com o cabra da peste. Mas pera
lá, porque ele não matou o sujeito ou pelo menos o enterrou de forma decente
para não ser derrotado depois? E pera lá 2, ele não tinha que enterrar os ossos
em solo sagrado? Não sabia que a terra de um ferro-velho é sagrada! Mas enfim. Apesar
dessas derrapadas, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos é
um ótimo filme de Freddy Krueger, e se junta ao original como os únicos que
efetivamente prestam na cinesérie. Mas claro que a ideia de Craven em matar sua
criação de uma vez por todas não deu certo, muito por conta dos mais de
quarenta milhões que arrecadou na bilheteria americana (dez vezes mais que seu
orçamento). No ano seguinte mesmo ele já voltaria a atazanar os sonhos dos
adolescentes.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/01/534-a-hora-do-pesadelo-3-os-guerreiros-dos-sonhos-1987/
#533 1987 HELLRAISER RENASCIDO DO INFERNO (Hellraiser, Reino Unido)
Direção: Clive
Barker
Roteiro: Clive
Barker
Produção: Christopher
Figg, Selwyn Roberts (Produtor Associado), Mark Armstrong, Davis Saunders e
Christopher Webster (Produtores Executivos)
Elenco: Andrew
Robinson, Clare Higgins, Ashley Laurence, Sean Chapman, Doug Bradley
Os anos 80 realmente foram muito
significativos para o cinema de terror. Algumas excelentes produções foram
feitas nessa década e serviu para colocar personagens que ficariam marcados
para sempre na história do gênero e seriam venerados pelos fãs, como o caso de
Jason Voohrees de Sexta-Feira 13 e
Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo,
juntando-se aos setentistas Michael Myers de Halloween e
Leatherface de O Massacre da
Serra Elétrica. Outro desses personagens que também se tornaria um
ícone é Pinhead, de Hellraiser – Renascido do Inferno, de Clive Barker. Hellraiser é
baseado no conto “Hellbound Heart” escrito por Barker, parte da coletânea chamada
“Livros de Sangue”, que chamou a atenção de ninguém menos que Stephen King, que
escreveu a seguinte resenha: “Eu vi o futuro da ficção de horror, e seu nome é
Clive Barker”. Com um marketing espontâneo como esse, Barker estava pronto para
transportá-lo para as telas, em um filme que ele mesmo dirigiu, deixando a
história ainda mais sádica e repleta de elementos gore. Na verdade o
título original da película deveria ser homônimo ao conto, mas vetado pelos
executivos do estúdio por parecer-se com um romance. O fanfarrão Barker sugeriu
algumas outras pérolas como “Sadomasoquistas do Além Túmulo” ou “O que uma
mulher faz por uma boa foda”, em tradução literal, obviamente mais vetados
ainda. Frank Cotton (Sean Chapman) é um hedonista aventureiro sexual que quer
de qualquer forma descobrir novas formas de prazer que o satisfaça. Nessa busca
incessante ele acaba se deparando com um artefato mágico, uma espécie de cubo
que abre portais dimensionais que o leva até um universo fantástico repleto de
criaturas masoquistas conhecidas como Cenobitas, que o destroçam e o aprisionam
numa realidade paralela localizada no sótão da antiga casa dos seus pais,
fazendo com que viva sensações onde a dor e o prazer são inseparáveis, por toda
a eternidade. Um parêntese sobre o cubo, que se tornaria um dos mais famosos gadgets do
cinema de terror, é que seu conceito de portal para o inferno tem base na lenda
urbana chamada “The Devil’s Toy Box” (ou a caixa de brinquedo do Diabo), um
cubo de seis lados construído de espelhos virados para dentro. Segundo a lenda,
você fica lá sentado na frente do cubo, que irá acionar um loop de
energia e com o tempo você ouvirá barulhos estranhos vindo de seu
interior, como rosnados, e poderá visualizar imagens bizarras refletidas
no espelho. Voltando a trama, o irmão de Frank, Larry (Andrew Robbins), um
sujeito que é um verdadeiro bundão, resolve se mudar para a antiga casa junto
com sua esposa frígida e entediada, Julia (Clare Higgins). Só que a casa começa
a trazer várias lembranças a Julia, que colocava um belo par de chifres em
Larry tendo um selvagem caso sexual com Frank. No dia da mudança, Larry machuca
a mão em um prego e perde uma boa quantidade de sangue no chão do sótão, o
suficiente para que Frank comece a materializar seu corpo novamente, após
enganar os Cenobitas e conseguir fugir do seu encalço. Julia então resolve
ajudar o antigo amante voltar à vida novamente, providenciando outras vítimas
que ela seduz e leva para casa, e assim vai o alimentando. Porém a filha de
Larry, Kristy (Ashley Lawrence), que já não se dá nem um pouco bem com a
madrasta, descobre o plano e encontra o cubo, libertando os Cenobitas que vem
atrás de sua alma. Dedando que o tio havia fugido deles, e nunca ninguém fizera
isso antes, Kristy convence as criaturas de que irá leva-los até ele, para
recuperarem o fujão. Hellraiser – Renascido do Inferno é um clássico
moderno do gênero, e um dos melhores filmes dos anos 80, sem dúvida, além de
ser totalmente inovador, fugir do “terrir” insuportável da década, e
apresentar o conceito dos Cenobitas, criaturas que vivem em uma dimensão
paralela, todos marcados por profundos cortes, roupas pretas e instrumentos de
dor e tortura ligados em seu corpo, como é o caso de Pinhead (eterno Doug
Bradley) com os pregos espetados por todo seu rosto. E falando em Pinhead, o
personagem se transformou em um ícone do horror desde sua primeira fala quando
aparece para Kristy, dizendo que eles são exploradores das regiões profundas da
experiência. Demônios para uns, e anjos para outros. Sinistro! Barker acerta
muito a mão tanto na direção quanto na história, e abusa de momentos gráficos
repleto de sangue, nojeira e violência ainda que para escapar do MPAA, diversas
cenas tiveram de ser retiradas para evitar cair na nefasta agenda de tom do
órgão regulador: uma cena de marteladas consecutivas, dedos entrando na carne,
sexo S&M com espancamento praticado por Julia e Frank, estocadas durante a
cena de sexo, e por aí vai. Outro ponto alto é a transformação de Frank, graças
ao excelente trabalho de maquiagem. Maquiagem essa que também chama bastante
atenção na caracterização dos Cenobitas. A única derrapada foi nos efeitos
especiais do final da fita, quando o orçamento pífio de um milhão já havia ido
para o espaço e Barker e um “cara grego” animaram essas cenas à mão, bêbados,
durante um final de semana. Hellraiser – Renascido do Inferno depois deu
origem a uma extensa franquia, com outras nove continuações até então, sendo
que Doug Bradley interpretou Pinhead em todas elas, exceto o mais recente, Hellraiser
– Revelações de 2011. Quanto a cinesérie, vale parafrasear o cabeça de
chester: “bons para um, uma porcaria para outros”.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/30/533-hellraiser-renascido-do-inferno-1987/
#532 1987 OS GAROTOS PERDIDOS (The Lost Boys, EUA)
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Janice Fischer, James Jeremias,
Jeffrey Boam
Produção: Harvey Bernard; John Hyde,
Mark Damon (Coprodutores Executivos); Richard Donner (Produtor Executivo)
Elenco: Jason
Patric, Corey Haim, Dianne West, Bernard Hughes, Edward Herrmann, Kiefer
Sutherland, Jami Gertz, Corey Feldman
Os Garotos Perdidos é talvez o filme de vampiro que mais
tenha marcado a minha geração. Afinal, como já diz a tagline do
mesmo: dormir de dia e festejar à noite, nunca envelhecer e nunca morrer. É
demais ser vampiro! E eram demais mesmo aqueles vampiros punks góticos
liderados por David (Kiefer Sutherland) que faziam suas vítimas nas noites da
decadente praia de Santa Carla. E outro detalhe que torna o filme tão querido é
que além dos momentos soturnos da vampirada (embalados pela música de Echo
& The Bunnymen) ainda há todo o drama adolescente de aceitação e as
peripécias da duplinha querida dos anos 80: Corey Haim e Corey Feldman (que
junto com Jamison Newlander formaram a inesquecível dupla caçadora de vampiros
mirins Irmãos Frog). E isso sim era filme de vampiro para adolescente, não umas
aberrações que vimos por aí ultimamente criados por uma mórmon acéfala. Certamente
o sucesso de Os Goonies catapultou a realização de Os Garotos
Perdidos. Richard Donner, diretor do outro clássico da Sessão da Tarde aqui é o
produtor executivo, que entregou a direção a cargo de um jovem Joel Schumacher
(por ter optado em dirigirMáquina Mortífera) o qual ainda nem passava pela
cabeça acabar com a imagem do Batman nos cinemas. Trocaram-se os piratas e a
aventura para toda a família, para as criaturas das trevas, completamente
imersos nos aspectos culturais e (principalmente) visuais da década de 80 (com
os vampiros e suas jaquetas de couro, óculos de aros redondos e Wayfarers e
brincos em uma orelha só). Na real, a ideia original escrita por Jan Fischer e
James Jeremias realmente previa que os heróis seriam garotos da 5ª série à la
Goonies, com os irmãos Frog sendo gordinhos escoteiros e por aí vai. Schumacher
detestou, fez pressão nos produtores e só assinou o contrato para dirigir se
fossem alterados para adolescentes e tornassem os personagens mais sexys e
interessantes. Detalhe que ele foi a segunda escolha após o declínio de Donner.
Mary Lambert deixou a cadeira de diretor vaga por “diferenças criativas”. Na
verdade o principal aspecto que pode se acrescentar no universo dos vampiros
foi a questão deles andarem em tribos. O status quo dos vampiros popularizado
muito pela Hammer a partir dos anos 50 mostrava a criatura das trevas como um
ser solitário, que vivia rodeado de seu aparato gótico costumeiro. Nos anos 70,
a primeira quebra de paradigma veio ao trazer o morto-vivo para o meio da
sociedade moderna, mas ainda assim limitados a um criador e uma criatura (ou
servo), mas foi só nos anos 80, e principalmente em Os Garotos Perdidos,
que ele se juntaram em bando para caçar, se divertir, viver um estilo de vida
anárquico e cultural e até ditar moda. Na trama, Lucy (Dianne West) muda-se
para a cidade costeira da Califórnia com seus dois filhos, o jovem rebelde
Michael (Jason Patric) e o pré-adolescente Sam (Haim) para viver com seu pai, o
Vovô (Barnard Hughes) na tentativa de reconstruir sua vida após o divórcio.
Acontece que logo Michael se sente atraído pela cigana Star (Jami Gertz) que
anda na companhia de David e seus vampiros. O rapaz para tentar se encaixar
acaba entrando para a gangue de motoqueiros e não tarda para ser transformado
em um chupador de sangue. Os únicos que poderão combater o terrível mal que
nunca morre são os já citados irmãos Frog, Edgar (Feldman) e Alan (Newlander),
nomes batizados em homenagem ao Edgar Alan Poe, claro. Claro que ninguém
acredita nos dois, muito menos Sam. Mas quando ele descobre que seu irmão se
transformou em um vampiro, mas diferente dos demais, um vampiro de bom coração
que não quer matar humanos e deixar se levar pela maldade, se junta aos Frog,
munidos de crucifixos, água benta e alho, na busca pelo vampiro mestre, aquele
responsável por transformar toda a corja, uma vez que se ele for destruído, o
efeito se dissipará e Michael voltará ao normal. Mas claro que como estamos na
famigerada década o possível horror e o gore de Os Garotos
Perdidos foi posto completamente de lado para se enquadrar naquele padrão
de filmes mais leves da década. Mesmo que recheado de humor negro, com o visual
assustador do grupo de vampiros e um ou outro clima sombrio de suspense, é tudo
em nome diversão e dos baldes de pipoca até seu final. Não que seja um
demérito, pois acabou sendo conduzido de forma muito competente por Schumacher.
Sucesso absoluto, faturando mais de 32 milhões de dólares de bilheteria, Os
Garotos Perdidos tornou-se um filme cultuado por toda uma geração, retrata
perfeitamente os anos 80 (para o bem e para o mal), e continua angariando novos
adeptos até hoje. Quanto as suas continuações caça-níqueis direto para o DVD
mais de vinte anos depois, me poupo de qualquer comentário (até porque nunca
tive o desprazer de assisti-las também).
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/09/27/532-os-garotos-perdidos-1987/
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